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além de considerar as possibilidades de um estudo da entoação por meio das falas de ilmes, considerados aqui como enunciados

4 “ninguém pode traçar um linha precisa entre a expressão de signiicados de um lado e a expressão de atitudes e emoções de outro.”

5 ao comentar sobre o fato de a entoação ser o elemento prosódico mais utilizado na caracterização das atitudes do falante, Cagliari (1992) airma que esse recurso linguís- tico é muito explorado pelos atores de teatro, cinema e televisão.

não naturais, e, ao mesmo tempo, também não adaptados para a pes- quisa, é preciso reletir sobre o objetivo dessa pesquisa de comparar os padrões entoacionais em duas línguas. para alcançar tal objetivo, é necessário que se observe um contexto propício a esse im, isto é, com controle de variáveis para permitir uma comparação adequada.

em gravação de falas naturais, corre-se o risco de fazer horas e não conseguir situações e usos semelhantes para a comparação nas duas línguas-alvo da pesquisa. portanto, a escolha por analisar il- mes dublados, analisando a versão original dublada em inglês e a versão dublada em português torna-se oportuna. com a deinição de um corpus de falas produzidas em contexto especíico e semelhante, mesmo ilme em duas versões de dublagem, é possível minimizar a diiculdade de comparação, já que serão observadas situações idên- ticas e enunciados similares.

ainda, o estudo comparativo torna-se um elemento de seleção de trechos a serem analisados, pois a diferenciação (entre o modelo de variação melódica nos mesmos trechos do ilme em cada língua) torna-se um critério anterior à interpretação das atitudes minimi- zando, dessa forma, a subjetividade. desse modo, a pesquisa pro- posta pode contribuir com os estudos sobre a entoação ao poder for- necer resultados a partir de uma gama mais restrita de variáveis do que um falar real, mas, ao mesmo tempo, de uma abordagem não tão subjetiva (com relação à atribuição de aspectos atitudinais do senti- do) como o estudo de frases isoladas.

este estudo comparativo da entoação de duas línguas dentro de um ambiente controlado de situações, como no caso do ilme, tam- bém só é possível por meio da tecnologia disponível a partir do uso dos dvds, que permite assistir ao mesmo ilme com o áudio em inglês e em português. nesse sentido, convém lembrar que: “[...] reinterpretar os dados antigos dentro de novas tecnologias e meto- dologias é também uma forma de pensar a língua de outros pontos de vista, olhar coisas escondidas, reorganizar o sistema” (cagliari, 1997, p.9).

outra diiculdade para a análise comparativa de falas poderia ser a diferença entre o atuar e o dublar. o ator da versão original

teria a vantagem de utilizar gestos corroborando com sua fala e, de- pendendo das ações desempenhadas, o som produzido teria outras nuances de sentido. Sendo assim, buscou-se um controle de variá- veis que fosse mais favorável à comparação desejada nessa pesquisa, e elegeram-se os ilmes animados como recorte do corpus.

uma das razões para a restrição do corpus a ilmes animados é que tanto na versão original quanto na dublada, os atores/dubla- dores só têm a voz como instrumento expressivo. tanto para a gra- vação original quanto para as dublagens, os proissionais precisam atuar em um espaço pequeno e em uma única posição, em frente ao microfone. eles não podem realizar gestos grandiosos ou acrobacias que acompanhariam algumas cenas em outros ilmes e que provoca- riam mudanças em sua fala. portanto, nas dublagens há uma exacer- bação do atuar, com vistas a incorporar mais expressividade à voz. Sobre esse aspecto, cameron diaz, atriz dubladora da persongem fiona no ilme Shrek (2001), airma:

you have to be right there in front of the microphone, so the exertion and the sounds that you are making aren’t really about, you know, it’s not what it sounds like when you’re actually making an impact on so- mebody […] it’s almost like you are acting even more, you know, you have to sort of overact (diaz, 2007).6

ainda com relação à linguagem disponível para o ator dublador em ilmes animados, é importante salientar que a animação (recur- sos visuais) é realizada pelos proissionais técnicos, portanto, os ato- res de dublagem não podem se iar em suas expressões físicas para compor o personagem. nesse tocante, é preciso considerar que os movimentos faciais dos atores dubladores podem ser copiados ou imitados,7 porém os animadores se utilizam de várias fontes para a

6 “você tem de estar bem em frente ao microfone, então o esforço e os sons que você está fazendo não são realmente como, sabe, não é o que soa quando você está realmente provocando um impacto em alguém [...] é como se você estivesse interpretando mais, sabe, você tem que exagerar na atuação um pouco.”

animação, portanto, ainda assim, a maior contribuição do ator du- blador é a fala.

outro fator técnico importante sobre os ilmes animados é que a gravação das dublagens é realizada sempre em estúdio com o uso de microfones colocados bem à frente dos atores dubladores, assim a qua- lidade sonora das falas é alta. um arquivo de áudio, cujo sinal de fala é facilmente reconhecível, é importante para realizar uma análise acústi- ca coniável com o uso de softwares especíicos para tal atividade.

a escolha por ilmes animados se deve, principalmente, pela possibilidade de diminuir as variáveis que afetam uma análise da entoação com relação a seus aspectos sintáticos, semânticos e prag- máticos dos sentidos carreados. por essa razão, foi feita a seleção por um corpus que promovesse uma comparação de situações similares de uso da língua. em outras palavras, nos ilmes animados, pode-se contar com o controle das seguintes variáveis: mesma situação de produção da fala (gravação em estúdio), e mesmo contexto de uso (mesma história com os mesmos personagens), uso expressivo do recurso da fala e boa qualidade do sinal sonoro da fala.