• Nenhum resultado encontrado

COMPARAÇÃO DA EXPERIÊNCIA E PREFERÊNCIAS DOS PAIS

CAPITULO III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5. COMPARAÇÃO DA EXPERIÊNCIA E PREFERÊNCIAS DOS PAIS

O quadro nº 30 promove uma análise importante quando se pretende fazer a comparação da experiência e preferências dos pais. Assim, seleccionando apenas as respostas “Muito”de cada uma das dimensões do comportamento do médico analisadas e apresentando-as por ordem

QUADRO nº 30 – Comparação de Percentagens de Respostas Muito - ordem decrescente (categoria 4 e 5)

EXPERIÊNCIA DOS PAIS PREFERÊNCIA DOS PAIS

66,7% Médicos mostram segurança 98,3% Quantidade de informação que os médicos dão

55,6% Médicos permitem aos pais falar 98,3% Médicos mostram preocupação 48,9% Médicos controlam a conversa 96,7% Médicos permitem aos pais falar 46,7% Médicos tentam fazer os pais sentir-se

melhor

96,7% Médicos fazem referência para outros pais

42,2% Quantidade de informação que os

médicos dão 95% Médicos permitem aos pais mostrar os seus sentimentos 42,2% Médicos discutem possível atraso

mental

95% Médicos mostram segurança

40% Médicos permitem aos pais mostrar os

seus sentimentos 93,3% Médicos tentam fazer os pais sentir-se melhor 35,6% Médicos mostram preocupação 88,3% Médicos discutem possível atraso

mental

35,6% Médicos mostram sentimentos 65% Médicos mostram sentimentos 13,3% Tempo que os médicos levam até dar a

má notícia

13,3% Médicos controlam a conversa

6,7% Médicos fazem referência para outros pais

10% Tempo que os médicos levam até dar a má notícia

173

decrescente é possível verificar que, relativamente à experiência dos pais, dos onze itens, apenas dois receberam um valor superior a 50%, apesar de outros quatro revelarem um valor percentual superior a 40%.

Na experiência dos pais, o tempo que os médicos levam a dar a má notícia e a referência para colocar em contacto com outros pais surge com um valor percentual muito baixo.

Na preferência, o desejo de contactar com outros pais deixa de ser classificado entre os valores mais baixos. Por seu lado, a dimensão do comportamento do médico controlam a

conversa desce para os últimos lugares da hierarquia estabelecida no quadro nº 30. Assim, no âmbito das preferências, esta é uma dimensão pouco desejada. O tempo que os médicos levam até dar a má notícia mantém-se com um valor percentual baixo.

Os pais desejam que os médicos adoptem frequentemente o comportamento quantificado como muito elevado nas seguintes dimensões (traduzido nos valores obtidos acima de 90%): Quantidade de informação que os médicos dão, Médicos mostram preocupação, Médicos

permitem aos pais falar, Médicos fazem referência para outros pais, Médicos permitem aos pais mostrar os seus sentimentos, Médicos mostram segurança e Médicos tentam fazer os pais sentir-

se melhor.

Do quadro nº 31, entende-se que os pais desejam que as dimensões Quantidade de

informação que os médicos dão, Médicos mostram preocupação, Médicos permitem aos pais falar, Médicos fazem referência para outros pais, Médicos permitem aos pais mostrar os seus sentimentos, Médicos mostram segurança e Médicos tentam fazer os pais sentir-se melhor, assinaladas mais de 90%, tenham uma frequência muito superior àquela que aconteceu na sua experiência vivida. Mesmo quando o seu valor já era superior a 50%, os pais preferem a sua intensificação como se verifica nas dimensões Médicos mostram segurança e Médicos permitem

aos pais falar.

No entanto, podemos considerar a existência de uma inversão em relação ao comportamento do médico manifestado na experiência dos pais e o que estes sentem como desejável para as seguintes quatro dimensões:

• Médicos controlam a conversa

Quase metade dos pais refere que o grau de controlo da conversa por parte do profissional foi muito elevado, significando isto que foi profissional que falou, não deixando muito espaço para falar e/ou que os pais dirigissem a conversa. Apenas 13,3% dos pais desejam que esse comportamento do médico aconteça numa situação ideal. Esta é a única dimensão cuja inversão aponta no sentido da diminuição da frequência do comportamento do médico como ideal.

• Médicos mostram preocupação

Praticamente todos os progenitores (98,3%) desejam que o médico manifeste a sua preocupação com o que eles estão a sentir naquele momento, comportamento só verificado em 35,6% das situações vivenciadas.

174

Também só percepcionada em 35,6% dos casos, esta dimensão revela uma inversão em relação ao desejo manifestado pelos progenitores para uma situação ideal. No entanto, com 65%, não obteve uma posição tão consensual como a anterior.

QUADRO nº 31 – Comparação das Respostas Muito das Dimensões do Comportamento do Médico

(categoria 4 e 5)

EXPERIÊNCIA DOS PAIS PREFERÊNCIA DOS PAIS

Elementos de Interacção Elementos de Interacção

Médicos controlam a conversa 48,9% Médicos controlam a conversa 13,3% Médicos permitem aos pais falar 55,6% Médicos permitem aos pais falar 96,7% Médicos permitem aos pais mostrar os

seus sentimentos

40% Médicos permitem aos pais mostrar os seus sentimentos

95%

Médicos tentam fazer os pais sentir-se melhor

46,7% Médicos tentam fazer os pais sentir-se melhor

93,3%

Gestão da Informação Gestão da Informação

Tempo que os médicos levam até dar a má notícia

13,3% Tempo que os médicos levam até dar a má notícia

10%

Quantidade de informação que os médicos dão

42,2% Quantidade de informação que os médicos dão

98,3%

Médicos discutem possível atraso mental

42,2% Médicos discutem possível atraso mental

88,3%

Atributos Profissionais Atributos Profissionais

Médicos mostram preocupação 35,6% Médicos mostram preocupação 98,3%

Médicos mostram segurança 66,7% Médicos mostram segurança 95%

Médicos mostram sentimentos 35,6% Médicos mostram sentimentos 65%

Médicos fazem referência para outros pais

6,7% Médicos fazem referência para outros pais

96,7%

• Médicos fazem referência para outros pais

Sendo um comportamento quase inexistente na vivência dos progenitores (6,7%), os dados do quadro recomendam que, numa situação ideal, o comportamento do médico seja exactamente o contrário, já que foi apontado como muito importante que o médico o faça (96,7%).

175 QUADRO nº 32 – Resultados Estatísticos

Comparação Da Experiência E Preferências Dos Pais Teste ANOVA - Médias

Dimensões do Comportamento do Médico

Variável dependente M H

Exp. Pref. Exp. Pref. Elementos de interacção:

Médicos controlam a conversa 3,69 2,26 3,69 2,88

Médicos permitem aos pais falar 3,53 4,88 3,71 4,65

Médicos permitem aos pais mostrar

os seus sentimentos 3,24 4,76 3,71 4,76

Médicos tentam fazer os pais sentir-

se melhor 3,12 4,82 3,59 4,71

Gestão da informação:

Tempo que os médicos levam até dar a má notícia (chegam ao assunto com rapidez...)

1,53 1,93 2,53 2,13

Quantidade de informação que os

médicos dão 2,88 4,88 3,25 4,88

Médicos discutem possível atraso

mental 3,13 4,88 3,00 4,50

Atributos profissionais

Médicos mostram preocupação 2,38 4,69 3,25 4,81

Médicos mostram segurança 4,18 4,82 3,76 4,47

Médicos mostram sentimentos 2,82 4,29 3,12 4,06

Médicos fazem referência para

176 QUADRO nº 33 – Resultados Estatísticos(Cont.)

Comparação Da Experiência E Preferências Dos Pais DIMENSÕES DO

COMPORTAMENTO DO MÉDICO

Variável dependente

Teste ANOVA – Res. significativos Ef. Princip/

F P Interacção Elementos de interacção:

Médicos controlam a conversa 7,01 .018 1

Médicos permitem aos pais falar 15,64 .001 1

Médicos permitem aos pais

mostrar os seus sentimentos 15,69 .001 1

Médicos tentam fazer os pais

sentir-se melhor 22,02 .0002 1

Gestão da informação:

Tempo que os médicos levam até dar a má notícia (chegam ao assunto com rapidez...) - enrolar

4,73 .05 12

Quantidade de informação que os

médicos dão 23,58 .0001 1

Médicos discutem possível atraso mental

17,98 .0001 1

Atributos profissionais

Médicos mostram preocupação 53,19 6,00 3,14 .0001 .03 .096

**

1 2 12

Médicos mostram segurança 6,23 .024 1

Médicos mostram sentimentos 17,95 .0006 1

Médicos fazem referência para

outros pais 1240,69

*

.0000 1

(* com um F muito forte)

( ** valor marginalmente significativo – p menor que .1)

Optámos por utilizar o teste ANOVA (2 factores) para o tratamento estatístico, com a finalidade de atingir objectivos a que nos propusemos no início do trabalho.

Este método estatístico foi utilizado de forma a averiguar a existência de diferença entre a experiência dos progenitores (emparelhada) e o seu desejo relativamente ao papel do médico numa situação de anúncio hipotética, relativamente às dimensões do comportamento do médico,

177

previamente definidas e que constituíram variáveis dependentes a analisar – efeito principal 1. Por outro lado, foi utilizado para averiguar a existência de diferenças entre género – efeito principal 2. Por último, verificar a existência de uma interacção entre estes – efeito 1 2.

Podemos afirmar que existe falta de potência do teste, no sentido em que se a amostra fosse maior algumas variáveis poderiam ser significativas.

Passando à análise dos resultados, evidencia-se que apenas foi encontrado um valor significativo quando considerado o efeito principal 2, isto é diferenças entre sexos:

As mulheres querem que os médicos manifestem menos preocupação do que os homens acerca do que sentem na altura do anúncio (F(1,15)=6,00; p<,0271; MQE=,67). Comparando o valor das médias, verificou-se que as mulheres querem que os médicos manifestem menos preocupação tanto em relação àquilo que desejariam que acontecesse como em relação à sua experiência.

Focalizando-nos na comparação da experiência dos progenitores e do seu desejo em relação a uma situação ideal, os valores significativos foram descritos nos quadros nº 32 e 33 e seguidamente analisados por dimensão:

Dimensões do Comportamento do Médico Elementos de interacção:

Médicos controlam a conversa:

Para esta variável, comparando o valor das médias relativas à experiência dos progenitores e o valor das médias relativas ao seu desejo em relação à forma como gostariam que acontecesse, podemos concluir que os sujeitos da amostra desejavam que o profissional de saúde tivesse menor grau de controlo da conversa do que, efectivamente, vivenciaram na sua situação de anúncio da deficiência do seu próprio filho, conclusão reforçada estatisticamente (F(1,15)=7,01; p<,0183; MQE=1,87).

Médicos permitem aos pais falar

Os progenitores manifestaram que ambicionariam que os médicos lhes dessem mais oportunidade de falar, numa situação ideal, do que, efectivamente, tiveram na sua experiência do anúncio da deficiência da sua criança (F(1,16)=15,64; p<,0011; MQE=1,43).

Médicos permitem aos pais mostrar os seus sentimentos

É do entendimento dos progenitores que o médico deveria ter mais preocupação com a forma como se estão a sentir no momento do anúncio do que tiveram na experiência por vivida si (F(1,16)=15,69; p<,0011; MQE=1,81).

Médicos tentam fazer os pais sentir-se melhor

O número de tentativas que os médicos devem desencadear para fazer com que os pais se sintam melhor é considerado maior na situação hipotética do que aquele que tiveram na sua vivencia pessoal (F(1,16)=22,02; p<,0002; MQE=1,54).

178

Gestão da informação:

Tempo que os médicos levam até dar a má notícia (chegam ao assunto com rapidez...)

A interacção verificada para esta variável é significativa. As mulheres consideram que numa situação ideal os médicos deveriam levar mais tempo até lhes dizer explicitamente que a sua criança é portadora de deficiência do que o tempo que levaram, aquando do anúncio da deficiência do seu filho. Inversamente, os pais desejam que os médicos levem menos tempo até lhes dizerem explicitamente o problema da sua criança numa situação ideal do que aquele que demoraram na situação por si vivenciada (F(1,14)=4,73; p<,0472; MQE=,51).

Esta interacção é representada no gráfico seguinte:

GRÁFICO nº 1 Interacção entre Tempo que os médicos levam até dar a má notícia e o género

Quantidade de informação que os médicos dão

É revelada a preferência de os médicos darem mais informação do que a que obtiveram na sua experiência vivida(F(1,15)=23,58; p<,0002; MQE=2,23).

Médicos discutem possível atraso mental

M/H level_1 M/H level_2 Plot of Means 2-way interaction F(1,14)=4,73; p<,0472 ENROL V a ri a b le : V a r. 1 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 level_1 level_2

179

Os progenitores preferem que o médico discuta mais com eles a possibilidade de existirem dificuldades de aprendizagem ou deficiência mental numa situação imaginária do que realmente aconteceu durante o anúncio da deficiência do seu filho (F(1,15)=17,98; p<,0007; MQE=2,35).

Atributos profissionais

Médicos mostram preocupação

Os progenitores manifestam que desejam mais preocupação da parte dos médicos do que, de facto, tiveram na sua própria experiência (F(1,15)=53,19; p<,0000; MQE=1,13).

Como já foi referido, podemos afirmar que as mulheres querem que os médicos manifestem menos preocupação do que os homens acerca do que sentem na altura do anúncio (F(1,15)=6,00; p<,0271; MQE=,67). Comparando o valor das médias, verificou-se que as mulheres, tanto em relação àquilo que desejariam que acontecesse como em relação à sua experiência, assinalaram menos preocupação do que os homens na mesma situação.

Os resultados apontam para a existência de uma interacção (F(1,15)=3,14; p<,0967; MQE=,72). Com um resultado marginalmente significativo, podemos dizer que aponta para o sentido de que com uma amostra maior tornar-se-ia significativo. Logo, podemos apontar para que todos desejavam mais preocupação do que tiveram da parte dos médicos, mas a diferença entre o que aconteceu e o desejado é maior nas mulheres:

GRÁFICO nº 2 Interacção entre a preocupação manifestada pelo médico e o género

M/H level_1 M/H level_2 Plot of Means 2-way interaction F(1,15)=3,14; p<,0967 PREOC V a ri a b le : V a r. 1 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 level_1 level_2

180

Médicos mostram segurança

Os progenitores revelaram que desejam que o médico deve mostrar-se mais seguro do que, de facto, aconteceu na sua própria situação (F(1,16)=6,23; p<,0238; MQE=1,25).

Médicos mostram sentimentos

Os progenitores manifestam que é seu desejo que o médico mostre mais os seus próprios sentimentos do que, na realidade, lhes aconteceu no anúncio da deficiência do seu filho (F(1,16)=17,95; p<,0006; MQE=1,38).

Médicos fazem referência para outros pais

Os progenitores consideram, com uma diferença muito acentuada, que seria muito importante o médico colocá-los em contacto com outros pais de crianças com problemas semelhantes à sua, mas que isso aconteceu muito menos vezes na sua experiência concreta (F(1,16)=1240,69; p<,0000; MQE=,19).

De um modo geral, a variável sexo não explica a variabilidade dos resultados. Excepcionalmente, é explicação para o tempo que os médicos levam até dar a má notícia, isto é se devem ou não chegar ao assunto com rapidez e para o grau de preocupação que os médicos devem mostrar em relação à forma como os pais se sentem.

181

6. PREFERÊNCIAS PARENTAIS QUANDO ANÚNCIADO POR UM