• Nenhum resultado encontrado

5. Estudos de caso

6.1. Contextos dos processos de licenciamento ambiental

6.1.2. Companhia Cimento Portland Itaú (Mineração Belocal)

O processo histórico da construção do espaço em São José da Lapa foi condicionado à implantação de unidades industriais importantes ligadas ao setor de extração mineral e de transformação, e a percepção ambiental da população se desenvolveu concomitantemente ao processo de crescimento dos níveis socioeconômicos e da aparente melhoria da qualidade de vida da população (COPAM, 1999).

A Cia Cimento Portland Itaú, ao mesmo tempo em que se constituiu em uma das principais atividades econômicas do município de São José da Lapa, apresentou-se também como a principal fonte de emissão de poluição e de degradação do ambiente local.

Outro ponto a ser destacado é o fato de que o desenvolvimento do município foi condicionado pela implantação das indústrias de cal e pelo fato de que uma parcela significativa da população passou a trabalhar tanto na Companhia Cimento Portland Itaú como na ICAL; aqueles que não participaram desse processo tornaram-se meros representantes do mercado informal de trabalho.

Apesar do vínculo empregatício com as referidas empresas, os moradores de São José da Lapa adquiriam, com o passar do tempo, uma razoável consciência ecológica e política, advinda da percepção da poluição e da degradação ambiental que as atividades produtivas estavam causando no município e, por meio de mobilização e de reivindicações, cobraram melhorias para a qualidade de vida dos empregados das fábricas e dos moradores.

A organização de associações de moradores pela melhoria da qualidade de vida em São José da Lapa começou a se formar no início da década de 1990, ou seja, antes do processo de emancipação do município, ocorrido em 1992, quando este ainda era Distrito do município de Vespasiano. Esses moradores registraram em atas das reuniões que realizaram, não somente os problemas relativos aos processos industriais desenvolvidos em São José da Lapa, como também os anseios e as aspirações populares (COPAM, 1999).

Assim em 23 de setembro de 1999, foi fundada a LAPA – Associação Lapense de Defesa do Meio Ambiente, com o objetivo de “lutar contra os atos de degradação do meio ambiente provocados pelas indústrias poluidoras da região, através de trabalhos de vigilância e proteção e desenvolvimento de projetos de educação ambiental” (COPAM, 2000).

Além da LAPA, outros grupos se destacaram nas discussões relacionadas ao meio ambiente e à proposição de ações visando a preservação e a melhoria da qualidade ambiental: a CIMA – Comissão Interna de Meio Ambiente da Companhia Cimento Portland Itaú; o CODEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente; a Câmara de Vereadores de São José da Lapa e a Associação Comunitária de São José da Lapa.

Os trabalhos executados pela LAPA abrangeram a realização de reuniões com entidades ambientalistas, contatos com representantes das empresas, registros de denúncias de infrações junto aos órgãos ambientais estaduais, à Prefeitura Municipal e à Promotoria de Justiça de Vespasiano. Destaca-se que a LAPA atuava em prol da melhoria da qualidade de vida em São José da Lapa mesmo antes da sua oficialização de sua criação em 1999. O esforço na busca de soluções para o problema ambiental de São José da Lapa pode ser percebido a partir da análise do Quadro 6.1, elaborado a partir de documentos da associação, que evidenciam um grande envolvimento nas questões relacionadas ao licenciamento ambiental da Cia de Cimento Portland Itaú.

A Associação Lapense de Meio Ambiente, que contou com o auxílio de autoridades, de entidades ambientalistas, de órgãos de fiscalização, da comunidade lapense e de pessoas de outras cidades e sempre teve o propósito “lutar no combate à poluição”, encontrou dificuldades para obter resultados com relação à minimização da emissão de poluentes e a redução da degradação ambiental no município.

Quadro 6.1. Movimentos sociais: a atuação da LAPA durante o processo de licenciamento ambiental da Cia Cimento Portland Itaú

Ano Mês Ações

Maio Parceria com João Bosco Senra (Secretário Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte no Governo Patrus Ananias e Diretor Geral do IGAM no Governo Itamar Franco).

Junho Realização de um abaixo-assinado e coleta de provas da poluição atmosférica em São José da Lapa – receitas médicas, controles de vacina, reportagens de jornais, fotos, folhas de árvores, objetos deixados no tempo.

Julho João Bosco Senra fez denúncias ao Prefeito Municipal, com base na Lei 9.605/98.

Agosto Realizada outra denúncia ao Prefeito Municipal.

Setembro Resposta do CODEMA às denúncias, informando que estavam sendo tomadas providências.

Outubro Encaminhamento de denúncia à Fundação Estadual de Meio Ambiente.

1998

Dezembro Fiscalização realizada por técnico do COPAM, que constatou inúmeras irregularidades, o que resultou em um Auto de Infração.

Abril Encaminhamento do processo da população de São José da Lapa relativo à poluição atmosférica ao Dr. Jarbas Soares, então Promotor de Justiça de Meio Ambiente

Maio

Envio de ofício à Promotoria de Justiça da Comarca de Vespasiano, pela Secretária da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural, Alessandra Mendes Vasconcelos, denunciando dano ambiental provocado pela Cia. Portland Itaú.

Junho

Reunião com o Presidente da FEAM Dr. José Cláudio Junqueira e toda diretoria do órgão, com o Diretor Geral do IGAM e com o Dr. Humberto Lóes técnico do COPAM, para relato dos problemas ambientais sofridos pela população. Nesta ocasião, foi prometida a colocação de aparelhos para monitoramento da poluição atmosférica em São José da Lapa, mas nada foi feito.

Julho Reunião novamente com o Dr. Humberto Lóes do COPAM para denunciar que os níveis de poluição continuavam inalterados.

Agosto Elaboração do Estatuto da Associação.

Setembro Aprovação do Estatuto; fundação da LAPA; posse da primeira diretoria da Associação.

Denúncia realizada pela Deputada Federal Maria do Carmo Lara através de um pronunciamento no Plenário da Câmara dos Deputados sobre a poluição em São José da Lapa.

Participação em Feira Cultural de Ciências da Escola Estadual Elias Issa, com o objetivo de apresentar a LAPA e sua diretoria a todos os presentes.

Reunião realizada no COPAM, com representantes da Cia Cimento Portland Itaú e da ICAL, para solicitar a comunicação do Protocolo do Pedido de Licença Corretiva para marcação da Audiência Pública para apreciação do pedido de licenciamento ambiental da Itaú. Nesta reunião foi constatada ainda, a omissão pela Itaú de informações nos relatórios enviados ao COPAM.

Outubro

Reunião com Dr. Humberto Lóes do COPAM e representantes da Itaú e da ICAL. Após esta reunião a Licença de Operação da Itaú foi suspensa e a empresa teria 30 dias para apresentar o Plano de Controle Ambiental e publicar.

Palestra aos alunos do 3º da Escola Elias Issa

Novembro Visita à instalação da Itaú, onde os técnicos da empresa mostraram seus projetos para o combate à poluição (Em visita realizada em 1995, foram apresentados projetos para outra comissão, porém foi constatado que pouca coisa foi feita)

Visita à Deputada Maria do Carmo, membro da Comissão de Saneamento, para relatar que a empresa continuava a poluir intensamente.

1999

Dezembro

Reunião realizada no IGAM, com o Diretor Geral João Bosco Senra, para tratar do assunto poluição em São José da Lapa.

Fevereiro Protocolo de requerimento na FEAM, solicitando o agendamento de uma Audiência Pública Abril Solicitação da intervenção da OAB nas questões ambientais do município de São José da Lapa

através de abaixo-assinado e cópias de documentos diversos.

Solicitação da intervenção do proprietário da empresa, Dr. Antônio Ermínio de Moraes, em relação aos graves problemas causados pelas atividades da Cal Itaú..

Maio

Solicitação de intervenção do presidente da FEAM, na mudança do dia da Audiência pública marcada para o dia 04/07/2000, terça-feira para sábado

2000

Julho Realização da audiência pública no dia 04/07/2000.

Fonte: Elaborado a partir de COPAM (2000)

Devido à pressão da população e da própria LAPA, e após reunião realizada em outubro de 1999 entre representantes da Cia Cimento Portland Itaú, da ICAL e da FEAM, a Licença de Operação da Itaú foi suspensa. Em conseqüência, no dia 10 de fevereiro de 2000, a Cia Cimento Portland Itaú protocolou solicitação requerendo a concessão de nova licença de operação.

A audiência publica sobre o Relatório de Controle Ambiental - RCA referente à extração e beneficiamento de calcário68 e da fábrica de cal69 da Companhia Cimento Portland Itaú, foi realizada dia 14 de julho de 2000, no salão Praça de Esportes em São José da Lapa.

Embora a audiência pública tenha sido única, os dois processos de licenciamento ambiental – da mineração e da fábrica de cal – foram conduzidos separadamente dentro da FEAM, de acordo com as funções precípuas de suas áreas funcionais.