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4. A questão ambiental em Minas Gerais

4.2. O início da estruturação da área ambiental em Minas Gerais

deliberativas da política ambiental que contivessem em sua origem e orientação a racionalidade técnica e a participação da sociedade como pressupostos para a construção de consensos e a conciliação de interesses antagônicos que a gestão ambiental pública obriga” (Grifos da autora).

Ressalta-se também a preocupação com as medidas de prevenção da poluição, prioritariamente ao seu controle, como destacado por Juarez da Távora Veado (FJP/FEAM, 1996; PROBLEMA, 1975): “(...) faz-se necessário o exame das repercussões da instalação de uma indústria antes de sua implantação, tendo como meta a conciliação entre desenvolvimento e conservação ecológica”.

A percepção da relação entre meio ambiente e desenvolvimento tecnológico evoluiu para a realização de trabalhos em três vertentes, iniciados na FJP e continuados no CETEC, após a fusão de suas estruturas: a avaliação dos recursos naturais, cujas ações destinou-se a subsidiar a elaboração dos Planos Regionais de Desenvolvimento Integrado;

o desenvolvimento tecnológico, cujos estudos compreendiam setores de tecnologia industrial e de infra-estrutura, energia, tecnologia agropecuária e transportes; e a proteção ambiental e o controle da poluição, cujos estudos desenvolveram-se nas seguintes áreas temáticas: levantamento da situação ambiental da Região Metropolitana de Belo Horizonte, análise da situação ambiental nos planos regionais, recursos hídricos, poluição industrial e parques e reservas naturais.

A criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia representou uma solução parcial para o cumprimento das funções públicas relacionadas ao controle da poluição e à redução dos níveis de degradação ambiental decorrente da ampliação do parque industrial em Minas Gerais.

Um dos motivos principais para isso foi a forte mobilização exercida pelo setor industrial, contrária aos interesses ambientalistas, que resultou no atraso da instituição de uma estrutura político-institucional sólida no Estado. O estabelecimento da política ambiental exigia, além de uma estrutura orgânica adequada, a elaboração de normas e padrões, os quais, na visão empresarial, certamente, exerceriam um efeito restritivo sobre as atividades industriais (FJP/FEAM, 1996).

O setor industrial fazia-se representar, nessa época, pelas entidades empresariais – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG e a Associação Comercial de Minas – ACM , pela Secretaria de Estado de Indústria Comércio e Turismo e pelo sistema de fomento à atividade industrial do Estado, constituído pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG, Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – INDI e Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais – CDI. e apoiava-se, ainda, na atuação do Departamento de Águas e Energia – DAE, responsável pela outorga do uso dos recursos hídricos, com a finalidade precípua de geração de energia hidrelétrica, uma vez que o órgão estava vinculado à CEMIG31.

Com capacidade de mobilização e veiculação de seus interesses na imprensa, bem como de organização de lobbies junto à Assembléia Legislativa de Minas Gerais e à burocracia estadual, o setor industrial foi o principal opositor ao avanço das articulações realizadas para a instituição de uma estrutura político-institucional ambiental no Estado (FJP/FEAM, 1996).

Mesmo sendo susceptível às influências do setor industrial, o governo mineiro manteve sua intenção de instituir a política ambiental no Estado, e para isso assumiu o compromisso de criar, no âmbito da SECT, a Comissão de Política Ambiental – COPAM.

José Israel Vargas foi nomeado secretário de Ciência e Tecnologia, constituindo-se no principal ator das articulações políticas favoráveis à área ambiental e, na condição de presidente do CETEC, investiu na área tecnológica, um dos pilares da política de meio

31 No final da década de sessenta, para ampliar o mercado consumidor de energia elétrica, a CEMIG promoveu grande mobilização em favor industrialização do Estado, incentivando a associação de empresas nacionais ao capital estrangeiro. Tal fato também contribuiu para o atraso da área ambiental no Estado de Minas Gerais.

ambiente estadual. A maior parte da equipe da DTMA/FJP foi transferida para o CETEC, dotando o órgão de capacitação técnica para atuar, também, nas questões relativas ao meio ambiente (FJP/FEAM, 1996).

Em abril de 1977, por meio do Decreto-Lei nº 18.466, foi criada a Comissão de Política Ambiental – COPAM, como órgão colegiado integrante do Sistema Operacional de Ciência e Tecnologia do Estado de Minas Gerais. As normas de organização e funcionamento da COPAM foram estabelecidas no Decreto Estadual nº 18.662, de 24 de agosto de 1977, e incluíam a atuação de um Plenário32 e de cinco câmaras temáticas:

Câmara de Poluição Industrial, Câmara de Poluição por Adubos Químicos e Defensivos Agrícolas, Câmara de Política Ambiental, Câmara de Defesa de Ecossistemas e Câmara de Mineração e Bacias Hidrográficas 33.

A função executiva da COPAM foi exercida, inicialmente, pelo CETEC e, segundo Ribeiro (2008), “se caracterizou pelo apoio técnico necessário à instrução das discussões e das deliberações do órgão colegiado”.

Em janeiro de 1983, com a publicação do Decreto Estadual nº 22.658, foi criada a Superintendência de Meio Ambiente – SMA, que passou a integrar a estrutura orgânica da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, que passou a atuar no planejamento e desenvolvimento e na fiscalização e controle ambiental, assumindo a função executiva de apoio a COPAM, antes exercida pelo CETEC (FJP/FEAM, 1999). Cabe destacar que suas atribuições deveriam privilegiar as ações de caráter preventivo e de orientação de condutas.

A área ambiental passou a contar com a atuação de duas instituições, mas a parceria não se consolidou, principalmente devido a “diferenciação entre as posturas assumidas pelos dois órgãos”, pois a “SMA, com uma leitura política do problema ambiental e tendia para uma solução negociada, enquanto que no CETEC as questões submetiam-se a uma

32 De acordo com o artigo 5º do Decreto nº 18.662, a composição do Plenário da COPAM era a seguinte: I - Presidente é o Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia; II - Secretários-Adjuntos das seguintes Secretarias de Estado: Agricultura, Indústria, Comércio e Turismo, Planejamento e Coordenação Geral, Saúde, Segurança Pública; III - Representantes dos seguintes órgãos e entidades: Secretaria Especial do Meio Ambiente do Ministério do Interior - SEMA; Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais; órgão estadual de proteção e conservação da natureza; Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de Minas Gerais - DAE; Associação Comercial de Minas Gerais; IV - do Presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado; V - de cientistas, tecnólogos, pesquisadores ou pessoas de notório saber, dedicados à atividade de preservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida em número de 4 (quatro), de livre escolha do Governador do Estado.

33 O número de câmaras evoluiu para seis com o desdobramento da Câmara de Mineração e Bacias

avaliação rigorosamente técnica” (ASSIS, 1996 apud FJP/FEAM, 1999). A SMA também padecia com a carência de recursos humanos e precária capacitação técnica34, e com problemas de infra-estrutura laboratorial, biblioteca, e disponibilidade de veículos.

Em dezembro de 1987, a Comissão de Política Ambiental se transformou no Conselho Estadual de Política ambiental, através da Lei nº. 9.514, e a SECT foi transformada em Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTMA, dando início a um novo período de implementação da política ambiental no Estado.

O COPAM passou então a ser responsável pela definição de prioridades das ações do governo ao longo de seu processo de consolidação e, conseqüentemente, uma ação fiscalizadora, e a exercer poder de polícia na defesa e melhoria da qualidade ambiental.

Esse período de atuação conjunta da SMA e do CETEC em apoio ao COPAM durou até 1988, quando foi criada a Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM.

4.3. A era da Fundação Estadual do Meio Ambiente e a criação da Secretaria de