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2.4 Open-Book Accounting

2.4.1 Dimensões do OBA

Apesar da orientação empírica das pesquisas sobre OBA, existe uma considerável imprecisão (Agndal & Nilsson, 2010), e uma falta de consenso (Caglio & Ditillo, 2012) quanto aos tipos de informações que, de fato, são compartilhadas quando do uso dessa ferramenta.

Assim, na tentativa de se estruturar as dimensões do OBA, fez-se um levantamento da literatura existente, evidenciando-se o que sugerem diferentes autores, conforme exibido no Quadro 4.

Dimensões do OBA Referências

Natureza das informações compartilhadas a) Tipos de informação compartilhada

Previsão de vendas. Mouritsen, Hansen e Hansen (2001) Gestão de preços. Hoffjan, Lürs e Kolburg (2011) Estimativas de custos de material, mão de obra, overhead, compras e da

gestão de suprimento. Romano e Formentini (2012) Custos para controle da qualidade, equipamentos e ferramentas especiais. Romano e Formentini (2012) Dados de custos agregados sobre matéria-prima, mão de obra e inventário. Romano e Formentini (2012) Informações sobre estruturas de custos, como componentes de produtos e

operações envolvidos. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Dados de custos referentes a cada componente e operação, overheads

administrativos, ou margens de lucro. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Dados de custos em percentuais ou em taxas (por exemplo: sobre custos

de overheads). Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Números relacionados às operações (por exemplo: tempo por unidade). Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Informações sobre políticas e certificação ambiental e de qualidade,

subfornecedores, planos para investimentos e desenvolvimento de

produtos. Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Detalhes de partes constituintes do processo (por exemplo: operações de

moldagem, pintura, acabamento e submontagem de operações). Munday (1992) Informações detalhadas de custos sobre processos, alocação de overheads,

custos de desperdícios, de sucatas, de embalagens, de transportes. Munday (1992) Informações sobre qualidade, preço e problemas de entrega, competências

de P&D, estruturas de custos e custo-meta. Tomkins (2001) Informações financeiras: custos de material, custos de desenvolvimento,

custos de pesquisas, custos da qualidade, custos de mão de obra,

overheads da produção, custos administrativos e gerais.

Caglio e Ditillo (2012) Informações não financeiras: tempos de condução e entrega, defeitos e

qualidade, produtividade e consumo de recursos, informações de

quantidade, complexidade do produto. Caglio e Ditillo (2012) Informações sobre estruturas de custos, saturação da capacidade, set-ups,

tempos de ciclo, tempos de movimento e informações sobre entregas. Carr e Ng (1995), Mouritsen et al. (2001) Informações sobre custos de matéria-prima, custos de mão de obra,

overheads da produção, custos de transportes. Kajüter e Kulmala (2005)

Informações não financeiras tais como: sucatas, saturação da capacidade,

Continuação do Quadro 4 b) Frequência de compartilhamento

Compartilhamento frequente. Romano e Formentini (2012) Compartilhamento ocasional Romano e Formentini (2012) Compartilhamento de informações anualmente, semestralmente,

trimestralmente, mensalmente, semanalmente e diariamente. Caglio e Ditillo (2012)

c) Nível de detalhe

Informações muito detalhadas (sobre cada processo ou cada componente

do produto, por exemplo). Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Informações mais gerais (dados sobre estruturas de custos). Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Informações de custos relativamente não específicas. Windolph e Moeller (2012) Informações disponíveis e utilizadas em um sistema interno de

contabilidade da empresa, com a transferência de dados sem atrasos e sem modificações.

Axelsson, Laage-Hellman e Nilsson ( 2002), Windolph e Moeller (2012)

d) Direção do Compartilhamento de informações

Bilateral, tanto o fornecedor quanto o comprador fornecem suas informações.

Lamming (1996), McIvor (2001), Lamming, Caldwell e Harrison (2004), Hoffjan e Kruse (2006), Windolph e Moeller (2012)

Unilateral, somente o fornecedor fornece suas informações de custos.

Lamming (1996), McIvor (2001), Lamming, Caldwell e Harrison (2004), Hoffjan e Kruse (2006), Windolph e Moeller (2012)

e) Limites de Abertura

Compartilhamento de forma díade, ou seja, apenas entre fornecedor e

comprador. Windolph e Moeller (2012)

Compartilhamento em toda a cadeia. Windolph e Moeller (2012)

Usos e propósitos das informações compartilhadas

Controle no sentido de assegurar que fornecedores ajam de acordo com os desejos do comprador.

Tomkins (2001), Dekker (2003, 2004, 2008), Langfield-Smith e Smith (2003)

Auxiliar compradores e fornecedores nos processos de tomadas de

decisões para que aumentem a eficiência da cadeia de suprimentos. Carr e Ng (1995)

Seleção e avaliação de fornecedores. Agndal e Nilsson (2008), Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Melhorar as políticas operacionais referentes ao relacionamento

comprador-fornecedor (por exemplo: taxa de entrega), o que também deve

conduzir a redução de custos. Suomala et al. (2010) Reduzir custos de componentes no curto prazo. Suomala et al. (2010) Revisar preços de vendas da carteira de fornecedores. Suomala et al. (2010) Em acordos sobre objetivos de custos ao nível de evento ou de atividade. Suomala et al. (2010) Demonstrar compromissos mútuos – o OBA como um exercício de

colaboração tem um valor simbólico para os parceiros envolvidos. Suomala et al. (2010) Comunicar objetivos do comprador para o fornecedor. Suomala et al. (2010)

Projeto e pré-produção. Agndal e Nilsson (2008), Romano e Formentini (2012) Produção em curso. Agndal e Nilsson (2008)

Na aplicação de técnicas de gestão de custos: gestão simultânea de custos; investigação de custos interorganizacionais; sistema Kaisen ou análises de valor.

Cooper e Slagmulder, (1999, 2003b; 2004), Agndal e Nilsson (2008)

Uso informal: por exemplo, para ajudar fornecedores a identificar falta de competência e desenvolvê-la; ou quando informações de custos são trocadas fora do escopo de uma técnica de gestão de custos.

Continuação do Quadro 4

Em todos os estágios do processo de projeto do produto ou em algumas

das fases, a depender da frequência e do nível de detalhamento dos dados. Romano e Formentini (2012) Em um vasto, ou estreito, leque de atividades nos processos de produção e

da cadeia de suprimentos, a depender da frequência de compartilhamento

e do nível de detalhamento dos dados. Romano e Formentini (2012) Assegurar margens do fornecedor e compensar com investimentos

específicos em transações. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Informar ao comprador sobre certos custos ocultos. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Ganho de conhecimento para suportar barganha. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Identificar ineficiências do fornecedor. Dekker (2003)

Desenvolver projetos conjuntos para melhorar as ineficiências. Dekker (2003) Uso das informações sem comparações entre concorrentes, para reduzir as

preocupações dos fornecedores sobre o uso abusivo. Dekker (2003)

Garantir confiança. Tomkins (2001)

Revelar oportunidades de redução de custos comuns. Tomkins (2001)

Para melhoria contínua. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Eliminar desperdícios na cadeia de suprimentos. Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Facilitar o desenvolvimento de produtos.

Moutisen et al. (2001), Langfield- Smith e Smith (2003), Dekker (2004), Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Aumentar a eficiência operacional do fornecedor e do comprador. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Coordenar a cadeia de suprimentos. Moutisen et al. (2001), Langfield-Smith e Smith (2003), Dekker

(2004)

Processo de qualificação dos fornecedores. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Durante negociações com fornecedores. Suomala et al. (2010), Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Durante o processo de renegociação. Agndal e Nilsson (2008), Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Permitir otimização de produtos e serviços, bem como de processos

administrativos. Agndal e Nilsson (2010)

Avaliação pós-compra. Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Condições e incentivos do OBA

Condições contraditórias e sem confiança. Agndal e Nilsson (2010) Condições cooperativas e com base na confiança. Agndal e Nilsson (2010) Uso de assimetrias de poder. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Economia de escala. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Equilíbrio de poder entre as firmas. Kulmala (2004)

Confiança entre as partes. Kulmala (2004), Kajüter e Kulmala (2005), Agndal e Nilsson (2010), Kumra Agndal e Nilsson (2012) Demonstração por parte do comprador que os dados compartilhados são

necessários para o alcance de benefícios comuns. Agndal e Nilsson (2010) Desenvolvimento de ferramentas específicas para facilitar o

compartilhamento e subsequente análise dos dados de custos. Kajüter e Kulmala (2005)

Estabelecimento de benefícios mútuos (“ganha-ganha”). Kajüter e Kulmala (2005), Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Sistema de compensação. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Benefício de ser escolhido como fornecedor. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Nível de cooperação. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Volume de negócios mútuos das firmas. Kulmala (2004), Kajüter e Kulmala (2005) Suporte técnico. Kajüter e Kulmala (2005), Romano e Formentini (2012) Suporte em marketing. Agndal e Nilsson (2009), Romano e Formentini (2012)

Continuação do Quadro 4

Suporte nas negociações de preços. Carr e Ng (1995), Agndal e Nilsson (2010), Romano e Formentini (2012)

Resolução de problemas em conjunto. Carr e Ng (1995), Kajüter e Kulmala (2005), Romano e Formentini (2012)

Garantia de contrato futuro. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Compartilhamento de dados sobre planos de produção e de previsão. Romano e Formentini (2012) Maiores volumes negociados e contratos mais longos. Romano e Formentini (2012) Garantia de certa margem de lucro pelo comprador. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Proteção contratual dos interesses do fornecedor. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Recomendação para outros clientes. Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Quadro 4. Dimensões do Open-Book Accounting segundo a literatura. Fonte: Desenvolvido com base em diversos autores.

No Quadro 4 são evidenciadas diferentes dimensões do OBA, conforme pesquisas de diversos autores. Contudo, em muitos casos, essas dimensões são redundantes, ambíguas e permanecem sem um adequado esclarecimento, o que requer determinada sistematização.

Para ilustrar o exposto, recorre-se a Romano e Formentini (2012), os quais apontam a frequência do compartilhamento de dados de custos como compartilhamento frequente e compartilhamento ocasional. No entanto, os autores não especificam se frequente refere-se a diariamente, semanalmente, mensalmente, enfim, não se sabe, com precisão, a qual frequência se referem. O mesmo ocorre quando se trata do compartilhamento ocasional: não se sabe se seria uma vez ao mês, ao semestre, ao ano, ou a cada seleção de fornecedor.

Outro exemplo é o nível de detalhe das informações compartilhadas proposto por Windolph e Moeller (2012). Os autores mencionam “informações de custos relativamente não específicas” e isso gera dúvidas em relação ao que de fato os autores querem se referir. Em outras palavras, quais seriam as informações que se enquadrariam nessa classificação.

As dimensões estabelecidas parecem também não contemplar todas as dimensões importantes para o contexto do Open-Book Accounting. Além disso, algumas dimensões se confundem com outras e alguns itens são classificados de forma incorreta, mostrando a necessidade de se desenvolver uma classificação clara e concisa.

Ainda, alguns autores acreditam que as informações compartilhadas por meio do OBA limitam-se às de custos (Hoffjan & Kruse, 2006), porém outros consideram um conceito mais

amplo para essa ferramenta, abrangendo informações da Contabilidade Gerencial, apesar de assumirem que prevalecem as de custos (Car & Ng, 1995; Mouritsen, Hansen & Hansen, 2001; Tomkins, 2001; Kajüter & Kulmala, 2005; Caglio & Ditillo, 2012). Neste trabalho, considera-se que as informações compartilhadas por meio do OBA são relativas a custos, processos e/ou atividades, e não se limitam à Contabilidade Gerencial, podendo abranger informações, por exemplo, relacionadas à Logística e à Tecnologia da Informação.

Outro aspecto importante e pouco considerado pela literatura sobre o OBA são os determinantes de custos. Esses determinantes podem influenciar, de alguma forma, a implementação e o uso do Open-Book Accounting. Costa (2011) sugere dezesseis determinantes de custos, quais sejam: modelo de gestão, escala, utilização da capacidade, escopo, experiência, tecnologia, diversidade (produtos e serviços, fornecedores, clientes, máquinas e equipamentos), comprometimento, qualidade (do produto ou serviço, gestão da qualidade total), arranjo físico, projeto do produto ou serviço, relações na cadeia de valor, estrutura de capitais, tempestividade, localização e fatores institucionais da empresa.

Parte desses determinantes é considerada por alguns autores, conforme evidenciado no Quadro 5:

Determinantes de Custos Autor (es)

Escala Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Produtos ou serviços

Produtos funcionais Kajüter e Kulmala (2005) Complexidade do produto ou

serviço Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Fornecedores

Estabelecimento de benefícios

mútuos Kajüter e Kulmala (2005); Kumra, Agndal e Nilsson (2012) Seleção e avaliação de

fornecedores

Agndal e Nilsson (2008); Kumra, Agndal e Nilsson (2012)

Comprometimento Suomala et al. (2010)

Qualidade

Controle da qualidade Romano e Formentini (2012) Qualidade de produtos Tomkins (2001)

Custos da qualidade Caglio e Ditillo (2012)

Trade off preço-funcionalidade-

qualidade Cooper e Slagmulder (1999, 2003b, 2004); Agndal e Nilsson (2008) Projeto do produto ou serviço Agndal e Nilsson (2008); Romano e Formentini (2012); Dekker (2003) Relações na cadeia de suprimentos Kajüter e Kulmala (2005)

Contudo, os demais determinantes não são considerados pela literatura existente, apesar de se perceber que eles influenciam as estruturas de custos de uma empresa, assim como de uma cadeia de suprimentos. Nessas circunstâncias, é relevante considerar os determinantes de custos quando da análise da aplicação do OBA.