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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

3.5 Coleta dos dados

A pesquisa utilizou uma combinação de fontes que incluíam tanto dados primários quanto secundários. Os dados primários foram levantados por meio de questionários e entrevistas semiestruturadas; já os dados secundários foram obtidos por meio da análise documental, sobretudo de relatórios e bases de dados internos e restritos das Instituições de estudo, além da consulta de dados em bancos de dados públicos no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A análise documental é um dos meios para alcance da finalidade do estudo (VERGARA, 2007). Então, ela se classifica como documental porque foi feito o uso de material interno da Embrapa no Brasil, não acessíveis ao público em geral, como os relatórios e arquivos digitais, a seguir: i) lista de cultivares (com informações sobre nome das cultivares, da espécie, data de registro e de proteção, nome do licenciado, vigência da parceria etc.); ii) proposta ajustes de cultivares (dados sobre algumas culturas, contendo diversas informações, inclusive a arrecadação média de grupos de cultivares dessas espécies); iii) a planilha ‘financeiro-cubo-jul2014’ (planilha robusta com grande quantidade de dados sigilosos sobre as diversas espécies e cultivares com tecnologia Embrapa, com destaque para os dados da arrecadação líquida e o ano da nota gerada); iv) projetos de P&D (projetos sigilosos de pesquisa aprovados – concluídos e em andamento – no âmbito macroprograma de melhoramento vegetal); e v) relatório final de pesquisa de mercado contratada (dados do mercado de algumas das principais culturas agrícolas sobre a participação das tecnologias da Embrapa e de outras empresas do setor). Além desses documentos, a base de dados de proteção de cultivares do Ministério da Agricultura brasileiro também fez parte dessa análise.

No caso da Espanha, foi feita a análise de documentos específicos disponíveis ao público em geral, a saber: i) Memoria INIA 2011; ii) Plano Nacional de PD&I 2008-2011; iii) e o Plano Estratégico do INIA 2014-2017. Além disso, no que tange aos documentos internos, por também serem sigilosos, a análise foi feita pela equipe da coordenação da Área de Relações Científicas Internacionais, vinculada à Subdireção Geral de Prospecção e Coordenação de Programas (área estratégica de coordenação da pesquisa), do INIA-Sede. A equipe desse departamento fez a sistematização de informações em uma planilha, conforme direcionamento dado em reunião entre o pesquisador do presente estudo e a coordenadora dessa área no INIA em Madri (vide Anexo 1),

no mês julho de 2014 na Espanha. Por fim, cabe destacar que essas análises documentais, do Brasil e da Espanha, serviram como base para seleção dos casos, como foi detalhado no tópico 3.4.

Ademais, como técnicas para coleta de dados, também foram utilizados questionários e entrevistas.

A entrevista é um evento dialógico que pode promover reformulação metodológica capaz de desenvolver a prática de pesquisa e conceber novas situações de conhecimento (GODOI; MATTOS, 2010). Nesse sentido, procedeu-se com entrevistas com especialistas em melhoramento genético vegetal, ou seja, os líderes das redes derivadas de projetos.

Segundo Flick (2009), as entrevistas com especialistas focam na capacidade do especialista de um determinado campo. Para tanto, utiliza-se entrevistas semiestruturadas e o pesquisador deve ter foco na capacidade do especialista de uma área; analisar âmbito das informações potencialmente relevantes e as mais restritas; e elaborar um guia ou roteiro de entrevistas, pois colabora para que o pesquisador não seja visto como desfamiliarizado com o assunto investigado. Além disso, também ajuda a não esquecer os tópicos relevantes. Logo, o roteiro das entrevistas deve ser semiestruturado, com base nas informações obtidas na pesquisa bibliográfica e na pesquisa documental.

Então, para coleta de dados na primeira etapa da investigação empírica, optou-se por fazer entrevistas com pessoas-chave dos estudos de caso-piloto, na Embrapa (Brasil) e no INIA (Espanha), a fim de compreender o funcionamento e aspectos gerais do processo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias agrícolas por meio de redes dinâmicas apoiadas por essas organizações, bem como aperfeiçoar os aspectos teóricos e metodológicos desta tese.

No Brasil, foi feita a entrevista (Apêndice 1), no mês de setembro de 2014 (duração de 41 minutos), com um(a) coordenador(a) de um dos macroprogramas que convergem para o recorte de pesquisa agropecuária adotado neste trabalho (melhoramento genético vegetal). Esse coordenador está lotado no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, Unidade Central da Embrapa Sede, e coordena os comitês que conduzem a avaliação inicial e final, bem como supervisiona o acompanhamento dos projetos componentes (aprovados) do seu respectivo macroprograma. Para tanto, apresentou-se um termo de consentimento (Anexo 4), que foi assinado tanto pelo entrevistado(a) quanto pelo entrevistador, com informações relevantes sobre a pesquisa, contatos do doutorando, possibilidade de publicação posterior dos dados analisados e

esclarecimento sobre a não remuneração/compensação para os respondentes, por tratar-se de participação voluntária para contribuição do conhecimento científico.

Na Espanha, a entrevista (Apêndice 2) foi feita em setembro de 2014 (duração de 30 minutos), com duas pessoas ao mesmo tempo, chefe e analista do ‘Departamento de Relações Multilaterais’ da ‘Subdireção Geral de Prospecção e Coordenação de Programas’ no INIA. Na mensagem do e-mail que marcou essa entrevista, continha como anexo uma carta para a empresa (Anexo 5), esclarecendo os aspectos gerais da pesquisa e a confidencialidade e anonimato, bem como se trata de estudo sem fins lucrativos, mas meramente acadêmicos e sua difusão dar-se-á por revistas e publicações científicas. Alerta-se que, antes dessa entrevista (para coleta de dados na primeira fase empírica), o pesquisador deste estudo já tinha visitado pessoalmente a sede do INIA no mês de julho de 2014, conforme detalhado no tópico 3.4 (seleção dos casos).

Para coleta de dados da segunda etapa empírica, utilizou-se como ferramenta um questionário que foi construído com base na literatura, isto é, as proposições de pesquisa balizaram as variáveis de análise e, para a investigação de cada uma delas, há indicadores sistematizados em pesquisas e trabalhos científicos de renomados autores. Esses indicadores, citados no marco teórico desta tese e no quadro de operacionalização de pesquisa (sistematização feita no Quadro 6), foram utilizados para a elaboração do questionário. Em seguida, subsidiou-se no questionário da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC, 2011), amplamente aplicada em pesquisas de inovação. A Pesquisa de Inovação (PINTEC) é executada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. E, ainda, ciente de que as saídas dos questionários (resultados) recebem tratamento pela Análise Qualitativa Comparativa (QCA), com mensuração de presença e ausência dos indicadores investigados, tomou-se também como base o questionário da tese de Barbosa (2010), pois essa última pesquisa valeu-se, de igual maneira, do uso do QCA.

No caso dos questionários, é útil e necessário submetê-los a testes prévios, que antecedam sua aplicação. Segundo Vergara (2007), o pré-teste é feito, solicitando que as pessoas façam seu julgamento a respeito do questionário – lembrando que essas pessoas não poderão participar de uma nova aplicação do questionário definitivo, ou seja, elas ficarão fora da amostra. Dessa maneira, foi feito o pré-teste em uma amostra por conveniência e representativa, tanto no Brasil quanto na Espanha, cujas contribuições fornecidas aperfeiçoaram o instrumento.

Em seguida, para aplicação do questionário final no Brasil (Apêndice 3) e Espanha (Apêndice 4), eles foram viabilizados de maneira on-line como forma de facilitar a coleta e armazenamento de dados. A construção do questionário on-line foi realizada por meio do programa LimeSurvey. Dessa maneira, a sua disponibilização eletrônica foi feita por um link (endereço eletrônico) expresso nas mensagens dos e-mails enviados ao público-alvo, mensagens essas (Anexos 6 e 7) que detalharam os aspectos instrucionais de constituição da presente pesquisa.

O programa LimeSurvey é uma ferramenta online, Open Source (ferramenta gratuita com códigos de edição livre), que visa a auxiliar na elaboração de formulários de pesquisa. Além de facilitar o desenvolvimento do questionário, essa ferramenta possibilitou a coleta com a geração de um banco de dados, cujos dados coletados foram exportados para arquivo do Excel, compatível com o programa TOSMANA (Tool for Small N Analysis) que faz a análise comparativa qualitativa (QCA).

Após a aplicação dos questionários, foi feita, como última etapa de coleta de dados, uma entrevista com o público-alvo (líderes das redes de inovação) no Brasil e na Espanha. Para Flick (2009), o âmbito das informações potencialmente importantes fornecidas pelo entrevistado especialista é muito mais restrito do que em outras entrevistas, logo, o guia de entrevistas (Apêndices 5 e 6) possui uma função diretiva muito mais forte, no que concerne à exclusão de tópicos improdutivos. Segundo Sierra (1998, p. 314), há na situação de entrevista uma espécie de acordo inicial, em que o entrevistador deve comprometer-se, desde o primeiro contato com o entrevistado, nos “seguintes pontos: os motivos e as intenções da investigação; o anonimato, a logística, a devolução da informação” (citado por GODOI; MATTOS, 2010, p. 313). Nesse sentido, a mensagem de abordagem para as entrevistas (Anexo 8) pautou-se em atender a esse “contrato” inicial.

Durante o processo de coleta de dados, o entrevistador fez gravações e, posteriormente, providenciou as transcrições dos áudios, bem como utilizou uma tabela de controle da coleta de dados dos questionários e entrevistas (vide Anexos 9 e 10). Nesse sentido, foram feitas gravações das entrevistas que tiveram uma duração total de 18 horas e 40 minutos, sendo que a média das entrevistas ficou em torno de 53 minutos.

Por fim, a coleta dos dados, que compreendeu a análise documental, aplicação de questionários e entrevistas em profundidade, buscou nos questionários e entrevistas as respostas

dos líderes dos projetos de PD&I, ou seja, o gestor da rede. A escolha deliberada desse ator como representante da organização para responder sobre a rede deu-se pelo fato de que as redes estudadas aqui são temporárias e dinâmicas, por isso, até o desenvolvimento da tecnologia são necessários alguns projetos (com início, meio e fim). Assim as organizações contidas na rede do primeiro projeto podem não continuar até o final, bem como podem ingressar novas instituições no projeto final.

Portanto, somente a organização líder, representada pelo pesquisador líder dos projetos de pesquisas, pode ter uma visão holística sobre as variáveis que se quer medir. Muitas instituições que participaram não conheciam as demais (a rede como um todo), logo não poderiam responder às perguntas. Assim, pode-se visualizar as etapas de coleta de dados no Quadro 3.4.

Quadro 3.4 – Fases da coleta de dos dados

Fase Atividade

Análise Documental no Brasil

Lista de cultivares (com informações sobre nome das cultivares, da espécie, data de registro e de proteção, nome do licenciado, vigência da parceria etc.);

Proposta Ajustes de cultivares (dados sobre algumas culturas, contendo diversos informações, inclusive a arrecadação médias de grupos de cultivares dessas espécies);

Planilha ‘financeiro-cubo-jul2014’ (planilha robusta com grande quantidade de dados sigilosos sobre as diversas espécies e cultivares com tecnologia Embrapa, com destaque para os dados da arrecadação líquida e o ano da nota gerada);

Projetos de PD&I (projetos sigilosos de pesquisa aprovados – concluídos e em andamento - no âmbito macroprograma de melhoramento vegetal);

Relatório final de pesquisa de mercado contratada (dados do mercado de algumas das principais culturas agrícolas sobre a participação das tecnologias da Embrapa e de outras empresas do setor).

Análise Documental Espanha

Memoria INIA 2011;

Plano Nacional de PD&I 2008-2011; Plano Estratégico do INIA 2014-2017;

Planilha com sistematização dos casos (pesquisadores renomados e instituições de pesquisa);

Entrevistas casos- piloto

Entrevista com coordenador(a) de um dos Macroprogramas, situado no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, Unidade Central da Embrapa Sede – Brasil;

Entrevista com duas pessoas ao mesmo tempo, chefe e analista do ‘Departamento de Relações Multilaterais’ da ‘Subdireção Geral de Prospecção e Coordenação de Programas’ no INIA – Espanha;

Teste dos questionários

Questionário com base na literatura, subsidiando-se no questionário da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC, 2011) e no questionário da tese de Barbosa (2010);

Aplicação de pré-teste do questionário, solicitando que as pessoas fizessem seus julgamentos a respeito do questionário, no Brasil e na Espanha, com recebimento de 06 contribuições;

Adequação final dos questionários (com contribuições fornecidas por juízes e pelos respondentes do pré-teste) que foram aplicados na pesquisa no Brasil e Espanha;

Aplicação do questionário

A construção e aplicação questionário on-line foi realizada por meio do programa LimeSurvey, com versão em língua portuguesa e espanhola;

Mensagens enviadas ao público-alvo por e-mails, com detalhamento os aspectos instrucionais de constituição da presente pesquisa;

Armazenamento das respostas do público-alvo (Brasil e Espanha) no banco de dados do programa LimeSurvey;

Entrevistas Mensagens enviadas, por e-mail, ao público-alvo para agendamento das entrevistas; Viagem feita para as cidades de Goiânia (GO) e Gama (DF) (Gravações da entrevista); Entrevista por telefônicos com líderes das redes na Espanha (Gravações da entrevista); Entrevista por telefônicos com líderes das redes na Espanha (Gravações da entrevista); Exportação dos códigos do programa AtlasTI para o Excel (Gravações da entrevista);

Na sequência, o próximo tópico aborda sobre os procedimentos para validade e confiabilidade da presente pesquisa.