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A aplicação de modelos diversos, como as cinco forças de Porter (1980, 1985), a cadeia de valor do mesmo autor e a matriz SWOT (MINTZBERG et al., 2000), no diagnóstico de contextos externos e internos, pode produzir distorções significativas com relação à análise de uma estratégia, quando conduzidas somente por diretores, consultores externos e analistas. Mintzberg et al. (2000), ponderam que os pontos fortes e fracos de uma organização são mais facilmente e precisamente conhecidos por aqueles responsáveis pela implementação das estratégias. Por este motivo, decidiu-se pela necessidade de incluir na coleta e análise de dados a participação de coordenadores, gerentes e diretores das organizações selecionadas, de forma a refletir a realidade operacional das organizações pesquisadas. Assim, cabe ao pesquisador um papel de facilitador e não somente o papel de analista, o que configuraria uma prática típica da abordagem da “escola” do posicionamento.

Os dados desta pesquisa foram coletados em fontes primárias, por meio de entrevistas, e em fontes secundárias, por meio de pesquisas documentais em documentos das organizações (planos estratégicos, balanços patrimoniais, demonstrativos de resultados, orçamentos, relatórios de desempenho de processos, organogramas, comunicações internas, atas).

O dados primários foram obtidos por meio de entrevistas em grupo, estruturadas e semi-estruturadas, caracterizando um grupo de foco.

Segundo Merton et al. (1956), um grupo de foco é uma entrevista em grupo na qual os entrevistados têm em comum o envolvimento em uma situação particular. Neste caso, cabe ao pesquisador uma análise prévia dos fatores relevantes à questão pesquisada, com posterior formulação de hipóteses e construção do roteiro da entrevista. Após a realização das entrevistas, que devem focalizar as

experiências subjetivas dos entrevistados, expostas a análise prévia, cabe ao pesquisador a verificação do estado das variáveis constituintes das hipóteses formuladas.

Morgan (1996), caracteriza o grupo de foco como uma técnica de pesquisa para coletar dados por meio da interação de um grupo sobre um tópico definido pelo pesquisador.

Para Krueger e Casey (2000), o grupo de foco se caracteriza pela intenção de promover uma auto-revelação entre os participantes, ou seja, o conhecimento de algo novo, até então desconhecido. Para estes autores, o grupo deve ser formado por seis a oito pessoas, deve ser capaz de dizer ao pesquisador o que eles pensam ou sentem com relação a um determinado serviço, produto ou idéia.

Os grupos de foco foram constituídos por sócios-diretores, diretores, gerentes e coordenadores das empresas em questão. Em algumas ocasiões tomaram parte destes grupos supervisores ou analistas com envolvimento significativo nas questões discutidas. As informações coletadas nas reuniões dos grupos de foco foram transcritas diretamente para o computador pelo pesquisador, com o auxílio de dois assistentes. Em algumas ocasiões, as reuniões foram gravadas com a permissão dos entrevistados, de forma a permitir a coleta detalhada da maior quantidade possível de dados, para que pudesse ser transcrita após o término das discussões.

O tratamento dos dados foi predominantemente qualitativo, como é comum nos estudos de caso. Em algumas ocasiões, fez-se uso de técnicas quantitativas simples, com o intuito de inferir sobre relações entre as diversas variáveis de gestão estratégica envolvidas, como propostas de valor, processos e recursos.

O foco qualitativo permitiu constante retro-alimentação, dando origem a novas coletas de dados após a realização das reuniões de grupos de foco. Estas informações foram obtidas por meio da solicitação de envio de documentos específicos das empresas, ou então de entrevistas pontuais recorrentes com alguns dos participantes dos grupos.

Foram conduzidos quinze grupos de foco no total, sendo cinco para cada uma das empresas pesquisadas. Além dos trabalhos de grupo de foco, foi necessário um total de doze solicitações adicionais, sendo que a grande maioria pode ser resolvida apenas por meio do envio de informações baseadas em

documentos das empresas. Em aproximadamente dez ocasiões foi conduzida uma entrevista semi-estruturada recorrente por telefone.

As questões levantadas previamente acerca dos contextos interno e externo, bem como os roteiros dos grupos de foco e entrevistas se encontram nos Apêndices A, B, C e D.

Os grupos de foco e as entrevistas foram conduzidos entre fevereiro e março de 2005, no caso da Organização Alfa, março e abril de 2005 para a Organização Beta e maio e junho de 2005 para a Organização Gama.

A análise dos dados teve como base a utilização de práticas comuns em estudos descritivos, como por exemplo à sistematização dos dados em fontes primárias e secundárias. De forma geral, os dados secundários utilizados nesta pesquisa foram solicitados e analisados previamente à realização dos grupos de foco. Apenas nos casos em que se fizeram necessários dados acionais, novos dados secundários foram solicitados e analisados posteriormente.

Grande parte da análise dos dados primários foi conduzida no âmbito do grupo de foco, de forma simultânea a sua coleta, uma vez que o pesquisador atuou como facilitador no sentido de conseguir a concordância do grupo acerca de características dos contextos externos e internos, estratégias, processos internos, recursos e suas inter-relações. Este fato deve-se à necessidade de interpretação das variáveis pelos próprios envolvidos na situação, sendo estas características típicas dos grupos de foco, de acordo com Morgan (1996). Além disso, esta análise dos dados coletados no próprio contexto do grupo de foco é um pré-requisito para que as estratégias definidas e as medidas de alinhamento propostas não se configurem como produto de um analista externo, o que comprometeria sua eficácia nas condições reais da empresa, de acordo com Quinn (1980), Mintzberg et al. (2000), Mintzberg e Quinn (2001) e Pettigrew (1987). Assim, pode-se considerar que o método em questão permite a inclusão de estratégias emergentes na definição da missão e visão empresarial e das propostas de valor.

As análises de dados primários realizadas posteriormente à sua coleta nos grupos de foco diziam respeito principalmente à sua contraposição com outros dados primários ou dados secundários coletados previamente, no sentido de analisar a consistência entre os resultados obtidos nas diferentes etapas de operacionalização do modelo em questão.

Uma vez concluídas as análises posteriores ao grupo de foco, após cada etapa de aplicação do modelo, a etapa seguinte de coleta de dados, qual seja, um novo grupo de foco, começava pela apresentação dos resultados e conclusões da etapa anterior, que passavam a serem considerados novos dados iniciais pelos participantes do grupo, garantindo certa uniformidade de pressupostos entre os participantes, permitindo, ao mesmo tempo, manter a visão de aprendizado.