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3. Reconhecimento e Campanha de 1907

3.11. Combates na Cabaça

Pelas 4h30 do dia 15 de outubro, a coluna iniciou a descida da parte da encosta que faltava chegando a um vale, relativamente estreito, de encostas elevadíssimas, no qual corre o rio Colume, afluente do rio Quiulo41. O vale nasce de forma abrupta da serra, com alguns quilómetros de extensão e apresenta um pequeno estrangulamento a meio e outro mais pronunciado no extremo. As margens do rio, na parte mais larga, estão cobertas de erva, caniço e lavras, o restante, mata fechada impenetrável e escarpados de rocha.

No vale existem algumas senzalas, as mais importantes, a do Colume e Hesso, esta situada já no alto para Sul onde existiu, no passado, uma fazenda de um europeu, designada Santa Teresa, que foi destruída na revolta de 1872, tendo sido também trucidado o seu proprietário, como era voz corrente no meio dos indígenas. Sobreviveu a filha do fazendeiro, que mais tarde foi levada para o Cazuangongo onde viveu como moleca (criada) (Almeida, 1909). O vale do Colume desemboca noutro maior onde corre o rio Quiulo e logo que a coluna apareceu na embocadura do vale, os guerreiros indígenas, colocados estrategicamente nos flancos, rompeu em grande gritaria. Ameaçavam, dirigindo insultos obscenos, alguns em português, como por exemplo, “caíram na cabaça, daqui ninguém sai, ficam cá todos,

rendam-se e ficam cá como muleques.” (Almeida, 1909,p.46).

Logo que a coluna chegou às lavras, a cavalaria montou e prosseguiram a marcha, passando para a margem direita do rio Colume com os guerreiros indígenas, de dentro da mata, a dispararem alguns tiros sobre a guarda avançada, ao que esta respondeu. Terminada a passagem continuou-se a marcha e rapidamente o fogo inimigo se generalizou, e a cavalaria ao atingir a senzala foi obrigada a retirar pois tinha quatro cavalos feridos. O cavalo do Capitão João de Almeida também foi ferido, atingido na garupa do lado direito.

O mato tornou-se tão denso e emaranhado que era impossível marchar a cavalo e até para os animais de carga, foi necessário abrir um túnel no arvoredo. A cavalaria apeou e posicionou- se na retaguarda do trem de combate.

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Em suma, os guerreiros indígenas esperaram que a coluna marchasse no terreno e vegetação, muito difícil, não permitindo que a coluna adoptasse o dispositivo de combate e ao mesmo tempo a cavalaria teve que apear, levando o inimigo a lançar o ataque. Com a cavalaria apeada a vantagem da força portuguesa reduzia-se significativamente, ficando mais limitada no fogo e movimento.

A guarda avançada iniciou o fogo, com descargas na frente e direita, passando a coluna novamente o rio e prosseguindo o avanço e às 9h00, estava a senzala dominada. A subida foi muito difícil e morosa devido aos equídeos não terem caminho. Retomada a marcha, a coluna é repentinamente atacada em toda a sua amplitude com a coluna muito alongada, um quilómetro e meio de extensão porque marchava em coluna por um. Reagindo o Capitão João de Almeida ordenou que a coluna se concentrasse e os pelotões adoptavam a coluna a dois, fazendo cada fila descargas cadenciadas para os lados, sempre a marchar e fechando a frente. A guarda avançada varria a frente e os sapadores abriam e alargavam o caminho, havendo a esperança de encontrar uma clareira para montar o quadrado para mais facilmente bater o inimigo, obrigando a dispersar (Almeida, 1909).

Surgiram os primeiros mortos e feridos, na guarda avançada e a morte de um soldado landim que caiu com a carótida atravessada por uma bala e um corneteiro europeu de polícia que jaziam num lago de sangue impressionou excepcionalmente os restantes soldados. Como consequência o fogo tornou-se desordenado. Reagindo mais uma vez, o Capitão João de Almeida, ordenou categoricamente e austeramente, alto ao fogo e toque a cessar-fogo. Perante esta ordem de cessar-fogo, João de Almeida dá nova ordem e o fogo restabeleceu-se e as descargas voltaram a ser regulares.

A coluna fez alto, os guerreiros indígenas abrandaram o fogo e a escolta do comboio foi rendida por um pelotão europeu. O pelotão independente, constituído maioritariamente por praças de segunda linha, estava desorganizado e tinham também caído mortos alguns carregadores com o inimigo a perseguir a retaguarda com a mesma intensidade com que atacavam qualquer ponto da coluna.

Tratados os feridos e montados em tipóias, os que não podiam mover-se, a coluna avançou novamente, aumentando de imediato a intensidade do fogo inimigo. Os guerreiros indígenas chegaram a disparar as espingardas a quatro ou cinco metros da coluna.

Em suma, o terreno, foi judiciosamente aproveitado pelo inimig, permitindo-lhes efectuar disparos à queima-roupa e a curtas distância. Só não houve mais mortos na coluna porque os indígenas usavam armamento arcaico, especialmente vocacionado para a caça.

Da coluna não era possível observar o inimigo, pois o mato era tão cerrado que permitia uma perfeita ocultação. Continuando a marcha, o Capitão João de Almeida ordenou aumentar o número de patrulhas nos flancos, constituindo cordões de atiradores. Rastejando pelo mato adentro permitiram diminuir as dificuldades da marcha da coluna, aumentando a segurança. Estas patrulhas eram lançadas depois da guarda avançada ter varrido o mato com descargas de fogo e eram substituídas, conforme outras fracções chegavam à frente. A coluna saiu da cabaça pelas 10h00, formando em quadrado numa clareira de capim, junto à margem esquerda do rio Colume. Após reorganizada a coluna e depois de algumas descargas o inimigo cessou fogo e minutos depois chegou ao quadrado a escolta do sargento Rebocho, que vinha de Cabiri, com os carregadores transportando os géneros. Uma chegada feliz porque o inimigo estava entretido com a coluna e não deu pela chegada do carregamento. A chegada também foi oportuna, porque quase não havia víveres, sendo de imediato distribuído uma ração fria às praças, mais o descanso de uma hora.

Em suma, o terreno muito acidentado, vegetação muito densa, que favoreciam claramente o inimigo que se aproximava da coluna porque o seu armamento era antiquado, com pouca precisão, baixa velocidade de tiro e só podia ser rentabilizado a curta distância.