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Fatores favoráveis e desfavoráveis à utilização do Transporte de cabotagem no Brasil

ATUAL 217 3.1 ANÁLISE CONJUNTA DO HISTÓRICO DOS PORTOS DA

1. A ORIGEM DO SISTEMA PORTUÁRIO BRASILEIRO

1.4 O TRANSPORTE DE CABOTAGEM E A SUPERVALORIZAÇÃO DO MODAL RODOVIÁRIO NO BRASIL

1.4.1 Fatores favoráveis e desfavoráveis à utilização do Transporte de cabotagem no Brasil

É importante destacar que a matriz de transporte de um país funcionará harmoniosamente, quando este for capaz de desenvolver um sistema intermodal, visando os aspectos positivos de cada segmento de transporte. Assim, a navegação de cabotagem se constitui como uma alternativa positiva para o desenvolvimento e eficiência da economia brasileira.

Neste ponto, cabe salientar que as vantagens que a o transporte de cabotagem apresenta são muito relevantes, diante da utilização maciça de outros modais. Destaca-se também, que o mesmo modal retrata algumas desvantagens de uso, que estão principalmente ligadas a falta de uma sólida regulamentação do setor, lacunas de infraestruturas e excessos de burocracias. Desta maneira é interessante demonstrar os pontos positivos e negativos da utilização de navegação de cabotagem no Brasil.

Quadro 10 – Pontos positivos e negativos da utilização da Navegação de Cabotagem no Brasil.

PONTOS POSITIVOS PONTOS NEGATIVOS

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ELEVADO CUSTO DE

COMBUSTÍVEL MAIOR VIDA ÚTIL DOS NAVIOS

E INFRAESTRUTURA MUITA BUROCRÁCIA MAIOR CAPACIDADE DE CARGAS FROTA DE NAVIOS ENVELHECIDA MENOR CONSUMO DE COMBUSTÍVEL DIFICULDADE DE AMPLIAR A FROTA BAIXA DISSEMINAÇÃO DE POLUENTES CUSTO OPERACIONAL VERSATILIDADE EM TRANSPORTAR CARGAS (VÁRIOS TIPOS)

SEGURANÇA NO TRANSPORTE OFERTA INSUFICIENTE DE ESCALAS

DIFICULDADE DE

ATRACAÇÃO NOS PORTOS Fonte: Agência Nacional de Transporte Aquaviários – ANTAQ.

A eficiência energética relacionada ao transporte de cabotagem decorre do fato dos navios suportarem uma capacidade bem mais elevada de cargas do que os outros modais, desta forma, consumindo oito vezes menos combustível do que o modal rodoviário para transportar a mesma quantidade de cargas de acordo com Login (2015). Como está exposto no quadro 11, a quantidade de carretas necessárias para suprir apenas uma embarcação é imensamente maior

Quadro 11- Comparativo de capacidade de cargas entre os modais.

CABOTAGEM 1 EMBARCAÇÃO 5.000 t

FERROVIÁRIO 72 VAGÕES 70 t

RODOVIÁRIO 143 CARRETAS 35 t

Fonte: Confederação Nacional de Transporte – CNT (2013).

Porém, acrescenta-se um entrave a essa vantagem energética, que são os altos custos com combustível, que recaem sobre o custo do frete, e desta forma encarecendo os produtos finais. Neste sentido cabe destacar que a navegação de cabotagem encontra dificuldades em competir com o modal rodoviário, já que este é favorecido por incentivos fiscais sobre o óleo diesel, e o transporte marítimo está isento de qualquer incentivo ou compensação, como argumenta Silva (2012), ao falar que a situação se agrava justamente pelo pagamento de tributos como ICMS e Cofins pelos navios de cabotagem, enquanto que os navios de longo curso “têm isonomia destes impostos quando se abastecem de combustível”.

Lopes (2015) também frisa que o abastecimento dos navios na costa brasileira para embarcações de bandeira brasileira é mais elevado, pois o valor do combustível pode recair de 35 a 50% dos custos operacionais. Ressalta que por mais que a Lei 9.432/1997 estabeleça algumas desonerações de tributos, igualando o transporte de cabotagem com o de longo curso, a realidade que se apresenta é diferente.

A respeito da maior vida útil dos navios e infraestruturas, destaca-se a necessidade excessiva de investimentos de recursos no grande concorrente que é o modal rodoviário de cargas, o qual dispensa de uma quantia elevada para sua manutenção temporal. Segundo a Confederação Nacional do Transporte- CNT (2015) foram gastos

somente este ano, contando até agosto, 4.080,41 milhões, unicamente no modal rodoviário e apenas 161,88 milhões, no modal aquaviário.

Acrescentasse a esses vultuosos investimentos o fato da grande utilização dos caminhões destinados a movimentação de cargas no país, provocando o estrangulamento das rodovias nacionais, incluindo congestionamentos intensos e o alto nível de acidentes nas estradas, sem deixar de citar, os excessos de pesos que não são respeitados pelos caminhões, acelerando a destruição das estradas, refletindo em um problema social, já que as estradas não são utilizadas unicamente para o transporte de mercadorias, mas também, se constituem em um modal aproveitado por outros usuários.

A dependência brasileira pelo transporte rodoviário se confirma com dados apresentados pelo ILOS (2014) o qual destaca que cerca de dois terços das cargas transportadas no Brasil, são por meio do modal rodoviário de cargas. A cabotagem representa 9,6% da matriz brasileira de transporte de carga e isso significa bem menos do que os 37% movimentados na União Europeia e os 48% transportados pela China.

Um ponto positivo da navegação de cabotagem recai sobre a segurança das cargas no transporte desse segmento, representando um risco muito menor de acidentes e roubo de cargas, que são mais comuns aos outros modais. Está segurança reflete diretamente no valor do seguro, e principalmente nas exigências e avaliações que são feitas pelas seguradoras. Estas avaliam diversos fatores como o tipo de mercadoria, a distância da viagem, valores transportados e o próprio meio de transporte. Desta maneira, por ser um transporte que proporciona mais segurança as cargas, o modal de cabotagem tem um custo de seguro inferior ao do rodoviário, elucida Silva (2012).

Cabe salientar como ponto positivo da navegação de cabotagem a questão ambiental, que está em pauta nos últimos anos. Criou-se uma cultura, bem afirmativa, diga-se de passagem, em relação a preservação do meio ambiente. Recentemente existem diversas políticas que estimulam os países a diminuírem a emissão de gases poluentes, através de incentivos, até mesmo fiscais para as indústrias que colaborarem. Neste sentido, torna-se primordial, que a matriz de transporte dos países também se adeque a questão ambiental. Entre os modais, aéreo, ferroviário, rodoviário e aquaviário, o último se destaca como sendo o mais inofensivo ao meio ambiente.

Quadro 12 - Representatividade da Cabotagem na Emissão de CO2 (g/TKU) AÉREO 40 RODOVIÁRIO 50 FERROVIÁRIO 35 CABOTAGEM 15 Fonte: ILOS (2013).

Percebe-se que o transporte aéreo se constituí por ser mais agressivo ao meio ambiente, este também se torna inviável para o deslocamento de grandes quantidades de cargas, e altamente dispendioso em relação aos demais, porém nos últimos anos registra-se um crescimento, principalmente na movimentação de cargas com grande valor. Em seguida esta o modal rodoviário, bastante utilizado na matriz de transporte brasileira.

Outro ponto negativo na navegação de cabotagem é a falta de estímulos suficientes e falhas nas políticas de incentivos a construção naval no país. De acordo com Silva (2012) nos últimos anos houve novos investidas por meio das empresas brasileiras (Aliança e principalmente a Transpetro que está ligada a indústria Offshore) e também temos uma frota de navios com a idade média considerada avançada comparada com outros navios, em torno de 25 anos, porém o número de novas embarcações é pequeno e torna-se preocupante se pensarmos no futuro.

A dificuldade encontrada na construção de navios brasileiros reflete a diferenciação de custo/construção com os que são praticados em outros países, principalmente superior aos países asiáticos, onde se encontra a maior indústria naval do mundo. Silva (2012) discorre que com o aumento da demanda e a insuficiência de produção dos estaleiros nacionais, há maior utilização de navios estrangeiros afretados e atenta que a carga tributária para a importação de navios é altíssima, além de inibir a utilização de navios na navegação de cabotagem. Somado a esses entraves está o pagamento por parte do armador de vários outros tributos, já mencionados. O autor aponta a necessidade de haver uma readaptação de leis e tributos que busquem beneficiar o quadro nacional.

O quadro portuário nacional apresenta grandes dificuldades de se desenvolver por diversos motivos, dentre eles o excesso de burocracia para a entrada e saídas de navios, reunindo a competência de diferentes órgãos, como a Receita Federal, ANVISA, Ministério da Agricultura entre outros tantos, que exigem uma série de documentos relacionados a carga transportada. Referente às exigências do próprio porto, segue o

quadro com a documentação necessária para atracação de embarcação de cabotagem em porto brasileiro.

Quadro 13 – Documentos Necessários na Navegação de Cabotagem no Brasil.