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3 METODOLOGIA

3.2 COLETA DE DADOS

A principal forma de coleta de dados utilizada foi a navegação orientada nos sítios

eletrônicos dos IFs. O uso dessa técnica foi adotado a partir da observação dos estudos

realizados por Amorim (2012) em sua pesquisa de doutorado sobre a relação entre democracia,

internet e as cidades, onde analisou a transparência de gestão nos sítios eletrônicos das capitais

brasileiras. Segundo a referida autora, a navegação orientada tem o intuito principal de juntar

um conjunto de dados, informações e observações necessários para à análise do problema de

pesquisa em evidência.

Tendo como referência um pré-teste feito nos sítios eletrônicos de alguns IFs que não

fizeram parte da amostra, foi estabelecido como tempo máximo de navegação em cada sítio

eletrônico o intervalo de 2 horas e 30 minutos, pois foi possível perceber que tal tempo seria

suficiente para se coletar as informações desejadas. As navegações foram feitas com o mínimo

de interrupções possíveis, havendo interferências apenas por problemas temporários dos sítios

eletrônicos das instituições que em alguns momentos ficaram indisponíveis. Tais

procedimentos buscaram dar mais equidade à coleta de dados, sistematização à pesquisa e

confiabilidade às análises realizadas.

Além da navegação orientada, outra fonte importante de coleta foi o Sistema Eletrônico

do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC) do Ministério da Transparência, Fiscalização e

Controladoria-Geral da União (CGU) por onde foram enviadas duas solicitações de acesso à

informação para cada um dos IFs. As duas questões encaminhadas para as instituições foram

iguais, a fim de se analisar a transparência passiva das mesmas, conforme será detalhado mais

à frente.

A coleta de dados (navegação orientada e solicitações de informações via e-SIC) foi

realizada do dia 09 de novembro a 26 de dezembro de 2016, conforme havia sido estabelecido

previamente no organograma do projeto de pesquisa. Sendo assim, as informações atualizadas

nos sítios eletrônicos, bem como as possíveis respostas enviadas pelo e-SIC fora desse período

não foram consideras por este estudo.

A coleta das informações empíricas, por meio da navegação orientada, ocorreu com base

em um instrumento desenvolvido a partir da adaptação de trabalhos que vem sendo realizado

por instituições de referência em estudos sobre transparência pública no Brasil como o Índice

de Transparência do Poder Legislativo criado pelo Senado Federal e que objetiva mensurar a

transparência do Poder Legislativo em quatro dimensões: transparência legislativa,

transparência administrativa, participação e controle social e aderência à LAI. Outra fonte foi

o Ranking Nacional de Transparência que é coordenado pelo Ministério Público Federal e

desenvolvido com base em instrumento elaborado pela Estratégia Nacional de Combate à

Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) onde é feita uma análise nos Estados e

Municípios que mensura o grau de cumprimento de leis referentes à transparência no país. A

Escala Brasil Transparente (EBT) criada pela CGU foi outra referência utilizada, essa

metodologia também visa mensurar a transparência pública no Brasil e foi desenvolvida para

subsidiar a CGU no cumprimento de suas funções. Além desses referenciais, foram

incorporados também elementos presentes no Art. 8º da LAI.

O instrumento que foi elaborado se divide em três partes chamadas de dimensões que

possuem pesos diferentes: 1ª dimensão – transparência ativa (40 pontos), 2ª dimensão –

transparência passiva (40 pontos) e 3ª dimensão – boas práticas para fomentar a transparência

(20 pontos), juntas totalizam 100 pontos que é a pontuação máxima que as organizações

poderiam atingir.

Muito embora os índices de transparência analisados ao longo desta pesquisa atribuam

pesos diferenciados para as dimensões ativas e passivas como é o caso do índice do MPF (ativa

56%, passiva 29% e boas práticas 15%) e também da EBT (ativa 25% e passiva 75%), não foi

identificado nenhum respaldo teórico que justificasse tal diferenciação. Por isso, baseado no

entendimento Yazigi (1999) de que tanto a transparência ativa como a passiva são relevantes

para a construção de um Estado mais transparente, optou-se neste estudo pela atribuição de peso

igualitário para ambas as dimensões já que tanto o fato de disponibilizar informações de

maneira proativa como o de responder a possíveis requerimentos de um cidadão se configuram

práticas constitutivas da transparência, além disso, a LAI e o Decreto nº 7.724/2012 que a

regulamenta orientam sobre a prática dos dois tipos de transparências nos órgãos públicos. Em

relação a 3ª dimensão, o seu peso é menor pelo fato de apontar práticas que são de grande valia

para impulsionar a cultura da transparência na administração pública, mas não se caracterizam

como ações compulsórias.

Cada dimensão é formada por um conjunto de indicadores que, por sua vez, também

possuem diferentes ponderações, de acordo com a especificidade de cada um. O indicador é

uma medida, de ordem quantitativa ou qualitativa, que possui significado particular e que é

utilizada para organizar e captar as informações importantes dos elementos que compõem o

objeto da observação. É reconhecido como um recurso metodológico que traz informações

empíricas sobre a evolução do aspecto observado (FERREIRA; CASSIOLATO; GONZALEZ,

2009).

Alguns dos indicadores utilizados buscaram identificar apenas a existência da prática

ou não na instituição, sem se preocupar com possíveis variações da mesma, ou seja, 0(zero)

ponto quando não foi identificada a prática relacionada com a transparência e 1(um) ponto

quando foi possível percebê-la. Para outros indicadores, porém, fez-se necessário o

estabelecimento de pesos diferenciados, uma vez que eles objetivavam identificar algumas

variações que estavam vinculadas com a qualidade da informação disponibilizada. Tais

variações precisaram ser consideradas em virtude de refletirem diretamente no nível de

transparência que a prática tinha. Para melhor compreensão toma-se como exemplo o indicador

denominado Registros das Despesas da Instituição que possuía a seguinte escala de peso: 1(um)

para o IF que disponibilizava sua execução orçamentária de maneira detalhada, 0,66(sessenta e

seis centésimos) para o órgão que permitiu o acesso de forma simplificada, 0,33(trinta e três

centésimos) para a instituição que disponibilizava a informação incompleta e, por fim, 0(zero)

caso não fosse encontrada a informação desejada.

A escala adotada foi baseada no estudo de Hernández Bonivento (2016) sobre governo

aberto municipal, mais especificamente a que ele utilizou nas dimensões transparência ativa e

acesso à informação de seu trabalho. O resultado da sua pesquisa resultou no que o autor

denominou de Índice Institucional para o Governo Aberto Municipal, trabalho desenvolvido

junto aos municípios chilenos. Optou-se por essa escala pelo fato de haver uma boa adequação

aos objetivos perseguidos nesta pesquisa.

Os indicadores utilizados na dimensão transparência ativa tinham a dupla finalidade de

mostrar em que medida os IFs disponibilizam informações sem que haja uma demanda

específica da sociedade e revelar também como anda o cumprimento da LAI por parte desses

órgãos. Tomando como referência a própria LAI e os trabalhos das instituições já citadas

anteriormente, buscou-se analisar como está ocorrendo a prática desse tipo de transparência. O

Quadro 5 mostra os indicadores utilizados e suas respectivas referências, bem como a pontuação

de cada um deles e o peso total da dimensão na composição do ranking de transparência

institucional dos Institutos.

Quadro 5 – Dimensão transparência ativa

Referência Indicadores Pontuação Peso da

dimensão

LAI

Registro das competências e estrutura organizacional

1 = Completo 0,66 = Básico 0,33 = Insuficiente

0 = Não há ou não encontrado

40 Registro de endereços e telefones

das respectivas unidades e horários de atendimento ao público Registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros

Registros das despesas da instituição

Informações dos últimos 6 meses concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos editais e resultados, bem como aos contratos celebrados

Quadro 5 – Dimensão transparência ativa

(continuação)

Referência Indicadores Pontuação Peso da

dimensão

Disponibilização de informações para o acompanhamento de programas, ações, projetos e obras do órgão

Disponibilização no sítio eletrônico de respostas a perguntas mais frequentes da sociedade O sítio eletrônico possui ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão

Possibilita a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações

Frequencia com a qual as informações como receitas e despesas, repasses ou transferências de recursos financeiros são atualizadas.

1 = Semanal 0,66 = Mensal 0,33 = Aleatória

0 = Não há ou não encontrado

ÍNDICE DO PODER LEGISLATIVO

Divulgação de servidores efetivos e comissionados com seus respectivos nome, lotação, cargo, função e remuneração

1 = Completo 0,66 = Básico 0,33 = Insuficiente

0 = Não há ou não encontrado Divulgação de servidores

aposentados e de pensionistas com suas respectivas remunerações Divulgação de terceirizados e estagiários com suas respectivas remunerações

Registros das receitas da instituição

ÍNDICE DO MPF

Divulgação de gastos com diárias e passagens identificando o favorecido bem como data, destino, cargo e motivo da viagem Disponibilização de relatório de gestão do ano anterior

1 = Sim 0 = Não ESCALA BRASIL

TRANSPARENTE

Exposição da LAI no sítio eletrônico

Regulamentação da classificação de sigilo das informações

Regulamentação de instâncias recursais

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

A dimensão transparência passiva se propôs, por sua vez, analisar como vem sendo

praticado esse tipo de transparência nas instituições, verificando a capacidade de resposta dos

IFs às demandas dos cidadãos no tocante ao acesso à informação. A análise se deu, sobretudo,

sobre aspectos relacionados ao SIC, com o propósito de se mensurar a conformidade das

respostas e o tempo gasto pelo órgão no retorno das mesmas. O Quadro 6 apresenta os

indicadores que foram utilizados para coletar os dados necessários para esta dimensão.

Quadro 6 – Dimensão transparência passiva

Referência Indicadores Pontuação Peso da

dimensão

ESCALA BRASIL TRANSPARENTE

Divulgação do SIC físico (atendimento presencial) no sítio eletrônico do órgão

1 = Sim 0 = Não

40 Disponibiliza em seu sítio

eletrônico link que dá acesso ao e- SIC da CGU (atendimento pela internet)

Disponibilização do contato (nome e telefone institucional) da autoridade responsável por monitorar a implementação da LAI no órgão

Inexistência de pontos que dificultem ou inviabilizem o pedido de acesso (solicitação de documentos, exposição do motivo da solicitação, etc)

Responde às solicitações de acesso à informação dentro do prazo

legal. QUESTÃO 01. 1 = Em até 10 dias 0,66 = Em até 20 dias 0,33 = Em até 30 dias 0 = Não responde Responde às solicitações de acesso

à informação dentro do prazo legal. QUESTÃO 02.

Resposta em conformidade com o

que foi solicitado. QUESTÃO 01. 1 = Sim 0 = Não Resposta em conformidade com o

que foi solicitado. QUESTÃO 02. Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

A LAI em seu Art. 3º coloca o fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência

na administração pública como sendo uma das diretrizes que busca assegurar o direito

fundamental de acesso à informação. Nessa perspectiva, a dimensão boas práticas para fomentar

a transparência procurou coletar dados que indicassem em que medida os IFs estão preocupados

em desenvolver tal diretriz. Os indicadores escolhidos para essa dimensão tentaram sinalizar a

existência de ações no âmbito dos IFs que vão além do mero cumprimento das exigências

constantes na LAI, se há incentivo ao exercício de uma gestão transparente que promova a

participação social na administração pública. No Quadro 7 é possível ver os indicadores que

deram sustentação à 3ª dimensão.

Quadro 7 – Dimensão boas práticas para fomentar a transparência

Referência Indicadores Pontuação Peso da

dimensão

ÍNDICE DO PODER LEGISLATIVO

Existência de fórum, conselho ou comissão permanente de transparência no órgão

1 = Sim

0 = Não há ou não encontrado 20 Realiza audiências e consultas

públicas

Disponibiliza material didático em sítio eletrônico voltado à população em geral sobre transparência.

Publica em seu sítio eletrônico relatório estatístico contendo, por exemplo, a quantidade de pedidos de informação recebidos, atendidos e indeferidos, bem como informações genéricas sobre os solicitantes.

Fonte: Elaborado pelo autor (2017).

Muito embora alguns dos sítios eletrônicos ficaram, momentaneamente, inacessíveis no

decorrer desta etapa da pesquisa, nada impediu que os dados fossem coletados de maneira

exitosa e em tempo hábil. Para o preenchimento dos indicadores apresentados foram adotados

alguns critérios de análise com o propósito de tornar a coleta mais sistêmica e rigorosa do ponto

de vista metodológico. A exposição desses critérios e dos procedimentos para tabulação e

análise dos dados serão apresentados a seguir.