• Nenhum resultado encontrado

5.1 APLICAÇÃO DO ARTEFATO

5.1.5 Etapa 5 – Priorização das funções e dos requisitos

5.1.5.1 Subetapa 5a - Identificação das variabilidades

Após a verificação dos requisitos, no âmbito da UTI atual, as variabilidades identificadas a partir do não atendimento aos requisitos foram adicionadas à saída de cada função do modelo FRAM. Essas informações foram identificadas a partir do não atendimento aos requisitos, aspectos de pré-condição das funções. Estão descritas na lista das funções (Apêndice E), classificadas conforme referência do FRAM, entre precisão ou tempo, nas respectivas funções. Algumas variabilidades foram classificadas como de precisão e tempo, pois afetam ambas dimensões. Os requisitos funcionais e estruturais, em cada função, foram analisados de forma conjunta, a fim de identificar as variabilidades emergentes simultaneamente a partir do não atendimento aos requisitos. Os requisitos cujo não atendimento geram as variabilidades de saída de cada função são retomados das pré-condições, ao final da lista de cada aspecto, para dar seguimento à descrição de cada variabilidade. Por exemplo, na figura 29, a função <realizar terapias avançadas>, as variabilidades de saída estão listadas ao final dos aspectos.

__________________________________________________________________________________________ Fonte: elaborada pela autora.

Cada variabilidade é descrita abaixo dos requisitos retomados da lista de pré-condições, referentes a ela. Para exemplificar, a primeira delas é gerada pelo possível descumprimento aos protocolos da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), no tocante à falta de lavatórios e materiais para higienização de mãos. É importante fornecer lavatórios e dispensários de álcool, pois o risco de contaminação está relacionado ao ambiente físico, e protocolos do CCIH são importantes a fim de evitar episódios de infecções. Diante do apontamento dos usuários de que esse requisito é parcialmente atendido, devido à falta de lavatório e dispensários de álcool na UTI 1, isso pode causar variabilidade no atendimento, caso algum paciente seja contaminado.

Para calcular a criticidade das funções, foram utilizados os critérios estabelecidos no item 4.3. Foram pré-selecionadas as funções com variabilidade de saída de precisão e de tempo. No quesito de Número Total de Acoplamentos (NTA), foi feita uma média simples de acoplamentos das 33 funções, uma para àqueles à montante, e outra para os acoplamentos à jusante, que resultou em 12 e 1, respectivamente. A média do NTA das funções resultou em 14. As funções com variabilidade e NTA acima da média foram selecionadas como as mais críticas. A tabela 15 apresenta a ordenação das funções por criticidade, de forma decrescente, e as médias calculadas ao final das colunas dos critérios.

Tabela 6 - Funções ordenadas conforme a criticidade

__________________________________________________________________________________________

As funções <atender requisitos funcionais> e <atender requisitos estruturais> não foram selecionadas, em função de não ser uma atividade em si no processo analisado pelo estudo, mesmo possuindo grande número de acoplamento à jusante com as demais. As saídas delas, aspectos de pré-condição das funções, são consideradas no cálculo da criticidade das funções e dos requisitos. As cores das funções são relativas aos quatro grupos (Figura 11, item 5.1.3), e nas demais colunas foram ressaltados em vermelho os valores iguais ou maiores aos das médias estipuladas. A título de ilustração da aplicação do MIRFE, as cinco primeiras funções seriam as mais críticas.

A priorização dos requisitos foi feita conforme dois critérios: criticidade e requisitos mais mencionados pelas funções. O primeiro é baseado nas pré-condições das cinco funções mais críticas elencadas, onde os requisitos vinculados a elas, 63 no total, foram ordenados conforme frequência de solicitação nas funções de todo o modelo FRAM. A média de solicitação dos requisitos por função foi 4, sendo destacados os mencionados por 4 ou mais funções, resultando em 20 requisitos mais críticos (Tabela 16).

A função listada como a mais crítica é <prestar assistência constante>, cuja importância é inegável, posto que faz parte do grupo de funções que acontecem durante todo o tempo de permanência do paciente na UTI. Durante a realização de procedimentos assistenciais, requisitos relacionados ao acesso à área do paciente e ao seu conforto térmico são importantes, de forma a evitar intercorrências, eventos indesejados ao paciente. Atualmente as equipes não conseguem acessar 360º ao redor do paciente, devido à configuração do leito, além de exercerem suas atividades em um espaço limitado e muitas vezes expostos aos pacientes de outros leitos. Se um paciente está recebendo algum procedimento assistencial no horário de visitas, os pacientes dos leitos ao redor visualizam e escutam todo o procedimento. Isso pode impressioná-los e os comentários são ouvidos pelos acompanhantes do paciente que está sob procedimentos, causando desconforto a todos. No entanto, não se pode restringir as visitas quando há procedimentos, pois além de serem frequentes e necessários, o horário de visitas é estendido, devido à política de humanização para permitir maior contato dos pacientes com familiares. É muito importante que os leitos ofereçam privacidade visual aos pacientes. De acordo com as observações da pesquisadora, e relatos dos técnicos de enfermagem, alguns procedimentos, por exemplo, a traqueostomia, assustam os pacientes dos outros leitos, e por vezes ficam nervosos ao ver intubações muito invasivas, ao se imaginar na mesma situação.

Isso pode impactar inclusive na percepção de qualidade de cuidado recebido. Portanto, há um trade-off a ser gerenciado constantemente pelas equipes durante a prestação de assistência.

Tabela 7 - Requisitos ordenados conforme a criticidade

__________________________________________________________________________________________

A climatização na UTI não é individualizada, sendo que cada paciente apresenta uma necessidade diferente de temperatura, em decorrência do quadro clínico. Atributos que cooperam com a percepção de conforto pelos pacientes não são atendidos na UTI atual. A falta de atendimento a esses requisitos causa ansiedade e desconforto no paciente, ao acordar em um ambiente agitado, barulhento, com iluminação direta e focada, e muitas vezes intubado.

Esses fatores influenciam no despertar do paciente, o qual deve ser o mais tranquilo possível. Por isso, as equipes devem atentar para o despertar do paciente. Do contrário, é muito comum que o paciente manifeste a condição de "delirium", manifestação de disfunção cerebral aguda, com vigília e cognição alteradas, resultando em um paciente confuso (DANBURY et al., 2015). De acordo com relatos da equipe assistencial, a falta do contato com o exterior e com a iluminação natural, além da constante aplicação de sedativos são fatores que contribuem para a manifestação desta condição clínica, pois o paciente vai perdendo cada vez mais a noção de tempo e espaço. O delirium influencia no tempo de permanência do paciente na UTI, e está diretamente associado à assistência oferecida e à percepção sobre esta.

5.1.6 Etapa 6 - Desenvolvimento, armazenamento, aplicação e avaliação de soluções