• Nenhum resultado encontrado

Sistemas Sócio-técnicos Complexos são caracterizados pelas funções que eles executam em vez de como eles são estruturados (HOLLNAGEL et al., 2014). Segundo Hollnagel et al. (2014), devido às características dos SSC, as variabilidades de múltiplas atividades podem se combinar de maneiras inesperadas, levando a consequências desproporcionalmente grandes, produzindo um efeito não-linear. A ressonância funcional é o sinal da interação não intencional das variabilidades normais de cada função de um sistema. A combinação de comportamentos resilientes individuais pode levar a acidentes de ressonância funcional nos sistemas (HOLLNAGEL et al., 2011). A representação da lógica dos SSC é importante para o estudo da resiliência dos sistemas.Argumenta-se que modelos são ferramentas importantes para entender a complexidade dos problemas do mundo real que resultam da interação de fenômenos específicos e de seus ambientes (MABRY, et al., 2008; CAREY et al., 2015).

O Método de Análise da Ressonância Funcional, conhecido como Functional Resonance Analysis Method (FRAM) possibilita uma modelagem que reflete o conceito da Engenharia de Resiliência. É uma abordagem sistemática para criar uma descrição ou representação de como uma atividade ou sequência de ações geralmente ocorrem, a fim de compreender o impacto da variabilidade em um SSC, a partir do trabalho real (HOLLNAGEL, 2012).

A primeira descrição abrangente dos princípios básicos da FRAM encontra-se em Hollnagel e Goteman (2004). Hollnagel (2012) lista os pressupostos básicos do FRAM:

1. Princípio da equivalência: o entendimento de que as causas que levam ao sucesso são as mesmas que levam as falhas;

2. Princípio dos ajustes aproximados: as pessoas constantemente ajustam o trabalho, de acordo com as condições impostas;

3. Princípio dos fenômenos emergentes: o conhecimento de que nem todos os resultados possuem uma causa identificável e específica;

4. Princípio da ressonância: em casos nos quais não é possível explicar um resultado pelo princípio de causa-efeito, a ressonância funcional pode ser usada para descrever e explicar interações e resultados não lineares.

Segundo Hollnagel et al. (2014), o evento selecionado para análise através do FRAM é descrito em termos das funções, atividades necessárias para realizar um processo, os acoplamentos entre elas, a variabilidade típica das suas ações e as possíveis ressonâncias resultantes. O número total de acoplamento (NTA) entre as funções possibilita uma visão geral da complexidade, da interação das funções entre si. O propósito é fornecer uma descrição concisa e sistemática do WAD. Uma função consiste na descrição do que um agente, de natureza técnica, humana ou social, precisa realizar para atingir um objetivo, sendo sempre nomeada com verbos no infinito, por exemplo, "elaborar prescrição". Cada função é caracterizada por seis aspectos: entrada, saída, controle, precondição, tempo e recursos (Figura 2), com substantivos e verbos no particípio.Para que um modelo FRAM seja completo, cada aspecto de função que foi descrito deve ter uma relação com outra função. As variabilidades de saída das funções são classificadas conforme precisão (precisa, aceitável ou imprecisa) e tempo (muito cedo, no tempo, tarde ou não ocorreu) (HOLLNAGEL, 2012).

De acordo com Hollnagel (2012), o modelo FRAM pode ser usado para tipos específicos de análise, seja para determinar como algo deu errado, analisar riscos, verificar a viabilidade de soluções ou intervenções futuras, ou simplesmente entender como uma atividade ou serviço acontece. Objetiva identificar formas de monitorar o desenvolvimento da ressonância funcional, quer para reduzir ou para amplificar a variabilidade potencial de cada função, que pode levar a resultados indesejados ou desejados, respectivamente. A avaliação de projeto é feita para encontrar condições ou fatores que possam contrariar ou impedir que um produto ou

__________________________________________________________________________________________

sistema projetado funcione como previsto. O FRAM pode ser usado para ver como as combinações de pré-requisitos e/ou recursos múltiplos podem interferir no projeto do sistema (HOLLNAGEL; GOTEMAN, 2004). O FRAM fornece um modelo para identificar as diferenças entre o WAI e o WAD. Portanto, em vez de desperdiçar recursos na mudança de comportamento dos trabalhadores, as diretrizes podem ser introduzidas de uma forma que sejam compatíveis com o modo como já estão trabalhando (CLAY-WILLIAMS et al., 2015).

Figura 2 - Descrição dos seis aspectos do FRAM

Fonte: adaptado de Hollnagel et al., 2014.

Desde a sua concepção (HOLLNAGEL, 2012), o FRAM vem sendo aplicado em diversas pesquisas e contextos.De Carvalho (2011) e Tan et al. (2017) utilizaram o método para analisar cenários de acidentes no setor da aviação. O projeto europeu Horizonte 2020 "Orientações de gestão de resiliência e operacionalização aplicada ao ambiente de transportes urbanos" visa desenvolver as Diretrizes Européias de Gerenciamento de Resiliência na área de Sistemas de Transporte Urbano, em torno do conceito de adaptabilidade sustentada e do FRAM (BELLINI et al., 2016). Rosa et al. (2015) e Saurin (2016) aplicaram o FRAM na avaliação de risco nos processos da indústria da construção civil. É interessante contribuir para a melhoria do método e criação de formas inovadoras de integrá-lo com outras ferramentas e princípios (SAURIN, 2016).

Na área da saúde, por sua vez, Hollnagel et al. (2014) realizaram a análise de administração de medicamentos com o uso do FRAM. Clay-Williams et al. (2015) apresentaram o modelo FRAM para entender o WAD e aproximar o WAI do executado. Como resultado, um sistema

de gestão visual foi criado para sinalizar o agendamento de cirurgias, conforme a disponibilidade de leitos de UTI. Rosso e Saurin (2018) propuseram melhorias no fluxo do paciente grave desde a emergência até a UTI, a partir do uso de ferramentas da Produção Enxuta e do FRAM. Lando (2018) aplicou o método FRAM em uma unidade de internação hospitalar, a fim de analisar as operações integradas, com relação a suas variabilidades, seus conflitos de metas e as perdas ocorridas nas atividades. A pesquisa de Pickup (2018) mostrou por que os procedimentos nem sempre podem ser seguidos e por que a saída de uma função pode influenciar a segurança e o desempenho, na atividade de amostragem de sangue. A adoção de uma abordagem de fatores humanos e o uso do modelo FRAM permitiram uma melhor compreensão de como o trabalho realmente é feito dentro do sistema e por que a variabilidade existe em um ambiente de saúde complexo (PICKUP, 2018).

__________________________________________________________________________________________

3 O AMBIENTE CONSTRUÍDO

Neste capítulo são abordadas questões relacionadas à gestão de ambientes hospitalares, em relação ao projeto dos empreendimentos e ambiente construído. Os conceitos de requisitos e valor são discutidos, sendo apresentados métodos para gerenciamento de informações relacionadas a intervenções em sistemas complexos.