• Nenhum resultado encontrado

COLONIZAÇÃO NO SUL DO BRASIL E A FORMAÇÃO DA INDÚSTRIA

ATUAL 217 3.1 ANÁLISE CONJUNTA DO HISTÓRICO DOS PORTOS DA

1. A ORIGEM DO SISTEMA PORTUÁRIO BRASILEIRO

1.1 COLONIZAÇÃO NO SUL DO BRASIL E A FORMAÇÃO DA INDÚSTRIA

A ocupação tardia do território Meridional se deve segundo Pereira e Vieira (2009) ao clima subtropical da região, incapaz de dar origem aos produtos tropicais tão desejados pela coroa portuguesa. Assim como o clima, a vegetação foi preponderante para estabelecer a estrutura produtiva do Sul do Brasil, principalmente nas áreas de campo e de matas, como no caso a araucária. Estas últimas estão no germe da formação sulista, as quais apresentaram como modo de produção “a escravidão das charqueadas e o feudalismo” dos campos pastoris.

Neste sentido, é importante salientar, as ocupações realizadas pelos vicentistas ainda no século XVII, que proporcionaram a posse dos territórios do Sul do Brasil, uma ação incentivada pela coroa portuguesa para fixar as fronteiras desta região, protegendo-a contra os domínios espanhóis. Portanto, estes avançaram também ao litoral sulista com base

na concessão de seismarias que mais tarde deram origem as fazendas de lavouras.

Após a ocupação dos vicentistas no litoral Meridional, há a imigração açoriana que ocorreu principalmente no Litoral de Santa Catarina no século XVIII, constituindo uma experiência sólida de pequena produção mercantil. Já ao longo do século XIX e meados do século XX, herança dos latifúndios pastoris sulistas, os europeus (alemães, italianos e eslavos) povoam as terras florestais da região Meridional brasileira. Assim o pequeno modo de produção mercantil nos remete ao desenvolvimento das comunidades primitivas e apresenta uma estrutura social e econômica mais igualitária, estando, portanto mais suscetível a uma maior divisão do trabalho, provocando maior diferenciação social e um ritmo econômico peculiar, “propício ao surgimento do capitalismo”, de acordo com Pereira e Vieira (2009).

A respeito das imigrações açorianas para a Ilha de Santa Catarina, Flores (2000), nos atenta para os motivos iniciais que fizeram com que os açorianos emigrassem de suas terras. Durante o século XVIII houve crises de subsistências provocada pela baixa fertilidade dos solos nas ilhas açorianas, havia uma tendência à exportação de cereais, atividade desenvolvida pelos comerciantes da região, além disso, aliado as más técnicas desenvolvidas na agricultura por parte dos açorianos, houve também alguns desastres naturais, como secas, tempestades, abalos sísmicos e erupções vulcânicas que foram determinantes por dificultar a vida nos Açores. No ano de 1718, um vulcão foi responsável por causar verdadeiras catástrofes na Ilha do Pico, este acidente fez com que as autoridades solicitassem a ida de emigrantes para a Colônia brasileira e assim viu-se uma oportunidade para povoar as terras do Sul do Brasil. Porém, a ideia não foi bem aceita pelos próprios moradores da Ilha, que não enxergaram como uma boa oportunidade migrar para as terras brasileiras. A alternativa encontrada pelas autoridades seria realizar a migração de prisioneiros e marginais, alegando que está medida traria benefícios tanto para as Ilhas açorianas como também para o Sul do Brasil, no sentido que promoveria a ocupação do território. Porém, esta ideia foi dada como impraticável e o projeto da colonização açoriana no Brasil foi adiado.

Segundo Flores (2000) em 1738, o Rei cria a capitania de Santa Catarina e nomeia o brigadeiro José da Silva Paes como capitão–mor. O Rei também determina através de uma carta régia a Silva Paes, a construção de uma fortaleza na Ilha, que teria como principal função a defesa da terra. Em 1739, Silva Paes toma posse do Governo da Ilha e constrói na Ilha de Anhatomirim o Forte de Santa Cruz, que foi concluído

em 1744. Com a conclusão dos fortes de São José da Ponta Grossa, Santo Antônio e Nossa Senhora da Conceição, a ilha estava completa no sentido de defesa militar, e como a posição da Ilha de Santa Catarina estava centralizada entre o Rio de Janeiro e o Rio da Prata, este território se tornou um estratégico ponto de defesa dos interesses portugueses contra os espanhóis. Desta maneira, a Ilha de Santa Catarina passou a ser prioridade no processo de ocupação das terras do Sul do Brasil, porém está não foi uma tarefa fácil para se realizar. A Ilha não era atrativo para aqueles que procuravam novas terras para se instalar, pois diante de algumas outras regiões do país, está era desprovida de atividades econômicas, além de ser praticamente desabitada. Por outro lado, o edital do rei, procurava por famílias que pudessem desenvolver uma ocupação estável, optando por famílias jovens e numerosas, com experiência nas atividades com gado e na agricultura desenvolvidas pelos homens, e mulheres com experiências domésticas e na arte de fiar. O edital ainda estabelecia uma faixa etária máxima para emigrantes homens e mulheres, sendo 40 e 30 anos respectivamente. A coroa foi responsável por financiar o transporte e o assentamento em Santa Catarina e Rio Grande do Sul de aproximadamente 6.000 colonos. O primeiro navio com os casais açorianos chega a Santa Catarina em 1748, e em 1752 chegam mais 263 famílias distribuídas em 3 navios que aportaram em Santa Catarina, totalizando 1.478 pessoas. A viagem das Ilhas açorianas ao Brasil eram intensamente difícil, deixando muitas pessoas mortas e várias doentes, devido principalmente as más condições de higiene dos navios. Os sobreviventes foram distribuídos pela Vila Nossa Senhora do Desterro e São Miguel do Arcanjo, Barreiros e São José e em seguida em direção ao norte e sul. Assim que chegaram os colonos reclamaram das condições a que eram submetidos na terra, além de dificuldades encontradas na organização da agricultura, obrigando-os a desenvolverem novas técnicas já que as terras em que agora estavam eram diferentes das suas terras de origem. Ao invés de plantar trigo, estes tiveram que se adaptar a plantação de mandioca e também algodão por ser um produto altamente lucrativo na época, e também mudar seus hábitos alimentares. Em 1756, D. José Manuel, governador da época informa a metrópole que há na Ilha plantações de Linhos, Mandioca e algodão e também vinhas os quais produziam alguns barris de vinho. Houve também aqueles colonos que se dedicaram à caça da baleia, atividade muito desenvolvida no século XVIII e XIX no litoral brasileiro.

A pesca da baleia foi uma atividade muito desenvolvida no litoral catarinense no período colonial. Pereira e Vieira (2009) salientam que esta atividade era monopólio da coroa portuguesa, que se beneficiava do

lucrativo comércio de óleo de baleia. A pesca utilizava-se tanto da mão- de-obra escrava, como dos pequenos produtores açorianos. “A instalação das armações na costa catarinense contribuiu para a imigração de açorianos a partir de 1746. Muitos deles já detinham a técnica de arpoar baleias em pequenas armações”. (PACHECO, 2009).

Pacheco (2009) salienta que houve então entre os anos de 1765 a 1801, um segundo momento administrativo das concessões à caça da baleia no litoral de Santa Catarina, este período foi explorado pela família Quintela e com razão social de Companhia de Pesca de Baleias das Costas do Brasil, apoiado pelo marquês de Pombal. Na segunda metade do século XVIII, o óleo de baleia produzido e extraído em Santa Catarina era importado por Açores. As principais armações baleeiras na Ilha foram as descritas no quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Armações baleeiras existentes em Santa Catarina.

Armação Data de Fundação Localidade

Armação Grande ou de Nossa Senhora da Piedade 1746 Praia da Armação da Piedade (Governador Celso Ramos) Armação das Lagoinhas

1772 Praia da Armação (Sul da Ilha)

Armação de São José de Itapocory 1778 Praia da Armação (município de Penha) Armação de São Joaquim de Garopaba 1795 Município de Garopaba Armação San’Anna de Imbituba 1796 Município de Imbituba Armação da Ilha da Graça

1807 São Francisco do Sul Fonte: Informações obtidas em Pacheco (2009), feito pela autora.

Esta atividade começa a entrar em declínio em Santa Catarina, deixando de ser lucrativa, e desta forma os monopólios são extintos, os contratos reincididos e como consequência a falência das armações. A partir deste momento, entre 1801 e 1816, a coroa portuguesa toma posse das armações o que encerra de vez as atividades no litoral catarinense, segundo Pacheco (2009).

Também sobre a ocupação dos açorianos na Ilha de Santa Catarina, Farias (1998) aponta a afirmativa que no século XVIII aproximadamente 4.500 indivíduos açorianos se fixaram em oitos pontos da costa catarinense. Começando com Desterro e Laguna entre os anos de 1748 e 1756 nas regiões da Lagoa da Conceição, Enseada de Brito, Santo

Antônio de Lisboa e São José, em seguida em 1752 a fixação seguiu nas regiões de São Miguel e Vila Nova. A partir desses primeiros oito núcleos houve a expansão de açorianos pelo território catarinense, esta expansão foi caracterizada como um processo “lento e seguro” o qual só foi finalizado no século XX, momento em que estes imigrantes já contribuíam imensamente com a formação de comunidades e municípios de Santa Catarina.

A respeito desses oito núcleos primários da colonização açoriana na Ilha de Santa Catarina, o quadro 2 a seguir demonstra a data de fundação de cada núcleo e a sua situação atualmente. Já o quadro 3 exposto na sequência, apresenta o crescimento populacional destes núcleos entre os anos de 1756 a 1970.

Quadro 2 – Núcleos Primários da Colonização Açoriana em Santa Catarina – 1748-1756.

Núcleo Data de Fundação Situação Atual

1- N. S. Do Rosário de Enseada de Brito Freguesia 13/05/1750 Alvará Régio Distrito de Palhoça 2- N. Sra. Da Conceição da Lagoa Freguesia 20/06/1750 Alvará Régio Distrito de Florianópolis 3- São Miguel da Terra

Firme (Biguaçu)

Freguesia 08/02/1752 Município desde 01/03/1833

4- São José da Terra Firme Dist. Policial 26/10/1750 Município desde 01/03/1933 5- N. Sra. Das Necessidades de Sto. Antônio de Lisboa Freguesia 27/04/1750 Distrito de Florianópolis 6- N. Sra. Do Desterro (Florianópolis)

Vila 23/03/1726 Sede de Município de Mesmo Nome

7- S. Antônio dos Anjos (Laguna)

Vila 20/01/1720 Sede de Município de Mesmo Nome

8- Vila Nova e Santana Freguesia 1752 Distrito do Município de Imbituba

Quadro 3 – População dos núcleos originais da colonização açoriana em Santa Catarina. 1756 – 1970.

Núcleo ANO ANO ANO ANO ANO ANO

1756 1796 1840 1866 1920 1970 1- N. S. Do Rosário de Enseada de Brito 496 pessoa s 1.091 pessoa s 2.731 pessoa s 2.338 pessoa s 3.392 pessoa s 6.016 pessoas 2- N. Sra. Da Conceição da Lagoa 566 1.916 4.235 3.074 3.030 4.985 3- São Miguel da Terra Firme (Biguaçu) 538 2.758 5.446 8.378 4.472 15.337 4- São José da Terra Firme 352 2.091 7.688 7.684 2.2946 42.535 5- N. Sra. Das Necessidades de Sto. Antônio de Lisboa 569 2.447 2.509 3.660 3.077 3.570 6- N. Sra. Do Desterro (Florianópolis ) 619 3.757 7.118 6.474 18.549 138.33 7 7- S. Antônio dos Anjos (Laguna) - 3.205 6.240 5.557 27.083 35.042 8- Vila Nova e Santana 312 1.109 2.874 1.087 3.003 5.027 Fonte: Adaptado de Farias (1998).

Através da análise do quadro 3, percebe-se que alguns núcleos açorianos tiveram sua população reduzida com o passar dos anos, como é o caso da Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, atual Lagoa da Conceição pertencente ao município de Florianópolis, que dos anos de 1840 para 1920 teve uma queda populacional de mais de mil habitantes. Uma das hipóteses que possivelmente explicaria tal fato pode estar centrada na migração de alguns açorianos para outros núcleos primários ou até mesmo novos núcleos secundários, porém a confirmação deste fato necessita de estudos mais aprofundados sobre a população açoriana em Santa Catarina.

A respeito da contribuição deixada pelos açorianos à cultura do litoral catarinense, Farias (1998) comenta que os açorianos foram responsáveis pela plantação de diversos tipos de uva como moscatel na região e foram responsáveis por iniciarem a produção de vinho caseiro já no século XVIII. Estes, também introduziram a produção de trigo, cevada (mesmo que estas culturas não tenham se adaptado tanto ao litoral, sendo logo substituída pela mandioca e cana-de-açúcar trazida de Açores, couves, figos e laranjas. Além destes gêneros alimentícios, o café também foi produzido pelos açorianos antes mesmo de ser produzido no Sudeste brasileiro.

O colono açoriano, diferentemente do escravo, tinha a liberdade de praticar uma policultura de subsistência e utilizar seu excedente na melhoria de sua propriedade. Esse foi um dos fatores fundamentais que propiciaram precocemente a emersão do litoral catarinense à posição de destaque no cenário colonial da época como uma das áreas fornecedoras de gêneros alimentícios. (BASTOS, 2009, p. 129).

Neste sentido, Campos (2009) afirma que a produção de farinha de mandioca, importante mercadoria produzida pelos açorianos, não era diretamente comercializada com as praças compradoras, mas existia a figura intermediária, os comerciantes, que pagavam para os produtores conforme o preço do produto oscilava no mercado, os impedindo de acumularem a produção para assim superarem o engenho.

Flores (2000), afirma que segundo relatos do governador João Alberto Ribeiro, em 1796 a população da capital já era de 3.757 habitantes, sendo 2.652 brancos, 110 forros, 99 escravos e 1.027 militares. De acordo com Peluso Jr (1991) apud Flores (2000) nesta época havia dezoito lojas de fazenda, com variados produtos como: galões de ouro e prata, algodão em novelo, lenços de tabaco, lenços brancos de linho e de algodão, meias de seda e de linho, mantas de lã entre outros produtos. Dos gêneros alimentícios eram vendidos nas tavernas azeite-doce, aguardente do reino, passas de uva, vinho, manteiga, chá, entre outros. A movimentação no porto também havia aumentado nesta época, o qual receberá 116 navios, provenientes de vários lugares do Brasil, como Bahia, Pernambuco, Rio de janeiro, Paranaguá, São Francisco, Laguna, Rio Grande e Santos. Também era variada a exportação de produtos como farinha de mandioca, arroz, milho, favas, feijão, aguardente, melado, tábuas, peixe seco entre outras mercadorias.

Farias (1998) salienta que os açorianos também tiveram parte fundamental na formação sócio-espacial no Rio Grande do Sul. A chegada dos casais açorianos a região data os anos de 1751 à 1752. Em 1751, o governador de Santa Catarina, na época Coronel Manuel Escudeiro, obrigou que um número bem significativo de colonos embarcassem em três embarcações que passavam por Santa Catarina e que seguiriam para o Rio Grande do Sul, com intuito de transportar farinha. Em média, 1400 açorianos aportaram no local. O autor ainda comenta de informações apresentadas no 4º Congresso de Comunidades Açorianas, realizado no estado do Rio Grande do Sul em 1995, onde foram destacadas informações da chegada de 400 casais açorianos ao Rio Grande do Sul, provenientes diretamente de Açores, os quais foram responsáveis por fundar, por exemplo, Torres, Mostardas, Estreito e Gravatai, além de se alojarem próximos aos rios Jacuí e Taquari, dando origem as cidades de Porto Alegre, Santo Amaro, Taquari, Cachoeira do Sul e Triunfo. Estes casais dedicaram-se a agricultura, plantando trigo, arroz, milho, alpiste, melancia, cebola, mandioca e também cana-de- açúcar. Muito do que foi prometido a estes imigrantes não se foi cumprido, principalmente o que se refere as questões ligadas a terras, assim alguns desses açorianos dedicaram-se a criação de gado. Pereira e Vieira (2009) comentam da dedicação inicial dos açorianos na produção de trigo, mas evidenciam a participação destes na criação e no comércio do gado, tornando-se estanceiros e contribuindo efetivamente para a ocupação dos campos rio-grandenses.

Os imigrantes açorianos foram povos determinantes por imprimirem características próprias às áreas do litoral do Sul do Brasil, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A sua cultura é refletida até os dias atuais nos lugares que estes se fixaram, porém, a sua contribuição no processo de industrialização do estado é modesta.

À medida que a região sul brasileira vê-se envolvida em novas formas sociais e de produção, refletindo gradual avanço, a nível nacional e mundial, de relações capitalistas, a economia de base açoriana perde rapidamente seu ritmo e importância. Inclusive pela concorrência que passaria a sofrer de novas economias plenamente integradas ao processo econômico geral, a exemplo das pequenas produções mercantis de base alemã e italiana dos Vale litorâneos. (CAMPOS, 2009, p.178-179).

Assim no século XIX, após a independência do Brasil em 1822, foram adotadas algumas medidas para facilitar o povoamento de muitas regiões do país que ainda estavam praticamente desabitadas, ou então nas mãos de nativos como os índios. Assim, começam a ser organizadas diferentes estruturas para atrair imigrantes para a colonizar o Brasil. Essas iniciativas eram provenientes tanto do governo, como de empresas particulares que buscavam fazer propaganda na Europa para que a população residente lá, emigrasse para nossas terras. Dentre os colonizadores, muitos oriundos de Portugal, Alemanha, Itália entre outros países, trouxeram consigo a sua maneira de viver e emblemaram suas características peculiares em muito de nossos territórios.

A instalação dos imigrantes em pequenas propriedades abre, no Sul do Brasil e particularmente em Santa Catarina, um novo ciclo povoador caracterizado pela sucessão de várias correntes migratórias. Os números fluxos de imigrantes europeus que se dirigiam ao Sul do Brasil são provocados por uma intensa movimentação demográfica decorrente do avanço tardio das relações capitalistas de produção, em razão do atraso no processo de unificação de alguns estados-nacionais, particularmente da Alemanha e da Itália. O desenvolvimento do capitalismo ao promover a urbanização e a industrialização gerou uma grande instabilidade econômica e também política que leva um expressivo contingente populacional a buscar novas oportunidades, migrando para diferentes países, entre os quais o Brasil. (PEREIRA, 2011, p.26).

A vinda dos imigrantes para efetivar a colonização foi um passo importante para modificar a estrutura social engendrada até então no país, refletindo no modo de produzir e de consumir da população residente. Os colonos com hábitos distintos dos praticados no Brasil trouxeram em suas raízes como diz Mamigonian (1969), o capitalismo em seus ossos, modificando desta forma, também a maneira de produzir, e sendo componentes fundamentais e até responsáveis pelo processo de industrialização que mais tarde o país passaria.

Os 4,5 milhões de imigrantes que o Brasil recebeu na segunda metade do século passado e nas

primeiras décadas do século XX constituíram a classe “europeia” dentro da qual se iniciou a industrialização brasileira. Entre os imigrantes que aportaram no Brasil, incluíam-se muitos com experiência econômica importante: os Klabin, comerciantes na Lituânia, P. R. Robell, diretor de indústria de artefatos de borracha na Hungria, A.Bardella, aprendiz de ferreiro na Itália, K. Renaux, bancário na Alemanha, F. J. d’Olne, tecelão na Bélgica, etc. Se milhões de camponeses saíram da Europa em vista do superpovoamento rural da segunda metade do século XIX, os imigrantes de experiência urbana saíram por causa de perseguições raciais (Klabin, Robell, etc), impedimentos sociais de acesso à carreira militar (Renaux, etc), mas principalmente em consequência das sucessivas concentrações econômicas do capitalismo europeu, que foram expulsando do mercado artesão, pequenos industriais e comerciantes (Palermo, Hering, Bardella, d’Olne, etc), que vieram refazer seus negócios na América. (MAMIGONIAN, 1969, não paginado.).

Segundo Waibel (1949) o Sul do Brasil inicia a colonização europeia com as primeiras colônias de origem alemã em 1820. Em 1824 é fundada São Leopoldo no Rio Grande do Sul, sendo a primeira colônia alemã no Brasil, apresentando entre seus imigrantes numerosos artesões, o que fez com que posteriormente a indústria ganhasse destaque na colônia, além disso a atividade agrícola também era desenvolvida. A segunda colônia alemã foi Rio Negro, porém devido a seu isolamento, logo fracassou. A terceira colônia de alemães estabeleceu-se em Santa Catarina em 1829, chamada de São Pedro de Alcântara, entretanto, esta ficou meio caminho andado entre as três primeiras alemãs, já que não se desenvolveu tanto quanto a de São Leopoldo, mas também não fracassou como a de Rio Negro, ficando dependente de Florianópolis.

[...] a origem mais modesta e as dificuldades de articulação com o comércio exterior imprimiram um caráter distinto ao povoamento do Brasil Meridional, onde a demanda de braços para a consolidação das atividades agrícolas estimulou o apressamento de índios, fazendo a colonização

iniciada no litoral se voltar para o interior. Assim, enquanto o fracasso da produção açucareira na Capitania de São Vicente levava ao surgimento de uma economia natural mais limitada nas fazendas de lavouras que acabaram se expandindo pelo litoral rumo ao sul, uma outra corrente originária do planalto paulista garantia a ocupação dos campos meridionais com grandes estâncias de gado, incorporando os índios sobreviventes como peões, numa associação de relações feudais de propriedade e de trabalho. (MAMIGONIAN, 1998, p. 68 apud PEREIRA, 2011, p. 18).

Ao falar da industrialização de Santa Catarina nos anos 1930- 1940, Mamigonian (2011, p.80) refere-se a rivalidade ocorrida entre as indústrias têxteis de Blumenau e Brusque com as empresas de exportação e importação que se ergueram no litoral através da movimentação portuária, e a visão de Marcos Konder contrária as indústrias artificiais, como as que estavam localizadas nas cidades citadas a cima, cujo essência