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DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA PORTUÁRIO NO BRASIL

ATUAL 217 3.1 ANÁLISE CONJUNTA DO HISTÓRICO DOS PORTOS DA

1. A ORIGEM DO SISTEMA PORTUÁRIO BRASILEIRO

1.3 DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA PORTUÁRIO NO BRASIL

Os portos desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e funcionamento da economia de um país. São pontos nodais de circulação. É de suma importância a valorização do sistema portuário, reconhecendo este, como um elo da economia.

Através da mundialização do capital, foi possível encurtar as distâncias entre os territórios, fazendo com que muitos países entrassem de vez no comércio internacional. O crescente intercâmbio de mercadorias e o aumento da demanda por muitos países fez surgir a necessidade de revolucionar o sistema portuário, através de tecnologias nos equipamentos dentro dos portos, nos acessos aos terminais portuários e principalmente modificar os navios, para que se adequassem as novas exigências do mercado.

Laxe (2005) comenta que o sistema portuário mundial passou por “três gerações”, a primeira refere-se à década de 60, onde o porto atuava apenas como receptor e escoador de mercadorias, praticamente isolado das demais atividades, ou seja, sem envolvimento com o comércio das mercadorias e com o transporte. Já na segunda geração, o porto acaba ampliando seu envolvimento com o transporte das mercadorias, se preocupando também com o escoamento das mesmas até os locais de armazenamento, investindo um pouco mais nos acessos até os portos. Neste momento, o referido autor coloca que os portos também ampliam os seus serviços e começam a atuar nos ramos industriais e comerciais. Por fim, a terceira geração e a que o sistema portuário está vivenciando, concentra o que o autor chama de “nós dinâmicos” e apresenta a ferramenta logística como suporte de toda a movimentação dentro dos portos, havendo também uma dinâmica dos centros que estão mais integrados, desta forma, os portos prestam diversos serviços, possuem áreas para armazenar as cargas antes de serem escoadas, forte influência tecnológica e melhor competência na administração portuária.

Grande parte dos portos espalhados pelo mundo até a década de 1980 ainda eram de responsabilidade do setor público. Essa administração pública não sustentava mais a demanda e as exigências que o setor portuário carecia, resultando em uma precariedade nos equipamentos. Desta maneira, com o crescimento do comércio mundial, bem como, a complexidade a qual as relações econômicas entre diversos países tomaram rumo, houve a necessidade de injetar recursos, através de investimentos no setor. A partir dos anos 80 muitos países adotaram uma abertura para entrada de capitais privados nos portos, assim os mesmos

concentrariam os investimentos necessários para atender a demanda do mercado e fazer fluir com mais facilidade o sistema portuário mundial.

Atualmente, os portos mundiais variam nas administrações portuárias, alguns são totalmente públicos, outros totalmente privados, e há um crescente número de portos que mesclam o público com o privado, dividindo atribuições e responsabilidades. Após as parcerias do público com o capital privado no sistema portuário, nota-se a utilização de mais tecnologia empregada no setor, em termos de equipamentos, instalações e softwares que em conjunto com a logística proporcionam uma melhor organização ao sistema. E nesse novo contexto, a logística, que integra os diversos modais tem um papel muito importante no setor portuário, e pode-se dizer que ela provocou uma verdadeira revolução nos portos mundiais.

Relacionado a evolução do transporte marítimo de cargas, a invenção dos contentores foi um marco revolucionário, modificando a economia mundial, que através do transporte de cargas pôde favorecer muito as negociações neste setor.

Os Contentores surgiram com a ideia de facilitar as operações de cargas em todos os meios de transportes, servindo para qualquer modal, eles podem ser facilmente transportados em um caminhão, nos vagões dos trens ou em navios. Antes de sua utilização, as cargas eram carregadas separadamente e com grande chances de serem violadas, além do transporte ser mais caro, e muitas vezes inviável. Os contêineres deram certa segurança aos produtos transportados que na maioria das vezes tem grande valor agregado, para os seus clientes. (ZEFERINO, 2012, p.37). Tais mudanças provocadas pelo advento dos contentores resultaram também na modificação das relações de trabalho dentro dos portos, já que foi necessário um maquinário para manusear os contêineres, desta forma, muitos trabalhadores foram “substituídos” por máquinas, causando grande insatisfação por parte dos estivadores, por exemplo. Na verdade, a entrada dos contentores no transporte de cargas serviu para cobrar mais especialização dos trabalhadores portuários, já que a tecnologia passa ser intensiva. A mão de obra que após esse processo foi absorvida pelos portos tinha que se adaptar então as novas condições impostas.

Diversas foram as mudanças positivas provocadas pelos contêineres, principalmente a facilidade em transportar mercadorias, exigindo um aumento no tamanho dos navios, que agora com o emprego dos contentores poderiam transportar muito mais cargas, além de ter facilitado a entrada decisiva de muitos países no comércio mundial e a prosperidade de muitas empresas do ramo que se tornaram internacionais.

Esta nova geografia económica permitiu às empresas cujas ambições tinham sido puramente internas tornarem-se empresas internacionais, exportando os seus produtos praticamente com a mesma facilidade com que os vendiam localmente. No entanto, se o fizessem, depressa descobriam que os reduzidos custos de expedição marítima beneficiavam do mesmo modo os produtos na Tailândia ou na Itália. (LEVINSON, 2009, p. 15). Outro ponto muito importante a ser destacado remete a terceira geração do setor portuário exemplificado por Laxe (2005). Atualmente os portos sentem a necessidade de participarem de um transporte multimodal, ou seja, há uma preocupação maior com os meios de acesso até os portos, se estes possuem acesso ferroviário e rodoviário, que possam agir em conjunto com o transporte marítimo ofertado pelo próprio porto. Tal preocupação se faz devido as próprias empresas marítimas que procuram atracar em portos que atendam essa multimodalidade, facilitando o transporte de mercadorias, como também tornando os produtos mais acessíveis para os consumidores. Uma política mundial está ligada a estimular a competição entre os portos, tal competição serve como uma mola para o crescimento, ou seja, os portos têm que estar atentos as demandas do mercado, em dia com as tecnologias empregadas na movimentação de cargas e reduzir as burocracias, melhorando a própria administração portuária para que possam atrair mais serviços e assim aumentar sua movimentação de cargas, que é um número indicador de qualidade na avaliação dos portos.

Recentemente há uma nova tendência praticada pelas empresas prestadoras de serviços marítimos, que como uma forma de estratégia, se unem para alcançarem maior participação no setor portuário. As vantagens alcançadas pela fusão dessas empresas geralmente estão ligadas a conquista e uma forte presença no mercado, diminuindo custos e otimizando o tempo de entrega das mercadorias. Laxe (2005) comenta que a Maersk Line, empresa dinamarquesa abrange uma gama de serviços

mundial, ou seja, atua em praticamente todos os portos do mundo. As empresas se dividem no que diz respeito a atuação, a empresa MSC, por exemplo, atua mais em portos secundários e a CMA CGM possuí uma forte presença em portos complementares. Porém, essa geografia de atuação das empresas ligadas ao setor marítimo vem se modificando ao longo dos anos, já que essas companhias estão em constante esforço e crescimento para ampliarem suas rotas de atuação, desta maneira, há uma conquista de novos mercados.

Felipe Junior (2012) enfatiza que o sistema marítimo nacional é desregulamentado, processo pelo qual foi alcançado devido as políticas neoliberais apresentadas após a Lei 8.630/93 também conhecida como Lei dos Portos. Essa lei pode trazer muitos benefícios ao setor portuário brasileiro, tendo como objetivos principais promover uma descentralização do sistema portuário, bem como alcançar maior participação da iniciativa privada e assim estimular a concorrência entre os portos. Essa abertura para o capital privado abriu as portas para entrada de muitas empresas internacionais como a Maersk Line, a MSC, CMA CGM, Cosco, China Shipping, formando um oligopólio estrangeiro. Esse oligopólio de empresas estrangeiras torna-se um entrave para o crescimento das empresas brasileiras de cabotagem, que possuem dificuldades em competir com as internacionais.

Desta maneira, a necessidade da modernização portuária foi sentida através da demanda que estava sendo imposta, era necessário então modificar as estruturas portuárias existentes no país, através de investimentos maciços e implantação de tecnologias, as quais já estavam presentes em muitos países. Assim, a urgência em recuperar esse setor, se fez, principalmente devido a concorrência imposta por outras nações que detém de portos altamente desenvolvidos como é o caso do Porto de Roterdã na Holanda, bem como uma reação dos setores produtivos nacionais, que estavam perdendo oportunidade de exportação devido as más condições apresentadas nos portos brasileiros, que não davam conta da demanda imposta pelo sistema econômico que vigorava.

1.4 O TRANSPORTE DE CABOTAGEM E A SUPERVALORIZAÇÃO