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Viana Filho

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Pediu-me o Magnífico Reitor Naomar de Almeida Filho, ausente de Salvador devido a compromissos internacionais, que o representasse na presidência desta sessão solene destinada à exaltação da personalidade do Governador Luiz Viana Filho, enquanto comemoramos o centenário do seu nascimento.

Ao identificar entre os políticos nascidos no século XX, quem sintetizou em grau mais elevado o que há de melhor nas tradições da Bahia, eu não hesito em apontar o nome de Luiz Viana Filho. Os seus trabalhos como historiador e, particularmente, como biógrafo, permitem que nele se reconheça o intelectual do mais refinado quilate. A escolha das personalidades por ele biografadas, incluindo Rui Barbosa, Barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Anísio Teixeira, Machado de Assis, José de

Alencar, Eça de Queiroz, assim como os temas de outras das suas obras, a exemplo do pioneiro estudo sobre o negro da Bahia, dos fascinantes esclarecimentos sobre a implantação da indústria petroquímica e da in- dustrialização na Bahia, do fiel registro do Governo Castelo Branco, das reflexões sobre “A verdade na biografia”, das pesquisas em que se baseia o livro “A Sabinada”, bem revelam a sua familiaridade com os grandes temas da Literatura e da História Pátria. Professor desta Universidade, exerceu o magistério nas Faculdades de Direito e de Filosofia, Ciências e Letras. Entre muitas outras instituições, a Academia Brasileira de Letras premiou o seu mérito, admitindo-o como um dos destacados integrantes dos quadros dessa respeitável instituição.

No período de quatro anos, entre 1967 e 1971, correspondentes ao seu mandato de Governador da Bahia, Luiz Viana Filho, o político empreendedor, realizou obras fundamentais em benefício da população do nosso estado. Logo apontaremos algumas, dentre muitas. Todavia, a sua atividade política, determinada por irreprimível vocação, se estendeu por toda a vida. Como Deputado Federal, Senador, Ministro de Estado, não cessou Luiz Viana Filho de servir à Bahia, ora por meio de pronun- ciamentos parlamentares cheios de ideias fecundas e redigidos com bem cuidada linguagem literária, ora em debates que tiveram como principal inspiração a defesa do Nordeste e da Bahia, ora graças ao prestígio de que usufruiu, ao longo de muitas décadas, nos bastidores da política nacional. A sua atuação junto aos mais elevados escalões da República se baseou num eleitorado que lhe foi fiel durante muitas décadas e contou com a reciprocidade gerada pelo respeito aos seus eleitores, muitos deles com- panheiros fieis nos momentos de glória e, igualmente, nas horas difíceis que jamais deixaram de compor a existência dos grandes homens públicos.

As realizações em virtude da sua atuação no Governo da Bahia, por sua vez, também o imortalizaram na memória dos conterrâneos. Dessas suas iniciativas, a mais importante pelo significado que veio a ter na modernização da vida social baiana, somente alcançou representação material depois da construção da infraestrutura do Polo Petroquímico de

Camaçari. Sugerida, anos antes, por outro baiano ilustre, o economista Rômulo Almeida, a indústria petroquímica a ser implantada entre nós sofreu resistências, aparentemente, intransponíveis, da parte de com- petidores de outras regiões do país. E foi viabilizada graças à batalha encetada por Luiz Viana Filho junto aos altos poderes da República, até resultar na decisão do Governo Federal, tomada durante o seu mandato governamental.

Das suas muitas obras, talvez a mais visível para os naturais de Salvador, haja sido a avenida Luiz Viana Filho, que demarcou o rumo geográfico do desenvolvimento da nossa Capital. À medida que passa o tempo, melhor se verifica o acerto da decisão do governante, ao projetar e construir a infraestrutura do que veio a ser o maior fator de ordena- mento da ocupação do solo por uma população urbana que aumenta a cada instante. A ideia da criação do sistema ferryboat entre Salvador e a Ilha de Itaparica encurtou as distâncias das frequentíssimas viagens, tanto para o sul, como para o norte do estado e do país. O asfalto que chegou até Ibotirama, à margem do Rio São Francisco, valorizou toda a Chapada Diamantina e significou a ligação do litoral com o oeste baia- no, cujo potencial de riqueza era, até então, minimamente explorado. A monumental Biblioteca Central de Salvador foi construída para servir de núcleo a toda uma rede destinada a espargir cultura, com proveito da nossa gente das mais variadas camadas sociais. Criou museus históricos, entre eles o do Recôncavo Wanderley Pinho e o das alfaias de Cachoeira. Mobilizou a atenção dos órgãos especializados da Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para

o significado do bairro do Pelourinho, em Salvador, atraindo a visita de peritos internacionais que aqui vieram e atestaram a necessidade da preservação, tecnicamente elaborada, das construções que ali existem. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Ceped), esquecido e mal tratado mais tarde, destinou-se à criação, à transferência e à adaptação às condições locais, de tecnologias avançadas. Desempenhou este Cen- tro papel fundamental na implantação do parque industrial da Região

Metropolitana de Salvador. A Superintendência dos Parques Industriais do Interior do Estado representou contribuição decisiva na evolução de uma tradicional economia agroexportadora para a modernização dos nossos meios de produção. A Universidade Estadual de Feira de Santana, por ele criada, revelou-se importante marco na interiorização do ensino superior no estado.

Cuidou do magno problema da habitação popular, tanto em grandes cidades do interior, como em Salvador, onde implantou o bairro designado “Castelo Branco” e despertou o poder público para a necessidade de me- lhor atender à urbanização dos Alagados. A ampliação do Estádio Otávio Mangabeira foi mais uma obra portentosa que teve precária manutenção. Conhecedor profundo de como e de que viviam os baianos, empreendeu melhoramentos na agropecuária, a exemplo do combate intensivo à febre aftosa, ainda hoje motivo de preocupação para os agentes econômicos da nossa terra. A implantação da Usina Siderúrgica da Bahia resultou, igualmente, da sua persistente luta em favor do Estado, mesmo contra interesses poderosos que se opunham ao projeto. Sobre a interminável lista das suas realizações, por temperamento e por formação, nem sempre deu ele a divulgação mais ampla que teria sido inteiramente justificada.

Aprendi muito, no convívio com Luiz Viana Filho. Sou-lhe grato pelo que, por seu intermédio, fiquei sabendo sobre a Bahia, sobre o Brasil, sobre o comportamento dos seres humanos, a prática da política partidária, a apreciação dos livros e das artes, sobre tudo o que fez dele um homem civilizado e atuante do final do século XX. De Edgard Santos e de Luiz Viana Filho recebi as melhores lições de vida, das que nem os livros ensinam.

Contou Luiz Viana Filho, ao longo de toda a vida pública, com o estímulo e o apoio da sua esposa, Senhora Julieta Pontes Viana, a Dona Juju, mãe extremada dos seus filhos e filhas, e avó querida dos muitos netos e netas.

Comemoramos hoje, dia 28 de março de 2008, o centenário do seu nascimento. Faço votos para que a exaltação da sua figura de homem

público, assentada em sólido e despretensioso preparo intelectual, sirva de farol e de guia, não apenas para os familiares aos quais foi tão devotado, como para todos os baianos, da atual e de futuras gerações, sempre orgulhosos ao melhor conhecerem, sem omissões nem restrições descabidas, as virtudes e as realizações que fizeram de Luiz Viana Filho um cidadão exemplar.

Nota

Centenário do