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3.3. Análise multicriterial da qualidade das lavouras de milho

3.3.1. Qualidade parcial

A classificação da qualidade das lavouras foi realizada através dos módulos de suporte à decisão do IDRISI 32, utilizando-se os mapas dos itens de qualidade das lavouras produzidos pela krigagem dos valores dos talhões amostrados.

Dois problemas básicos precisaram ser resolvidos para que a classificação das lavouras pudesse ser realizada: a) como e qual peso estabelecer para cada critério ou item de qualidade na construção de um único mapa de qualidade geral? b) como avaliar conjuntamente os níveis de informações de diferentes unidades de medidas, por exemplo: como avaliar conjuntamente cobertura morta, medida em porcentagem de cobertura do solo, e estande, medido em número de plantas por metro linear?

A análise cuidadosa dos itens de verificação de qualidade disponíveis deixa claro que esses itens não são suficientemente abrangentes para a classificação e o mapeamento da qualidade geral das lavouras de milho "safrinha". A ausência de importantes itens de controle, tais como: produtividade, qualidade de grãos e de uma análise de sustentabilidade do sistema de produção, impossibilita uma análise de uma qualidade de amplos aspectos como proposto inicialmente neste estudo. No entanto, os itens de verificação disponíveis possibilitaram a classificação da qualidade parcial das lavouras e permitiram o desenvolvimento de método que torna possível, em trabalhos posteriores, uma análise e mapeamento da qualidade geral das lavouras.

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Além dos problemas relacionados à inexistência de informações, descritos no parágrafo anterior, a elevada incerteza associada a algumas informações disponíveis impediu o seu uso. Assim, alguns itens de verificação que foram levantados acabaram não sendo utilizados, porque estavam associados a problemas de metodologia ou não apresentaram correlação espacial.

O número de plantas problema é um dos itens de verificação da qualidade das lavouras que acabaram sendo descartados da avaliação multicriterial, porque, além de apresentar problemas metodológicos no seu levantamento (item 4.1.1.8), não apresentou correlação espacial e, por conseqüência, não pôde ser mapeado utilizando a geoestatística.

Outro critério que também não foi utilizado na análise multicriterial foi o número de espaços múltiplos (plantas aglomeradas). Este item foi descartado, pois poderia produzir uma avaliação dúbia, conforme discutido no item 4.1.1.7. Além disso, este critério faria parte da avaliação de um critério de nível mais alto, que é a distribuição de plantas na linha de plantio e este, por sua vez, já possui como subcritérios outros itens que não geram dúvidas na sua avaliação (estande, número de espaços aceitáveis e comprimento de falhas).

Outros, ainda, não foram utilizados devido à existência de critérios alternativos que melhor avaliassem um mesmo aspecto da lavoura. Foi o caso de itens como coeficiente de variação do estande e número de falhas, que não foram utilizados, porque, considerou-se que o número de espaços aceitáveis e o comprimento de falhas cumpriam melhor a função de avaliar, respectivamente, a variabilidade do estande e o espaço improdutivo do que aqueles critérios.

Alguns itens foram abandonados devido à complexidade de torná-los critérios claros de avaliação. Neste caso se encaixam os itens que avaliam as variabilidades do número de espaços múltiplos, do número de falhas, do comprimento de falhas, do número de plantas problema e da perda de colheita.

Considerando a argumentação dos parágrafos acima, o que passou-se a chamar de qualidade de lavoura é, na verdade, o resultado de uma avaliação parcial da qualidade da lavoura. Deste modo, definiu-se qualidade parcial das lavouras de milho "safrinha", objetivo central desta análise, como sendo a qualidade das lavouras avaliada apenas sob ponto de vista da qualidade operacional, da produtividade inferida e da sustentabilidade física conforme definições a seguir.

72 3.3.2. Árvore de hierarquia de critérios

Para o desenvolvimento de uma análise multicriterial é fundamental uma cuidadosa definição de objetivo, pois ele é a guia do processo de decisão ou escolha. Com base neste objetivo é que são estabelecidos os pesos para os critérios (OLIVEIRA LIMA, 2005 e FORMAN e SELLY, 2005).

A clara definição dos critérios possibilita o estabelecimento do grau de importância relativa entre eles. Esta importância relativa dos critérios será utilizada na construção da matriz de comparação dual, que, por sua vez, calculará os pesos relativos dos critérios que serão utilizados na análise multicriterial.

No primeiro passo para a análise multicritério criou-se uma árvore de hierarquia de critérios (Figura 9), buscando-se uma organização destes critérios em níveis, que possibilitassem posteriormente uma racionalização na distribuição dos pesos. Os critérios foram subdivididos em três níveis. No primeiro nível ficaram os critérios de avaliação dos fatores que influenciam diretamente a qualidade parcial das lavouras, são eles: qualidade operacional, produtividade inferida e sustentabilidade física. No segundo nível ficaram os critérios que influenciam diretamente os critérios de primeiro nível, como por exemplo: a cobertura morta. No terceiro nível ficaram os critérios que influenciam os critérios de segundo nível, como por exemplo: a média da cobertura morta do talhão e a variabilidade da cobertura morta do talhão.

A hierarquia dos critérios foi estabelecida durante a montagem da árvore de critérios, agrupando-se todos os subcritérios que dissessem respeito a um mesmo critério de nível superior. Desta maneira procurou-se evitar sobreposições na avaliação. Uma vez que os critérios estejam em um mesmo nível hierárquico eles podem ser comparados e o peso de cada critério pode ser estabelecido.

"Os critérios de 2º nível decompõem cada critério de 1º nível em componentes ou aspectos que lhe são fundamentais". O critério cobertura morta (2º nível) foi criado considerando-se que a cobertura morta precisa de dois critérios para ser adequadamente avaliada: a média da cobertura morta do talhão e a variabilidade da cobertura morta (coeficiente de variação da cobertura do talhão) (critérios de 3º nível). Da mesma maneira, criou-se o critério de 2º nível resíduo de colheita, considerando-se que a cobertura morta de

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pós-colheita também precisa de dois critérios para ser adequadamente avaliada: a média da cobertura morta e a variabilidade da cobertura morta (critérios de 3º nível).

O espaçamento das entrelinhas também foi avaliado por dois critérios de 3º nível: média do espaçamento e variabilidade do espaçamento (coeficiente de variação do espaçamento do talhão). objetivo qualidade parcial da lavoura critérios (1º nível) qualidade operacional produtividade inferida sustentabilidade física critérios (2º nível) critérios (3º nível) critérios (2º nível) critérios (3º nível) critérios (2º nível) critérios (3º nível)

cobertura morta média do talhão cobertura morta média do talhão cobertura morta média do talhão

coef. var. talhão

espaçamento entrelinha média do talhão espaçamento entrelinha média do talhão espaçamento entrelinha média do talhão

coef. var. talhão

distribuição de planta estande distribuição de planta estande distribuição de planta estande

nº esp. adequado nº esp. adequado nº esp. adequado

comp. de falha comp. de falha comp. de falha

resíduo de colheita

média do talhão

resíduo de colheita

média do talhão resíduo de colheita média do talhão

data da semeadura

coef. var. talhão

data da semeadura data da semeadura infestação de ervas inf. de ervas no desenvolvimento infestação de ervas inf. de ervas no desenvolvimento infestação de ervas infest. de ervas pós-colheita perda na colheita infest. de ervas pós-colheita perda na colheita

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Na avaliação do critério distribuição de plantas (2º nível) utilizou-se três critérios de 3º nível (estande de plantas, plantas adequadamente espaçadas (nº de espaços entre plantas maiores que 0,10m e menores que 0,30m) e comprimento de falhas (comprimento de falhas maiores que 0,30m)).

A infestação de ervas (critério de 2º nível) foi avaliada considerando-se a infestação na fase do desenvolvimento e na pós-colheita quando se tratou da qualidade operacional. Na avaliação da produtividade inferida considerou-se apenas a infestação no desenvolvimento. Já para avaliação da sustentabilidade considerou-se apenas a infestação de pós-colheita.

Para os critérios data de semeadura e perda de colheita não foram criados sub-critérios e suas médias foram utilizadas diretamente como critérios de 2º nível.