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criação da Escola

de Enfermagem da

Universidade Federal

da Bahia

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Em várias oportunidades, ao longo da minha sempre atenta dedica- ção à Universidade Federal da Bahia, tenho dito e repetido que esta Escola de Enfermagem é a unidade melhor organizada da nossa instituição. Não surpreende, pois, que, no conhecido “Memorial” da Escola, datado de 1996, haja sido magistralmente narrada a história das primeiras décadas da sua existência. Não teria sentido, nesta hora, insistir em percorrer

os caminhos já trilhados, e repetir informações que estão ao alcance de todos os interessados. Preferi, em vez disso, identificar os efeitos e as con- sequências para a população da Bahia, do que representou esta Escola, no tocante a uma categoria profissional cuja importância cresce, a cada dia, em todo o mundo ocidental.

Não foi apenas no Brasil e na Bahia, que a valorização da Enfer- magem dita “de alto padrão” se revestiu de dificuldades e de lutas. Nem poderia ter sido, a ascensão da Enfermagem nas nossas sociedades, um fenômeno isolado, desligado de outros avanços simultâneos de grande significado. De um lado, ocorreu notável evolução na posição da mulher, nos mesmos ambientes. Exemplo marcante foi a extraordinária carreira de Florence Nightingale na Inglaterra vitoriana, ao tornar-se símbolo da capacidade de luta da mulher perante o seu próprio meio social. De outra parte, cumpre assinalar o espetacular progresso dos serviços de preven- ção e de recuperação da saúde em todo o mundo, ao longo dos séculos XIX e XX. De tal ordem tem sido a transformação dos cuidados com a saúde humana nos dois últimos séculos, que os profissionais encarregados dessas práticas, há mais tempo menosprezados e até ridicularizados pelas populações a que serviam, beneficiaram-se do notório reconhecimento pelas gerações mais recentes.

No Brasil e na Bahia, a história tomou rumo idêntico a esse respeito. Graças aos esforços dos primeiros docentes desta Escola, na população baiana ocorreu completa transformação do conceito em que são tidos os profissionais da Enfermagem. Em pouco tempo, pôde a nova unida- de universitária atrair candidatos e candidatas intelectualmente aptos ao preparo para as complexas tarefas a seu cargo e vocacionados para enfrentar as exigências de caráter ético, próprios da atividade. Desde as primeiras décadas da sua existência, ofereceu a Escola o curso de gradua- ção, com um corpo docente escolhido sob os mais cuidadosos critérios e um currículo muito bem estruturado. Respondeu a comunidade baiana valorizando e prestigiando, tanto a profissão como a Escola. A qualidade do atendimento à saúde, quer na vertente preventiva como na curativa, atingiu padrões antes desconhecidos.

Desde os anos de pioneirismo da Escola, a população baiana vem percebendo a substancial evolução do exercício das práticas profissionais sob diferentes ângulos. Já no início do seu funcionamento, a Escola deu ênfase à contribuição dos alunos e dos profissionais por ela diplomados, às atividades de promoção e de prevenção da saúde, ao lado do preparo para a sua insubstituível presença na recuperação dos pacientes enfermos. E por essa forma orientou os currículos sob sua responsabilidade.

Nos anos mais recentes, com a implantação do Programa Nacional da “Saúde da Família”, surgiu a Enfermagem, desde logo, como parcela essencial às tarefas que vêm tendo clara consequência sobre os nossos indicadores sociais, que eram e continuam a ser ainda constrangedores, apesar da sua recente melhora.

Com relação à Enfermagem hospitalar, os procedimentos atuais têm tido, igualmente, profundos reflexos nas atividades da profissão. Desde a metade do século passado, o conceito de “cuidado progressivo” nos hospitais de referência, por exemplo, incluindo a reserva de espa- ços especializados para o tratamento intensivo, tem, nas enfermeiras, o seu maior ponto de apoio. Número incontável de vidas têm sido salvas graças à dedicação das enfermeiras que se revezam a cada poucas ho- ras e às técnicas para esse fim desenvolvidas. A evolução dos arquivos médicos, em função do aperfeiçoamento e da disseminação do uso da computação, também se vem refletindo nas práticas da profissão. Notórias transformações ocorreram, ainda, em virtude de importantes conquistas da medicina moderna, a exemplo da cirurgia para os transplantes de ór- gãos. Os extraordinários avanços, quer nos instrumentos usados para o diagnóstico, quer no tratamento das doenças, vêm sendo, rigorosamente, acompanhados pelos docentes desta Escola, cientes das responsabilidades assumidas perante a comunidade a que serve.

No âmbito universitário, manteve-se a Escola na vanguarda da evolução do ensino superior brasileiro, quando acrescentou, ao seu bem avaliado curso de graduação, importantes programas de especialização, de pós-graduação stricto sensu e de pesquisa, consequentes à crescente

complexidade dos serviços de saúde. Assim, já em 1973, havia sido or- ganizado o primeiro curso de especialização sob a forma de residência, atividade que continua crescendo nos dias de hoje. Em 1978, deu a Escola mais um passo à frente, com a implantação do curso de mestra- do. Em 1980, foi a vez da especialização em Enfermagem comunitária. A esses programas foram se acrescentando outros, referentes a diversas especialidades e mediante o desdobramento dos que já estavam em funcionamento. Mesmo em momentos de crises que abalaram os progra- mas educacionais do nosso país, a Escola continuou a preparar pessoal docente em nível do doutorado, junto a outras Universidades brasileiras e estrangeiras, podendo contar, hoje, com cerca de 200 vagas anuais distribuídas em sete cursos de especialização. E tem participado de in- tenso intercâmbio internacional, envolvendo países europeus (Espanha, Portugal, França, Inglaterra), países da América Latina e o Japão. Após vários anos de funcionamento do Mestrado com elevada pontuação no sistema de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), foi aprovado o programa do Doutorado, em setembro de 2005. Com dez alunos matriculados, esse curso começou a funcionar em março do corrente ano. A comunidade baiana é a grande beneficiária desse progressivo aperfeiçoamento dos trabalhos da Escola, ao preparar os recursos humanos necessários às formulações mais complexas que vêm sendo implantadas para a melhoria dos cuidados com a saúde e assegurar maior longevidade para a população humana.

Até os anos de 1960, as nossas instituições de ensino superior vinham se concentrando na formação de profissionais ao nível de graduação e, ressalvadas umas poucas exceções, não davam ênfase suficiente à pes- quisa. E a sociedade brasileira, até àquela época, aceitou essa conduta, com tranquilidade, da parte da maioria das nossas Universidades. No entanto, a formação de pesquisadores, a realização de investigações técnico-científicas e o preparo de profissionais de mais sólida base acadê- mica sempre foram partes essenciais à própria concepção do que devam ser as instituições universitárias. A demanda social por mais pesquisa se

constituiu no fator predominante a desencadear a reestruturação das nossas Universidades, ocorrida a partir da segunda metade da década de 1960.

Ao analisarmos a história desta instituição, logo identificamos os importantes reflexos da substancial transformação então ocorrida. Em continuação ao que registra o citado “Memorial”, o texto intitulado “Apre- sentação da Escola de Enfermagem/UFBA”, de autoria da atual Diretora, a Professora Ângela Tamiko Sato Tahara, atualiza até os nossos dias a descrição da complexa estrutura dos grupos de pesquisa que atuam na Escola. Cada qual desses grupos ou núcleos funciona com clara definição da área predominante e das linhas auxiliares de trabalho. Incluem-se, entre eles, o destinado a estudos sobre a saúde da mulher, o voltado para a saúde da criança e do adolescente, o das pesquisas sobre os idosos, outro ocupado com as políticas e a gestão da enfermagem nas atividades da saúde coletiva. Mais um deles se ocupa das relações entre a violência, a saúde e a qualidade da vida, outro se especializa nos trabalhos da enfer- magem no centro cirúrgico e na central de material. O importante papel da Enfermagem na tanatologia, incluindo os mecanismos de superação dos efeitos psicológicos da morte sobre a mente humana, é objeto de mais um desses núcleos. Cabe acrescentar o encarregado das pesquisas sobre o exercício da Enfermagem dentro das organizações e serviços de Saúde.

Numa clara demonstração do elevado conceito da Escola entre as unidades da UFBA, cumpre registrar a recente outorga das Medalhas em memória do Professor Edgard Santos, durante as comemorações dos sessenta anos de fundação da Universidade, a três de suas mais ilustres professoras vivas, respectivamente, Maria Hélia de Almeida, Clara Wolfowitch e Terezinha Teixeira Vieira. As normas que regem a distribui- ção dessas medalhas não incluem os professores falecidos, o que explica a ausência de outros nomes, igualmente merecedores da nossa homenagem. Entre esses, não posso deixar de mencionar, como exemplos, as que vieram de outras Universidades para colaborar com a nossa, logo após a criação da Escola, particularmente oriundas da Universidade de São Paulo, sob

a coordenação da Diretora Edith Frankel. Cumpre citar as Professoras Haydée Dourado, Jandira Alves Coelho e Anaide Corrreia de Carvalho, primeiras Diretoras e Vice-Diretoras da unidade recém-fundada. Ao seu esplêndido trabalho, deram continuidade e consolidaram o conceito da Escola e da profissão, as primeiras Diretoras formadas por esta mesma instituição, as Professoras Nilza Garcia e Ivete Oliveira.

Cabe menção especial a quem promoveu toda esta vitoriosa iniciati- va, o Magnífico Reitor Professor Edgard Santos. Catedrático de Cirurgia da Faculdade de Medicina, conhecia ele, como ninguém, as limitações aos cuidados com a saúde dos baianos devidas à escassez, em nosso meio, de enfermeiras de boa formação intelectual e ética. No exercício da Diretoria da Faculdade de Medicina e, depois, como fundador e primeiro Reitor da nossa Universidade, Edgard esteve profundamente empenhado em iniciativa correlata, qual fosse a da implantação do Hospital das Clínicas, atualmente denominado Hospital Universitário Professor Edgard Santos. O funcionamento do hospital com que havia ele sonhado, somente faria sentido caso se implantasse, na Bahia, dispositivo de formação de profissio- nais da Enfermagem que representassem um grande passo à frente do que existira até então. Assim, correram paralelas essas suas duas realizações, que, em conjunto, representaram o mais importante evento na área da Saúde, na Bahia, ao longo de todo o século XX. Justiça, pois, deva ser feita a Edgard Santos, neste momento de intenso júbilo, ao comemorarmos os sessenta anos de implantação de mais estas das suas relevantes conquistas para o progresso da Bahia e o bem-estar dos baianos.

Nota

130 anos de ensino