• Nenhum resultado encontrado

COM OLHOS DE CRIANÇA: VISÃO DAS CRIANÇAS SOBRE OS ESPAÇOS

No documento Cidade amiga da criança (páginas 61-86)

Figura 17 – Com os olhos de criança

Fonte: Tonucci (1997, p. 53).

Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. [...] Então ver-te-ei com os teus olhos E tu ver-me-ás com os meus.

(JACOB LEVY MORENO)

Pedir a palavra às crianças sobre a cidade em que vivem requer um exercício de sensibilidade. Suas narrativas revelam a complexidade de questões que são, muitas vezes, maiores do que os olhos adultos podem ver.

Tonucci (1997), no livro “Com olhos de criança”, explica que às vezes os adultos veem as coisas pelas crianças, ignorando como elas veem ou gostariam de ver o mundo. Nesse sentido, o autor convida a fazer o exercício de tentar ver a cidade, as escolas, os saberes e a vida a partir da perspectiva infantil.

A discussão deste capítulo aborda essa questão. Com base na interpretação dos dados coletados na pesquisa de campo, a pesquisadora aventurou-se no exercício proposto por Tonucci: ver os espaços públicos de lazer da cidade de Tubarão com os olhos das crianças, buscando conhecer esses espaços com elas.

3.1 “EU NÃO SEI, MAS DEVE TER, SÓ QUE FICA BEM LONGE DA MINHA CASA”: SOBRE A AUSÊNCIA/PRESENÇA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE BRINCADEIRA NA CIDADE

Figura 18 – Se vocês constroem, nós não podemos brincar

Fonte: Tonucci (2005, p. 136).

A respeito do conceito e da presença dos espaços públicos de brincadeira na cidade, ideias, percepções e sentimentos rondam as falas/escritas das crianças, conforme se pode observar na tabela abaixo:

Tabela 1 – Conceito de espaço público de brincadeira

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Local onde todos podem frequentar 06 33,2

Local com brincadeiras e diversão e conhecer amigos 06 33,2

Local limpo 01 5,6

Shopping 01 5,6

Parque 02 11,2

Praças 02 11,2

Total 18 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Através da tabela acima, pode-se verificar o conceito de espaço público de brincadeira para o grupo de crianças pesquisadas. Ressalta-se que na categorização das respostas, devido ao fato de as crianças possuírem vários conceitos, a resposta de uma criança

foi enquadrada em mais de uma categoria, totalizando, desse modo, 06 categorias e 18 respostas.

Analisando os dados, observa-se que seis crianças (33,2%) conceituam espaço público como um local onde todos podem ir; outras seis crianças (33,2%) disseram que era um lugar de brincadeira e diversão e conhecer amigos; uma criança (5,6%) respondeu que é um local limpo; uma outra criança (5,6%) disse que é o shopping; duas crianças (11,2%) afirmaram que é um parque e outras duas crianças (11,2%) responderam que é uma praça. Assim, percebe-se que as crianças têm o conceito de espaço público como sendo um lugar em que todos podem frequentar e brincar. Tal como aparece no trecho da carta:

“Espaço público é um lugar que todos podem ir para brincar, conversar, se

divertir e conhecer amigos.” Maria (9 anos e 2 meses)

Segundo Santos (1988), espaço público pode ser conceituado como:

Aquele que seja de uso comum e posse de todos. E que compreende os lugares urbanos que, em conjunto com infraestruturas e equipamentos coletivos, dão suporte à vida em comum: ruas, avenidas, praças, parques. Nessa acepção, são bens públicos, carregados de significados, palco de disputas e conflitos, mas também de festas e celebrações. [...] É preciso produzir espaços públicos, com tudo o que possa haver de público nisso. Não se quer apenas que sejam acessíveis fisicamente, mas que sejam lugares de encontro, de tolerância, de mistura de raças, credos, rendas, agradáveis, seguros, de fruição e, principalmente, um lugar onde a cidadania possa se manifestar, é isso que faz a cidade ser cidade: o encontro. (SANTOS, 1988, p. 35).

Nesse contexto, enfatiza-se a necessidade de possibilitar espaços onde as crianças possam se encontrar, conviver, estar juntos. Tonucci (1996), ao dizer que as crianças estão cada vez mais se trancando em suas “casas fortaleza” denuncia o quanto elas estão ficando cada vez mais sem poder conviver com seus pares, e isso poderá trazer alguns prejuízos. Ao se relacionar com outras crianças e adultos, a criança aumenta seu vocabulário, busca estratégias para lidar com situações novas, desenvolvendo suas dimensões: social, emocional e cognitiva, aprendizagens fundamentais na vida humana.

Com base nos direitos das crianças, a Lei Federal nº 8.069/90, em seu artigo 59, capítulo IV, do ECA, preconiza que “os municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude”. (BRASIL, 1990). Logo, em se tratando de um direito, há de se perguntar quem seria responsável pelo cumprimento desse

direito? Quem deveria oferecer isso à infância? Como respeitar a cidadania das crianças sem cumprir o que determinam o ECA e a Constituição?

A tabela abaixo aborda a existência desses espaços de acordo com a concepção das crianças:

Tabela 2 – Existência de locais para brincadeiras

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Sim 15 100

Não 0 0

Total 15 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Quando questionadas sobre a existência de locais para brincadeiras, percebe-se que 100% das crianças, isto é, as 15 crianças entrevistadas disseram que existem locais para a brincadeira na cidade de Tubarão. Mas, como se pode observar em suas falas, os espaços existentes são poucos. Tal como diz Davi (9 anos e 2 meses):

“Sim, mais [sic] poucos, pois a prefeitura se concentra mais em moradias do que em áreas de lazer.” (Trecho da carta)

Nota-se que, na visão das crianças, eles existem, mas não são suficientes. Suas necessidades nem sempre são levadas em consideração. Por omissão das autoridades competentes, em consequência do desenvolvimento das cidades que foi acompanhado da expansão imobiliária, e o crescente número de veículos nas ruas, tudo isso contribuiu para uma redução de áreas livres, aumento da violência e, por conseguinte, maior insegurança nas cidades. Dessa forma, os espaços públicos, que outrora eram considerados espaços sociais e que faziam parte do dia a dia das crianças, passaram a ser percebidos como inadequados e perigosos. A rua passou a ser considerada como um lugar de passagem, de perigo e de proibição.

As cidades foram pensadas, projetadas e construídas por adultos e para adultos, que adotam como parâmetro o cidadão adulto, abandonando os cidadãos não adultos. As tomadas de decisões relativas à organização dos espaços públicos estão cercadas de barreiras relacionadas à linguagem tecnocrática e com estilos de negociação que diluem a infância na ordem social dos adultos, não valorizando o seu conhecimento urbano. (TONUCCI, 1997, p. 181).

Ao longo dos anos, o número de crianças nas ruas foi progressivamente reduzido, de forma que se tornou cada vez mais difícil encontrá-las na cidade. Com a limitação de lugares específicos para as crianças na cidade, denuncia-se uma situação de exclusão urbana da infância, já que ela não é vista como ator social pertencente e com direito à cidade. Há um interesse reduzido por parte dos responsáveis pelas políticas públicas de organização dos espaços das cidades em inserir as crianças nesses ambientes. Conforme Sarmento (2005), as crianças vão transitando em um espaço intersticial entre o que é concedido pelos adultos e o que é reinventado no seu mundo de vida através do imaginário e da cultura lúdica.

Vale salientar que o acesso aos espaços públicos é indispensável à saúde integral da criança, pois quando a criança frequenta esses lugares, ela brinca, relaciona-se com o adulto ou com os seus pares, possibilitando a relação com o mundo externo, estimulando a vida social, permitindo que os grupos se estruturem e que as crianças estabeleçam relações de trocas.

3.2 “PULA CORDA, ESCORREGA, PEGA RAPOSA, ESCONDE-ESCONDE. EU GOSTO

MESMO É DE BRINCAR!”: CONHECENDO AS PREFERÊNCIAS DE ESPAÇOS, BRINCADEIRAS E PARCEIROS DAS CRIANÇAS

Figura 19 – Sozinho

Fonte: Tonucci (2005, p. 71).

Tonucci (2005) aponta a necessidade de que todos os espaços públicos sejam ambientes nos quais as crianças possam conviver com outras crianças e com pessoas de todas as idades.

Uma cidade mais atenta para as questões da convivência humana é um espaço de elaboração de saberes a partir das relações sociais. Atenta a essa questão, aborda-se, neste eixo de análise, as preferências de espaços, brincadeiras e parceiros das crianças nos espaços públicos na cidade. A tabela seguinte ilustra os espaços de brincadeira:

Tabela 3 – Locais utilizados para brincadeiras

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Praça 11 31,4 Casa de amigos 07 20 Pista de skate 06 17,1 Shopping 06 17,1 Rua 03 8,6 Campo de futebol 01 2,9 Piscina 01 2,9 Total 35 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

No que diz respeito aos locais em que as crianças vão para brincar, os mais frequentados são as praças (31,4%), a casa dos amigos (20%), a pista de skate e o shopping (17,1% cada). Sobre esse aspecto, é importante destacar duas questões: a primeira é que mesmo as crianças conhecendo o conceito de espaço público, 07 delas (20% da população amostra) responderam que gostam de brincar na casa de amigos. Isso ocorre porque, segundo a fala das crianças, em alguns lugares onde elas residem não têm espaços públicos para as brincadeiras. Como se pode observar nas falas abaixo:

“Não vou muito a estes lugares porque não têm perto da minha casa. Vou à casa de amigos”. (Helena, 10 anos e 3 meses)

“Casas de amigos porque os espaços públicos são longe da minha casa.” Carla, 8 anos e 3 meses)

Através de suas falas, as crianças sentem falta de espaços públicos que acolham suas brincadeiras. Esse fato reforça o que foi comentado anteriormente: faltam políticas públicas relacionadas a essa temática, porque ter acesso a praças, parques e outros espaços

públicos representa, também, o exercício da cidadania. E, mais uma vez, afirma-se que a garantia desse direito está determinada no ECA, Lei Federal nº 8.069/90, que, em seu artigo 59, capítulo IV, preconiza que “os municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude”. (BRASIL, 1990).

A outra questão a ser destacada é que 11 crianças, totalizando 31%, disseram que vão às praças. De acordo com a fala das crianças, mais especificamente vão à Praça Luiz Pedro Medeiros, ou como é conhecida, a Praça de Oficinas. Isso deve ocorrer devido a esse local ser o único10 lugar que apresenta alguns brinquedos em condição de uso para as crianças nessa faixa etária. Como os trechos das cartas a seguir:

“Quando vou às praças, vou a [sic] de Oficinas.” (Lucia, 9 anos e 1 mês)

“Eu vou ao parque na frente de um restaurante que o nome é Bochecha Lanches.” (Clara, 8 anos e 3 meses)

“Eu brinco na praça de Oficinas.” (Alice, 8 anos e 4 meses)

O direito ao acesso a praças, parques e outros espaços públicos é uma lei que deve ser vista como um direito à cidadania e, sucessivamente, uma garantia de cidades estruturadas, dotadas de infraestrutura adequada e espaços públicos disponíveis para possibilitar a interação entre os adultos e as crianças e entre as crianças e seus pares em espaço comunitário. Como pontuaTonucci (2005), essa disponibilização de espaços urbanos adequados e seguros é uma das ações que precisam ser vistas não como despesa, mas como investimento, sobretudo para garantir que crianças possam ter espaços adequados para vivenciar a cultura.

No Brasil, algumas organizações não governamentais, movimentos populares, associações de classe e instituições de pesquisa criaram o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), no ano de 1987, que possui entre os seus princípios fundamentais garantir o direito à cidade. A proposta do Fórum é lutar por políticas que garantam os direitos básicos à população, incluindo o direito ao lazer. Entre as atribuições, o Fórum estimula a participação social em conselhos e discute a elaboração de planos diretores para as cidades. Para o Fórum

10 Conforme pesquisa realizada aos espaços públicos por esta pesquisadora em 2013, só foi encontrada uma praça com brinquedos em condição de uso por crianças no município.

de Reforma Urbana, os cidadãos precisam participar das decisões fundamentais para o futuro das cidades. Isso quer dizer que os prefeitos, secretários e vereadores têm a responsabilidade de conversar com as crianças para ouvir o que elas têm para dizer sobre a cidade.

A tabela abaixo representa as pessoas que acompanham as crianças em suas brincadeiras na cidade.

Tabela 4 – Pessoas que acompanham as crianças até os locais onde brincam

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Amigos 08 50

Família 08 50

Total 16 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

No que se refere à tabela 4, percebe-se que 50% das crianças vão aos locais de brincadeira com seus amigos e 50%, com seus familiares. Como nos relatos das crianças:

“Esses lugares eu vou com meus pais e amigos.” (Joana, 10 anos)

¨Eu brinco em praças com amigos e família.” (Julia, 8 anos 7 meses)

“Eu vou na [sic] pista de ‘skate’ com amigos e com a família.” (Antonio, 10 anos e 4 meses)

Faz-se necessário esclarecer que brincar não significa apenas recrear-se, é, antes, a forma mais completa que a criança tem de se comunicar consigo mesma, com o outro e com o mundo. Assim, a criança precisa ter tempo e espaço para brincar em um ambiente que estimule imaginação, fantasia, criatividade e o contato com seus pares e também com os adultos.

O brincar com alguém reforça os laços afetivos. Um adulto, ao brincar com uma criança, está demonstrando-lhe atenção e amor. A participação do adulto na brincadeira eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças. Como aponta Tonucci (1997), em seu livro “Com os olhos de criança”: “Quase sempre os pais parecem ignorar que a brincadeira é uma oportunidade de criação de fortes laços afetivos com as crianças.” (1997, p. 95).

O importante é o vínculo que se estabelece nas brincadeiras; quando o adulto brinca com a criança, ela vivencia a experiência amorosa com o outro, é nesse brincar que a criança experimenta o conforto e se sente acolhida.

Tabela 5 – Locais onde mais gostam de brincar

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Praça (parque) 05 26,3 Shopping 05 26,3 Praças 04 21,1 Rua 02 10,5 Pista de skate 02 10,5 Campo de futebol 01 5,3 Total 19 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Em relação aos locais onde as crianças mais gostam de brincar, pode-se perceber que os lugares de preferência das crianças são as praças e o shopping, totalizando, cada um, 26,3%; e os locais que elas menos gostam são as praças (26,6%) e a pista de skate e campo de futebol (6,7% cada um).

Tabela 6 – Locais onde menos gostam de brincar na cidade de Tubarão

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Praças 04 26,6

Pista de skate 01 6,7

Campo de futebol 01 6,7

Não responderam 09 6,0

Total 15 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Analisando as tabelas 4 e 5, um dado que chama bastante atenção é o fato de as crianças citarem a praça como o local que elas mais gostam de frequentar e, paralelamente, também como o local que elas menos gostam. Isso, geralmente, está associado à conservação e à manutenção desses locais:

“Eu gosto da praça para brincar ao ar livre. Eu não gosto de alguns lugares como as praças sujas, eu queria que cuidassem do meio ambiente.” (Laura, 9 anos e 4 meses)

“O lugar que eu menos gosto é a Praça 7 de Setembro porque lá todo mundo joga lixo e ninguém limpa.” (Joana, 10 anos)

“O lugar que eu menos gosto é a pracinha da minha rua, porque ela é muito pobrezinha e não tem nada para fazer lá.” (Maria, 9 anos e 2 meses)

“Nenhum, porque são todos muito chatos.” (Davi, 9 anos 2 meses)

Os equipamentos de lazer são considerados bens públicos de grande importância social, por cumprirem não apenas uma função estética no conjunto da cidade, mas por possibilitarem diferentes formas de lazer. Assim, as praças, ruas, pista de skate, campos de futebol e ginásios são equipamentos coletivos de lazer que desempenham importante papel na qualidade de vida das crianças e população em geral. A carência ou a precariedade desses equipamentos tem efeitos negativos nas formas de convivência social, implicando no confinamento dos moradores. Isso acontece porque os equipamentos e os espaços de lazer não são entendidos como fundamentais e não têm a atenção necessária, nem lhes é atribuída a importância real numa política de administração urbana. Foi possível verificar esse fato no estudo exploratório realizado pela pesquisadora, onde foram visitados os espaços públicos de brincadeira na cidade de Tubarão e se pôde constatar o descuido e a inadequação de muitos espaços públicos destinados ao uso do brincar e do lazer.

Vale destacar que o acesso aos espaços abertos, à natureza, assim como a possibilidade de brincar, tem grande significado para a criança, pois é através desses lugares e da brincadeira que é possibilitado às crianças explorar o ambiente com intensidade, descobrindo desafios individuais e em grupo. Como pontua Marcellino (1983, p. 35, grifos do autor),

o lazer possui um caráter ‘revolucionário’, pois é no tempo de lazer, onde procuram a vivência de algumas coisas pela escolha e satisfação, encontro com pessoas, com o ‘novo’ e o ‘diferente’, que se encontram possibilidades de questionamento dos valores da estrutura social, e das relações entre sociedades e espaço.

Por isso é preciso cobrar políticas púbicas voltadas para o lazer, mas um lazer de qualidade, onde os locais e equipamentos estejam em condições de uso e, principalmente,

em condições de possibilitar importantes oportunidades de interação, aprendizagem e brincadeira.

Sobre as preferências de brincadeiras das crianças, pode-se observar a tabela a seguir:

Tabela 7 – Brincadeiras que mais gostam de realizar nos espaços públicos

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Bicicleta 09 32,2 Pega-pega 05 17,9 Pular corda 02 7,1 Esconde-esconde 02 7,1 Futebol 02 7,1 Roller 02 7,1 Skate 02 7,1 Escorrega 01 3,6 Videogame 01 3,6 Patinete elétrico 01 3,6 Vôlei 01 3,6 Total 28 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

A partir da tabela acima, percebe-se que 32,2% das crianças participantes desta pesquisa gostam de andar de bicicleta e 17,9% gostam de brincar de pega-pega nos espaços públicos, como se pode verificar na fala das crianças:

“São andar de skate, de bicicleta, ir no [sic] parque, no campo de futebol, ir na [sic] casa do meu amigo, brincar de pega-pega, de se esconder e jogar videogame.” (Pedro, 9 anos)

“Andar de ‘roller’, ‘skate’, bicicleta e patinete elétrico.” (Maria (9 anos e 2 meses)

É através do ato de brincar que as crianças começam a se relacionar com o ambiente e as pessoas ao seu redor. Sair do quarto, de casa, frequentar lugares fora de seu bairro ou escola, circular pela cidade são vivências essenciais para a educação das crianças. Por isso, é fundamental possibilitar atividades que estimulem o contato com o ambiente, isto é, com a cidade e com as pessoas a fim de que as crianças possam se desenvolver de forma plena e feliz.

Para compreender a importância da presença das crianças na cidade é preciso ver a cidade como um espaço educador com possibilidades de aprendizagens formais e informais. Todo e qualquer lugar, espaço ou elemento urbano é potencialmente cultural, histórico e educativo. Uma rua, uma pista, um campo ou uma praça podem possibilitar aprendizagens tão ricas quanto museus, livros e conhecimentos adquiridos na escola. Segundo Brougère (1995, p. 61), “o círculo humano e o ambiente formado pelos objetos contribuem para a socialização da criança e isso através das múltiplas interações, dentre as quais algumas tomam a forma de brincadeira”.

Desse modo, a brincadeira tem seu papel nas múltiplas interações das crianças quando permite que ela se aproprie dos códigos culturais da sua sociedade. Assim, a brincadeira é vista como um espaço de troca de experiências. Ao brincar, a criança confronta- se com a cultura, apropriando-se dela e transformando-a.

3.3 “LUGAR DE CRIANÇA É NA CIDADE BRINCANDO, PORQUE SER FELIZ É BOM

DEMAIS!” ENTRE NECESSIDADES E SONHOS DAS CRIANÇAS PARA A CIDADE

Figura 20 – Precisamos ser ouvidas

Tabela 8 – O que você gostaria que tivesse nos espaços públicos que ainda não tem

Resposta Quantidade % (porcentagem)

Parque com brinquedos maiores 03 19,7

Parque de diversão gratuito (só tem o shopping) 02 13,3

Campo de futebol 01 6,7

Espaços com mais brincadeiras 01 6,7

Carrossel 01 6,7

Brinquedo em 3D 01 6,7

Pista de bicicleta 01 6,7

Campo de beyblade 01 6,7

Local para jogar videogame 01 6,7

Parque aquático 01 6,7

Pista de roller 01 6,7

Pista de skate 01 6,7

Total 15 100

Fonte: Elaboração da autora, 2013.

A tabela acima retrata os desejos de espaços públicos que ainda não existem. Assim, 19,7% das crianças gostariam de ter, nesses espaços, parque com brinquedos maiores e 13,3% desejariam que tivesse parque de diversão gratuito:

“Gostaria que tivesse parques, porque tem poucos.” (Lucia, 9 anos e 1 mês)

“Um parque com brinquedos maiores e mais divertidos.” (Julia, 8 anos 7 meses)

“Um parque de diversão sem pagar.” (Alice, 8 anos e 4 meses)

“Parque com escorregador, gangorra, caixa de areia.” (Carla, 9 anos e 5 meses)

“Eu gostaria que tivesse, nos espaços públicos, mais parques e que não jogassem lixo no chão.” (Joana, 10 anos)

Durante muito tempo, as pessoas se acostumaram a ver as crianças como seres passivos, receptores da ação dos adultos, sem vontade, sem opinião, sem voz. Porém, quando

se tem uma escuta atenta e sensível ao que elas dizem, percebe-se que elas são atores sociais, ou seja, sujeitos com capacidade de ação e interpretação e participação.

A participação é inerente ao próprio processo de maturação e desenvolvimento da criança, no entanto, a avaliação que se faz da participação e dos direitos participativos da criança hoje é que ainda se está muito longe de garantir que as crianças sejam ouvidas no âmbito das instituições que ocupam, como a família, a escola, o espaço público, as cidades, e nas políticas públicas. Como explica Sarmento (2008, p. 35): “Creio que há mudanças, ainda que relativamente débeis e tíbias, e podemos dizer mesmo que entre os direitos das crianças, de proteção, participação e provisão, os direitos de participação são os que estão,

No documento Cidade amiga da criança (páginas 61-86)

Documentos relacionados