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Capítulo 2 – A segurança pública mineira: política de governo ou de Estado?

2.6 O sistema prisional

Com relação às construções de penitenciárias pelo estado, a política de segurança pública mineira trabalhou, a partir do ano de 2003, com intensidade neste campo. A partir desse ano ocorre uma estabilização do número de presos sob a custódia da Polícia Civil, chegando a cair no ano de 2004 para 17,5 mil e para algo em torno de 16 mil em 2006. Vagas foram criadas pela Subsecretaria de Administração Penitenciária, responsável por acolher um número superior a 10 mil detentos recém-chegados ao sistema prisional entre os anos de 2003 e 2006. Consequentemente, o número de indivíduos presos sob a custódia da Secretaria de Administração Penitenciária aumentou neste período, porém, este aumento não se deveu às vagas criadas com a construção de novos presídios, mas sim à estratégia da política mineira de segurança pública de retirar a Polícia Civil da administração direta de algumas cadeias, além da “desativação de algumas carceragens policiais e consequente transferência de presos” (SAPORI, 2007, p. 126), ocasionando a queda do número de unidades policiais com carceragens e de cadeias administradas pela Polícia Civil.

“Foi feito um plano de transferência de... as funções das cadeias e as grandes unidades que a Polícia Civil tinha, principalmente aqui na Região Metropolitana Belo Horizonte, Juiz de Fora, Uberlândia foram as primeiras a serem assumidas pela Secretaria de Defesa Social através da Subsecretaria de Gestão Prisional. E depois foram as unidades menores que são aquelas que sempre estiveram geralmente ligadas aos prédios das delegacias, né? E ainda hoje ainda tem um restinho; acho que são menos de 4 mil presos num universo de quase 60 mil. Mas nesses, onde tem 4 mil é o seguinte: a SDS põe os agentes, não tem um policial cuidando de... o máximo que vai acontecer é estar no mesmo prédio, no fundo, aquelas mesmas estruturas que são remanescentes dos sistema anterior. A Polícia Civil mesmo não mexe, não. Está no prédio ali por falta de ter expansão. Muitos desses lugares eles já construíram ou preparam outros lugares e fizeram a migração de presos” (entrevista, policial civil).

Perguntada como o governo do estado tratava a questão prisional à época, uma de nossas entrevistas disse o seguinte:

“Com altíssima prioridade até 2009. Dinheiro, abrindo vaga, tirou da Polícia Civil muitas cadeias a ponto hoje da Polícia Civil... Veja só, em 2003 nós tínhamos 25 mil presos no estado, 5 mil dentro do sistema penitenciário e 20 mil na Polícia Civil. Nessa questão toda ao longo desse mandato, sobretudo em 2006, a gente tem um marco que é 50% e 50%. Em 2006 a gente já tem essa virada, o sistema penitenciário passa a ter 50% mais 1 dos presos. Construindo unidades, pegando os presos e às vezes assumindo a gestão de cadeias que era da Polícia Civil. Cadeias que você podia separar da delegacia, fechando as pequenininhas para poder concentrar logisticamente. Esse processo de transferência de presos foi intensificado até 2009 e 2010 que é quando você passa a não ter dinheiro mais para fazer esse processo. Mas olha a situação hoje: isso permitiu que o sistema crescesse e tivesse uma capacidade de encarceramento que foi para mim em dado momento algo que contribuiu para a prevenção do crime: prender mais” (entrevista, gestora).

No entanto, essa tentativa de restituir à Polícia Civil quase que exclusivamente a sua tarefa investigativa a partir do esvaziamento de suas carceragens, aparentemente não rendera o que se esperava, resumindo-se a 7% das unidades prisionais que ela detinha em 2002 como assinala Sapori.

“O resultado pode ser insatisfatório, tendo em vista que essa medida se incluía entre os principais objetivos da política de segurança pública adotada. Apenas em oito municípios os Policiais Civis foram completamente desonerados de tal incumbência. Essa é uma das razões da manutenção dos baixos padrões de operacionalidade da Polícia Civil de Minas Gerais mesmo após os investimentos em infraestrutura no quadriênio 2002-2006” (Sapori, 2007, p.127).

Embora essa estratégia não tenha alcançado o êxito esperado, a política prisional adotada em Minas Gerais teve outros aspectos a serem mencionados. A partir de 2003 houve um incremento da população prisional no estado que, para Sapori, representou a incapacitação dos criminosos e a consequente redução das oportunidades para a ocorrência de novas ações criminosas. Além disso, alguns programas foram colocados em curso; a seguir, mencionaremos brevemente dois destes programas.

2.6.1 O Programa Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas à Prisão (CEAPA)

O governo de Minas Gerais, por meio da então Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, desenvolvera o Programa CEAPA em 2002 e seu aporte financeiro tinha como fonte o Ministério da Justiça. Este programa estabelecera-se segundo os parâmetros da Central Nacional de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas (CENAPA) do Ministério da Justiça. No ano de 2003, a SEDS assume integramente o programa. Trata-se é uma política pública cujo objetivo é criar as condições necessárias ao cumprimento das penas e medidas alternativas ao encarceramento no estado de Minas Gerais, e para isso o CEAPA conta com a participação de uma gama diversificada de atores sociais, entre eles estão o Tribunal de Justiça, o Ministério Público, a Defensoria Pública, membros da sociedade civil organizada, além, obviamente, da própria Secretaria de Defesa Social.

“Sendo parte integrante da política de prevenção social à criminalidade, o Programa não trabalha apenas com o viés da execução penal, mas busca garantir a inclusão social do público através de intervenções que visem à minimização das vulnerabilidades sociais através de ações que promovam a emancipação e a cidadania dos usuários, contribuindo com uma cultura de paz” (MINAS GERAIS, 2009, p.145).

O principal objetivo do CEAPA é o de acompanhar o cumprimento das penas alternativas ou pecuniárias determinadas pela justiça, ressaltando o caráter educativo da medida penal. (BONESSO, 2015). Para isso, os profissionais envolvidos nesse Programa – psicólogos, advogados, assistentes sociais, etc. - desenvolvem projetos temáticos de caráter educativo como os malefícios do uso de drogas, a violência contra a mulher, a violência no trânsito e meio ambiente. Além disso, há a promoção de palestras e seminários sobre o trabalho desenvolvido a fim de apresentar para a sociedade, entidades governamentais e não governamentais as alternativas penais que o estado de Minas Gerais concede aos seus condenados.

O CEAPA tem como alvo os réus primários, os não reincidentes e aqueles que cometeram delitos tidos como de menor gravidade. Sua aplicação decorre da seguinte forma: qualquer que seja a pena aplicada quando o crime for culposo; e quando a pena aplicada não for superior a quatro anos para crime doloso.

2.6.2 O Programa de Reintegração Social dos Egressos do Sistema Prisional (PRESP)

Fundado no ano de 2003 conforme a Lei de Execução Penal, art. 25, a partir do Decreto 43.295, o Programa de Reintegração Social dos Egressos do Sistema Prisional (PRESP) teve suas atividades iniciadas no segundo semestre de 2004 em três municípios, sendo ampliado no ano de 2006 para oito e, atualmente, presente em onze municípios.

Seu objetivo, de acordo com Bonesso (2015), é o de atender pessoas egressas do sistema prisional, familiares a agregados na tentativa de prevenir a reincidência criminal. Seu publico alvo restringe-se aos liberados definitivos do sistema penitenciário; livramento condicional a partir de acordos firmados com as Varas de Execuções Penais em cada município; prisão domiciliar, nos casos em que haja alguma condição imposta pelo juiz que viabilize a execução do programa; e, por fim, prisão albergue desde que observadas a condição do item anterior a este (MINAS GERAIS, 2009).