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CAPÍTULO 6 – PROMOÇÃO ECONÔMICA INTERNACIONAL (PEI) 112

6.1   Comércio Exterior 115

No contexto de gradual liberalização econômica, o comércio exterior tornou-se uma estratégia importante para muitas empresas. Ainda que haja proteção governamental para alguns setores nacionais, a oferta de empregos em nosso País depende da competitividade das empresas. Ao se voltarem para os mercados externos, as empresas ampliam sua escala de produção, passam a contar com suprimentos contínuos e maior flexibilidade de adequação a diversidades. Políticas de desenvolvimento econômico tendem a oportunizar o acesso dessas empresas ao mercado internacional, seja para exportação ou mesmo para importação.

Há inúmeras barreiras à comercialização internacional a valores lucrativos, principalmente no caso das micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2008). O desconhecimento dos trâmites burocráticos, as incertezas sobre o comportamento dos mercados, as capacidades limitadas de ampliar a produção para atender a grandes corporações são alguns dos desafios que competem às empresas. Do lado do setor público, o custo do Brasil é ainda significativo e está relacionado ao câmbio valorizado, aos impostos elevados e à infraestrutura precária de escoamento da produção. Os governos estaduais e municipais têm condições de minimizar essas barreiras, com políticas e articulações dos atores a partir do local.

Um dos instrumentos mais antigo de promoção econômica é a exibição de produtos em feiras, que reúne compradores e vendedores em um

mesmo espaço físico. Os governos locais podem promover essas feiras, disponibilizando informações às empresas sobre a cadeia produtiva no setor. O número significativo de visitantes pode ser útil para testar a aceitação do produto no mercado internacional, assim como ampliar as parcerias com empresas do ramo. A promoção em feiras é uma atribuição da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), junto às associações e sindicatos empresariais. Recentemente, estados e municípios brasileiros têm sido convidados pela Apex para participar dessas feiras e aprender um pouco mais sobre como desenvolver esse tipo de política.

A presença em missões internacionais é outra forma de governos e empresários explorarem o potencial de sua região. Por meio das rodadas de negócios, é possível consolidar uma rede de comércio exterior capaz de gerar novas oportunidades em um curto período de tempo. O formato conhecido como matchmaking possibilita a relação direta com empresas especializadas no mercado local e o acesso às informações sobre políticas locais de incentivo. Visitas às empresas bem-sucedidas permitem uma melhor compreensão da competitividade a ser enfrentada e novas tecnologias utilizadas. Nesse sentido, o Ministério de Desenvolvimento de Indústria e Comércio (Mdic) organiza missões empresariais e de autoridades locais a fim de estimular a expansão dos negócios para mercados não tradicionais. Além de contar com o amparo logístico, as missões oferecem informações sobre a cultura de negócios do país-alvo, suas regras e procedimentos.

Observa-se ainda o crescimento da participação de governos locais em negociações multilaterais e acordos bilaterais de liberalização comercial. Um caso interessante é a articulação do Estado do Mato Grosso para eliminar as restrições à carne bovina da região no momento em que foram identificados focos de febre aftosa nos estados vizinhos: Paraná e Mato Grosso do Sul. Como as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) não autorizam os governos a conceder subsídios diretos para promover as exportações, cada vez mais se observam atividades de capacitação e assistência. A relação de estados e municípios com as Câmaras de Comércio tendem a facilitar essa disponibilização de informação sobre determinados

países, a exemplo da Amcham, que está presente em onze cidades brasileiras.

O Mdic promove anualmente o Encontro de Comércio Exterior (Encomex) com o objetivo de dar conhecimento à iniciativa privada das ações institucionais desenvolvidas para o incremento do comércio exterior brasileiro. Mais do que disponibilizar a infraestrutura para a realização do evento, o município-sede se encarrega de mobilizar as empresas na região. Só em 2010, três cidades sediaram esse encontro: Manaus, Porto Alegre e Recife. A articulação multínível, fortalecida pela relação de parceria do setor público com o privado, permite uma convergência de esforços a favor do comércio exterior, com diminuição de assimetrias e busca de novos nichos de mercado.

A fim de desenvolver ainda mais essa articulação, agências regionais de promoção têm sido criadas no país. Essa tendência atual pode ser observada na Agência Metropolitana de Campinas (autarquia estadual criada em 2003) e na Agência Curitiba de Desenvolvimento (empresa municipal de economia mista criada em 2007). A pioneira no Brasil é a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC (associação Civil de direito privado criada em 1998), que agrega prefeituras de sete municípios, associações comerciais, Sebrae, empresas e instituições de ensino.

A Comissão de Comércio Exterior do Ceará (CCE), criada em 2000 por instituições como Banco do Brasil, Correios, Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Governo do Estado, Sebrae/CE e Universidade de Fortaleza, é outro arranjo bem interessante. Graças à CCE, a balança do comércio do estado com o exterior se tornou superavitária a partir de 2003, atingindo um crescimento na ordem de 200% nos primeiros cinco anos de existência (SEBRAE, 2006).

Em média, 41% (2.290) das cidades brasileiras fizeram transações comerciais com o exterior no período entre 2007 e o 1o semestre de 2010. A consolidação dos números da balança comercial do Mdic pela Confederação Nacional de Municípios (2010) demonstra que tais cidades estão localizadas em todas as unidades da Federação, sendo o Estado do Rio de Janeiro o que apresentou o maior percentual de municípios (75%), seguido do Estado de Roraima (67%) e de Santa Catarina (66%). Os municípios aeroportuários e portuários concentram grande parte dessa movimentação – o que indica

uma subestimação da cadeia produtiva desde os fornecedores primários. O Estado do Amazonas, com várias multinacionais na Zona Franca, é a campeã em saldo comercial negativo. O oposto se verifica no Estado de Minas Gerais, dada a elevada produção de minérios.

Mesmo com experiências de sucesso no país, poucos são os municípios com políticas de promoção comercial. Isso se justifica, em parte, pela falta de entendimento das autoridades locais de que esse tema também é uma competência do ente federativo que representa. O próprio governo federal enfrenta dificuldades de mobilizar os governos locais para este tema. O Programa Exporta Cidades do Mdic, após ser implantado em oito municípios e diagnosticado em mais cinco, foi encerrado por falta de engajamento de outras cidades.

Estados e municípios possuem, portanto, atribuições na promoção das exportações da região, ampliando, sobretudo, a força negociadora de suas empresas. É muito difícil definir a proporção de municípios brasileiros com maiores condições de engajar nesse tipo de atividade. É claro que a preexistência de infraestrutura para escoamento, de commodities valorizadas no mercado internacional, entre outros fatores, tornam esse investimento mais vantajoso. No entanto, a maior contribuição do poder público talvez seja criar um ambiente favorável para a comercialização internacional, em que esses fatores são precários. Práticas inovadoras já demonstram esse tipo de viabilidade, como a exportação de bonecas do interior nordestino, da cachaça do interior de Minas Gerais e das essências amazônicas.