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Industrialização do Rio Grande do Sul

ATUAL 217 3.1 ANÁLISE CONJUNTA DO HISTÓRICO DOS PORTOS DA

1. A ORIGEM DO SISTEMA PORTUÁRIO BRASILEIRO

1.2 A INDUSTRIALIZAÇÃO DO SUL DO BRASIL E O DESENVOLVIMENTO DOS PORTOS

1.2.2 Industrialização do Rio Grande do Sul

A formação econômica do estado do Rio Grande do Sul é peculiar, no sentido de que apresenta características próprias, e outras que podem se assemelhar aos outros estados do Sul do Brasil. A presença do imigrante no processo de formação socioeconômica do estado foi de suma importância para compor o cenário industrial estadual. A industrialização do estado do Rio Grande do Sul demonstra claramente uma diferenciação regional, impostas principalmente na diversificação da produção, no tamanho dos estabelecimentos, e na inserção no capitalismo, refletindo os passos nacionais.

Há uma dicotomia entre as indústrias do Sul e Norte do estado. O Sul do estado, de ocupação mais antiga é representado pelas mesorregiões Sudeste, Sudoeste, Centro Ocidental e parte das mesorregiões Metropolitana de Porto Alegre e Centro Oriental. Possui sua economia baseada na pecuária, e atualmente apresenta estagnação econômica, reflexo principalmente da rigidez e da falta de diversificação de seus ramos produtivos, que ficaram presos ao desenvolvimento da pecuária e suas atividades complementares. A outra metade, o Norte do estado, foi ocupada posteriormente, e sua colonização remete principalmente a ocupação de imigrantes alemães e italianos, fato que pode ser explicado por muitos pesquisadores, como fator determinante para o desempenho e diversidade industrial alcançado pela região.

Segundo Arend e Cario (2010) a indústria do Rio Grande do Sul é formada por algumas peculiaridades que a diferenciam dos demais estados brasileiros no cenário da década de 1930, ao passo, que o comportamento industrial rio-grandense atuava em um modelo de crescimento voltado para dentro. Seguindo uma industrialização estatista, onde o estado incentiva o crescimento, estimulando a autossuficiência e

menos dependência externa. O estado interferia na economia a medida que desenvolveu projetos para estimular a autonomia econômica, visando se especializar entre outros setores que não fossem ligados a pecuária bovina, como havia sido durante todo o século XIX. O reflexo destes projetos foi a alteração intensa da estrutura produtiva do estado e a ampliação de suas relações capitalistas. Tal mudança na base produtiva, através da política desenvolvida, desencadeia o surgimento de pequenos agricultores, empresários industriais, como também comerciantes, servindo como estímulo a metade norte do estado, que desenvolvia sua economia baseada na agropecuária familiar e “desdobramentos” comerciais e industriais. Rangel (2005) afirma que o estado, como provedor, tem um papel importante na economia, porém, em uma crise econômica, há uma redistribuição dos serviços entre o setor público e o setor privado, e ao longo de toda nossa economia houve ação em partes desses setores.

Enquanto o cenário mundial apresentava a ampliação do mercado interno nacional e setores como a produção de bens de consumo não- duráveis e bens de produção leves recebiam investimentos, por mais que tivessem provocado algumas especializações locais, nos próprios municípios gaúchos, a economia do Rio Grande do Sul, não acompanhou tal mudança nacional e continuou priorizando atividades relacionadas ao beneficiamento agropecuário, que vão ser relevantes até a década de 60.

A partir dos anos 50, por conta de uma maior abertura às importações, iniciou-se, no País, a montagem de setores de maior complexidade tecnológica, como bens de consumo duráveis e intermediários, em um estágio de base tecnológica mundial mais avançado. A estratégia da política industrial foi o investimento direto de empresas estrangeiras não em setores tradicionais (da 1a fase), mas em bens de consumo duráveis e investimento estatal em setores de mais longa maturação, cuja exigência, em termos de volume de capital necessário, era enorme. Estabeleciam-se, assim, as bases da moderna industrialização brasileira. (CONCEIÇÃO, p. 182-183, 2002). Com a crise que se instalava no estado gaúcho, o governo retoma a exercer uma política de transformação industrial, por meio da implantação de estabelecimentos industriais com características

fordistas2. A transformação ocorrida na economia do Rio Grande do Sul era resultado de uma forte pressão proveniente dos representantes do estado para que fossem destinados investimentos na indústria gaúcha. O resultado de tais investimentos já podiam ser sentidos na década de 60, quando o estado já estava superando a crise em que se encontrava.

Nos dias atuais, a estrutura industrial do Rio Grande do Sul segue as bases da nacional, porém ainda concentra algumas especificidades, como uma forte tendência de indústrias tradicionais, como também aglomeração de certos ramos industriais em certos municípios, segundo Arend e Cario (2010). Essa tendência que divide certas regiões do estado em polos destinados a certos setores pode ser verificada também em Santa Catarina, como a região Nordeste do estado que é especializada no ramo metal mecânico e o Vale do Itajaí que concentra as indústrias têxteis.

Desta maneira, apenas a parte Norte do estado Rio Grande do Sul se insere no modelo de industrialização capitalista brasileiro que se instala no período pós-guerra, ressaltando a disparidade entre esta região e a região Sul do estado. No norte, formou-se um complexo industrial, através de uma industrialização diversificada e integrada além manter também indústrias tradicionais, e já na parte sul do estado nota-se a ausência de segmentos produtores de bens dinâmicos.

A política de colonização de imigrantes europeus, baseada na pequena propriedade e no trabalho livre, fez com que surgissem no Rio Grande do Sul formas mais avançadas de comércio local, do uso de técnicas europeias capitalistas, e uma maior coesão social. Também, com a chegada de europeus ao Rio Grande do Sul no século XIX, principalmente no que diz respeito ao quesito “trabalho”, os imigrantes trouxeram novos valores, costumes e hábitos, ou seja, outra cultura. Essa cultura estaria fundamentalmente mais ligada ao “espírito do capitalismo” (à la Weber), situação que era, até então, estranha para a realidade gaúcha. Esses fatores culturais viriam a legitimar em maior grau o capitalismo na região e, por conseguinte, a acumulação de capital, dada a maior especialização da oferta de trabalho. (AREND E CARIO, 2010, p. 399).

2 O Fordismo corresponde a um sistema de produção criado em 1914 por Henry Ford e tem como princípio a fabricação em massa.

Compreende-se que a dinâmica industrial desempenhada nas colônias gaúchas não está ligada ao fato do uso de técnicas avançadas, já adquiridas pelos imigrantes europeus em seus países de origem, onde o capitalismo já estava de fato consolidado e o industrialismo fortificado. Os imigrantes europeus que chegaram no Rio Grande do Sul, trouxeram consigo suas técnicas e experiência industrial o que foi determinante para o processo de industrialização do Rio Grande do Sul.

Mertz (1991) salienta que o estado do Rio Grande do Sul, no século XIX, era representado por dois modelos de industrializações diferenciados, um deles foi estabelecido nas cidades de Pelotas e Rio Grande, onde as indústrias exportavam seus produtos para o mercado nacional, estas caracterizadas como indústrias de grande porte e especializadas em poucos ramos.

A economia charqueadora–pecuarista era dominante na depressão sul-riograndense (o pampa). Já nos campos do planalto meridional, de difícil acesso e obstaculizados pela presença da mata, a economia charqueadora não se desenvolve da mesma forma, fazendo com que os pecuaristas destas áreas planaltinas sejam, no dizer Jean Roche, os “primos pobres da Campanha”. (PEREIRA E VIEIRA, 2009, p. 174).

Já outro modelo é o que se configurou nas cidades de Porto Alegre e Caxias do Sul, que ao contrário da indústria que era desenvolvida em Pelotas e Rio Grande, era bem diversificado em termos da produção, desenvolvido em pequenas empresas.

Desta maneira, a maior concentração de indústrias estava nas cidades de Pelotas, Rio Grande e até mesmo Porto Alegre, que contava com uma indústria de extrema importância econômica. Tal importância dada a Porto Alegre pode ser verificada na passagem de Singer (1977), no ramo metalúrgico, por exemplo, as dez principais firmas descendentes de alemãs produziam 40% do total produzido no mesmo ramo pelo estado. A capital gaúcha também se destaca na produção de fumo, concentrando 28% da produção estadual, além do ramo de tecelagem ter sido altamente expandido, através do fortalecimento de empresas como Renner. Porto Alegre, em 1927, possuía 8.718 operários, enquanto que Rio Grande 7.502.

A ênfase registrada pelas indústrias de Porto Alegre inicia no final do século XIX, ao alcançar um lugar de destaque entre as cidades rio-

grandenses a medida que vai expandindo seu parque industrial, como nos elucida a passagem abaixo.

É contudo, a partir de Porto Alegre, centro escoadouro da produção agrícola colonial, que foi possível a acumulação de maior massa de capital monetário. Dali se distribuíam os gêneros da colônia para o interior do estado e se providenciava o seu envio para o restante do país e exterior. Muitas dessas grandes firmas dedicavam-se a importação, foram responsáveis pela introdução de máquinas para as indústrias nascentes. Em função da disseminação da economia imigrante, Porto Alegre converteu-se no maior conglomerado urbano do estado e no centro comercial de maior destaque na passagem do século XIX para o XX. A Porto Alegre do final do século ostentava várias casas comerciais cujos proprietários eram alemães ou de origem: Menke, Wiedmann, Félix Kessler, Folzer, Pietzker, Gertum, Stennhagen, Luchsinger, Muradt, Warncke, Darken, Schmitt, Luderitz eram os novos nomes que vieram somar-se aos tradionais luso-brasileiros de Hemetério Mostardeiro, Gonçalves Bastos, Chaves Barcellos, Pereira de Souza etc. (FRANCO, 1983 apud PESAVENTO, 1994, p. 201).

Assim, segundo Espíndola (1997) as áreas onde foram desenvolvidas a pequena produção mercantil, produziam no interior do complexo rural um excedente que seria entregue ao mercado, pelas mãos de pequenos e grandes comerciantes. Mas estes comerciantes também dedicavam seu tempo com outras atividades, como o “beneficiamento da banha, conservas de carne, salames, etc, o que gerou um impulso a indústria de carne e seus derivados no Brasil, destacando grupos importantes como Phoenix, Aliança, Ritter, entre outros.

O Plano de Metas, em 1950, inseriu no Brasil a tecnologia empregada na produção industrial, através da implantação de indústrias de bens de capital e bens de consumo duráveis, dinamizando a economia. Os bens industrializados que se caracterizam como “dinâmicos” (minerais não metálicos, mecânica, papelão, metalurgia, química, material de transporte entre outros), estes inseridos na industrial nacional após o advindo da Segunda Guerra Mundial, que se concretizaram através do

Plano de Metas como também a realização do II Plano Nacional do Desenvolvimento (PND) segundo Arend e Cario (2010).

Vale destacar que o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) criado em 1975 pelo governo nacional traçou como objetivos substituir as importações de bens de capital, desenvolver projetos relacionados à exportação de mercadorias, como também expandir a produção interna de petróleo e derivados. Esforços determinados na fase depressiva do 4º ciclo. Relacionado ao setor petroquímico, o plano investiu em um terceiro polo nacional. Este foi construído no estado do Rio Grande do Sul, em Triunfo no início da década de 80, justificando a proximidade com o mercado consumidor e dos países do Cone Sul, além de estar mais próximo das fontes de matérias primas, assim nascia o Polo Petroquímico do Sul.

Atualmente, este complexo petroquímico é composto pelas empresas Braskem, Innova, Lanxess, Odebrecht Ambiental, Oxiteno e White Martins, totalizando aproximadamente 6.300 funcionários. O polo produz a nafta que é matéria prima básica utilizada em toda a cadeia de produção, derivando deste produto, o Eteno, Butadieno, Propeno, solventes entre outros, produzidos pela Braskem e fornecido às empresas de 2ª geração. já a White Martins fornece nitrogênio gás para inertização de equipamentos, de acordo com Polo Petroquímico do Sul (2015). A importância do empreendimento, não recai somente sobre o estado que o abriga, mas para o todo o Brasil e para o desenvolvimento da indústria petroquímica nacional, que vem se desenvolvendo cada vez mais, através de estudos e implementação de novas tecnologias no setor.

Portanto no norte do estado, houve um crescimento considerável de empregados nas indústrias dinâmicas, além de aumentar o número de estabelecimentos nestes ramos industriais. A metade Sul, por sua vez, partir da primeira atividade escolhida para desenvolver, acabou por excluir todas as outras, confirmando a falta de dinamismo apresentada na região, o que não exclui o fato de que a atividade pecuária desenvolvida no local não tenha gerado lucros no século XIX, principalmente, mas de qualquer forma, em vista da região Norte, muito mais diversificada, coloca o Sul do estado em uma posição inferior, de acordo com Arend e Cario (2010).