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de Azevedo Pondé

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Dois dos filhos do ilustre médico baiano João de Souza Pondé desempenharam funções de grande destaque na Universidade Federal da Bahia. Um deles, Adriano, foi Professor da Faculdade de Medicina, criou a Escola de Nutrição e, como Vice-Reitor, exerceu a Reitoria em múltiplas oportunidades. Por sua vez, Lafayette regeu várias disciplinas em diferentes unidades da Universidade, exerceu a cátedra de Direito Administrativo da Faculdade de Direito, implantou e dirigiu a Escola de Administração e, após ter sido Vice-Reitor, foi o nosso Reitor durante os anos de 1975 a 1979. Ao comemorarmos, hoje, o centenário do nas- cimento de Lafayette, nos rejubilamos solidários com a sua vasta família e o extenso círculo dos seus amigos, enquanto a Universidade expressa,

festivamente, o reconhecimento que lhe é devido pelos relevantíssimos serviços prestados ao longo de muitas décadas.

Nascido em Salvador a 12 de março de 1907, diplomado pela Facul- dade de Direito da Bahia a 8 de dezembro de 1929, Lafayette começou a projetar-se no serviço público estadual desde o início da década de 1930. Chegou a exercer, interinamente, a interventoria federal no Estado, em várias ocasiões, por força de nomeação assinada pelo então Presidente da República. Diante de tão extensa relação de cargos e funções por ele ocupados durante a longa existência, preferimos concentrar a atenção nos meritórios serviços prestados no campo da Educação.

Em 1935, Lafayette começou a lecionar a disciplina de Direito Internacional Público da Faculdade de Ciências Econômicas da Bahia, da qual foi Diretor. Em 1942, tornou-se professor da Faculdade de Filo- sofia, Ciências e Letras. A partir de 1943 assumiu a cátedra de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Bahia. Essas várias escolas de nível superior foram, mais tarde, incorporadas à recém-constituída Universidade Federal da Bahia. Na Faculdade de Direito, notabilizada pela excelência do seu quadro docente, além de catedrático de Direito Administrativo, regeu as disciplinas de Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público.

Exercia, com reconhecida proficiência, o magistério superior na Universidade Federal da Bahia, quando o Reitor Edgard Santos, no meio da década de 1950, resolveu implantar a Escola de Administração, que se transformou em uma das unidades mais dinâmicas da instituição. A fim de levar adiante mais essa realização, Edgard convocou, juntamente com Lafayette Pondé, também o professor Oldegar Vieira, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. A esse tempo, a Fundação Getúlio Vargas e a Fundação Ford, esta última sediada em Nova York, vinham apoiando a criação de cursos de Administração no Brasil, mediante a oferta de bol- sas de estudos a candidatos que pretendessem dedicar-se à formação de administradores em nível superior, e que fossem, já, portadores de outro diploma universitário. Os jovens baianos selecionados para esse fim se

obrigavam a obter diplomas de Mestre em Administração, conferidos por renomadas Universidades norte-americanas. Os mais interessados na Administração privada foram encaminhados à Universidade da Califórnia do Sul, enquanto os mais vocacionados para a Administração pública frequentaram a Universidade Estadual de Michigan, sediada na cidade de Lansing, capital daquele estado.

Implantada a Escola de Administração da UFBA, Lafayette foi nomeado seu primeiro Diretor. Desde o início, revelou-se a Escola al- tamente inovadora quanto à programação pedagógica. De outra parte, os jovens baianos que haviam aprofundado os seus estudos nos temas referentes às bases científicas e à prática da Administração encontraram amplas oportunidades de trabalho e emprego na nossa sociedade, onde as mesmas tarefas vinham sendo entregues, até então, a detentores de diplomas afins.

Graças à sua condição de Diretor da Escola de Administração, Lafayette passou a integrar o Conselho Universitário, no qual atuou por muitos anos, de modo a angariar a admiração e o respeito dos demais conselheiros. Em 1971, já tendo exercido as funções de Vice-Reitor, o seu curriculum vitae o tornava altamente credenciado para assumir o cargo de Reitor, o que ocorreu após a eleição, em lista tríplice, pelo Conselho Universitário e a subsequente nomeação pelo Presidente da República. Sempre rigoroso na exigência do cumprimento das leis e regulamentos, Lafayette conduziu os destinos da Universidade com lucidez e descortino, em tempos de grandes dificuldades.

Na mesma época, foi ele nomeado membro do Conselho Federal de Educação, em fase do maior prestígio daquele importante órgão. A valiosa contribuição por ele oferecida à Educação nacional levou os seus pares a escolhê-lo para a Presidência do Conselho. Com a esposa, D. Lourdes, mudou-se, então, para Brasília, onde residiu durante os anos em que foi Presidente do mesmo órgão. A aposentadoria por implemen- to de idade alcançou-o quando ainda morava em Brasília. De volta a Salvador, valendo-se da experiência adquirida em tantas décadas de

desempenho de funções públicas, reassumiu as atividades de magistério, coordenando cursos de pós-graduação patrocinados pela Fundação Fa- culdade de Direito da Bahia. Foi membro titular desta Academia baiana de Educação. Nela ocupou a cadeira de número 39, da qual é patrono Rui Barbosa de Oliveira e que teve como primeiro ocupante o saudoso professor Raimundo José da Matta.

Durante a longa carreira em que ocupou diversas funções de direção na alta administração educacional, Lafayette sempre revelou profundo conhecimento da intricada legislação brasileira nesse campo. De trato afável, embora sempre muito austero, Lafayette é capaz de desconcertar o interlocutor, quando a situação comporta, mediante comentários da mais refinada ironia. Embora muito discreto na conduta pessoal e no trato da coisa pública, sabe ser excelente causeur. Involuntariamente, nessas oca- siões, deixa transparecer aos que o ouvem, a vasta cultura humanística, o bom gosto do colecionador de objetos de arte, especialmente da prataria colonial luso-baiana, e a prolongada vivência em ambientes de elevado nível intelectual e social. Limita-se esse comportamento, entretanto, às oportunidades de convívio com os que gozam do privilégio da sua amizade.

Lafayette tem sido agraciado com muitas comendas e títulos ho- noríficos, quer brasileiros, quer estrangeiros, atribuíveis, sobretudo, à sua atuação no campo da Educação. Um gesto marcante assinalou a sua vocação verdadeira: em certo momento da carreira de servidor público, teve de optar entre o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do nosso Estado e o de Professor Catedrático da Universidade Federal da Bahia. A sua preferência foi definitiva: permaneceu no magistério.

Por mais de uma geração, diferentes ramos da família Pondé mantive- ram e mantêm estreitas relações de amizade com a minha própria família. Eis por que tenho enorme satisfação em associar-me, pessoalmente, às homenagens ora prestadas ao Professor Lafayette, exemplo de cidadão a ser reverenciado e imitado por sucessivas gerações de baianos.

Sempre muito dedicado à família e aos amigos, Lafayette cultiva es- treitos vínculos afetivos que não se limitam à esposa, filha, filhos e netos,

irmãos, irmãs e sobrinhos, como se estendem à família ampliada, com incontáveis ramificações, oriunda do município sertanejo de Itapicuru. Casou-se, em 1933, com a Senhora Lourdes Porto Pondé, nascida na cidade de Santos, estado de São Paulo, e originária de tradicional família baiana. O casamento durou mais de seis décadas. Os dois filhos varões do casal, o médico João de Souza Pondé Neto (Joãozito) e o bacharel em direito Lafayette Junior são vitoriosos nas respectivas carreiras profissio- nais, assim como a filha, Gilda, proficiente bibliotecária, casada com o maestro Piero Bastianelli, também ligado ao corpo docente da Universi- dade Federal da Bahia. O médico Joãozito, durante muitos anos, foi meu discípulo e companheiro de trabalho no Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Dirige ele, na condição de fundador e coproprietário, uma das mais importantes clínicas de Salvador, o Instituto Cardio Pulmonar. O bacharel em Direito, também de prenome Lafayette, pertence aos qua- dros do Ministério Público Estadual e foi diretor do Banco do Estado da Bahia, durante o meu mandato de governador. Ao completar cem anos, o Professor tem vários netos portadores de diplomas universitários, que se vêm distinguindo no exercício das profissões de sua escolha. Quero destacar, na oportunidade, o importante trabalho da neta Luciana, ao informatizar a coleção completa do periódico intitulado “Gazeta Médica da Bahia”, um dos orgulhos das ciências médicas da nossa terra, fundada em 1866. Lafayette conta também com vários bisnetos e bisnetas, ainda em tenra idade.

Insisto em dizer que procurei resumir, no presente texto, tão somente, o que se refere à contribuição de Lafayette à Educação Nacional. Contudo, é esta, apenas, uma das vertentes da rica biografia de quem tanto ama a sua e nossa terra, e a ela tem servido com total integridade e indiscutível competência profissional.

Nota

Centenário do