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Capítulo 1 – A segurança pública no Brasil: uma breve contextualização

1.4 O papel de cada ente da Federação na segurança pública

1.4.4 Pernambuco

Entre os anos de 2000 e 2005, o estado de Pernambuco apresentava uma taxa média de homicídios de 54,13 casos a cada 100 mil habitantes, sendo essa uma das médias mais elevadas do país (RATTON, GALVÃO e FERNADEZ, 2014). O problema da criminalidade violenta no estado pernambucano era algo irrefutável, tornando imprescindível a reformulação de sua política de segurança a fim de reverter esse quadro.

Até o ano de 2006 nada de efetivo tinha sido feito no estado na área de segurança pública, apenas algumas ações policiais pontuais de repressão. Em 2007 foi elaborado o Pacto pela Vida (PPV), um programa estadual de segurança pública concebido pela equipe do recém- eleito governador Eduardo Campos (PSB). Tal programa surge a partir de um processo de debate com a sociedade civil, servidores da área de segurança pública e alguns setores do governo.

O Pacto pela Vida pode ser considerado, então, um esforço conjunto entre diversos atores envolvidos com a temática de segurança na direção de sistematizar a reformulação de uma política pública nessa área. O PPV trouxe consigo inovações política, técnicas e gerenciais tendo como inspirações experiências consideradas bem sucedidas dentro e fora do Brasil, cuja prioridade fora o combate aos crimes violentos letais intencionais. O PPV

baseou-se em um extenso trabalho de pesquisa e diagnóstico da situação criminal no estado; esta pesquisa contou com a colaboração de especialistas além de representantes da sociedade civil, movimentos sociais e órgãos públicos, obviamente. A partir dos dados apresentados por esse diagnóstico, as áreas tomadas como problemáticas no que se refere ao crime e à violência serviram de base para o delineamento das ações do programa de segurança pública.

O PPV possui seis linhas de ação, a saber, a de repressão qualificada, de aperfeiçoamento institucional, de capacitação e formação, informação e gestão do conhecimento, de prevenção social do crime e da violência e de gestão democrática. Coordenando essas linhas de ação está o Comitê Gestor, que por sua vez divide-se em cinco grupos técnicos: prevenção da violência, repressão qualificada, ressocialização de egressos do sistema penitenciário, articulação com a justiça e enfrentamento ao crack (RATTON, GALVÃO e FERNANDEZ, 2014).

Evidentemente que estas experiências citadas acima a título de exemplo apresentaram limitações. A implementação das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro, por exemplo, carregou consigo algum aspecto relativo, o que significa que nem todas as UPPs em atividade podem ser consideradas um exemplo de intervenção estatal numa comunidade com elevados índices de violência. Existem aquelas que são denominadas por Pfeifer e Rios (2013) de UPPs vitrine, ou seja, são unidades consideradas de “cinco estrelas” que por isso são as mais evidenciadas pelo governo estadual quando este procura evidenciar suas ações na área de segurança. Atualmente boa parte delas enfrenta sérias dificuldades de operação e manutenção, onde até mesmo a infraestrutura de algumas unidades chega a ser questionada. Há também a hipótese de que a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro priorizou e prioriza as UPPs instaladas nas favelas localizadas em áreas nobres da capital fluminense, oferecendo, portanto, não a proteção prometida aos moradores das favelas onde se encontram estas unidades, mas sim aos bairros mais valorizados do Rio de Janeiro que se localizam nas proximidades das mesmas (PFEIFER e RIOS, 2013).

Os estados de São Paulo e Pernambuco carregam consigo a antiga problemática representada pelo sistema penitenciário. Ambos sofrem – não muito diferente restante do país – de uma carência de medidas voltadas para este setor. Embora os estados tenham avançado na redução da violência, sobretudo do homicídio, pouco se fez pelo sistema penitenciário. Crescimento vertiginoso da população carcerária ocasionando superlotação das unidades

prisionais, facções dominantes que de tempos em tempos comandam rebeliões nas penitenciárias e ações criminosas fora delas e condições desumanas do cárcere são apenas alguns dentre tantos problemas que assombram o sistema penitenciário brasileiro; em Pernambuco e em São Paulo não poderia ser diferente, embora ambos tenham planejado ações nesta área.

A política de segurança pernambucana foi alvo de críticas também pelo fato de ter estipulado a meta anual de 12% na redução dos CVLIs. Tal meta teria partido de uma estimativa média inspirada em outras políticas de segurança dentro e fora do país. Para os críticos essa meta não levou em consideração a análise contextual do estado de Pernambuco, dificultando o seu alcance. Além disso, os 138 projetos de ação inicialmente previstos no Pacto Pela Vida seriam dificilmente executados devido ao tamanho do escopo idealizado pelo programa (MACEDO, 2012b).

Por fim, a política pública de segurança de Minas Gerais apresentou sérias limitações no que diz respeito ao programa de integração das ações policiais no estado. Uma medida ousada que ao mesmo tempo em que fora admirada pela capacidade de unificação que apresentou, mostrou-se extremamente frágil graças a disputas corporativas inerentes ao relacionamento problemático existente entre as polícias militar e civil e à falta de uma liderança capaz de lapidar as arestas existentes entre as duas instituições.

Estes são apenas exemplos de estados que na primeira década dos anos 2000 executaram políticas públicas de segurança consideradas modelos no combate à criminalidade e à violência. Nos próximos capítulos iremos debruçar-nos em dois destes estados: Minas Gerais e Pernambuco. Nestes capítulos a seguir tentaremos explorar mais a fundo os elementos que cada estado utilizou e que foram fundamentais para a redução de suas taxas de criminalidade, sobretudo as taxas de homicídios. Tentaremos analisar o que os aproxima e o que os distancia em relação às políticas adotadas em ambos estados.