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CAPÍTULO 3 UMA VISÃO PANORÂMICA DO FUNCIONAMENTO DOS

4.1. Comparando os Serviços-Escola

Ao analisar os Serviços-Escola de Psicologia objetos da presente investigação, torna-se inevitável um olhar para a criação dos cursos de Psicologia, que datam dos anos 60 e 70 (com exceção do SE6, que foi criado já no século XXI, com 11 anos de funcionamento). Assim, é possível constatar que uma das mais frequentes críticas encontradas na literatura sobre os Serviços- Escola recai na prevalência, em tais contextos, da psicoterapia individual (por ser vista como modelo médico). Sobre essa crítica constante, chama atenção por ser a psicoterapia individual a prática mais procurada pela comunidade nos Serviços-Escola de Psicologia e oferecida por todos os Serviços.

Assim, como os demais Serviços estudados a psicoterapia individual é a principal atividade do SEPA, entretanto, ao contrário dos outros, as atividades em grupo são praticamente inexistente, encontrando os grupos em dois projetos de extensão.

Observa-se que a relação dos Serviços-Escola com os Departamentos de Psicologia ocorre de formas diferentes, havendo Serviços-Escola que são Órgão Suplementar dos Centros onde o curso de Psicologia está lotado e outros que estão vinculados ao próprio Departamento de Psicologia, como sendo um setor ou parte integrante deste. Entretanto, a direção dos Serviços é sempre exercida por docentes nos dois casos, indicando que, visto se tratar de um espaço de práticas necessárias a formação do futuro psicólogo, o aspectos acadêmico, de certo modo, se sobressai ao aspecto administrativo.

Quanto à estrutura e funcionamento, percebe-se que, de uma forma geral, todos dispõe de recursos que lhes permitem atender a demanda considerando as práticas que se propõem a desenvolver. O SE4 apresenta um maior número de salas para atendimento, tanto individual como em grupo, como também salas de observação. Já o SE3 funciona em um prédio antigo, vizinho à Universidade, que apresenta infiltrações na sua estrutura, o que provocou o fechamento de algumas salas. Em função das dificuldades na administração - hierarquização e centralização das decisões, o problema não tinha sido resolvido.

Analisando a equipe, chama atenção o SE6 que não tem servidores administrativos, funcionando com bolsistas do curso de psicologia. Os demais apresentam servidores técnicos com cargo de psicólogo e servidores administrativos. No SE3, os técnicos psicólogos não realizam atendimentos sendo responsáveis pela coordenação da triagem e dos atendimentos. Vale aqui salientar que não existem nesses serviços, profissionais de outras áreas, sendo um campo restrito ao psicólogo.

Das atividades realizadas, destacam-se a psicoterapia individual, em grupo, familiar (criança, adolescente, adulto e idoso) e de casais, o plantão psicológico (atendimento individual que faz parte das atividades de acolhimento ao usuário que por falta de vaga não pode ser acompanhado pelo Serviço ou situação emergencial) e projetos de extensão ofertados por técnicos e ou professores, do curso de Psicologia, atendendo as demandas da comunidade e se caracterizando como novas formas de atendimento dos Serviços-Escola. Os projetos de extensão, pela diversificação de temas, vêm preencher as lacunas existentes das práticas dos Serviços-Escola.

Quanto às práticas inovadoras, o SE1 e o SE2 sinalizam que tal se dá no âmbito dos projetos de extensão. No primeiro, é um trabalho voltado para a atenção primária à saúde. O segundo Serviço oferece um projeto de extensão aos alunos recém-formados que dedicam, como voluntários, algumas horas no serviço e em contrapartida têm supervisão e grupo de estudo com o psicólogo do Serviço. Projetos de extensão como Atendimento psicoterapêutico para imigrantes, Grupos de apoio psicológico para trabalhadores que sofreram assédio moral, grupo de apoio à família em situação de risco de suicídio, Atendimento psicoterapêutico para adultos e adolescentes diretamente afetados que pela violência de Estado, Saúde para a população Trans também merecem destaque como práticas inovadoras. Além dos projetos de extensão, outras atividades são destacadas como orientação profissional, avaliação neuropsicológica e apoio pedagógico.

Nota-se que a associação entre extensão e práticas inovadoras vem ao encontro de dados da literatura que assinalam serem os projetos de extensão o caminho para a inovação nos Serviços de Psicologia. A extensão dá oportunidade ao estudante de interagir e conhecer a realidade da comunidade e assim adquirir novos conhecimentos e produzir saberes.

Ainda sobre inovações nos Serviços, o SE3 cita o serviço de triagem. Os usuários são informados da data de inscrição que é feita em um dia. É esclarecido aos mesmos que para os atendimentos sistemáticos tal inscrição terá um prazo de validade de um ano e, caso não sejam chamados nesse prazo, há a possibilidade de renovação por mais um ano. Depois dos esclarecimentos, o usuário assina um termo de ciência. Assim, a triagem é realizada de dois em dois anos. O SE4 tem como inovador um blog para comunicação com o público. O SE5 destaca o Acolhimento Psicológico para as pessoas que perderam o período de inscrição, que pode se estender por até seis encontros. O SE6 tem o Plantão Psicológico como uma prática nova no Serviço. Percebe-se que as práticas tradicionais ainda são a principal oferta, entretanto, os Serviços estão procurando novas formas de atender as demandas que estão surgindo.

Sobre cobrança de taxa pelos serviços, o SE2 e SE4 cobram por isso, mas essa taxa pode ser dispensada após uma avaliação da condição socioeconômica do usuário. Nos demais Serviços pesquisados, o atendimento é gratuito. Cobrar ou não é uma discussão que ainda permanece nos Serviços-Escola. Os que são favoráveis a uma pequena taxa alegam o significado do dinheiro no processo psicológico e os que são contra o fato de ser uma instituição pública.

No tocante à relação com a rede de saúde e assistência social, os Serviços pesquisados não estão na Rede SUS, apenas o SE5 mantém um canal de comunicação com a Secretaria Municipal de Saúde e possui uma lista de todas as “clínicas sociais” para fornecer àqueles que perderam o prazo de inscrição para atendimento. Em todos os serviços pesquisados é unanimidade a grande demanda em busca de psicoterapia, o que mostra a deficiência de psicólogos na rede de saúde pública para atendimento desta natureza. Tal cenário provoca uma lacuna para a população mais carente, que não tem condições mínimas para custear um acompanhamento psicológico na rede privada, que cobra um alto custo pelos serviços prestados.

No item dificuldades encontradas nos Serviços-Escola, a grande demanda em busca de psicoterapia é prevalente. Outra dificuldade está no número de servidores, tido

como insuficiente (SE1 e SE6). O SE1 alega que o número de seis psicólogos não é suficiente para a demanda de psicoterapia e avaliação psicológica, sendo essa última oriunda da justiça. Salienta também a necessidade de um servidor para a recepção que, no momento, funciona com bolsistas do curso de Psicologia. A situação do SE6 é a total inexistência de servidores. O SE4 aponta como dificuldade a ausência de articulação com a rede de saúde mental e a concentração de serviços ofertados para “demanda ambulatorial/consultório de psicologia”.

Sobre a informatização dos serviços, o SE2 e SE5 têm sistema informatizado, embora o SE2 tenha destacado que o sistema não está atendendo às necessidades, o que tem levado à busca da melhoria do mesmo. A informatização foi ressaltada por todos que participaram deste trabalho como importante para o Serviço-Escola.

No que diz respeito ao termo Clínica-Escola e Serviço-Escola, os dois têm sido utilizados indistintamente, sem desdobramentos no tocante às atividades realizadas. Um comentário de um psicólogo de uma “Clínica-Escola” sobre a desvalorização da Psicologia Clínica por docentes das outras áreas da Psicologia merece uma reflexão. Na sua fala diz que “apesar das críticas, os alunos quando lá chegam descobrem o sentido da Psicologia que é a clínica”. Pode-se considerar que a estreita associação entre psicologia e clínica perpassa a narrativa do servidor. É possível que tal colocação se faça presente também em outros serviços, sendo importante, porém, rever e refazer essa Psicologia Clínica e não permanecer somente nos modelos teóricos importados.

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