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O direito humano à água (DHA) foi reconhecido, por intermédio do Comentário Geral da ONU nº 15, do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, emitido em 2002, que inclui em seu texto que o direito à água é pressuposto para o exercício e o cumprimento dos demais direitos humanos, pois revela como essencial para uma vida digna (TURATTI, 2014). Importante esclarecer que o Comentário ressalta que a água deve ser tratada como um bem social e cultural e não como um bem econômico, e que o exercício desse direito deva ser de modo sustentável (ONU, 2002b). E o parágrafo 1º do Comentário Geral em questão traz a água como recurso natural limitado e um bem público fundamental para a vida e a saúde. Cabe salientar que o propósito do Comentário Geral da ONU nº 15 foi regulamentar os artigos 11 e 12 do PIDESC, adotado pela Assembleia das Nações Unidas em 1966.

Para Turatti (2014, p. 38), já na DUDH pode-se compreender a água como direito humano quando se garantiu a vida, sendo inconcebível a vida sem água, e que a falta de referência a esse direito talvez se deva ao fato de que na “[...] época não se poderia imaginar que a água viria a se tornar escassa e que fosse necessário expressar sua importância em um documento internacional como forma de garantir seu acesso”.

Certo é que a água é um bem finito, como recurso natural limitado que é, sendo fundamental à vida e à saúde dos seres vivos, dentre eles, do ser humano. Logo, o DHA é indispensável para uma vida digna, sendo condição para a realização de outros direitos humanos, como a alimentação e a saúde. De acordo com o Comentário Geral nº 15 (ONU, 2002a, p. 2), “[...] o direito humano à água é o direito de todos a dispor de água suficiente, potável, consumível, acessível e a preço razoável para uso

pessoal e doméstico”. (Tradução nossa).6

O DHA habilita todas as pessoas à água suficiente, segura, aceitável, fisicamente acessível e disponível para uso pessoal e doméstico, com isso evitando a morte por desidratação. Lembrando que o direito humano à alimentação inclui o direito à água como parte essencial dessa alimentação. Para Írio Luiz Conti (2014, [n.p.]),

6 [...] el derecho humano al agua es el derecho de todos a disponer de agua suficiente, salubre,

O direito humano à alimentação adequada consiste no acesso físico e econômico de todas as pessoas aos alimentos e aos recursos, como emprego ou terra, para garantir esse acesso de modo contínuo. Esse direito inclui a água e as diversas formas de acesso à água na sua compreensão e realização.

O DHA integra o direito à alimentação, desta feita, devendo ser garantido o acesso de modo contínuo, em uma quantidade adequada e segura, suficiente para o consumo e higienização, garantindo a todos uma qualidade de vida melhor, além do que CDESC já reconhecera anteriormente a água como direito humano, em consonância com o parágrafo 1º do artigo 11 do PIDESC, mencionado pelo Comentário Geral nº 6, onde explicita que “[...] as pessoas de idade deverão ter acesso à alimentação, água, moradia, vestuário e atenção de saúde adequados, mediante a provisão de renda, o apoio de suas famílias e da comunidade e sua própria autossuficiência”. (Tradução nossa)7. (MINNESOTA, 2018, [n.p.]).

A falta ao acesso à água potável prejudica o desenvolvimento do ser humano, além de limitar suas escolhas e liberdades.

Ela afeta todos os aspectos do desenvolvimento, pois quem não tem acesso à água potável, terá suas escolhas e liberdades limitadas pela pobreza, doenças e vulnerabilidade. Quando se menciona o desenvolvimento humano, inclusa está a dignidade humana, que não se limita às necessidades físicas, pois envolve também necessidades na esfera moral. (LUZ; TURATTI; MAZZARINO, 2016, p. 273).

Muitos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento têm negado o DHA. Essa negação surge com a dificuldade no acesso à água potável e a falta do saneamento básico, desrespeitando os direitos de todos os indivíduos e principalmente a dignidade humana. Sánchez Bravo (2014, p. 7) afirma que, no que diz respeito à água, “[...] não se trata apenas de ‘dar’ água para cobrir bocas ou acalmar consciências, mas deve refletir a preocupação com a dignidade individual e a justiça social”. (Tradução nossa) .8 Não basta ofertar a água, tem que assegurar a dignidade individual.

O DHA nos dias atuais é violado e, nesse sentido, luta-se contra o poder de inércia por parte do Estado em assegurar uma existência digna para todos que necessitam utilizar a água, pois o direito à alimentação inclui a água limpa, por se

7 “[...] las personas de edad deberán tener acceso a alimentación, agua, vivienda, vestuario y atención

de salud adecuados, mediante la provisión de ingresos, el apoyo de sus familias y de la comunidad y su propia autosuficiencia”.

8 “[...] no se trata sólo de ‘dar’ agua para tapar bocas o calmar conciencias, sino que debe reflejar

tratar de um direito fundamental, devendo ser ofertada a todos os indivíduos, sendo o acesso à água primordial para uma vida digna. Segundo Boaventura de Sousa Santos (2001, p. 24), “A desertificação e a falta de água são os problemas que mais vão afetar os países do Terceiro Mundo na próxima década. Um quinto da humanidade já não tem hoje acesso à água potável”.

O Comentário, em análise, ainda no parágrafo 1º, registra que a “[...] poluição e a contínua deterioração da água e a desigual distribuição da água são fatores agravantes da pobreza existente”. É preciso que os Estados Partes, por meio de políticas públicas, adotem medidas não discriminatórias para que todos tenham acesso à água potável.

Em virtude da escassez da água, que vem provocando a morte no mundo, a ONU definiu o período entre 2005 e 2015, como sendo a “Década Internacional para a Ação ‘Água, Fonte de Vida’”, como forma de preservação das águas mundiais e com a meta de reduzir pela metade a proporção da população mundial sem acesso sustentável à água potável e saneamento (UNESCO, 2019).

A preocupação no que tange à água levou a ONU a proclamar a década entre 2018 e 2028 como a “Década Internacional para Ação, Água para o Desenvolvimento Sustentável”, com o apelo de que “Precisamos de água segura, limpa e disponível para ter uma vida decente”. Afirmando, ainda, que 844 milhões de pessoas carecem desse elemento básico para viver dignamente. Acrescentando que “Precisamos de saneamento básico para uma boa saúde e bem-estar. Porém, mais de um quarto da população mundial não tem acesso a instalações sanitárias básicas”. (ONUBR, 2018b).

Alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, que “Até 2050, pelo menos uma em cada quatro pessoas viverá em um país onde a falta de água potável será crônica ou recorrente”, disse ele durante o lançamento da Década Internacional para a Ação: Água para o Desenvolvimento Sustentável, alertando, ainda, para o fato de que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável e mais de 4,5 bilhões a serviços de saneamento adequados (ONUBR, 2018b, [n.p.]). E o vice-presidente da Assembleia Geral da ONU, Mahmoud Saikal, chamou a atenção para o fato de que enquanto muitos no mundo têm água potável e instalações de saneamento adequadas, bilhões de pessoas no mesmo planeta não possuem um banheiro básico e são forçados a beber água que pode deixá-las doentes.

É preciso atentar que o parágrafo 3º do Comentário Geral ressalta o que está inserido no parágrafo 1º do artigo 11 do PIDESC, onde se enumera uma série de direitos. Contudo, ao trazer a expressão “inclusive”, assegura que esse rol de direitos não é taxativo, exaustivo, mas que a qualquer momento, em havendo necessidade, poderão ser acrescidos outros direitos, vejamos, “inclusive alimentação, vestuário e alojamento adequado”. Logo, o direito a água é indispensável para a sobrevivência humana e está incluído dentro desse rol de direitos fundamentais.

A luz dos direitos humanos, a proteção da água é urgente, bem como é urgente assegurar a todos a água limpa e potável, pois grande parte da população não desfruta do acesso à água potável, lembrando-se que os direitos humanos devem ser respeitados sempre, com ética, respeito à vida e proteção do meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, todos necessários à dignidade da pessoa humana (VILLAS BÔAS; SOARES, 2017, p. 7).

A luta pelo acesso à água potável é diária, razão pela qual deve ser considerada objeto de reflexão pelos envolvidos direta ou indiretamente nessa causa, já que todos fazem uso da água. É necessário que se reforce a assertiva da necessidade de se utilizar, com urgência, medidas de contenção do impacto ambiental, relacionadas à contaminação da água destinada ao uso humano ou não humano, sendo necessária a efetivação do acesso à água potável, por meio do desenvolvimento e aplicação de políticas públicas adequadas que assegurem, definitivamente, o acesso à água potável como um direito humano fundamental à existência digna, pois os bens essenciais à sadia qualidade de vida são aqueles bens fundamentais à dignidade humana, ou seja, são os bens que garantem ao ser humano uma vida digna, sendo a água potável um bem essencial a todos os viventes (VILLAS BÔAS; SOARES, 2017, p. 8).

Há de se atentar que quanto ao Conteúdo Normativo do Direito à Água, insculpido no parágrafo 10 do Comentário Geral nº 15, este orienta que o direito à água articula liberdades e direitos: “[...] as liberdades incluem o direito de manter o acesso ao abastecimento de água necessário para o exercício do direito à água, o direito a não ser objecto de ingerências”. (ONU, 2002a, p. 4). Quanto a essa integração de liberdades e direitos, Carbonari (2014) nos orienta que

As liberdades são o direito a manter o acesso a um suprimento de água necessário para que cada pessoa possa exercer o direito à água e o direito de as pessoas não serem objeto de ingerências, como cortes arbitrárias de abastecimento ou a contaminação dos recursos hídricos. Os direitos

compreendem um sistema de abastecimento e gestão da água que ofereça iguais oportunidades para que a população possa desfrutar do direito à água. Quanto ao conteúdo jurídico-normativo, o DHA garante a liberdade do acesso ao abastecimento de água potável necessário para o uso pessoal e doméstico, atentando que esse direito “[...] não pode ser empregado como instrumento, por parte do Estado ou de quaisquer outros indivíduos, para cercear a liberdade de seus detentores”. (RANGEL, 2018a, p. 91). Carbonari (2014) assegura, ainda, que a água deve ser tratada “[...] como um bem social e cultural e não como um bem econômico. O modo pelo qual o direito à água é exercido também deve ser sustentável, de tal forma que este direito possa ser exercido pelas gerações atuais e futuras”, conforme preceituado no parágrafo 11 do Comentário Geral nº 15. Atentando que o parágrafo 15 do Comentário, proíbe qualquer tipo de discriminação no fornecimento e nos serviços destinados às pessoas que não dispõem de recursos financeiros, bem como a obrigação especial, por parte do Estado, na garantia do abastecimento necessário e na instalação de água a essas pessoas, considerando-a como um bem social e não econômico.

Ainda em análise ao Comentário Geral nº 15, nos parágrafos 20 a 26, juntamente com o Comentário Geral nº 12, parágrafo 15, o direito à água comporta para o Estado três níveis de obrigações igualmente a respeito de outros direitos humanos, a obrigação de respeitar, proteger e de realizar. Turatti (2014, p. 42) os comenta da seguinte forma:

- A obrigação de respeitar ou abster-se de obstaculizar o exercício do direito à água, o qual implica não somente evitar toda atividade que limite o acesso à água em condições de igualdade, mas também abster-se de intervir arbitrariamente nos sistemas tradicionais de distribuição, e abster-se também de contaminar a água.

- A obrigação de proteger ou impedir que terceiros (particulares, grupos, empresas e outras entidades) obstaculizem o desfrute do direito à água; é dizer, devem adotar-se as medidas necessárias para evitar que terceiros neguem o acesso à água potável em condições de igualdade, e que contaminem ou explorem de forma desigual os recursos hídricos.

- A obrigação de cumprir compreende, por sua vez, a obrigação, a cargo do Estado de facilitar (adotar medidas que permitam aos particulares e comunidades exercer o direito), promover (difundir a informação adequada sobre o uso higiênico da água e estabelecer métodos para reduzir seu desperdício) e garantir (fazer efetivo o direito a água quando os particulares ou comunidades não estejam em condições de exercê-lo por si mesmas) o acesso à água potável.

A obrigação de respeitar exige que os Estados Partes se abstenham de interferir, direta ou indiretamente, no exercício do direito à água, e esse abster inclui a

limitação ou a negação do DHA; quanto à proteção, cabe ao Estado tomar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para impedir que terceiros venham interferir na utilização do direito à água e, por fim, a obrigação de realizar que, por sua vez, pode ser dividida em facilitar, promover e prover, requer que o Estado adote medidas positivas, facilitadoras, com o intuito de ajudar as pessoas a exercer o direito; promova medidas para assegurar a educação quanto ao uso higiênico da água, bem como a redução do desperdício da água e, por fim, prover nos casos em que a pessoa não esteja em condições de exercer esse direito com meios colocados à disposição da pessoa.

E como forma de assegurar o acesso ao DHA, o Comentário traz no parágrafo 37 que os Estados Partes têm a obrigação básica de garantir, pelo menos, a satisfação dos níveis mínimos essenciais de cada um dos direitos enunciados no Pacto. Ressaltando, ainda, no parágrafo 38, a Cooperação Internacional econômica e técnica aos Estados em via de desenvolvimento, para que possam cumprir as obrigações básicas enumeradas no parágrafo 37, quanto ao DHA.

4 A EXTINÇÃO DO CONSEA E AS INCERTEZAS PARA A CONCREÇÃO DO DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA

O direito humano à alimentação tem sido constantemente violado e negligenciado pelo Estado. Por vez, a pobreza tem encontrado guarida no seio da sociedade e com isso os indivíduos convivem com as incertezas e a violação dos seus direitos. Symonides (2003, p. 34) define “[...] a pobreza como a negação das

oportunidades de ter vida longa, saudável e criativa e de desfrutar de liberdade, de dignidade e de um padrão decente de vida”. Não há possibilidade de desfrutar de liberdade, de ter uma vida decente quando grande parte da população convive diariamente com a insegurança alimentar, um fantasma que volta a assombrar as pessoas, pois, de acordo com as Nações Unidas no Brasil (ONUBR, 2018a), nos últimos anos, somente no Brasil, 5,2 milhões de pessoas, entre 2010 e 2017, estão desnutridas sem forças para as atividades do dia a dia. Essas pessoas vão dormir sem ingerir o mínimo necessário de calorias diárias, sendo que no mundo esse número é de 821 milhões. Isso significa que uma em cada nove pessoas no planeta, no ano de 2017, foi vítima da fome.

A fome e a insegurança alimentar necessitam ser vencidas e, como desafio, a

Organização das Nações Unidas (ONUBR, 2015)implementou a agenda 2030, que é

um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, com o intuito de libertar a todos da tirania da pobreza. Entre os seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o objetivo 2 prioriza por “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Desta feita, espera-se até 2030, acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Esses objetivos (ODS) buscam a concretização dos direitos humanos, dentre eles o de não sofrer a fome e nem a insegurança alimentar (IA) que hoje assola o mundo.

Aliás, a insegurança alimentar (IA) já assombra o mundo há tempos. Após a Segunda Guerra Mundial, chegou a trabalhar com a ideia de que a fome era proveniente da indisponibilidade de alimentos em virtude do aumento da população, mas Anna Maria de Castro (2003, p. 47) afirmou que

A fome não é um produto da superlotação: a fome já existia em massa antes do fenômeno da explosão demográfica do após-guerra. Apenas esta fome, que dizimava as populações do Terceiro Mundo, era escamoteada, era abafada, era escondida. Não se falava do assunto que era vergonhoso: a fome era tabu. Hoje já se fala abertamente e o problema transformou-se num grande escândalo internacional. Não só a fome existia antes, mas também existe hoje em regiões que estão longe de ser superpovoadas. Muitas áreas de fome no mundo são áreas de baixa densidade de população, como acontece na África e na América Latina, continentes subpovoados, com uma média de 9 habitantes por quilômetro quadrado de superfície, quando a Europa bem alimentada dispõe de mais de 86 habitantes por quilômetro quadrado.9

Atenta-se para o fato de que a insegurança alimentar e, consequentemente, a fome não pode ser atribuída ao aumento da população. A fome sempre esteve fortemente presente nos países de terceiro mundo. Para Rangel (2018b, p. 103), somente após a Segunda Guerra Mundial, com o surgimento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1945, e posteriormente em 1948 com o surgimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), é que se começou a discutir sobre a fome com mais veemência. Tanto é que, em relação à Conferência das Nações Unidas sobre Alimentos e Agricultura realizada em Hot Springs, no ano de 1943 (Virgínia, EUA), Maluf (2011, p. 52) faz a seguinte afirmação:

A declaração produzida naquela conferência já afirmava, explicitamente, que a causa primeira da fome e da desnutrição era a pobreza, conclamando pela promoção de poder de compra suficiente para uma dieta adequada para todos, embora insistindo também para insuficiência da produção de alimentos. Nesse aspecto, a meta principal seria as pessoas libertarem-se da carência alimentar.

Irio Conti (2016, p. 60) esclarece que, na realidade brasileira, a fome e a insegurança alimentar estão sempre presentes, “[...] fazem parte dos problemas da realidade brasileira, têm suas raízes na desigualdade social, na pobreza e na falta de políticas públicas para alterar as estruturas geradoras dessas assimetrias sociais”.

Com o intuito de resolver o problema de insegurança alimentar, o Brasil investiu no aumento da produção e na geração de estoques de mercadoria, contudo não conseguiu obter êxito quanto ao enfrentamento da fome e da pobreza.

Ao contrário, foi justamente no período do desenvolvimentismo e do regime autoritário, no qual praticamente não havia espaço para a inserção das demandas dos movimentos e organizações sociais na agenda política do

9 Os dados apresentados pelo autor acerca da média de povoação (9 habitantes por quilômetro

quadrado na África e na América Latina e 86 habitantes por quilômetro quadrado na Europa) tem como base o período de publicação do artigo original na Revista Civilità del Machine, de julho a agosto de 1968, Roma.

Estado, que mais aumentou o fosso entre pobres e ricos, evidenciando que o crescimento econômico gerava desigualdades e não maior equidade no acesso aos alimentos. (CONTI, 2016, p. 63).

Nas décadas de 1920 a 1970 priorizou-se as políticas de abastecimento alimentar, mas a fome e a insegurança alimentar continuaram assolando o país. Contudo, nas décadas posteriores, o foco passou a ser as políticas centralizadas de assistência alimentar (CONTI, 2016, p. 63). A partir dos anos de 1980, ganharam forças os movimentos sociais e “[...] ressurgiu a questão do enfrentamento da fome como parte de um conjunto de políticas entendidas como direitos, dentre eles a terra, renda, saúde, habitação, saneamento e educação”. (CONTI, 2016, p. 65). Neste período, de acordo com Burlandy (2009, p. 855), “[...] registrou-se a primeira referência à expressão ‘segurança alimentar’ nas políticas governamentais brasileiras [...]” para enfrentar a fome.

Para Maluf (2007, p. 30), “[...] nas primeiras décadas do século XX a questão alimentar ganhou novos contornos, acentuados no contexto das duas guerras mundiais e da recessão dos anos 1930, tornando-se uma tarefa de Estado”, só sendo possível tratar como questão de Estado devido aos movimentos e manifestações sociais que passou a envolver a questão alimentar no Brasil. Entre 1951 e 1953, destaca-se o movimento popular das Passeatas da Panela Vazia, onde cerca de 500 mil pessoas compareceram à essa manifestação (GOHN, 2004), certo que esse e outros movimentos sociais começaram a ganhar forma a partir da sociedade civil, e com isso certamente surge uma grande preocupação para os governantes.

Para Nascimento (2012, p. 15), “[...] a década de cinquenta, portanto, constituiu o marco histórico da formulação dos programas de Nutrição e do desenvolvimento de práticas de alimentação saudável no Brasil”. Em 1955, Josué de Castro coordena a Campanha Nacional de Merenda Escolar, subordinada ao então Ministério da Educação e Cultura. De acordo com Nascimento (2012, p. 13),

A campanha teve como objetivo geral proporcionar suplementação e educação alimentar, nutricional e para o consumo aos escolares do primeiro grau, tendo como objetivos gerais: (a) estabelecer hábitos alimentares corretos; (b) conscientizar sobre a importância da nutrição para manter a saúde; (c) ensinar os princípios de boa nutrição e a aplicação dos mesmos