• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 – POLÍTICA GLOBAL MUNICIPAL 84

5.2   Cooperação Financeira 105

A cooperação financeira no Brasil é supervisionada pela Secretaria de Assuntos Internacionais (Seain) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog). De acordo com os requisitos das instituições concedentes e da legislação brasileira, a Seain autoriza a transferência de recursos financeiros das agências para os governos regionais e locais por ordem de entrada de solicitação.

O Brasil é membro de alguns organismos multilaterais financiadores, como: Banco Mundial/Bird; Banco Interamericano de Desenvolvimento/BID; Cooperação Andina de Financiamento (CAF); e Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata). No âmbito bilateral, podemos citar alguns bancos conhecidas como Banco Japonês para a Cooperação Internacional (Jbic) e o Banco Alemão para o Desenvolvimento (KFW). Como o Brasil é tido como país em desenvolvimento, mesmo agências de cooperação técnica, como a Agência Japonesa para a Cooperação Internacional (Jica) e a Agência Francesa para o Desenvolvimento (AFD), têm oferecido financiamentos que passam pela Seain ao invés de recursos não reembolsáveis para a cooperação técnica da ABC.

Gráfico 1 – Projetos em Preparação por Ente Federativo

Mesmo nesses projetos de financiamento da Seain, é muito comum observamos recursos não reembolsáveis e cooperação técnica. A AFD, por exemplo, dispõe de instrumentos financeiros para o Brasil, como concessão de empréstimos em condições subsidiadas, de garantias e de linhas de crédito; financiamento, a fundo perdido, de estudos ou de apoios técnicos relacionados a esses empréstimos. Entre as cinco vertentes principais da estratégia da AFD no Brasil, uma trata especificamente do ordenamento sustentável e da mobilidade urbana. Isso demonstra a reorientação das agências para um trabalho mais direto com os governos locais. Comportamento semelhante é observado na atuação do Bird e BID, que juntos responderam por 83% da carteira de projetos brasileiros em 2009 financiados com recursos de Órgãos Internacionais de Financiamento e de Desenvolvimento (OFIDs).

A cooperação financeira é um instrumento cada vez mais direcionado para os governos subnacionais. Na série temporal apresentada abaixo (2000 a 2008), verifica-se que os municípios responderam por 24% do número de projetos, sendo o governo federal o ente que mais mobilizou recursos (55% do desembolsado). Há casos, a exemplo de 2006, em que o número de projetos municipais chega a ser maior do que dos demais entes, embora proporcionalmente em valores menores. Recentemente, os governos estaduais são os que mais têm buscado financiamentos, sendo responsável em 2009 por 55% do total de desembolso, enquanto os municípios responderam por apenas 8%.

Gráfico 2 – Projetos Aprovados na Cofiex (2000-2008) US$ Mil

Fonte: MPOG (2009).

O crescimento do financiamento concedido aos municípios, tendência observada de 2001 a 2006, sofreu uma interdição por meio da Resolução 294, de setembro de 2006, da Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex). A referida resolução estabeleceu que somente seriam considerados pela comissão os pleitos de operação de crédito externo de interesse de municípios, com garantia da União, que atendam, entre outros critérios, ao de população superior a cem mil (100.000) habitantes, com margem de tolerância de 10% sobre a população divulgada. No entanto, deve-se lembrar que grande parte dos municípios brasileiros apresentam população abaixo de 90 mil habitantes. Uma das justificativas utilizadas foi a incapacidade da Cofiex de analisar todas as solicitações desses governos locais.

Ainda que essa justificativa possa parecer desarrazoada, já que favorece regiões mais desenvolvidas no país, o motivo que levou a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania a sustar essa resolução foi outro. Segundo o Projeto de Decreto Legislativo 128, de 2007, esse ato do Poder Executivo exorbita seu poder regulamentar, uma vez que a Constituição, art. 52, define como competência privativa do Senado Federal a autorização de operações externas de natureza financeira de interesse dos entes federativos,

assim como dispõe sobre limites e condições de suas operações. Tal parecer encontra-se em tramitação no Senado, aguardando inclusão na ordem do dia.

O aval federal representa um compromisso de que, na ausência dos recursos dos governos estaduais e municipais, a União é responsável por assumir a dívida. O aumento da dívida externa, com a respectiva entrada de capitais no país, gera efeitos em toda a política macroeconômica – a exemplo da inflação. A história recente brasileira comprova a necessidade de maior controle dessa operação. Quando estados declaram a moratória a compromissos externos, como Minas Gerais, em 1999, é toda a credibilidade brasileira que está em jogo.

Pode-se afirmar, entretanto, que esse controle é exagerado no Brasil. Na maior parte dos casos, os municípios brasileiros têm uma situação fiscal equilibrada, mas sua capacidade de investimento encontra-se reduzida em virtude de limitações impostas pela política macroeconômica. Não há uma ponderação por parte do governo federal sobre os méritos do município ou do projeto financiado (BANCO MUNDIAL, 2006). Para fugir dessa amarra, muitos municípios estão buscando novos arranjos para captar financiamentos internacionais, como projetos junto com os governos estaduais ou consórcios intermunicipais de caráter privado. Todavia, o tempo médio de negociação é de 3 a 5 anos para cada projeto – o que desencoraja muitos a buscar tais créditos.

Apesar do processo moroso, podemos citar alguns exemplos de cooperação financeira no Brasil. Em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, o financiamento do BID foi destinado a obras viárias da cidade, enquanto os recursos do Jbic serviu para a despoluição de uma represa na região. Porto Alegre (RS) assumiu um empréstimo com o Banco Mundial e o Fonplata de mais de 180 milhões de reais para desenvolvimento urbano. Santos (SP) obteve um financiamento da Aliança de Cidades na ordem de 950 mil para desenvolvimento urbano.

As doações, ainda que em menor número, devem ser consideradas dentro da cooperação financeira. A cidade de São Paulo conseguiu recursos não reembolsáveis superiores a 8 milhões de dólares para a área de desenvolvimento social. O Estado do Rio de Janeiro recebeu doações do Japão e de outros países asiáticos para colaborar com os municípios da

região serrana atingidos pelos incidentes climáticos em 2011. A Agência de Desenvolvimento e Comércio dos Estados Unidos (USTDA) oferece recursos para promover estudos de viabilidade, visita técnica e assistência técnica em projetos que têm potencial de 8 milhões de dólares de exportação norte- americana. Vale destacar que essas doações não passam pela aprovação da Seain.

A cooperação financeira e a cooperação técnica estão fortemente atreladas. Por vezes, essa distinção só é possível de ser identificada pelo órgão do governo federal que valida essa cooperação: ABC ou Seain. Cresce, porém, o número de ações que não envolvem esses órgãos do governo federal. Estados e municípios precisam fortalecer suas próprias áreas internacionais para oportunizarem os recursos internacionais disponíveis.