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Como era tratada a segurança pública em ambos os estados?

Capítulo 4 – Minas Gerais e Pernambuco: Uma Análise Comparativa

4.1 Como era tratada a segurança pública em ambos os estados?

Com base nos capítulos anteriores, tanto Minas Gerais quanto Pernambuco encontravam-se, no final da década de 1990, com suas ações na área de segurança pública extremamente limitadas. Em Minas Gerais havia o que podemos chamar de política de ocasião, onde era possível notar ações de segurança fragmentadas pelo estado, isto é, sem uma centralidade de ação orientada.

“Minas Gerais sempre teve uma trajetória muito errática nas políticas de segurança pública. Na verdade, eu acho que uma característica muito típica de Minas Gerais era o distanciamento do poder executivo de qualquer abordagem sistemática sobre a questão da segurança pública” (entrevista, sociedade civil, MG).

Em Pernambuco não era diferente; havia também uma política de segurança pouco definida e voltada para ações específicas de combate ao crime sem um norte bem planejado para servir como guia.

“Antes da implementação [do PPV] existiam os mecanismos de segurança, as mesmas corporações que trabalham com segurança pública, a grande diferença é que não existia uma política, uma estratégia que concatenasse a ação de todos os agentes da segurança pública. Então nós tínhamos a Polícia Civil com uma diretriz, a Polícia Militar com uma diretriz diferente, os outros agentes de outros poderes envolvidos

nessa temática como o Ministério Público, por exemplo, o Judiciário, a Defensoria Pública ligados a objetivos, a determinações que eram tratadas de forma individual” (entrevista, gestor, PE).

Minas Gerais, no final da década de 1990 e início dos anos 2000, testemunhou, seguindo uma tendência nacional, o crescimento rápido de seus indicadores de criminalidade aliada a uma grave crise nas instituições policiais que, em 1997, eclodiram em greves e manifestações pelo estado. Esse rápido crescimento nos indicadores de criminalidade trouxe consigo a necessidade urgente de frear o avanço da violência e do crime na agenda política do estado, forçando o Executivo estadual a agir rapidamente, apresentando novas alternativas para lidar com o problema. Diante dessa situação, um diagnóstico da criminalidade violenta foi elaborado pelo CRISP/UFMG, inicialmente na capital mineira e depois se expandindo para os demais municípios do estado. Neste diagnóstico foi constatado que os homicídios, especificamente, haviam tido um aumento de mais de 100% entre os anos de 1997 e 2001 (BEATO, 2013), e, a partir deste levantamento de dados, articulou-se a formação de um grupo composto por pesquisadores da área de segurança pública e autoridades policiais que se encarregou da formulação de projetos voltados para o controle da criminalidade em Belo Horizonte.

“Este grupo iniciou em março de 2002, um ciclo de reuniões orientadas segundo a metodologia conhecida como ‘solução de problemas’, que tem como elementos chaves a identificação do problema a análise, a implementação de soluções e a avaliação das mesmas” (BEATO, 2013, p.1).

Com o diagnóstico da situação da criminalidade violenta no município de Belo Horizonte – sobretudo o homicídio – o CRISP/UFMG elabora um projeto de intervenção apto a atuar em duas frentes: uma de ações repressivas e outra voltada para a prevenção social do crime a partir de atividades de mobilização social, com posterior destaque para o programa Fica Vivo.

Quanto ao governo de Pernambuco, este também empregava uma política fragmentada na área de segurança, tratando de forma individualizada as ocorrências criminais pelo estado. Pernambuco encontrava-se diante de elevados índices de criminalidade, principalmente os homicídios, e não havia nenhuma ação clara e coordenada do governo em direção à redução desses indicadores. Assim como em Minas Gerais, as ações na área de

segurança pública empreendidas pelo governo pernambucano nas décadas de 1990 e início da de 2000 eram de ocasião, ou seja, ações eram voltadas para as ondas de crimes que estavam em alta no momento; não havia um norte evidente de atuação das polícias naquele instante.

Foi a partir deste contexto que o governo Campos decidiu implementar, com o auxílio de instituições ligadas diretamente à segurança pública e a Universidade Federal de Pernambuco, uma política de característica centralizadora, cujo objetivo era o de unir ações de segurança na tentativa de reverter o quadro preocupante em que o estado se encontrava.

Em 2007, surge o Pacto Pela Vida com o objetivo de reduzir os índices de homicídios a uma taxa de 12% ao ano, taxa esta criticada por alguns autores por não possuir embasamento científico que justifique a sua estipulação.

“Cientificamente, não foi explicado por que essa meta. Contudo, seria interessante estipular um intervalo, feito a partir de exemplos exitosos de redução de homicídios, no interior do qual o índice poderia oscilar. Frise-se que a cada ano a redução no número absoluto de homicídios tornava-se mais difícil de ser obtida por se tratar de redução de 12% em relação ao precedente e assim por diante. De toda forma, a literatura especializada demonstra que reduções entre 5% e 6% ao ano são uma meta razoável” (ZAVERUCHA e NÓBREGA Jr., 2015, p.241).

Autoridades políticas e policiais, ao lado de pesquisadores na área de segurança pública da UFPE, estruturaram um plano abrangente após estudos precisos antes de colocar em prática as novas ações na área da segurança pública. Com os resultados desta análise prévia em mãos, foi possível traçar as principais características das ações criminosas e, a partir disso, identificar seus padrões de ocorrência, perfis das vítimas e dos agressores e o espaço geográfico que os contextualizava.

Portanto, podemos concluir que ambos os estados, antes de darem início às reformulações de suas políticas de segurança pública, iniciaram pela execução de estudos sistemáticos na área, cujo objetivo era o de identificar os principais elementos envolvidos nas ações criminosas em seus territórios. Normalmente, as informações levantas nestas análises prévias acerca da incidência e da dinâmica dos crimes, são provenientes de registros policiais, pesquisas domiciliares de vitimização, e de registros dos sistemas de saúde – como o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde (CERQUEIRA, 2005).

Notamos também que tanto Minas Gerais quanto Pernambuco buscaram fontes diversificadas de auxílio para enfrentar os problemas de segurança, tendo como destaque nessa área centros de pesquisas acadêmicas, como as universidades federais e outras instituições de ensino e pesquisa.

Identificados os principais elementos das ações criminosas, como, por exemplo, os perfis de vítima e criminoso, bem como os locais tidos como “pontos quentes”, isto é, locais com maiores incidências de crimes, era chegado o momento de colocar as ações em prática.