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Não há quem desconheça, nos dias de hoje, ao menos entre os que sabem ler e escrever sem dificuldade, o estreito relacionamento entre o ní- vel de educação de cada povo e o respectivo desenvolvimento econômico e social. Dito de outra forma: entre os fatores que influenciam a evolução das sociedades pouco desenvolvidas dos pontos de vista econômico e social, inclui-se a capacidade de alterar padrões culturais herdados de gerações passadas, mediante projetos educacionais adequados.

As tradições educacionais do povo brasileiro são, nitidamente, mui- to precárias sob vários aspectos. Ao fazer esta afirmação, não me refiro, é claro, ao brilhantismo de uma elite que, ao longo do tempo, produziu admiráveis exemplos de pujança intelectual. Quero, sim, destacar a extrema pobreza de oportunidades educacionais, secularmente sofrida pelas grandes massas de brasileiros, quer entre os habitantes de grandes

áreas rurais como entre os dos bairros mais pobres das cidades. Era in- tolerável a extensão do analfabetismo, tal como perdurou entre nós até muito pouco tempo, e que ainda persiste em taxas elevadas entre os mais idosos. Recentemente, para felicidade nossa, a proporção de crianças em idade escolar que frequenta a escola aproximou-se dos cem por cento.

Contudo, são ainda insuficientes os padrões de aprendizagem registrados em grande número de escolas elementares, sobretudo nas situadas em áreas rurais, onde milhões de brasileiros encontraram e encontram a única oportunidade de escolarização em toda a sua vida. Tão ou mais grave do que a realidade a que aludimos, tem sido a passivi- dade das famílias e das autoridades responsáveis por muitas dessas escolas. Indiferentes à má qualidade do ensino que vem de épocas passadas, em muitos casos, essa indiferença persiste, com notório prejuízo de sucessivas gerações de conterrâneos nossos. É como se não soubessem todos que a elevação cultural pela educação, em seu conjunto, constitui a chave do crescimento harmônico da economia e dos demais padrões de vida em sociedade, particularmente, do aperfeiçoamento das instituições políticas representativas das populações.

Nos caminhos trilhados pelas gerações passadas, a educação não mereceu o desejável grau de prioridade nas atividades comunitárias. As populações de renda mais baixa, carentes de porta-vozes que se fi- zessem ouvir e destituídas de modelos ancestrais que as conduzissem a atitudes reivindicatórias mais eficazes, têm se resignado a conviver com as deficiências educacionais que ainda existem, embora parcialmente sanadas. Em resumo, percebe-se que, desde épocas passadas, a sociedade brasileira, em seu conjunto, não valorizou devidamente a educação dos jovens, nem a atividade dos professores, reconhecidos entre os principais agentes dessa educação.

É verdade que, vez por outra, registram-se providências que não ficaram restritas às promessas das campanhas eleitorais ou da propaganda enganosa de certas lideranças políticas, quando no poder. Entre as medidas que têm gerado resultados muito positivos, merece ser citada a criação

do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). Mediante esse fundo, vêm sendo repassados, diretamente aos municípios, recursos federais destinados à elevação dos salários dos professores do ensino fundamental, o que foi depois ampliado para incluir os professores do ensino médio – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), referente aos professores de todo o ensino básico. Sem dúvida, tal medida se fazia indispensável, tendo em vista os salários vergonhosamente atribuídos por vários governos estaduais e por muitas Prefeituras aos professores das escolas sob sua responsabi- lidade. Outras providências, além de tímidas, têm sido descontínuas na sua aplicação. Dessa descontinuidade resultaram prejuízos em programas que somente viriam a surtir efeito se sustentados no longo prazo.

A sociedade brasileira vem procurando aperfeiçoar e expandir, rapi- damente, os meios de produção e distribuição de bens e serviços, com a consequente oferta de empregos melhor remunerados. Desse esforço têm resultado fortes pressões em favor do aumento dos orçamentos destina- dos à educação nos vários âmbitos do poder público. Cumpre analisar as causas das insuficiências que persistem na área da educação e, por esse caminho, chegar às possíveis maneiras de remover tais insuficiências, no estado de direito e no mais breve espaço de tempo.

Onde se localizam as forças que conseguirão alterar, efetivamente, situações que perduram há muitas gerações? Sem a mobilização dessas forças, ficaremos limitados a ouvir o eco de palavras contundentes e a criar textos legais que, por mais elogiáveis na sua concepção, não chegam a corrigir os males de uma realidade que reluta para não ser extinta.

Conhecem-se providências que, embora de grande alcance, não atraem certos políticos militantes, por não se revestirem do feitio espe- tacular, ao gosto dessas lideranças. A noção do papel redentor da edu- cação está apenas começando a ser devidamente impregnada no espírito de numerosos grupos populacionais que convivem com baixa receita familiar e escassa educação. Pela falta de frequência a escolas melhores,

muitos dos nossos conterrâneos tiveram de conformar-se com empregos de mais baixa remuneração, correspondentes ao cumprimento de tarefas de menor complexidade. Comentaremos, a seguir, providências que somente mostrarão resultados a prazo longo, porém precisam ser desencadeadas o mais cedo possível, uma vez que já sofrem de atraso considerável. Essas providências se situam no âmbito de ação das lideranças políticas mais esclarecidas, que trazem consigo a noção de que vive melhor o povo que foi e é bem educado.