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A partir da definição inicial do contexto de intervenção, foram definidas as fontes de evidência para o estudo: análise de documentos, entrevistas e observações. A primeira delas contou com apoio da revisão de literatura sobre os tópicos abordados nesta pesquisa, além de normas e de dados secundários, ou seja, informações pré-existentes obtidas pela pesquisadora. Foram coletados requisitos normativos para ambientes hospitalares, relacionados às operações, contidos na RDC-7 (ANVISA, 2010), e ao ambiente construído, na RDC-50 (ANVISA, 2002). A primeira é relacionada aos requisitos funcionais: estabelece padrões mínimos para o funcionamento de UTIs, visando à redução de riscos aos pacientes, visitantes, profissionais e meio ambiente. Já a RDC-50 diz respeito aos requisitos estruturais: definição quanto às necessidades e dimensões mínimas, critérios quanto a circulações, condições ambientais e de conforto, com ênfase na salubridade e tempo de permanência, condições de infecção hospitalar, instalações prediais e especiais e condições de segurança.

Foi estabelecido que ao menos um representante dos principais grupos de usuários fosse entrevistado e tivesse suas atividades observadas, desde gestores - chefe administrativo, chefias médica e de enfermagem; equipe assistencial - médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, técnico de radiologia, fisioterapeuta, nutricionista, fonoaudióloga, farmacêutica clínica; funcionários - equipe de higienização, secretário; até pacientes e seus acompanhantes. A pesquisa conta com um total de aproximadamente 85 horas de imersão da pesquisadora no contexto do estudo, distribuídas entre entrevistas, observações participantes e não participantes, e walktrough. As fontes de evidência foram utilizadas, de modo integrado, para coletar dados relativos a requisitos funcionais e estruturais, ou seja, auxiliaram na compreensão das atividades realizadas pelos usuários, do ambiente construído e da relação entre ambos. O final da coleta de dados foi definido pelo critério da saturação teórica (EISENHARDT, 1989), ou seja, foi finalizada quando não surgiram novas informações e padrões dos resultados. As técnicas de coletas de dados utilizadas foram divididas de acordo com as etapas do artefato proposto, como representado na tabela 2.

As entrevistas foram a principal fonte de coleta de requisitos dos usuários, cuja participação foi feita por aquelas pessoas que participam ativamente dos processos selecionados, com pelo menos um representante dos grupos listados acima, incluindo pacientes e acompanhantes. Previamente marcadas e conduzidas próximo ao ambiente de trabalho de cada entrevistado, as entrevistas foram realizadas em dupla ou trio de pesquisadores, para facilitar a coleta de

informações, e também para obter diferentes perspectivas. O roteiro, apresentado no Apêndice A, foi elaborado de maneira que o primeiro bloco contribuísse também para outra pesquisa, de doutorado, que prevê a utilização do modelo FRAM gerado por essa pesquisa. Antes do começo de cada entrevista, era explicado o objetivo da entrevista e solicitada a leitura e assinatura do termo de consentimento. As entrevistas foram todas gravadas, de forma a facilitar o registro dos dados coletados. O termo que consta no Apêndice B foi destinado a funcionários, e no Apêndice C a pacientes, familiares ou acompanhantes.

Todas as entrevistas tiveram caráter semiestruturado e possuíram perguntas distribuídas em dois principais momentos: (i) atividades e funções exercidas pelo profissional entrevistado; e (ii) ambiente construído e sua relação com as atividades descritas no primeiro momento (Apêndice A). Tais blocos de perguntas auxiliaram na modelagem funcional e estrutural, respectivamente. As entrevistas realizadas com pacientes e familiares seguiram o mesmo roteiro, porém assumiram um caráter mais aberto e menos estruturado. No primeiro momento dedicou-se ao relato da rotina vivenciada por esse público no hospital, do ponto de vista do paciente com relação às atividades de assistência prestadas pelos profissionais das diversas equipes da UTI, e da sua experiência.

Tabela 2 - Coleta de dados x etapas do artefato

__________________________________________________________________________________________ Tabela 2 (continuação) - Coleta de dados x etapas do artefato

Estes foram convidados a expressar desejos, preferências, bem como insatisfações e sugestões de mudanças a aspectos de ergonomia e de projeto (FONSECA; RHEINGANTZ, 2009). O segundo momento foi dedicado a registrar a percepção dos entrevistados em relação à interação dessas equipes com o ambiente construído da unidade, bem como da percepção pessoal e experiência de interações presenciadas entre eles próprios e os elementos do ambiente construído.

As observações caracterizaram-se como não participativas, nas quais os pesquisadores apenas analisam os processos sem interferir nas atividades prestadas pelas equipes. As dúvidas que surgiram ao longo da observação foram sanadas em momentos adequados julgados pelo pesquisador, sem prejudicar o desenvolvimento das atividades observadas. Ocorreram duas observações não participantes aos ambientes da UTI adulta nova, ambas com grupos de profissionais da assistência, administração, chefia e engenharia do hospital, para verificação do atendimento aos requisitos dos usuários pelos ambientes em execução na obra.

Seis reuniões com o grupo de pesquisadores da UFRGS e representantes do hospital ocorreram para compreensão de alguns processos, direcionamento e apresentação de resultados dos trabalhos. Reuniões de andamento das pesquisas foram realizadas ao longo da pesquisa, proporcionando esclarecimentos de alguns aspectos incompreendidos, reflexão teórica e prática. A pesquisadora foi convidada a participar, como ouvinte, de 4 reuniões sobre assuntos internos que tangenciavam o tema desta dissertação.

A reunião de verificação de atendimento aos requisitos da UTI atual reuniu diversos profissionais das equipes assistenciais e administrativas, durante a aplicação da etapa 4 do MIRFE. A dinâmica utilizada contou com o envolvimento da pesquisadora na explicação dos objetivos do encontro e na divisão dos 19 usuários presentes em 5 grupos a fim de incentivar discussões e aproveitar o tempo disponível. Os requisitos foram divididos nos grupos, e cada um ficou responsável pela análise de aproximadamente 20 requisitos. Foi-lhes solicitado que avaliassem os requisitos quanto: (i) à validade da sua descrição; (ii) à precisão de sua descrição; e (iii) ao atendimento aos requisitos, valorando entre atendidos, parcialmente atendidos – em algumas situações ou somente na UTI 1 ou 2-, ou não atendidos no ambiente da UTI atual. Ao final da sessão, uma discussão compartilhada foi propícia para obter a percepção dos usuários sobre os requisitos coletados. O encontro teve duração de uma hora. Para o cenário da UTI

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nova, a pesquisadora analisou o atendimento aos requisitos conforme o conhecimento adquirido do contexto, com base nas interações com os usuários, compreensão das atividades e dos espaços físicos da nova unidade.

Encontros de discussões dos dados presentes na modelagem integrada foram agendados previamente com os funcionários das equipes envolvidas no estudo. O ciclo de discussão estendeu-se por três meses, no qual foi possível refinar as informações modeladas na etapa 3 do artefato. As reuniões para discussão foram baseadas nas funções do modelo FRAM, nas variabilidades e ressonâncias geradas, o que tornou possível uma discussão com profissionais de diversas disciplinas acerca do trabalho diário na UTI, bem como da sua relação com o ambiente construído. A retroalimentação de dados ocorreu no momento da discussão das informações com as equipes envolvidas no estudo. Requisitos que não foram inicialmente capturados foram considerados posteriormente. Foram refinadas 8 funções e 1 retirada, e 6 requisitos refinados e 5 identificados nesses momentos, os quais geraram novas variabilidades que foram sendo refinadas junto às demais. Após a discussão completa de todas as informações relativas ao JCS, as funções e requisitos foram atualizados no banco de dados BIM, para garantir a gestão do sistema.

Para a modelagem tridimensional (3D) dos ambientes físicos do contexto escolhido, foi necessário o fornecimento do arquivo da planta-baixa da UTI pela equipe administrativa. A modelagem estrutural, baseada em BIM, foi realizada por dois auxiliares de pesquisa4, com auxílio do software Autodesk Revit (item 4.2). Devido à situação de mudança para uma nova edificação, a ser enfrentada em breve pelos usuários da UTI, nessa pesquisa também foi desenvolvida a modelagem estrutural dos espaços físicos projetados para a UTI nova, a partir da compreensão do BEAI. Isso foi possível por meio do projeto arquitetônico da unidade nova, fornecido pela equipe administrativa do hospital, com complementação de informações

4 Gabriel Donati - Estudante de Engenharia Civil (EE/ UFRGS) e Louise Soares - Estudante de Arquitetura e

coletadas, por uma visita realizada na obra em execução, e pela participação em uma simulação de atendimento ao paciente no leito da nova unidade.

Por fim, o encontro de encerramento da participação da pesquisadora no ambiente do estudo empírico deu-se na reunião de avaliação do artefato proposto, com o objetivo de refinar o MIRFE e as principais contribuições práticas da pesquisa.