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CAPÍTULO 3 UMA VISÃO PANORÂMICA DO FUNCIONAMENTO DOS

4.2. O Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA)

Observando o percurso do SEPA em seus 52 anos de existência, constata-se que o Serviço foi criado seguindo o modelo vigente da Psicologia dos anos 50 e 60. Assim, o SEPA teve como idealizador, um médico psiquiatra, sua primeira chefe, uma pedagoga. As práticas exercidas pelos alunos do curso de pedagogia (alguns dos quais foram depois professores do curso de Psicologia) refletem o modelo formativo prevalente naquele período (no qual a Psicologia começava a tomar forma no estado do Rio Grande do Norte). O SEPA, ao ser absorvido pela UFRN, continuou sendo campo de práticas dos alunos do curso de Pedagogia, até o momento de torna-se campo exclusivo de práticas para os alunos de Psicologia, por ocasião da criação do curso. Portanto, analisar o Serviço de Psicologia Aplicada, é olhar essa história passada (relativa aos primórdios da psicologia no âmbito local) para entender o seu presente.

Na medida em que o SEPA se consolida como campo de estágio para os alunos de psicologia (e com a chegada de novos psicólogos que passaram a integrar o corpo docente do curso), as atividades do serviço foram se modificando. Nos anos 70 e 80, uma nova leva de psicólogos foi incorporada ao Departamento de Psicologia e os estágios passaram a ser oferecidos na área clínica, escolar/educacional e organizacional. A clínica, nesse período, era a grande preferida pelos estudantes de Psicologia, refletindo uma hegemonia observada em todos os cursos de graduação do país.

A partir de 2008, observa-se um declínio na escolha da Psicologia Clínica como principal área de interesse por parte dos estudantes de Psicologia. Essa nova configuração ganha corpo no momento que o perfil dos professores do Curso de Psicologia passa por mudanças, com grande ênfase no campo social. As críticas dirigidas à psicologia clínica por parte dos novos docentes podem ter contribuído para a mudança no perfil de escolha. Por outro lado, no bojo das alterações na legislação, o curso experiência, em 2007, uma nova reforma curricular que estabelece um direcionamento da formação agora voltada para ênfases curriculares, ao invés das tradicionais grandes áreas de atuação. A clínica se amplia e é incorporada a ênfase denominada “Psicologia e praticas em saúde”. Com isso, o numero de estagiários envolvidos em atividades relativas a clinica no SEPA diminuiu. Entretanto, mesmo considerando o esvaziamento do estagio curricular em clinica, observa- se que, pela via dos projetos de extensão, a prática clinica se mantem relativamente constante, apesar da diminuição no quantitativo de alunos circulando pela instituição. Esse número aumentou um pouco em 2016 e 2017, estando, mesmo assim, muito distante do contingente de discentes que buscavam a pratica clinica em anos anteriores e, comparando os números do SEPA com as outras IFES pesquisadas, os índices de escolha pela Psicologia Clínica aqui são infinitamente menores.

Os estudos sobre os Serviços-Escola assinalam que neles são formados profissionais para atuar como liberal, distanciados da realidade da comunidade e da rede de saúde pública. Partindo desse princípio, e sendo o SEPA um local para ensino, pesquisa e extensão, torna-se evidente o distanciamento do Departamento de Psicologia desse Serviço. Talvez, essa distância seja um reflexo das pré-concepções que se tem sobre o Serviço de Psicologia Aplicada. O ART. 25 da resolução Nº 5, de 15 de março de 2011diz

O projeto do curso deve prever a instituição de um Serviço de psicologia com as funções de responder às exigências para a formação do psicólogo, congruente com as competências que o curso objetiva desenvolver no

aluno e as demandas de serviço psicológico da comunidade na qual está inserido (grifo nosso).

O SEPA, como foi visto, surgiu para atender às práticas da disciplina Psicologia da Educação, do curso de Pedagogia da Faculdade de Natal, e não por uma necessidade da comunidade. Com esse objetivo, foi absorvido pela UFRN e o mesmo objetivo de atender às práticas manteve-se com a criação do curso de Psicologia, conforme citação acima. Durante essas cinco décadas de existência, as atividades permanecem praticamente as mesmas, e, mesmo levando em conta as exigências assinaladas no ART. 25 (grifo), constata-se a ausência das outras áreas da psicologia do Departamento no Serviço- Escola. Sendo assim, o SEPA, nesse aspecto, permanece voltado para a prática da psicoterapia individual, sem muitas inovações para além do modelo clínico, com predominância na teoria psicanalítica.

Entretanto, algumas demandas surgidas da comunidade foram contempladas através dos projetos de extensão desenvolvidos por dois professores da área clínica e dois técnicos psicólogos (um da área de psicologia clínica e outro da área de psicologia organizacional).

Os projetos de extensão, a exemplo das outras universidades pesquisadas, são responsáveis pela inserção de práticas inovadoras no Serviço, ainda que as atividades sejam restritas a iniciativas de docentes isolados. Observa-se que as inovações também se dão no âmbito da psicologia clínica, que neste caso, pode responder a demandas emergentes na contemporaneidade.

Ainda em relação às práticas do Serviço-Escola, houve uma modificação na triagem. Uma das grandes preocupações em todos os Serviços-Escola é a falta de vaga e no SEPA não foi diferente. Assim, em 2017, a triagem, que sempre ocorria durante todo o ano letivo foi encerrada no momento em que não havia mais vagas, sendo substituída pelo plantão psicológico, realizado por alunos do quarto e quinto ano e pelos psicólogos lotados no Serviço. Além desse plantão, foi criado outro no horário para acolhimento (das 17h30m às 18h30m) e, nesse caso, realizado apenas pelos psicólogos. Esse último plantão surgiu devido à constatação de recorrentes casos emergenciais de pessoas que procuravam atendimento na recepção, ao final do expediente, quando não havia mais disponibilidade de acolhimento.

Sendo o SEPA um local de “aprendiz de psicólogo”, pois é destinado a isso, as mudanças a serem realizadas exigem o engajamento dos docentes do Departamento de

Psicologia, de modo a possibilitar que o Serviço reflita o perfil de formação previsto no projeto pedagógico em vigência, conforme preconiza as diretrizes curriculares (RESOLUÇÃO Nº 5/2011).

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