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CAPITULO III – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3. EXPERIÊNCIAS PARENTAIS QUANDO LHES DERAM O DIAGNÓSTICO DOS SEUS

3.2. Resultados da entrevista

3.2.2. Impacto do anúncio da deficiência

O impacto do anúncio da deficiência foi uma área temática da presente análise e na qual estão contidas as categorias “vivência (como vivenciou/sentiu)”, “Implicações familiares” e “Implicações psicológicas”.

Apesar da questão colocada se centrar em como e o que é que lhe disseram na altura do anúncio da deficiência dos seus filhos, muitos foram os pais (quarenta e seis) que introduziram nas suas respostas testemunhos da forma como vivenciaram aqueles momentos e as suas implicações.

Vivência (como vivenciou/sentiu)

No quadro nº 21 são apresentadas as frequências da categoria “vivência (como vivenciou/sentiu)”, por sub-categoria, sendo 38 o número total de entrevistados que proferiram unidades de registo passíveis de aqui serem integradas.

QUADRO nº 21 – Vivência (como vivenciou/sentiu) – Frequência por sub-categoria

CATEGORIA – VIVÊNCIA

Sub-categoria Frequência Sub-categoria

Sentimentos (o que sentiu) – B11

16 Condições/procedimentos facilitadores –

B12 1

Condições/procedimentos que dificultam

– B13 2

Relação com o profissional – B14 4

Ajuda/suporte – B15

1

Negação – B16 6

Reconhecimento/ valorização dos

sintomas – B17 3

Procedimento

correcto do médico – B18 5

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Sentimentos

De todas as sub-categorias pertencentes à categoria “vivencia (como vivenciou/sentiu)”, esta é a que tem uma frequência mais elevada (42,1%). Ao todo, destacam-se um total de dezasseis progenitores que mencionaram sentimentos vivenciados naquela altura. Para seis o termo choque foi o escolhido para transmitir o que sentiu naquele momento, enquanto que angustia foi o termo pelo qual cinco dos progenitores optaram para tal finalidade. Com menor frequência, registam-se as palavras confusão, revolta e medo, com duas referências para as primeiras e apenas uma para a última.

(…) mas o... que chocou mais foi... (“É pá, o seu filho é deficiente, vai ter dificuldades em andar, vai ter dificuldades em tudo, pronto vai ter dificuldades em tudo) (Ent. 29 – Pai)

(…) naquele momento fiquei com vontade de morrer (pára e chora). (E 17 - Mãe)

(...) sentimo-nos um bocado perdidos. (Ent. 22 – Pai)

Conjuntura/procedimentos facilitadores

Comentando a sua vivencia naquele momento, um pai referiu que sentiu como positivo o facto de o profissional não ter feito “grandes rodeios” (E 28 P).

(disse-me... sem grandes demoras) o que, de certa forma... foi positivo, porque quando eu sinto que as pessoas estão a fazer grandes rodeios, não me sinto bem com isso. (Ent. 28 – Pai)

Conjuntura/procedimentos que dificultam

Quanto à conjuntura/procedimentos que foram sentidos como proporcionadores de dificuldades importa referir um progenitor que refere a sua dificuldade em manifestar os seus sentimentos a outras pessoas e outro que refere à falta de preparação e consequente dificuldade em ouvir aquela informação.

(...) às vezes manifestei-me... não com as outras pessoas, mas comigo próprio... de partes negativas... arrancar sozinho a chorar, ou... sem comentar isso com alguém (...) (Ent. 55 – Pai)

(...) não estávamos preparados pra ouvir mais nada, não. (Ent. 10 – Pai)

Relação com o profissional

Ao todo, foram quatro as referências dos progenitores à forma como vivenciaram a relação com o profissional. Mais especificamente, metade aponta como difícil e condicionante o facto de ser o primeiro contacto com o profissional e os outros dois, exactamente no sentido contrário, apontam como facilitador o conhecimento prévio do profissional.

(...não me convencia que me pudesse ter acontecido uma coisa dessas.) Porque a minha mulher tinha muita confiança naquele médico (...) (Ent. 16 – Pai)

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Ajuda/suporte

A única afirmação de um entrevistado, classificada nesta sub-categoria adverte para a indiferença dos outros em relação ao seu sofrimento, deixando perceber a falta de suporte social formal e informal que sentiu naquele momento.

(...) fez-me uma confusão terrível) estar para ali com o meu filho e não conseguia parar de chorar e ninguém se lembrou, sequer, de me tirar o filho dos braços. (Ent. 17 – Mãe)

Negação

A negação surge como a segunda sub-categoria que regista maior frequência. Acreditar que o problema não era grave foi o que nos relatou um dos entrevistados como a sua reacção naquela altura. Outro dos entrevistados lembra-se de ter considerado a hipótese de um engano. Por fim, em número de quatro, são mencionadas expressões classificadas sob o indicador “recusa da realidade”.

(...) achamos sempre que as outras pessoas estão erradas... que os nossos filhos estão bem realmente (...) (Ent. 5 – Mãe)

(...) preferia acreditar que não tinha (sorri, nervoso) ( Ent. 9 – Pai)

Reconhecimento/valorização dos sintomas

O reconhecimento e valorização de sintomas evidenciados pelo emissor, fazem parte da maneira como três dos entrevistados se lembram de como vivenciaram o momento do anúncio da deficiência do seu descendente.

(...) depois, eu vi que a menina tinha realmente problemas (...) (E 10 – Mãe)

Procedimento correcto do médico

Esta é a terceira sub-categoria com maior frequência. Aqui apontam-se unidades de registo de cinco entrevistados que reconhecem como correcto o procedimento do médico durante aquele processo de comunicação.

(...) penso que, realmente, o otorino esteve bem na maneira como abordou o problema e a forma como deu as soluções (...) (Ent. 13 – Pai)

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Implicações familiares

Os aspectos referentes a esta categoria são apresentados no quadro nº 22 que nos revela a frequência da categoria “Implicações familiares”, descriminando-o por sub-categoria. Foi apurado um total de 4 referências que traduzem implicações familiares do impacto do anúncio da deficiência da criança.

QUADRO nº 22 – Implicações familiares – Frequência por sub-categoria

CATEGORIA – IMPLICAÇÕES FAMILIARES

Sub-categoria Frequência

Nos pais/sub-sistema conjugal 2

Na família alargada 2

Total 4

Nos pais/sub-sistema conjugal

Das quatro frequências registadas nesta categoria, duas referem-se às implicações familiares sentidas ao nível do sub-sistema parental, decorrentes do impacto do anúncio da deficiência da criança, nomeadamente à dificuldade em falar sobre o assunto com o cônjuge.

(O seu marido também não lhe tinha dito a si?)Não, ele não tinha coragem para dizer. Como via como ela estava (...) (Ent. 3 – Mãe)

Na família alargada

As outras duas referências da categoria, são incluídas nesta sub-categoria por traduzirem implicações familiares, mas que ultrapassam a família nuclear, designadamente traduzindo perturbação ao nível da comunicação intergeracional, mais especificamente, com os avós.

(...) não nos foi dito logo... porque é um bocadinho complicado as pessoas de fora (avós paternos) estarem-nos a dizer... que temos um filho com problemas, sendo ele o primeiro (filho) (...) (Ent. 5 – Mãe)

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Implicações psicológicas

À semelhança da categoria anterior, também com uma frequência de quatro entrevistados que se assinalam no quadro nº 23, constata-se a sua alusão a implicações psicológicas, mais especificamente, associando ao impacto do anúncio a dificuldade dos progenitores em lidar com a situação.

QUADRO nº 23 – Implicações psicológicas – Frequência por sub-categoria

CATEGORIA – IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS

Sub-categoria Frequência

Dificuldade em vivenciar a experiência 4

Total 4

Dificuldade em vivenciar a experiência

Efectivamente, foram quatro os progenitores que revelaram ter sentido dificuldade em lidar com a gestão daquela informação que traduzia uma realidade inesperada.

(vi que a menina tinha realmente problemas) (...) inclusive vi-me embora do hospital... não consegui ficar no hospital. (Ent. 10 – Mãe)

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