• Nenhum resultado encontrado

O desenvolvimento da pesquisa passou pelas seis fases propostas por Kasanen et al. (1993): (a) identificar um problema prática e relevante teoricamente; (b) obter uma compreensão teórica sobre o tema; (c) construir uma solução; (d) demonstrar que a solução funciona; (e) conexões teóricas e contribuições da pesquisa; (f) examinar o escopo de aplicação da solução. As fases correspondem às quatro etapas propostas por Holmström et al. (2009): (1) revisão bibliográfica;

__________________________________________________________________________________________

(2) compreensão; (3) desenvolvimento e aplicação; (4) reflexão e avaliação. As quatro etapas, relacionadas às seis fases, são explicitadas na Figura 5. A pesquisa foi conduzida a partir de um estudo empírico, cujo objeto será apresentado no item 4.4.

Figura 5 - Delineamento da pesquisa

Fonte: elaborada pela autora.

Além da divisão da pesquisa por etapas e fases, a figura 5 apresenta dois diagramas de atividades, que ocorrem de forma simultânea, mas relacionadas a diferentes níveis de abstração:

primeiramente às questões teóricas e genéricas da pesquisa, e posteriormente à sua aplicação no contexto do estudo empírico. As etapas da pesquisa não foram realizadas de forma estritamente linear, existindo ciclos iterativos no processo, de modo que uma etapa por vezes desencadeia a revisão ou novas atividades em uma etapa anterior. Essa dinâmica de pesquisa é inerente à natureza iterativa do processo de design, apontada pela literatura da DSR (HOLMSTRÖM et al., 2009). Tais ciclos estão sinalizados através de setas tracejadas e flechas circulares, indicando que existe retroalimentação de informações no passo anterior pelo seguinte, o que leva ao refinamento das etapas. A retroalimentação decorreu da aplicação do artefato no contexto do estudo, o que proporcionou o levantamento de novas informações e esclarecimentos em relação ao início da pesquisa. Assim, a concepção e a aplicação do artefato no contexto do estudo ocorreram de forma iterativa. A seguir, a descrição de cada etapa da figura 5 retomará as características relatadas anteriormente.

A revisão bibliográfica, primeira etapa da pesquisa, começou em novembro de 2017 e permeou toda a pesquisa, sendo atualizada ao longo do desenvolvimento da dissertação. Conforme discutido nos capítulos 2 e 3 deste trabalho, aborda os tópicos de Sistemas Sócio- Técnicos Complexos (SSC) e o ambiente construído na saúde, passando pelos subtópicos de complexidade em ambientes da saúde, cujas características estão presentes no contexto do estudo; referencial teórico para lidar com a complexidade, como a Engenharia de Resiliência (ER); aplicações práticas da ER em SSC, como o Functional Resonance Analysis Method (FRAM); características dos projetos para ambientes construídos na saúde; explicação de valor e de requisito nesse contexto; e finalmente, a gestão de requisitos é abordada com o apoio de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), o Building Information Modeling (BIM). A partir da revisão de literatura inicial foi identificada a lacuna de pesquisa, na segunda etapa da pesquisa, formulando-se a questão principal. A partir dessa definição, o objetivo geral da pesquisa foi traçado.

Em relação ao estudo empírico, foram realizados os contatos inicias com representantes da equipe de Gestão de Risco da instituição, e após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Etica em Pesquisa (CEP) do hospital, as questões e objetivos de pesquisa foram apresentados aos membros da equipe envolvidos no grupo de pesquisa. A seleção do sistema a ser estudado foi feita conjuntamente com os representantes do hospital e pesquisadores da universidade, levando em consideração todos os departamentos do hospital. Devido à complexidade dos

__________________________________________________________________________________________

processos e das interações entre equipamentos e pessoas, foi escolhida para o estudo empírico a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulta, excluindo-se a UTI cardíaca, em razão da sua localização afastada e do seu funcionamento ser diferente das demais unidades da UTI adulta.

A partir disso, foi necessário um entendimento em relação: (i) aos principais processos de cuidado que ocorrem na unidade atual; (ii) aos processos mais críticos; e (iii) aos processos que mais demandam melhorias ou que sejam adequados para o desenvolvimento da pesquisa. Isso tornou possível a delimitação do sistema a ser estudado, através da seleção das funções a serem analisadas na pesquisa, as quais compreendem o cuidado ao paciente, desde o momento da admissão na UTI até a alta desta unidade. Por possuírem quadro clínico grave e, consequentemente, demandas semelhantes por recursos humanos e tecnológicos para a atenção ao cuidado, não foi feita uma diferenciação entre perfis de pacientes críticos para essa pesquisa.

Com base nessas definições, e a partir dos primeiros contatos com os profissionais das equipes da UTI, foram elencados os grupos de usuários da UTI, tais como: profissionais das equipes administrativas; assistenciais; funcionários das áreas de suporte, como higienização; pacientes; familiares e acompanhantes. Em razão do foco no paciente e na sua percepção de valor, a pesquisa previu as interações com este último grupo de usuários. Ao menos um representante de cada grupo de usuário foi entrevistado, como principal fonte de requisitos e de entendimento dos processos relacionados ao cuidado ao paciente. Documentos, como normas, regulamentos e plantas-baixas, foram analisados, contribuindo para a identificação de requisitos e compreensão do contexto. O entendimento mais aprofundado do sistema analisado e dos problemas enfrentados nos âmbitos dos processos e do ambiente construído deu-se através de observações in loco e entrevistas com as equipes da unidade. Durante o desenvolvimento da pesquisa ocorreram 6 encontros para apresentação dos objetivos e andamento da pesquisa, totalizando 18 horas nas quais a pesquisadora discutiu resultados e trocou informações sobre o desenvolvimento deste trabalho com gestores da UTI selecionada.

Além disso, o hospital em questão enfrentará, em breve, uma mudança para uma nova edificação. Foi necessária a compreensão dos ambientes, processos e necessidades dos usuários da UTI atual, como base para a UTI nova. Nesse sentido, a pesquisadora foi convidada a participar de 3 reuniões internas acerca dos desafios a serem enfrentados durante a transição para a nova edificação e as mudanças em algumas rotinas, como no fluxo de medicamentos, por exemplo. Esses encontros totalizaram 3,5 horas, permitindo à pesquisadora coletar

informações sobre o contexto e necessidades das equipes para os novos ambientes. Observações não participantes aos ambientes da UTI nova e a participação em uma simulação de atendimento ao paciente nesses espaços possibilitaram a pesquisadora 5,5 horas de imersão direta nesse novo contexto (Tabela 1, item 4.5).

Diante do problema e das questões de pesquisa, na terceira etapa do delineamento, após a escolha da estratégia de pesquisa, foi concebido o método que se constitui no artefato

desenvolvido nesta pesquisa. Considerando os artefatos encontrados na literatura que buscam

responder a problemas similares no tocante à falta de compreensão da dinâmica e complexidade das atividades realizadas por profissionais no âmbito do WAD, e da conexão destas com os espaços físicos, foi elaborada a estrutura do artefato. Foram selecionadas as ferramentas FRAM e BIM como centrais no desenvolvimento do artefato, conforme os referenciais teóricos da ER (Engenharia de Resiliência) e da GR (Gestão de Requisitos), em função dos benefícios citados nos capítulos 2 e 3.

Para a modelagem funcional, baseada em FRAM, foram consideradas as funções que possuem relevância para os processos de cuidados centrados no paciente e cujo impacto da sua variabilidade no sistema sejam significativos, bem como as que possuem mais requisitos, de acordo com o foco dessa pesquisa. As informações sobre os requisitos foram obtidas através de entrevistas com os usuários e leitura de normas. O software utilizado para a modelagem funcional, que resultou no modelo FRAM, foi o FRAM Model Visualizer1.

Para a modelagem estrutural, baseada em BIM, foram considerados apenas os espaços que compreendem a UTI Adulta do hospital, representando os espaços físicos e os principais elementos do ambiente construído. A escolha dos softwares BIM para realização das atividades de modelagem estrutural baseou-se no conhecimento prévio da autora e no domínio necessário para operá-los, consolidados por pesquisas realizadas recentemente nas quais esteve envolvida (BALDAUF, 2013; BALDAUF et al., 2016; RANSOLIN et al., 2019).

__________________________________________________________________________________________

O critério mais importante foi a evidência de que os softwares selecionados possuem uma interação consolidada, chamada "interoperabilidade", característica fundamental para o processo de trabalho BIM. A integração entre ambos foi comprovada através da realização de leitura adequada do arquivo padrão dos modelos BIM, o IFC (Industry Foundation Classes) (BUILDINGSMART, 2018). Além disso, existe um plugin para conexão entre os softwares, de forma a facilitar a gestão de requisitos.

Para a modelagem tridimensional dos espaços físicos foi utilizado o software BIM Autodesk Revit Architecture, mediante download de versão gratuita para estudante2. O software BIM para

gestão de requisitos selecionado foi o dRofus3, pois além de já ter sido utilizado pela autora, é um software disponível no PPGCI. A fim de ter acesso a interface do programa, foi necessário solicitar um usuário com senha e um banco de dados, ambos criados pelos servidores do software. Esses dados foram cedidos gratuitamente para este trabalho, por se tratar de uma pesquisa acadêmica. Alguns softwares BIM verificam automaticamente se o projeto atende aos requisitos, através do processo de code checking. Entretanto, essa atividade é melhor executada com requisitos de natureza quantitativa, os quais fogem do escopo deste trabalho.

Na quarta etapa as informações coletadas na primeira etapa e utilizadas na aplicação do artefato durante o seu desenvolvimento foram discutidas com as equipes do hospital envolvidas no estudo. Esses eventos (item 4.5) foram importantes para levantar novas informações e requisitos, além de corrigir os dados coletados junto aos usuários da UTI. Os ajustes decorrentes destes episódios retroalimentaram as modelagens funcionais e estruturais, durante a aplicação do artefato. A visão final do artefato sofreu ajustes ao longo da aplicação das etapas propostas. Após os ciclos de refinamento, análises e discussões, os resultados finais do artefato e da sua aplicação foram apresentados e discutidos.

De acordo com as diretrizes da DSR, os artefatos devem ser avaliados conforme critérios que sejam relevantes ao problema abordado (HOLMSTRÖM et al., 2009). O artefato proposto por esta pesquisa foi avaliado em termos de sua utilidade e facilidade de uso (MARCH; SMITH,

2 Disponível em: <https://www.autodesk.com.br/education/free-educational-software> 3 Disponível em: <https://www.drofus.no/en/download/>

1995), dimensões que foram desdobradas em critérios e perguntas para análise e discussão do artefato (Tabela 1).

Tabela 1 - Dimensões, critérios e perguntas para avaliação do artefato

Fonte: elaborada pela autora.

As fontes de evidência para a avaliação constam na última coluna na tabela 1, e foram as mesmas adotadas para a implementação do artefato. A principal delas foi um workshop que ocorreu em julho de 2019. A sessão se desenrolou mediante perguntas e discussão com usuários que se envolveram no estudo ou cujas atividades desenvolvidas foram alvo da aplicação do artefato. O grupo de participantes era composto por profissionais de formações diversas: medicina, enfermagem, administração e arquitetura.

O tempo total disponível para a condução da reunião foi de 1 hora. Primeiramente a pesquisadora apresentou as etapas do artefato, de forma breve, em aproximadamente 12

__________________________________________________________________________________________

minutos. Em seguida convidou o grupo para responder às perguntas relacionadas aos critérios de avaliação. Os participantes tiveram em torno de 35 minutos para refletir e responder às perguntas, trocando informações com os colegas (item 5.2). Durante esse período, a pesquisadora discutiu com a arquiteta sobre questões diretamente ligadas à utilidade e aplicação do artefato no contexto do setor de engenharia do hospital do estudo. Os últimos 15 minutos foram reservados para a pesquisadora retomar a atenção do grupo, convidando-o a uma discussão para emitir suas percepções e sugestões acerca do artefato.