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Capítulo II – A Festa de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia

I.2 Comandante Geral

O cargo de “Comandante Geral” – “Comandante General” ou “Embaixador” – constitui um posto vitalício exercido por um membro da Irmandade. Vale lembrar que seu

26 A demanda é uma espécie de agressão mística que utiliza ferramentas espirituais. Algumas vezes se transformam em guerras místicas. O que abordarei mais adiante.

72 atual ocupante, Jeremias Brasileiro, é também o segundo secretário da Diretoria da Confraria.

No plano do ritual, suas ações envolvem representação e mediação entre os agentes, proteção espiritual e controle dos eventos.

O Comandante intermedeia as relações que se dão entre os agentes durante as atividades festivas realizadas no espaço da Praça Ruy Barbosa, onde se localiza a Igreja do Rosário. A Praça constitui, nas palavras de Jeremias Brasileiro, seu espaço ritual. Trata-se do espaço intermediário entre os caminhos percorridos pelos Ternos e a Igreja do Rosário, onde estão os santos a serem homenageados e as autoridades da Igreja e da Irmandade – os padres e o presidente da Irmandade aguardam os Ternos no palco em frente à Igreja (ver Foto). O Comandante desempenha o papel de “Embaixador” (outra denominação para este cargo) da Irmandade, ou seja, de representante de suas lideranças. É ele quem avisa ao animador sobre os grupos que se aproximam e quem recebe suas bandeiras, levando-as até os pés das imagens dos santos.

No entanto, a recepção dos Ternos pelo Comandante passa por questões mais complexas. Ela envolve outra dimensão, a da religiosidade. Nas palavras de Jeremias, o Comandante é também um protetor espiritual. Vale dizer que até o ano de 200427, este cargo era ocupado por Tio Cândido, que também era pai-de-santo numa Casa de Omolocô28. Seus conhecimentos neste universo religioso são fundamentais para fazer a mediação entre os agentes. Vejamos a fala de Jeremias Brasileiro:

J: E na sua função, por exemplo, o Tio Cândido te passou alguma coisa também da religiosidade?

J. B.: É, algumas coisas, né.

J: Que faz parte do ritual da festa?

J. B.: Que faz parte. Maneira de segurar bastão. No primeiro dia, aliás, começa nos nove dias da novena, você tem toda uma preparação. Na sexta-feira anterior de que começa a novena, você ir no Terreiro, você fechar seu corpo. E depois da festa também, na próxima sexta-feira ou na segunda-feira, você ir limpar o, ir limpar. É, a maneira de você se posicionar na praça, de como recebe de frente, trabalha o próprio corpo até a hora que o grupo sai. Da dificuldade de você não poder quebrar um ritual de... Quando, principalmente alguns que são mesmo, que já vai mesmo com a religiosidade ali. Quer dizer, de um entrar aqui enquanto o

27 Tio Cândido faleceu no ano de 2005.

28 Segundo alguns dançadores e pais-de-santo, trata-se de um culto que resultou de um movimento de aproximação da Umbanda com o Candomblé. Este, por ser considerado a “origem africana da Umbanda”, foi tomado como modelo de organização dos ritos e liturgias do novo culto. Portanto, no Omolocô, há elementos tanto do Candomblé quanto da Umbanda. No entanto, há divergências com relação a sua classificação dentro do quadro das religiões afro-brasileiras. Ele pode ser definido como: Candomblé de Caboclo, uma nação de Umbanda, ou ainda um culto próprio que não seria Umbanda nem Candomblé.

73 outro não fazer isso aqui, você não liberar o outro 29. Que tem uns que vem aqui [um dos cantos da praça onde fica um dos mastros], mas... Todos eles têm alguém atrás fechando o Terno. Alguns mais explícitos, outros nem tanto. Mas todos têm alguém abrindo o Terno e outro fechando o Terno. Esses cuidados. O primeiro dia que é o mais pesado. Da forma de você segurar o bastão: sempre na mão esquerda. É o mais pesado.

J: Por que na esquerda? Você pode falar?

J. B.: Nem tanto. E no que vem dentro do bastão, né, também. Porque é como se você tivesse, geralmente você tem toda uma posição aqui, de segurar, de captar, de...

(...)

J. B.: É, na verdade, o que eu faço hoje substituindo o Tio Cândido é receber tudo o que tem ali. No papel de frente.

J.: Receber energia mesmo?

J. B.: O que vem de bom, o que vem de ruim. Aí entra a minha protetora espiritual. As pessoas que me protegem espiritualmente também. E que o tempo todo ficam ali presentes. Fisicamente, de um lado, e espiritualmente, de outro.

Então tem isso. O que você recebe, e às vezes a energia é tão forte, a, porque você desaparece, sabe? Às vezes a gente desaparece. Às vezes a gente desaparece de tal forma num contexto que a gente não vê. Por isso você tem que ter alguém pra ver pra você, ou por você. Porque você se entrega totalmente. E o que vier, você recebe. Aí entra essa questão de preparação, de que tem hora que a coisa pesa.

Tem uns grupos que vêm duma forma ali que...

J: Bem pesado?

J. B.: Bem. E tem uns que fazem questão. Tem gente que faz questão de vir com um charuto e jogar fumaça no seu rosto pra ver se você não cambaleia. Sabe?

Na recepção dos Ternos, o Comandante depara-se com forças e energias que pertencem ao plano espiritual. Pela fala de Jeremias, podemos entender que elas constituem manifestações da religiosidade de alguns dançadores. Trata-se, portanto, de uma religiosidade peculiar e que é ligada ao universo das religiões afro-brasileiras. Algumas vezes, estas manifestações assumem um caráter de desafio, isto é, de um teste do poder espiritual. Sendo assim, o papel do Embaixador é de receber e segurar estas energias e manifestações, atenuando suas ações.

A realização desta função exige, como vimos no relato, uma postura corporal diante dos Ternos, como também um posicionamento específico do bastão. Este é portador de uma força, funcionando como um receptor das energias emanadas. É interessante que o bastão também tem este caráter entre os dançadores dos Ternos de Moçambique. Muitos costumam afirmar que a força do Moçambiqueiro está no bastão. E, conforme o Capitão Ramon, este objeto deve ser portado em contato com o chão, para manter uma energia. Em virtude deste aspecto, os bastões são levados todos os anos a centros de religiões afro-brasileiras, para

29 Neste trecho, Jeremias referia-se ao espaço em frente à Igreja do Rosário reservado para que os Ternos façam suas homenagens aos santos. Cada grupo deve passar por vez e, enquanto um grupo não sai deste espaço, o outro não pode entrar.

74 serem abençoados.

Assim como os congadeiros, o Comandante Geral também precisa passar por ritos de preparação, a fim de lidar com tal dimensão de energias. Por conseguinte, Jeremias visita uma casa de Umbanda, em período anterior à Festa, para fechar seu corpo, ou seja, para passar por um ritual que lhe garante proteção espiritual. Após o término do processo festivo, ele retorna à mesma casa para o ritual de limpeza, cujo fim é o da purificação espiritual. Durante os dois dias de Festa, Jeremias ainda conta com a proteção advinda da presença de uma mãe-de-santo e de entidades de sua casa-de-santo.

Deste modo, se a Irmandade, sobretudo sua Diretoria, apresenta uma relação bem próxima ao catolicismo oficial, a função de Comandante Geral, por sua vez, demanda os conhecimentos e os ritos das religiões afro-brasileiras. Vale lembrar que o atual Comandante não se reconhece como um católico assíduo nem como um seguidor de uma religião afro-brasileira. Porém, seu vínculo com as religiões afro-brasileiras, através do consumo de alguns de seus ritos, possibilita também a mediação entre Irmandade e Ternos. Podemos dizer que a instituição e manutenção de seu cargo constituem uma forma de a Irmandade se relacionar com a religiosidade dos Ternos, usando uma linguagem em comum. Todavia, mais do que isso, este vínculo pode representar uma estratégia da Irmandade para garantir poder. Como apontei, as religiões afro-brasileiras ocupam uma posição de poder no universo da Congada, sendo fontes tanto de proteção quanto instrumentos de feitiço e demandas.

O relato de Jeremias Brasileiro aponta ainda para outro aspecto de sua atuação como Comandante. Se os capitães constituem as lideranças dos Ternos, o Comandante Geral, por sua vez, ocupa lugar superior a eles na hierarquia que rege a Congada. Deste modo, o Comandante também desempenha o papel de “General” dos Ternos (outra forma de se referir ao Comandante e que é muita utilizada pelos membros dos grupos), exercendo controle sobre suas ações rituais, sobretudo no espaço da Praça da Igreja do Rosário. É interessante notar que, assim como os capitães, o Comandante porta um bastão – o qual faz parte do conjunto de símbolos de poder das lideranças do rito30 –, além do apito, das faixas e dos enfeites para a cabeça. Cabe ainda ao “General” emitir a “Carta de Comando”, a qual contém a programação da Festa e recomendações de comportamento aos dançadores, além de autorizar a participação dos Ternos na mesma. Ele também se ocupa da manutenção dos ritos realizados pelos Ternos

30 Embora deva ressaltar que, nos Ternos de Moçambique, há os dançadores que usam gungas – uma espécie de chocalho – nas pernas e portam bastões. Porém, mesmo nestes Ternos, os bastões dos capitães têm um uso particular, qual seja, de comandar o grupo, chamando a atenção dos demais dançadores ou marcando o ritmo dos instrumentos. E eles também recebem ornamentação especial.

75 na porta da Igreja, o que implica em observar e controlar a atuação dos grupos neste espaço.

Os comportamentos dos membros dos Ternos considerados como quebra de ritual são discutidos posteriormente com os capitães e há uma preocupação especial do atual Comandante em ensinar aos mais jovens os procedimentos rituais pertinentes a este espaço.

Vale ressaltar que, apesar de exercer controle sobre os Ternos, o Comandante não deixa de desempenhar o papel de articulador dos agentes e atenuador de conflitos entre Ternos e Diretoria da Irmandade, dentro e fora do ritual. Um exemplo disso foi a atuação de Jeremias Brasileiro e Tio Cândido – o falecido antecessor de Jeremias – no já referido conflito com o Terno de Congo Rosário Santo, procurando estabelecer um diálogo entre o novo grupo e a Irmandade. De fato, esta articulação não é neutra, pois o Comandante é membro da Irmandade e geralmente possui relações especiais com alguns Ternos. Tio Cândido, por exemplo, era dono de um Terno de Congo, o Santa Efigênia, e depois passou a atuar no Terno de seu filho, o Congo São Domingo. Já Jeremias, por sua condição de pesquisador da Festa e de alguém que se mudou para a cidade há algum tempo, conhece e se relaciona com todos os grupos. Entretanto, mesmo sem pertencer a algum Terno, ele reconhece que existem os grupos dos quais é mais próximo.

Gostaria ainda de destacar que hoje a função de Comandante ultrapassa a dimensão festiva e que isto está relacionado com o processo de reconfiguração da Congada. Essa reconfiguração se caracteriza, entre outras coisas, pela intensificação da relação dos agentes festivos com a esfera pública – como, por exemplo, com a prefeitura municipal, através da Secretaria de Cultura. A escolha de Jeremias Brasileiro para suceder o falecido Tio Cândido parece acompanhar esta nova dimensão da Festa, uma vez que, no momento em que assumiu o posto, Jeremias possuía uma rede de relações com órgãos públicos, o que lhe tornava um potencial mediador junto a estes setores.

Para desenvolver melhor meu argumento, vale retomar alguns aspectos da trajetória pessoal do atual Comandante. Jeremias tem mais de quarenta anos, é negro e natural de Rio Paranaíba-MG, cidade da região do Alto Paranaíba. Nesta cidade, conheceu o Festejo do Rosário através de sua família, participando do evento, ainda criança, como dançador do Terno de Congo de seus parentes. Na década de 70, ele e sua família mudaram-se para Uberlândia. Antes de se dedicar ao estudo da Congada na cidade, ele destacou-se por seu trabalho literário e poético. Jeremias pesquisou por vários anos a Festa, sem nenhum vínculo acadêmico, sendo reconhecido como pesquisador autodidata. Neste período, estabeleceu um forte laço com Tio Cândido, com quem reconhece que aprendeu muito sobre o rito e sobre o

76 seu atual posto. Em 2001, lançou o livro “Congadas de Minas Gerais”, através do apoio da Fundação Cultural Palmares. Nos anos seguintes, ele passou a freqüentar o curso de História da Universidade Federal de Uberlândia e sua monografia31 focou a Congada de Uberlândia.

Ele ainda fez parte da Coordenadoria Afro-Racial (COAFRO) – órgão então ligado à Secretaria Municipal de Cultura –, na qual assumiu o cargo de Coordenador. Desse modo, em 2005, quando assumiu a função de Comandante Geral, Jeremias possuía vínculos relevantes com a prefeitura e a universidade federal.

Como podemos perceber, o perfil de Jeremias é representativo dos vários eixos de articulação da Congada: 1) o das relações entre os agentes festivos e as esferas públicas; 2) o da relação entre catolicismo e as religiões afro-brasileiras; 3) o da articulação entre tradição e militância; 4) e o da interação entre os campos popular e erudito.

Os dois primeiros eixos já foram abordados neste texto. Entretanto, em relação à religiosidade, ainda é relevante esclarecer que a maioria dos congadeiros afirma seguir a religião católica, embora isto não signifique uma freqüência assídua a igreja e a seus ritos – como, por exemplo, a missa. Tal afirmação também não exclue a possibilidade de consumo de ritos das religiões afro-brasileiras e a crença em suas entidades. Da mesma maneira, o fato de seguir uma religião afro-brasileira não constitui obstáculo para o consumo de ritos católicos ou para a devoção a seus santos. Esta dinâmica religiosa e o significado das religiões afro-brasileiras na Festa serão analisados de forma detalhada mais adiante, neste e no próximo capítulo.

O perfil de Jeremias é também emblemático da articulação entre a tradição e a militância negra, outro ponto característico da Congada. Como vimos, ele teve uma participação no Festejo do Rosário em sua cidade natal, onde foi dançador de um Terno de sua família, quando ainda era criança. Além disso, atualmente ele desempenha uma função ritual na Festa de Uberlândia. Por outro lado, o Comandante possui uma inserção na militância negra, compondo a Coordenadoria Afro-Racial, que tem entre os seus principais objetivos desenvolver ações voltadas para a população afro-descendente. Nos dois dias de Festa, esta dimensão se expressa no estilo de roupa de Jeremias. Enquanto o seu antecessor, Tio Cândido, costumava vestir uma farda e um quepe brancos, caracterizando-se como General; Jeremias veste uma bata com estampas “afro” (ver Foto), ressaltando sua negritude.

Como analisarei no próximo capítulo, a dimensão da militância está presente também na atuação de outros atores e é construída e afirmada de várias formas – seja no discurso ou na

31 O título da monografia é “congado em Uberlândia Espaço de resistência e identidade cultural, 1996-2006”

77 explicitação da negritude através de roupas (mais “afros”), seja em objetos ou relação com as religiões afro-brasileiras.

O diálogo entre os campos popular e erudito também marca a Festa. É preciso ressaltar que a Universidade Federal de Uberlândia apresenta uma produção cada vez maior sobre a Congada, além de apoiar a confecção de material de divulgação do Festejo e cobrir sua realização através da rádio universitária. Além disso, há uma presença cada vez maior de estudantes universitários na Festa, sendo que alguns destes alunos passam a atuar como congadeiros dos Ternos. Aliás, como mostra a história de vida de Jeremias, este caminho é de mão dupla. Jeremias começou primeiro como dançador, depois passou a atuar como pesquisador autodidata e, alguns anos depois, tornou-se acadêmico: graduou-se em História e escreveu sua monografia sobre a Congada.

Outro aspecto interessante neste diálogo é a circulação de textos de pesquisas entre alguns congadeiros e sua menção em conversas ou debates. Assim, num ciclo de palestras promovido pela Irmandade, surgiu uma discussão em torno de o que seria a Festa do Rosário.

Diante da fala do vice-presidente da Confraria, em que este afirmava que a Congada seria uma dança, uma madrinha de Terno apresentou a definição presente no livro de Jeremias, a qual conceitua a Festa como uma prática das famílias negras. Vale observar que neste evento, voltado apenas para os congadeiros, Jeremias realizou uma palestra que constituía uma síntese de trabalhos acadêmicos sobre a Congada. Outro exemplo do maior acesso aos textos, ocorreu com alguns dançadores do Moçambique Pena Branca, situado no bairro Patrimônio. Estes me perguntaram se eu sabia que o bairro era folk. O termo folk é um conceito utilizado num estudo clássico sobre o local, realizado por Lourenço em 1986 32. Por último, é importante destacar que, em algumas conversas com o Capitão Ramon, também surgiram discussões sobre textos e autores que tratam da temática da cultura afro-brasileira. Alguns dos trabalhos lidos não são apenas acadêmicos, mas também têm caráter militante.

Embora a circulação de trabalhos teóricos e militantes entre os congadeiros não seja grande, todos os exemplos acima indicam que atualmente não é possível analisar a fala dos agentes festivos sem se pensar na influência do mundo acadêmico e da militância negra. A percepção dos participantes da Festa é formada em diferentes escalas também a partir destas duas esferas.

Por fim, diante desta multiplicidade de campos, pelos quais Jeremias circula e que são articulados por ele, sua definição para a Festa se torna interessante:

32 Trata-se da monografia “Bairro do Patrimônio: Salgadores e Moçambiqueiros”, desenvolvida por Luís Augusto Bustamante Lourenço em 1986.

78 J.: Como você define Congada? O que é Congada pra você?

J. B.: Ih, já começou apertando! [pausa] Eu poderia defini-la de várias maneiras.

Mas eu aprendi uma coisa com a Dona Abadia do Congo do Sainha, lá nos seus 80 anos de idade, quando ela me disse que Congado era tanta coisa, né? Que Congada são muitas coisas. Aí, você tem uma definição didática do Congado. A cada dia eu tô achando mais complicado. Primeiro, se você, de um ponto de vista da cultura afro-brasileira, e se a gente for observar as especificidades, né, que são as Congadas em cada lugar de Minas Gerais, em cada cidade, eu poderia ter N definições de Congados. Agora, eu pessoalmente, pra mim, Congado, ele é uma representação de uma etnicidade cultural. E etnicidade cultural muito voltada para os afrodescendentes. E na cidade de Uberlândia, essa etnicidade e esse, que eu diria, esse Congado, esse fazer congadeiro junto com o lado, ao povo negro, ele é muito expressivo, muito forte. Então eu diria, eu teria várias definições de Congado pra você dependendo do lugar que eu estiver. Então se eu estiver com o olhar aqui pra Uberlândia, o Congado pra mim é isso, é uma representação cultural afro-brasileira e vinculada principalmente aos negros. E que se mantém vivo através de uma relação intergeracional, relação intergeracional, que possibilita a manutenção desse fazer cultural congadeiro há vários séculos, haja vista que essa relação intergeracional é que propicia um intercâmbio permanente desta tradição cultural entre crianças, jovens, adolescentes, adultos e idosos. Então Congado pra mim seria esse sentido, que eu uso mais hoje a definição da Dona Abadia que o Congado é muita coisa. Muita coisa. Seria essa a minha definição...

Que eu utilizo hoje, mas antes não. Antes eu tinha uma definição muito clássica pro Congado. E com a Dona Abadia que eu aprendi que era muito mais longe do que a definição que eu tinha anteriormente.

Em alguns momentos de sua fala, há um tom acadêmico e ao mesmo tempo militante.

Desta forma, Jeremias define a Festa como “representação de uma etnicidade cultural” e

“representação cultural afro-brasileira”. Ao mesmo tempo, ele procura não escolher uma única definição de Congada, dizendo que pode haver N explicações para a mesma, o que parece estar relacionado à sua ligação com várias esferas da sociedade, que muitas vezes apresentam interesses divergentes. Além disso, sua percepção muda significativamente quando ele se torna sujeito dentro do Festejo que por tanto tempo pesquisou. Sua inserção como agente festivo se dá numa função de mediação, a qual, por sua vez, parece demandar uma conciliação com perspectivas distintas.

79 descrever o Festejo do Rosário local, afirma que havia dois casais de reis, um branco e outro

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