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3. Reconhecimento e Campanha de 1907

3.3. Revolta de 1872

A região dos Dembos e Mahungos24, enquadrada a sul pelo rio Zenza, tendo como parte integrante, a Norte, as bacias superiores dos rios Dande, Lifune, Loége e Loge. A Sul, a região, está limitada de Oeste para Leste, pelos concelhos de Icolo e Bengo, Zenza do Golungo, Golungo Alto e Ambaca. A Norte a região está limitada, pelos concelhos do Alto Dande e Ambriz a Oeste, Duque de Bragança a Leste e Encoge a Norte.

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Em 1872, o concelho dos Dembos, mais as divisões do concelho de Caxito a Sul do rio Dande, de Zenza do Golungo Alto a Norte do Bengo, e a sétima divisão do concelho do Golungo Alto, e a décima de Ambaca, a Norte do Zenza insurgiram-se contra a autoridade Portuguesa.

Tal rebelião deveu-se ao facto do descontentamento há muito latente nos indígenas, provocado pelas desigualdades e extorsões, feitas na cobrança do imposto dos dízimos, cometidas pelo chefe do concelho e de alguns comandantes de divisão que eram maioritariamente homens de cor. A sublevação foi iniciada pelo Cazuangongo no seguimento do cumprimento de uma pena em Luanda que considerou injusta e face à sua influência na região, de imediato a revolta se espalhou pelos sobados vizinhos.

Algumas autoridades e guarnições foram flageladas, conseguindo outras, com grandes dificuldades fugir. A maioria dos oficiais e a grande maioria das praças de segunda linha fizeram causa comum com os sublevados o que não surpreende, pois os graduados das companhias da segunda linha e guerra preta, além dos comandantes de divisão eram os sobas e elementos da sua hierarquia.

As comunicações eram difíceis e morosas e quando o Governador-geral em Luanda soube da revolta, já se tinha espalhado pela região, entre-os-rios, Dande e Zenza. Os rebeldes tinham atacado Caxito, sede do concelho do Alto Dande e o chefe deste concelho foi obrigado a retirar-se para a margem esquerda do rio e nem aí se conseguiu manter.

Com o alastramento da revolta, para garantir a segurança das comunicações junto ao mar, foi necessário deslocar dois navios de guerra; um para a foz do Bengo e outro para a foz do rio Dande.

Luanda não possuía a tropa suficiente para reforçar as guarnições atacadas, havendo a necessidade de deslocar soldados de Benguela e Moçâmedes. Foi necessário desfalcar ainda outras guarnições, com a finalidade de constituir colunas e destacamentos para combater os revoltados a fim de reocupar a região, guardar as comunicações e policiar os territórios fronteiros.

As operações de pacificação demoraram quase dois anos, pela falta de coesão das forças Portuguesas e de coordenação de esforços, mas sobretudo às qualidades dos rebeldes que souberam aproveitar as vantagens do terreno. Teve como consequência que a força militar portuguesa neste período apenas reocupasse parte do concelho do Alto Dande (Almeida, 1909).

O concelho de Icau, na fronteira deste, na margem esquerda do rio, continuou insubmisso e tornaram-se inúteis, todos os esforços, dos destacamentos nomeados para reocupar a região.

Inclusive um dos destacamentos, constituído por noventa homens, que entrou na região dos Dembos, para retirar para a margem esquerda do Zenza foi obrigada a solicitar tréguas aos rebeldes. Por outro lado a região dos Mahungos, a leste da região dos Dembos, nunca foi ocupada, pela autoridade portuguesa e raros foram os europeus que por lá transitaram (Almeida, 1909).

Em 1890 alguns povos da margem direita do rio Zenza, fronteiros, à divisão de Calunga, entraram em litígio com o dembo Cazuangongo e querendo libertar-se da autoridade deste, vieram a Luanda prestar vassalagem. Solicitaram ao Governador-geral o estabelecimento de um posto que os protegesse, surgiu assim a delegação dos Dembos, situada a Norte de Quichona.

Esta submissão foi curta e a delegação criada em 1890, devido ao ataque das populações dos Dembos, foi obrigada a mudar sucessivamente para localizações mais próximas do rio Zenza. Em 1907, a delegação, encontrava-se reduzida a um único posto em Quichona, a oito quilómetros do rio, guarnecido por tropas de segunda linha, sem qualquer autoridade.

A região entre o rio Zenza e o Dande, desde Sassa e lagoa Morime a Sul de Caxito, estava revoltada. Os guerreiros Africanos não permitiam que a região fosse atravessada por europeus e também estavam impedidos de transpor os rios. Os indígenas exteriores a esta região, que trajassem qualquer indumentária europeia, também estavam proibidos de entrar no interior (Almeida, 1909).

As regiões fronteiras das fazendas agrícolas e estabelecimentos comerciais eram verdadeiro coio de serviçais fugitivos, desertores, foragidos, criminosos e em Quilengues, a Sul da lagoa Morime, estariam escondidos também condenados e deportados.

Os comerciantes indígenas das regiões a nordeste, os Mahungos, eram obrigados a pagar pesados tributos quando tinham de atravessar os Dembos, principalmente na passagem dos portos dos rios. Esta tributação teve forte impacto negativo no comércio, ficando reduzido a uma fraca permuta de borracha, café, farinha de mandioca, milho e azeite de palma, por artigos fundamentais às suas necessidades como por exemplo sal. Também contribuía desfavoravelmente para o comércio a necessidade dos Mahungos terem de percorrer enormes distâncias para chegarem aos estabelecimentos comerciais.

Os povos do antigo concelho dos Dembos, especialmente o dembo Cazuangongo e o soba Muando, provocavam sistematicamente os povos da margem esquerda do rio Zenza e esta situação constituía evidente desprestígio da autoridade portuguesa. A sua rebeldia e ousadia, fazia que a transpusessem com frequência o rio Zenza, com o objectivo de saquear as senzalas, amarrar os moradores, fazendo-os prisioneiros até serem resgatados.

Os povos das margens do rio Lifume, a Norte do rio Dande como os dembos Nanboangongo e Quinguengue e os sobas da jurisdição de Encoge, a Nordeste do rio Lifume, julgavam-se independentes. Por vezes invocam ser súbditos do rei do Congo, mantém relações com as autoridades portuguesas e aparentemente seguem as indicações dadas por esta (Almeida, 1909).

O dembo Ambuila, a Sul da localidade de Encoge, talvez o mais importante e onde já esteve antigamente um delegado do Encoge, tem-se mantido submisso. Nenhum destes povos auxiliou a revolta de 1872, tendo essa insurreição ficado limitada aos povos que viviam entre- os-rios Dande e Zenza.