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3. Reconhecimento e Campanha de 1907

3.19. Marcha para o Lombige

Após a construção do forte, e depois de todas as lavras ao redor arrasadas, os indígenas não se apresentaram, antes pelo contrário refugiaram-se no mato cerrado. Persegui-lo, era de todo impossível por desconhecimento do terreno por parte da coluna e o grosso dos fugitivos eram criminosos e serviçais foragidos, não se esperando que se apresentassem voluntariamente, mas antes aguardassem a retirada da coluna para retornar aos locais de origem.

A dureza e penosidade das marchas e combates estavam a produzir efeitos devastadores na coluna, agravado ainda pelas trovoadas torrenciais, a temperatura elevadíssima. Ao toque de doentes apresentavam-se por dia pelo menos cem praças. Se a revista passada fosse rigorosa poucos declararia aptos. Tudo isto se agravou com a paragem forçada no forte João de Almeida, não havendo o mínimo de condições, agravando a já difícil situação sanitária. Mais ainda, a época das chuvas começara para aumentar as dificuldades.

Com o agravamento da condição climatérica mais o estado de saúde da coluna bastante deteriorado, João de Almeida decidiu avançar e não esperar pelo abastecimento géneros para seis meses de reserva para o forte.

A coluna avançou para os novos objectivos, conquista dos dembos: Zambi Aluquem, Quibaxe, Caculo Cahenda e outros. Os caminhos estavam fechados e a coluna não tinha capacidade para abrir novos caminhos, por isso João de Almeida decidiu, contornar, passar à margem esquerda do rio Zenza, subir ao porto de Luango, tomando-o como base. Passar novamente o rio para a margem direita e marchar para o Norte em direcção ao Zambi Aluquem e seguidamente para o Caculo Cahenda e outros.

O Alferes Monteiro, marchou em 10 de Novembro com o seu pelotão para o porto de Luango48. Preparou a passagem da coluna, construiu abrigos para os géneros e iniciou a construção do blocaús do porto.

Em 16 de novembro, tendo assegurado a chegada de alguns víveres ao porto de Luango, João de Almeida decidiu iniciar a marcha a partir do forte Maravila em direcção ao porto Luango. Bivacou às 19h00 no porto Mucumbi e como a noite se apresentava com muita luz, as cargas e material foram transpostas para a margem esquerda.

Pela manhã de 17 de Novembro, a coluna seguiu para Quilemba, bivacando em Sala Cabanga após ter feito uma etapa de trinta quilómetros debaixo de chuva torrencial.

A 18 de Novembro, a coluna bivacou no porto Luango, tendo permanecido três dias à espera da concentração de víveres mas a coluna não esteve parada e terminou a construção do blocaús e preparou a passagem do rio, com a construção das canoas.

Durante a marcha do dia 17, João de Almeida recebeu a apresentação de dois macotas do Quibaxe Quiamubenba, dembo situado a Norte do porto Luango, próximo do rio Dande. Entregaram uma carta em que o dembo dizia aceitar submeter-se ao governo da província. Também chegaram ao porto de Luango, alguns enviados do Zambi Aluquem e durante a permanência da coluna no porto, compareceram outros.

Desde que a coluna chegou ao porto de Luango, as comitivas de negociadores aumentavam de dia para dia e aparentemente toda a região nordeste estava disposta a submeter-se, depositando toda a confiança na coluna. A confirmar esta confiança, o comandante do posto de etapas de Vale Flor informa o Capitão João de Almeida que os sobas Ngomguembo, Mussusso e Golamgimbe, situados a Sudeste do porto Luango, próximos do rio Zenza e do Golungo Alto, deixaram de exigir a contribuição a quem passasse nas suas terras e portos. De

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facto esta atitude mostrava que os sobas não queriam guerra com a coluna mas não significava qualquer tipo de submissão ao Governo-geral da província. Antes uma atitude pragmática para evitar conflitos no momento e os poderes Africanos também sabiam que a coluna não poderia continuar no terreno, não só por falta de homens mas também por causa da época das chuvas.

Em suma, o surgimento dos indígenas, também mostrava alguma confiança na coluna mas sobretudo oportunidade de fazer negócio com esta pois os carregadores eram pagos à carga e percurso. A permanência da coluna junto aos portos, aumentou o moral dos indígenas que enviaram cartas de submissão e previam a retirada da mesma para breve. A submissão porcarta não passaria de um estratagema, mas a intenção era continuarem independentes. Em 21 de Novembro a coluna passou para a margem direita do rio Zenza, com os víveres e equipamento necessário para a marcha da manhã de dia 22, em direcção ao Zambi Aluquem e terras de Sassa.

No dembo, Zambi Aluquem, a coluna foi recebida festivamente por toda a população e pelo dembo. Outros dembos próximos como o Ngombe Anambua, Cavunga Cahui, Cavunga Capacaça, o soba Sassa e outros, apresentaram-se ou enviaram os seus macotas. Todos pediram que a coluna fosse estabelecer um forte nas suas terras e fossem considerados súbditos fiéis (Almeida, 1909).

Em suma, os dembos e sobas, enviam os seus macotas ao encontro da coluna acima de tudo para evitar que a coluna entre nas suas terras. Prometem submissão que não pretendem praticar como os acontecimentos posteriores demonstraram. Pretendem apenas manter o

status quo sem sequer terem que fazer a guerra.

Nesta aparente harmonia, João de Almeida, em 23 de Novembro, deixa a parte pesada da coluna em Cafume no Zambi Aluquem e avança com uma parte da coluna aligeirada até ao rio Lombige. Apresentaram-se as populações do Quibaxe Quiamubemba, Caculo, Sassa e outros.

Perante isto, João de Almeida julgou não ser necessário avançar mais, pois a liberdade do comércio e a boa disposição dos povos ficou demonstrada. Havia a necessidade de construir um posto para materializar a ocupação da região porque apesar de tanta bonança, era vital garantir a passagem do Zenza e do rio Lombige. Era vital garantir as comunicações, mas a coluna não tinha quantidade nem qualidade para assegurar tal objectivo e nem fazia parte do plano de operações (Almeida, 1909).

João de Almeida decidiu, a construção de um posto no cruzamento dos caminhos do Quibaxe, Caculo, Sassa, do rio Lombige com o território dos Mahungos. O posto seria instalado na fronteira norte das terras do Zambi Aluquem, num pequeno outeiro, chamado Camabela.

“Telegrama

Governador-geral – Loanda

Columna partiu porto Loango chegando dia 22 rio Lombige.

Fizeram sua apresentação Dembos Zambi Aluquem, Sassa Quibaxi, espero restantes região que já mandaram communicar sua vinda.

Estou construindo posto provisório extremos terras Zambi Aluquem.

Julgo operações terminadas depois abastecido posto 6 mezes viveres regressando Loanda caso não venha ordem contraria.

Bivaque Morro Camabella, 24 de Novembro de 1907.

Commandante Columna Dembos, João de Almeida. (GGPA, 1907i, p.522).

Em 24, começou-se a construção do nono forte, recorrendo a todos recursos disponíveis, impondo grande intensidade ao ritmo de construção, pois o tempo era escasso. Para João de Almeida estavam atingidos os objectivos da coluna, restando apenas organizar o regresso a Luanda. Terminar a construção do forte de Camabela e terminar o abastecimento do forte João de Almeida e guarnecê-lo com os respectivos soldados e também fornecer a guarnição ao forte de Casal.