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3. Reconhecimento e Campanha de 1907

3.8. Tentativa de Marchar em direcção ao Cazuangongo

Depois de reconhecida a existência de uma grande faixa deserta e escalvada ao longo do rio Dande e a impossibilidade de navegar a montante das Mabbubas, a coluna tinha como objectivos dominar o dembo Cazuangongo e Ngombe Amuquiama. Pessoalmente, o Capitão João de Almeida preferia dar combate ao Cazuangongo pois era na sua opinião um dos dembos mais aguerridos que gozava de grande prestígio. Provavelmente seria aquele iria oferecer maior resistência à força portuguesa. Informação recolhida após o reconhecimento feito à região.

Outra razão para ir na direcção do Cazuangongo, deve-se ao facto de ficar mais próximo do Casal e também próximo dos postos de etapa situados nas margens do Bengo. Poderia assim ser alcançado em menos tempo com a coluna a chegar ao local menos fatigada e melhor aprovisionada face aos poucos carregadores disponíveis.

Para reforçar a decisão de marchar na direcção do Cazuangongo, surgiu o Major de segunda linha, Pedro Faria de Sousa que se ofereceu para guia, dizendo-se perfeito conhecedor dos

terrenos a percorrer. Por outro lado os guias disponíveis para o dembo Ngombe Amuquiama, negavam conhecer o caminho do Casal para lá, e esta situação criava incerteza na coluna. Em resumo podemos dizer que o Capitão João de Almeida tenta marchar com o menor risco possível, para a coluna mas no que respeita aos itinerários, tem que confiar nos guias que tem. Decide marchar para o Cazuangongo e antes de avançar, a 5 de Outubro, a coluna descansou. Evacuaram-se os doentes para Luanda e construiram um resistente abatis em volta do forte. Foram nomeados cinquenta e quatro homens para constituírem a guarnição do forte sendo o critério de escolha - os mais cansados e estropiados. Havia muitos indivíduos em más condições, devido não só à falta de treino, bem como às grandes marchas executadas, mas sobretudo à pulga que se metia nos pés causando grandes feridas. A guarnição do posto do posto de Casal ficou comandada por um sargento. O Capitão João de Almeida decidiu, ainda deixar ficar uma metralhadora, todas as cargas de material pesado desde que não fossem necessárias.

A coluna avançou simplesmente com a artilharia, uma metralhadora, o trem de combate, oito dias de víveres, gado vivo para abater, reserva de água. Partiram às 5h40 de dia 6 de Outubro para o Cazuangongo, adoptando a coluna em formação dupla com o respectivo serviço de segurança.

Em resumo, verifica-se que a preparação da coluna para esta campanha foi baseada na experiência do Capitão João de Almeida adquirida no Sul de Angola que não se mostra adequada ao terreno e vegetação da região dos Dembos e daí a necessidade de aligeirar a coluna deixando parte do material no forte do Casal.

A coluna rompe a marcha, mas algum tempo depois o Capitão João de Almeida reconhece que não toma a direcção certa, porque se dirigia ao rio Dande. Chamada a atenção do guia, mudou o rumo mas em breve verificou que a nova direcção também não era a verdadeira. O guia, Major de segunda linha Sousa diz não se recordar bem do caminho, verificando que os caminhos estão mudados. Sabe que ao passar num morro que aponta ao longe e que três horas antes de se atingir o morro, existe a senzala Cassatola com água em abundância vinda duma ribeira dos lados do Cazuangongo.

Segundo o Capitão João de Almeida, o Major Sousa transitou por aqueles terrenos, em criança, antes da revolta de 1872 e os indígenas mudaram não só os caminhos mas o local de muitas senzalas. O terreno era difícil e aparentemente com uma configuração próxima das informações dadas pelo guia e na esperança de encontrar o caminho a coluna seguiu naquela direcção através do capim, aparecendo uma vereda que foi dado como caminho.

Às 10h00, a coluna chegou a um local onde supunham haver água mas apenas encontraram ravina secas e começaram a aparecer zonas de mato, alternadas com capim que atrasou bastante a marcha da coluna. O terreno começava a ondular.

Às 13h00, quando a coluna atravessou uns pequenos outeiros, rompeu um enorme incêndio, na zona do trem de combate mas o problema foi resolvido porque a coluna rapidamente se concentrou e mudou de direcção, de encontro ao vento. Parados e numa grande agitação, começaram a abrir uma clareira em torno do quadrado e com grande dificuldade, conseguiu- se salvar algumas cargas, tendo para isso alguns homens arriscado a vida. Um autêntico pânico, no meio do qual foi preciso manter a serenidade e energia para a coluna não desaparecer.

O Capitão João de Almeida não conseguiu detectar a origem do incêndio, que tanto podia ter origem num descuido da coluna como poderia ter sido lançado pelos guerreiros indígenas. Impossível foi a coluna continuar a marcha nesse dia poi o incêndio continuou durante o resto do dia e durante a noite, extinguindo-se somente de madrugada.

O morro que o guia afirmava ser o da delegação não era e ficava muito longe e à frente da coluna estendendo-se uma enorme faixa de terreno muito acidentada. Esta discrepância levou o Capitão João de Almeida a duvidar do guia. A água estava a beira de se esgotar e após um pequeno reconhecimento confirmou-se a configuração acidentada do terreno não havendo água. A sua falta iria agravar a dureza da marcha.

Face a estas informações recolhidas no local, o Capitão João de Almeida decidiu voltar ao Casal e tomar a direcção do Ngombe Amuquiama ao longo do rio Ucua, mesmo a maior distância.

Em resumo, verifica-se que os guias não são fiáveis e que a coluna marcha sem rumo, serpenteando. Não cumpre a missão mas apenas e com grande sacrifício consegue lutar pela sobrevivência, perante a hostilidade do terreno e do clima. Esta situação vem revelar desconhecimento da região por parte da coluna mas também mostra a persistência e a capacidade de continuar a lutar contra a adversidade, com João de Almeida a não desistir de cumprir a missão para a qual a coluna foi constituída.