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2.1. Avaliação da qualidade

2.1.9. Colheita mecânica e perda de grãos na colheita

"Independentemente do impacto da organização econômica da agricultura, é evidente que a principal força econômica, que leva ao maior uso de equipamentos mecânicos na agricultura, é a necessidade de reduzir custos de mão-de-obra" (HAYAMI e RUTTAN, 1988, p.93). Apesar do grande esforço que deve ser despendido para levar os produtos agrícolas até as máquinas beneficiadoras, a dificuldade de fazer as máquinas se movimentarem pelo campo fez com que as de força motriz representassem um passo posterior em relação aos processos que utilizavam fontes de energia estacionária. Enquanto a colheita manual do trigo com cutelo (segadora manual) rendia entre 0,14 a 0,20 ha dia-1 homem-1, com a segadora mecânica passou a render de 0,6 a 0,8 ha dia-1 homem-1; hoje em dia, uma colhedora automotriz faz com que uma única máquina, manejada por um único homem, colha, trilhe e beneficie até 15 ha dia-1 (HAYAMI e RUTTAN, 1988). As dificuldades tecnológicas no desenvolvimento das

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automotrizes e sua adaptação a diferentes tipos de terrenos, ainda hoje, têm reflexos sobre a qualidade das colheitas.

Embora a colheita através de automotrizes possa ser considerada um processo tecnológico antigo (mais de 70 anos de existência), até bem pouco tempo pouca atenção era dada as perdas ocorridas nas colheitas (MESQUITA, 1993). Em 1927, levantamentos feitos no Estado de Illinois, E.U.A., mostraram perdas de 11,6% da soja colhida. Em 1968, levantamento realizado no mesmo estado, ainda registrou perdas de 9,2% (UNIVERSITY OF ILLINOIS, 1988). Na safra de soja de 90/91, após vários anos de campanha realizada para redução de perdas no Paraná, o levantamento realizado pela EMATER-PR/ ACARPA, em mais de mil lavouras do estado, indicou perdas de 120 kg ha-1 de soja, índice que equivaleu a 6,3% na produtividade média do estado naquela safra.

A organização histórica dos levantamentos de perdas realizados em parceria entre a Embrapa e a Emater no Paraná, desde a safra 78/79, permitiu verificar que houve uma redução média das perdas de 192 kg ha-1 para 60 kg ha-1 nestes últimos 20 anos, como resultado da melhoria tecnológica da agricultura paranaense e do programa de capacitação realizado durante 13 safras (MESQUITA et al. 1998). Nos demais estados brasileiros, no entanto, o desperdício médio ainda é de cerca de 120 kg ha-1, muito acima do limite tolerável que é de 45kg de soja ha-1. O total do desperdício nas colheitas de soja no Brasil, durante estes 20 anos, foi de 8 bilhões de dólares.

SANTOS e MANTOVANI (1997) relatam perdas totais de 5.013.300 toneladas de milho na safra 96/97, que representam 17,23% de todo o milho colhido no Brasil.

Segundo EMBRAPA (2000) os fatores que afetam a eficiência da colheita da soja são: preparo do solo; inadequação da época de semeadura, do espaçamento e da densidade da lavoura; cultivares não adaptadas; ocorrência de ervas daninhas; retardamento da colheita; umidade inadequada do grão na colheita e má regulagem e condução da máquina. Esta relação dos fatores que influenciam a colheita mostra que qualquer operação anterior à colheita pode influenciar diretamente nas perdas da colheita de modo que a qualidade com que cada operação é planejada e executada tem reflexo sobre as operações subseqüentes.

No referido estudo, as perdas ocorridas em uma lavoura de soja foram classificadas em:

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- perdas por trilha, separação e limpeza, que ocorrem com os grãos que passam através da colhedora, mas são jogados fora da máquina junto com os resíduos;

- perdas na plataforma de corte que incluem as perdas por debulha, corte alto deixando grãos por colher, e perdas por acamamento de plantas.

Oitenta e cinco por cento das perdas são causadas por falhas ocorridas antes da colheita. Apesar disto, geralmente essas perdas ocorrem durante a ação dos mecanismos da plataforma de corte, ou seja, durante a colheita. Apenas 12% das perdas são causadas por falhas nos mecanismos internos da colhedora e 3% por falhas nos mecanismos anteriores.

Um sistema de copo volumétrico que possibilita rapidamente ao agricultor estimar e verificar a origem das suas perdas foi desenvolvido pela EMBRAPA (2000).

MANTOVANI (1989) descreveu os mecanismos de colheita mecânica do milho e calcula que, perdas acima de 10% significam mais do que os custos da colheita para o agricultor.

FINCH et al. (1980) descreveram metodologia para o levantamento das perdas na colheita mecanizada de milho separando-a em duas etapas: 1) determinação de perdas em espiga, subdividida em perda de pré-colheita e perda de espiga na plataforma, onde as espigas são recolhidas de uma área de 60 m2 e pesadas; 2) determinação das perdas em grãos soltos, que é dividida em perdas pelo rolo espigador, perdas pelo cilindro debulhador, e perdas de separação no sistema de trilha.

FINCH et al. (1980) apresentaram um quadro de perda na colheita mecânica de milho, em lavouras com no máximo 10% de tombamento e umidade de grãos entre 20 e 26%, no qual estabeleceram limites aceitáveis para cada tipo de perda. O limite aceitável para perda em espiga na plataforma esteve entre 0 e 60 kg ha-1; para perda de grãos soltos no rolo espigador: entre 12 e 30 kg ha-1; e para perda de grãos soltos na separação entre 2 e 30 kg ha-1. O limite aceitável de perdas totais ficou entre 36 e 150 kg ha-1. Esses autores não apresentaram limites para as perdas de pré-colheita, mas afirmaram que perda total inferior a 7% do colhido estava dentro de limites aceitáveis para a colheita mecânica.

Esses autores consideraram que a colheita mecânica deve ser realizada quando umidade dos grãos estiver entre 18% e 25%. SANTOS e MANTOVANI (1997) recomendaram a colheita com a umidade próxima a 18% de umidade. PORTELLA (2003), no entanto, determinou perdas quantitativas decrescentes com a umidade variando de 25% a 15%.

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A produção de milho que é perdida, ou que se deixa de colher, pode ser classificada segundo o período no qual ocorre essa perda, como se segue: a) perda de pré-maturação, ocorrida devido a problemas de manejo na lavoura antes da maturação; b) perda de pré- colheita ocorrida entre a maturação fisiológica e a colheita; c) perda de colheita propriamente dita, representada por grãos perdidos durante a operação de colheita; d) perda de pós-colheita, ocorrida durante o transporte e o armazenamento do milho.

As perdas na colheita do milho estão intimamente ligadas à habilidade do operador da colhedora. McNEILL e MONTROSS (2005) afirmam que enquanto a perda média de colheita é de 6,1%, um operador especialista pode reduzir estas perdas para 1,8% do total colhido. Estes autores consideram que, para as condições médias de Kentucky, EUA, as perdas em espiga, perdas no processo de trilha e na limpeza são respectivamente 4%, 0,7%, 1,4% da produção.

Segundo SANTOS e MANTOVANI (1997), a Embrapa Milho e Sorgo estima que as perdas de pré-colheita representaram de 3% a 5% da produção total de milho do Brasil na safra 96/97 e que as perdas de colheita representaram 8% a 10% do milho colhido mecanicamente, dependendo do estado. Os autores consideram que esta última pode ser reduzida a um patamar aceitável de 4%, através de treinamento de operadores, manutenção e regulagem adequada das máquinas.

Estes mesmos autores relatam experimento, no qual as perdas durante a colheita variaram de 3,2% a 12,7%, dependendo da rotação do cilindro debulhador e da umidade com que o milho foi colhido. As perdas, no experimento citado, aumentaram com o aumento de plantas acamadas e quebradas.

SANTOS e MANTOVANI (1997) afirmam que, para a cultura de milho, o plantio deve ser feito por semeadoras cujo número de linhas seja igual ou múltiplo do número de linhas da plataforma de colheita, observando-se idêntico espaçamento entre linhas de plantio e de colheita.

Com exceção da perda de colheita, cuja recomendação de limites operacionais já é bastante antiga e provavelmente desatualizada, na revisão realizada sobre avaliação da qualidade de lavouras e de operações agrícolas faltam informações numéricas que pudessem auxiliar em campo os agricultores a iniciar um processo sistemático de avaliação de suas lavouras.

20 2.2. Análise Espacial

A atividade agrícola é extremamente dependente de condições físicas (solo, clima, topografia), ecológicas, sociais, econômicas e até histórica (colonização) que variam consideravelmente no espaço. Em se tratando de avaliação da qualidade de lavouras é fundamental compreender como essas condições acabam compondo o espaço regional.