• Nenhum resultado encontrado

2. MARCO TEÓRICO

2.2 Atributos essenciais das redes interorganizacionais

2.2.3 Força dos laços

De acordo com Granovetter (1973), para entender a força dos laços, é necessária a combinação de alguns fatores, como a quantidade de tempo, a intimidade, a intensidade emocional, a confidência mútua e os serviços mútuos que caracterizam o vínculo. Granovetter (1973) evidencia que os indivíduos tomam decisões mais consistentes quanto mais fortes são os vínculos em suas redes. Em concordância com Granovetter (1973), Lazzarini (2008) afirma que “preferimos, em geral, contar com laços fortes: contatos com os quais confiamos e temos um relacionamento mais profundo” (op. cit., 2008, p. 58).

Relacionamentos profícuos e profundos contribuem para a redução dos custos de transação, pois os sistemas participativos aumentam os custos potenciais para o transgressor, ou seja, o oportunista tem mais dificuldade para tirar proveito das circunstâncias de dado momento em benefício de seus interesses (PUTNAM, 2006). Logo, o contexto de redes de cooperação exerce um efeito virtuoso.

Granovetter (1983), em seu artigo intitulado The strength of weak ties: a network theory revisited, revê alguns dos conceitos de seu trabalho de 1973, observando que os chamados “laços fracos” são essenciais para a disseminação da inovação, pois são redes constituídas de indivíduos com experiências e formações diversas. Para o autor (1983), os laços fracos promovem conexão com vários outros grupos, rompendo a configuração de “ilhas isoladas” dos clusters e assumindo a configuração de rede social. Apesar de enfatizar a relevância dos laços fracos na difusão de inovações, Granovetter (1983) alerta para o fato de que não há uma aceitação direta e imediata das inovações pelas redes de laços fracos. De acordo com Kaufman (2012), para que os indivíduos adotem as inovações, é necessário que haja sentimentos de identificação e confiança entre os membros da comunidade, o que remete ao papel das redes de “laços fortes”. Sobre as redes de laços fortes, Granovetter (1983) afirma que elas possuem uma identidade comum e que as dinâmicas geradas nessas interações não se estendem além das redes, pois são relações de alto

nível de credibilidade e influência. Indivíduos que compartilham laços fortes comumente participam de um mesmo círculo social.

Retomando o conceito de redes, Thorelli (1986) define-as como duas ou mais organizações envolvidas em uma relação de longo prazo que, pela intensidade de sua interação, se constituem em um subconjunto de um ou de vários mercados. Redes podem ser mais ou menos estáveis dependendo da quantidade (número), qualidade (intensidade) e tipo (aproximação da atividade principal) das interações entre os participantes. Nesse sentido, Thorelli (1986) afirma que o nível de interação e de confiança é um conceito central na análise de redes e a compreensão desses aspectos envolve lidar com a política do mercado.

De acordo com Thorelli (1986), confiança é fortemente fundamentada no passado, mas é essencialmente um conceito orientado para o futuro. Foss e Koch (1996), tratando o comportamento oportunista, reforçam a vinculação entre passado e futuro ao indicar que os retornos de ser honesto devem ser superiores aos retornos de ser oportunista, permitindo que a transação se repita entre as partes e se consolidem relações de confiança e criação de reputação.

Para Ring e Van de Ven (1992), a confiança é fundamental para compreender as operações de negociação, indo além dos tratamentos anteriores de mercado simples ou de transações hierárquicas. Nesse sentido, ao invés de trocas com base na força de cada empresa, o que é comum em relações puramente de mercado e em redes verticais com a presença de empresas e fornecedores, as relações ocorrem por meio de um processo de construção de competitividade de toda a rede.

Em virtude dos menores custos burocráticos e contratuais, as redes de cooperação são um caminho para a redução das ações oportunistas. Esse atributo das redes é viabilizado pelas defesas internas, geradoras de pressões sociais em prol da manutenção dos relacionamentos (RING; VAN DE VEN, 1994). Nesse sentido, Yamagishi et al. (1998) defendem que laços fortes impedem a exploração de oportunidades alternativas, gerando o custo de dispensar relacionamentos potencialmente mais valiosos.

Para Rowley, Behrens e Krackhardt (2000), as redes interorganizacionais e a força dos laços estão altamente interconectadas, sendo que os laços fortes diferem dos laços fracos em termos dos seus efeitos sobre o desempenho da empresa. Mais especificamente, a análise empírica desses autores (2000) considera as condições sob as quais laços fortes e fracos e redes fechadas e esparsas são fontes de vantagem competitiva.

De acordo com essa dimensão relacional, Molina-Morales et al. (2008) analisaram a fortaleza dos laços (forte, frequentes, interações íntimas) sob a ótica de quatro indicadores, quais sejam: (i) frequência, que identifica o número de vezes que uma pessoa (unidade) teve contato com outra pessoa (unidade); (ii) intimidade, que aborda o grau em que as relações são afetivas (por exemplo, amizade) e/ou se baseiam em objetivos e fins comuns; (iii) interações sociais; e, por último, (iv) o grau em que os profissionais trabalharam nas outras empresas da mesma região do distrito (rede de empresas aglomeradas territorialmente).

Estudos empíricos sobre redes mostram que, em outros países, foram evidenciados ganhos derivados das redes a partir da aglomeração territorial (BRUSCO, 1982; MOLINA-MORALES; MARTÍNEZ-FERNÁNDEZ, 2003). No Brasil, no mesmo tipo de rede, esses ganhos não se verificam na mesma intensidade (ANDRADE; HOFFMANN, 2010). Grabher (1993) mostra, em seu estudo, efeitos negativos de vínculos muito fortes ao identificar que empresas em uma determinada região industrial da Alemanha ficaram reféns de seus próprios laços fortes, pois, ao interagirem mais com as empresas de sua região do que com as de fora, restringiram consideravelmente seu acesso a conhecimentos e recursos externos.

Nesse sentido, de acordo com Lazzarini (2008), laços fortes podem, também, ser extremamente prejudiciais, especialmente em contextos em que o ambiente muda muito, como em mercados nos quais novos produtos e tecnologias são constantemente introduzidos. Isso também é corroborado pela pesquisa de Uzzi (1996) sobre o setor de vestuário, cujo excesso de estabelecimento de laços fortes pode aumentar o risco de falência de empresas. Outro estudo que aborda essa conjectura é o de Molina-Morales e Martínez-Fernández (2009), que proporciona o entendimento a respeito do efeito das redes sociais na inovação por meio da análise das aglomerações territoriais de empresas. O resultado da pesquisa mostrou que a intensidade e confiança nos relacionamentos podem impulsionar a eficiência e a melhoria contínua em aglomerações. Contudo, em excesso, podem produzir um efeito negativo nas empresas, sendo esse efeito descrito como uma curva em forma de ‘U’ invertido.

Oke, Idiagbon-Oke e Walumbwa (2008), por sua vez, pesquisaram a força dos laços entre os membros de rede e os resultados de projetos de desenvolvimento de novos produtos, cuja amostra de pesquisa foi constituída por 100 indivíduos provenientes de 42 organizações envolvidas em diferentes redes horizontais orientadas para a inovação. Os resultados do modelo de equações estruturais sugerem que a força dos laços é positivamente relacionada com os

resultados do projeto de desenvolvimento de novos produtos no que se refere ao desempenho do projeto e ao tempo de desenvolvimento.

Wang e Gao (2011), expandindo a visão relacional e a visão baseada em recursos (VBR), pesquisaram as redes de alianças na indústria de transformação da China, que são operacionalizadas por meio de redes interorganizacionais identificadas em três tipos: rede de laço forte, rede de laço fraco e rede de laços duplos. Com base na perspectiva da VBR, os resultados indicaram que as empresas com redes duplas podem desfrutar de ambas as forças, laços fortes e fracos laços, e evitar os riscos inerentes a uma rede de laço puramente fraco/forte.

Tendo em vista o exposto, tem-se a quarta proposição deste trabalho:

Proposição 4 (P4): A força dos relacionamentos (laços) influencia a complementaridade de recursos no âmbito da rede.

A quarta proposição evidencia que a complementaridade de recursos está relacionada à força dos relacionamentos entre as empresas do arranjo interorganizacional. Por fim, na subseção a seguir, apresentar-se-á mais um atributo relevante para as redes interorganizacionais, a densidade da rede.