• Nenhum resultado encontrado

3.2 Protocolo de Pesquisa

3.2.2 Coleta de dados

O estudo de caso é um método que utiliza diversas técnicas de pesquisa e coleta de dados para atingir seu objetivo. Yin (2010) sugere seis fontes de evidências do estudo de caso, quais sejam: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos, cuja utilização depende do domínio de diferentes procedimentos de coleta de dados.

O mesmo autor observa que, além de estar familiarizado com os procedimentos de coleta de dados por meio das referidas fontes de evidência, o pesquisador deve atentar-se para os

desafios do projeto relacionados à validade do constructo, validade interna, validade externa e a confiabilidade. Dessa forma, para que o estudo seja de alta qualidade, o autor propõe três princípios de apoio a serem seguidos: o uso de múltiplas fontes; a criação de um banco de dados do estudo de caso; e a manutenção de um encadeamento de evidências.

No presente estudo foram utilizadas as técnicas pesquisa documental e entrevista semi- estruturada. Ainda, como a pesquisa ocorreu na perspectiva díade, foi possível confrontar e comparar (análise cruzada) várias informações obtidas por meio das entrevistas realizadas tanto na montadora como nos fornecedores, o que aumenta a confiabilidade dos dados.

A pesquisa documental, quando da condução de um estudo de caso, possui o intuito de proporcionar um melhor entendimento do caso ou dos casos, bem como corroborar evidências coletadas por outros instrumentos ou outras fontes, para maior confiabilidade dos achados por meio da triangulação tanto de dados quanto de resultados (Martins, 2008; Yin, 2010).

Com a pesquisa documental, pretendeu-se obter informações para um melhor conhecimento das empresas objeto de estudo. Foram levantadas informações em fontes públicas como revistas do setor automotivo e nos sites oficiais da web das empresas investigadas. Pesquisou- se, também, documentos internos dessas empresas que pudessem conter informações relevantes para o alcance do objetivo deste trabalho. Tais documentos foram: planilhas de custos, contratos de fornecimento, planilha IDF (Índice de Desenvolvimento de Fornecedores), que avalia o desempenho dos fornecedores quanto ao fornecimento à montadora, e Caderno de Compras, relatório mensal emitido pela montadora, que mostra a sua performance, o acompanhamento de índices, bem como os dados sobre os fornecedores, como a posição deles em termos de faturamento, o volume de compras no mês por fornecedor, os reajustes concedidos no período, entre outros.

Esses documentos regulamentam o relacionamento entre as partes e o objetivo foi proporcionar um maior entendimento sobre cada relacionamento pesquisado nessa tese. Vale destacar que todos os documentos foram disponibilizados para análise pela montadora. Porém não foi possível retirá-los, ocorrendo a análise na própria montadora. Os contratos de fornecimento foram analisados mediante duas visitas à montadora, que duraram cerca de duas

horas e quarenta minutos. Nessas ocasiões foi liberada uma sala para que pudessem ser realizadas a leitura dos contratos e as anotações necessárias sobre as suas cláusulas. Ademais, foi disponibilizada uma pessoa por parte da montadora para sanar eventuais dúvidas que surgissem.

Já os demais documentos foram mostrados por um analista de custos indicado pelo gestor de compras da montadora, que comentou e esclareceu os detalhes de cada um deles: a forma em que ocorrem os pleitos de reajustes pelos fornecedores, como a montadora calcula os percentuais de reajuste, a estrutura de custos apresentada nas planilhas de cada fornecedor, o nível de detalhe das informações nas planilhas compartilhadas pelos fornecedores, posicionamento dos fornecedores em relação ao faturamento com a montadora, entre outros. Na ocasião, puderam ser realizadas diversas perguntas e, além de coletar informações adicionais, pôde-se confrontar as informações com aquelas que já haviam sido coletadas na entrevista com o gestor de compras da montadora. Essa parte da análise durou aproximadamente uma hora e meia.

Em relação às entrevistas, Yin (2010) e Creswell (2014) comentam que são uma das fontes mais importantes de informações para o estudo de caso. O objetivo básico dessa técnica de pesquisa para Martins (2008, pp. 27) é “(…) entender e compreender o significado que os entrevistados atribuem a questões e situações, em contextos que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjecturas do pesquisador”.

Na entrevista semi-estruturada, o pesquisador busca levantar informações por meio de uma conversação livre, sem se restringir a um roteiro prévio de perguntas (Martins, 2008), tratando-se de uma das mais importantes técnicas de coleta de dados em estudos de casos cujo enfoque é qualitativo. Além de valorizar a presença do pesquisador, esse tipo de entrevista oferece todas as perspectivas possíveis para que o respondente tenha a liberdade e a espontaneidade necessárias (Triviños, 2008).

A coleta de dados por meio das entrevistas teve o intuito de captar a percepção dos entrevistados em relação ao objetivo proposto neste trabalho. Para tanto, as empresas objeto de estudo foram aquelas que adotavam o OBA, sendo, portanto, escolhidas por conveniência. O primeiro contato foi realizado com o gerente de engenharia de programas e PD&I da montadora, por telefone, que solicitou um e-mail com as explicações sobre o projeto de

pesquisa, o qual foi redirecionado para o gestor de compras. Não obtendo um retorno, o gerente de engenharia foi contactado novamente por e-mail, em que passou os contatos diretos (telefones e e-mail) do gerente de compras. Assim, foi enviado um e-mail diretamente para o gestor de compras, e, posteriormente, realizado contato telefônico. Depois disso, a primeira entrevista ocorreu com a montadora.

Nessa entrevista, foram solicitados os contatos de alguns fornecedores diretos da montadora, os quais foram recebidos via e-mail. De posse dessas informações, iniciaram-se os contatos com os fornecedores, inicialmente por e-mail e depois por telefone. Por ter a intermediação da montadora, os três fornecedores indicados aceitaram participar da pesquisa.

As pessoas entrevistadas foram, portanto, o gerente de compras na montadora e os gerentes de vendas/comercial/de contas nos fornecedores, todos ligados ao departamento de vendas; esses foram escolhidos por se acreditar que possuíam conhecimento adequado sobre a cadeia de suprimentos e o compartilhamento de informações entre as empresas, de forma a garantir alto nível de confiabilidade das respostas. As entrevistas ocorreram entre setembro de 2014 e junho de 2015. No Quadro 10, estão apresentadas as informações sobre os entrevistados, duração das entrevistas realizadas (inclusive as complementares) e o tempo de análise de documentos.

Polo da

relação Entrevistado Cargo

Tempo no cargo* Tempo no setor* Duração das entrevistas** Tempo de análise de document os**

Originais Complementares

Montadora

Alfa Entrevistado Alfa Gerente de Compras 4 anos 27 anos 66:01 48:42

252:24 Fornecedor

Beta Entrevistado Beta Gerente de Vendas 1 ano 1 ano 54:13 16:39 Fornecedor

Gama Entrevistado Gama

Gerente de Contas

Montadoras 7 anos 18 anos 124:53 - Fornecedor

Delta Entrevistado Delta Gerente Comercial 1 ano 14 anos 44:45 61:39

Totais 289:52 127:00 252:24

416:52

Quadro 10. Dados das entrevistas. Fonte: Desenvolvido pela autora. *Aproximadamente

** Em minutos

Nota 1: As entrevistas complementares foram realizadas via telefone, exceto com o gerente de compras da montadora, a qual foi realizada na própria montadora.

As entrevistas ocorreram conforme a disponibilidade dos entrevistados, em suas respectivas empresas, exceto com o gestor de contas do Fornecedor Gama, que foi entrevistado nas dependências da Montadora Alfa, o que se explica por terem sido frustradas algumas tentativas de agendamento no próprio fornecedor, e pelo surgimento da oportunidade de entrevistá-lo na ocasião de uma visita à planta da fábrica da montadora. Todas as entrevistas foram gravadas, com a devida autorização dos entrevistados, e transcritas posteriormente. A transcrição das entrevistas ocorreu de forma literal, obedecendo, o mais fielmente possível, o registro de fala do respondente, sem a preocupação com questões de regência, concordância, colocação pronominal, contrações, anacolutos típicos da modalidade falada da língua, entre outras questões linguísticas. Pequenos ajustes, no entanto, conforme recomenda Manzini (2015), foram realizados na grafia, de forma que o conteúdo de interesse da pesquisa não sofresse alteração.

Depois de transcritas as entrevistas, verificou-se que algumas informações precisariam ser complementadas. Foram reagendadas, então, novas entrevistas, sendo que a primeira entrevista complementar com o gestor de compras da Montadora Alfa foi realizada pessoalmente. A segunda foi realizada por telefone. Com os entrevistados dos fornecedores, todas as entrevistas complementares foram realizadas por telefone. Desse modo, foram realizadas três visitas à fábrica da Montadora Alfa para entrevistas e análises de documentos, em encontros nunca inferiores a duas horas de trabalho.

Ressalte-se que foi acordado com os participantes da pesquisa, por meio de um Protocolo Ético de Pesquisa, manter confidencialidade dos entrevistados e das empresas investigadas, não podendo-se expor quaisquer informações que levem à sua identificação.

Aspectos sobre os instrumentos de coleta de dados

O instrumento de coleta de dados foi formulado de acordo com os assuntos que compõem o objetivo desta tese, em que as questões foram separadas em blocos, por tipo de assunto, e foram aquelas essenciais para que se alcançasse tal objetivo. Os instrumentos de coleta de dados são apresentados, em sua íntegra, nos Apêndices 1 e 2.

As questões dos roteiros de entrevistas apresentam, sempre que cabíveis, o objetivo e o referencial teórico que as sustentam, para facilitar o seu entendimento e as posteriores

análises. Procurou-se elaborar questões curtas em linguagem simples, sendo a maioria de formato aberto. Contudo, algumas questões tiveram seu formato fechado para facilitar o entendimento, mas sempre com espaço para maiores explicações por parte dos entrevistados e nunca limitando-se às opções apresentadas.

Depois de desenvolvido, o instrumento passou por um pré-teste para verificar a sua aplicabilidade e necessidade de ajustes. O pré-teste foi realizado com um professor com perfil chave, já que é um estudioso da área de relacionamentos interorganizacionais com vasta experiência empresarial, inclusive no setor automotivo. Foram identificados alguns pontos que necessitavam de ajustes, os quais foram discutidos e, então, realizadas as alterações pertinentes.

O professor sugeriu, ainda, que fossem realizadas entrevistas preliminares (Bloco A) para um entendimento do contexto em que ocorre a aplicação do OBA, bem como para verificar se as empresas potenciais de investigação atenderiam aos requisitos da pesquisa. Foi sugerido também que os roteiros fossem revisados no sentido de reduzir, com critério, o número de questões, focando naquelas essenciais para alcançar o objetivo proposto. As sugestões, sempre que cabíveis, foram consideradas.

Sempre que possível, foram utilizadas questões previamente testadas e validadas a partir de estudos anteriores, com o intuito de reduzir os erros de resposta (Van der Stede, Young & Chen, 2005, 2007). Outro ponto importante considerado no roteiro das entrevistas foi que, como a investigação ocorreria tanto com o comprador quanto com fornecedores, algumas questões poderiam não fazer sentido conforme a parte que estava sendo entrevistada. Assim, foram preparados dois roteiros distintos de entrevistas segundo cada um desses polos da relação.

Os roteiros foram compostos por informações que identificam o respondente e por blocos de assuntos que se relacionam ao objetivo proposto nesta tese, quais sejam: “questões preliminares – contexto de aplicação do OBA”; “forma de adoção e uso do OBA”; “forma de aplicação da IOCM”; “confiança das partes no relacionamento”; “satisfação das partes com o relacionamento”; “investimentos específicos no relacionamento”; “estabelecimento de

salvaguardas” e “comportamento oportunista das partes”. Na sequência, tem-se um breve comentário sobre cada bloco de assuntos.

Bloco A – Questões preliminares – Contexto de aplicação do OBA

O objetivo do Bloco A foi verificar em que contexto ocorre a aplicação do Open-Book

Accounting. As questões desse bloco foram utilizadas em entrevista preliminar com a

montadora para verificar se a mesma e os fornecedores indicados atenderiam aos requisitos da pesquisa, e posteriormente, foram reforçadas nas entrevistas com os fornecedores.

Bloco B – Forma de adoção e uso do OBA

Para Windolph e Moeller (2012), as práticas de Open-Book Accounting podem diferir significativamente em relação à direção do compartilhamento de informações, ao grau e à qualidade das informações de custos, e aos limites de abertura. No entanto, nesta tese, entende-se que outros aspectos também são importantes na investigação das práticas do OBA, conforme contempla o Quadro 6 – Sistematização das dimensões do OBA. Assim, o objetivo desse bloco foi verificar como o OBA vem sendo praticado em relação às dimensões propostas neste trabalho. As perguntas desse bloco basearam-se no trabalho de Windolph e Moeller (2012), mas também em diversos outros autores.

Bloco C – Forma de aplicação da IOCM

As questões para avaliar os aspectos relacionados à aplicação da IOCM tiveram como base Cooper e Slagmulder (1999, 2004), os quais propõem que empresas aplicam diferentes instrumentos para economizar e gerenciar custos por meio de atividades conjuntas entre compradores e fornecedores. O objetivo foi identificar a extensão pela qual são empreendidas atividades conjuntas entre a montadora e seus fornecedores diretos para economia de custos.

Bloco D – Confiança das partes no relacionamento

As perguntas para avaliação desse constructo tiveram como base, principalmente, os trabalhos de Nyaga, Whipple e Lynch (2010) e Kumar, Scheer e Steenkamp (1995a, b). Seu propósito foi identificar se há confiança entre as partes no relacionamento, se as partes confiam que as informações compartilhadas não terão uso abusivo e se o OBA influencia a confiança e vice- versa.

Bloco E – Satisfação das partes com o relacionamento

Apesar de alguns autores considerarem a satisfação um constructo único, nesta tese, compartilhando os pensamentos de Geyskens, Steenkamp e Kumar (1999), Kulmala, Paranko e Uusi-Rauva (2002), Nyaga, Whipple e Lynch (2010) e Windolph e Moeller (2012), entende- se que a satisfação com o relacionamento deve ser avaliada por meio de duas dimensões: a satisfação econômica e a satisfação social. Nessa perspectiva, o objetivo desse bloco foi verificar a satisfação das partes com o relacionamento e investigar a influência do OBA e da confiança (antecedentes da satisfação) sobre essas duas dimensões da satisfação.

Bloco F – Investimentos em ativos específicos no relacionamento

Este bloco de questões teve por objetivo identificar se as partes fazem investimentos em ativos específicos no relacionamento, se perderiam valor nos investimentos feitos, caso houvesse ruptura de contrato, e se os ativos específicos investidos influenciam o OBA, a confiança e a satisfação com o relacionamento. As perguntas para avaliação desse constructo foram baseadas nos trabalhos de Nyaga, Whipple e Lynch (2010), Ganesan (1994), Jap e Ganesan (2000), Dyer e Chu (2003).

Bloco G – Estabelecimento de salvaguardas

As questões para medir esse constructo tiveram como foco os trabalhos de Windolph e Moeller (2012) e Jap e Ganesan (2000), e o seu objetivo foi verificar quais são os tipos de salvaguardas utilizadas para proteger a transação contra comportamentos oportunistas das partes.

Bloco H – Comportamento oportunista das partes

Para avaliação do oportunismo das partes no relacionamento, as questões dos roteiros de entrevistas foram também baseadas na pesquisa de Windolph e Moller (2012). O objetivo desse bloco foi verificar se as partes fazem uso indevido das informações compartilhadas e se a influência do OBA sobre a satisfação depende do comportamento oportunista das partes.

Ademais, para garantia da confiabilidade dos dados obtidos, bem como dos resultados, sempre que possível foram elaboradas, de maneiras diferentes, questões sobre um mesmo assunto, dentro de um mesmo roteiro de entrevista, para confrontar as respostas dos

entrevistados. Em certos casos, a mesma pergunta foi feita tanto no roteiro de entrevista dos fornecedores quanto no do comprador, inclusive para verificar a percepção de cada parte sobre determinado assunto.