• Nenhum resultado encontrado

Compensação justa e adequada

No documento Download/Open (páginas 146-149)

4. RESULTADOS DA PESQUISA

4.5. Apresentação e análise dos resultados das oito categorias de QVT do modelo

4.5.8. Compensação justa e adequada

Esta é a categoria que gera mais insatis fação entre os respondentes, com média 2,1 e mediana 1, que significam respectivamente ‘ruim’ e ‘péssimo’. A maioria dos respondentes considera que seu salário ‘nunca’ é adequado ao trabalho nem justo ao compará- lo com o de outras funções na Prefeitura de Barra Mansa que exigem o mesmo grau de responsabilidade e conhecimento ou com o da mesma função em outros órgãos públicos, como o Ministério da Saúde, o INSS, etc. Nas entrevistas abertas, não houve quem não mencionasse o baixo salário como aquilo que o trabalho como funcionário público tem de pior: “O que se ganha aqui não dá para o ser humano sobreviver”; “às vezes fico em depressão porque meu salário já deu para sobreviver e hoje não dá”. Há quem tenha sido contratado como funcionário público há bem pouco tempo que chega a afirmar que pretende continuar na prefeitura, mas que vai fazer outros concursos e tentar outra colocação no mercado, por causa do baixo salário: “Isso aqui é temporário”. Essas percepções parecem ser coerentes, já que 78% dos funcionários da SMS ganham entre R$ 350,00 e R$ 700,00 e 63% deles têm mais de 10 anos de serviços públicos prestados, o que não configura início de carreira.

A falta de isonomia salarial também foi apontada como um dos piores aspectos do trabalho no setor público: “Acho um absurdo que um coordenador de Fomento à Agricultura, que é um CC2 (Cargo Comissionado nível 2), ganhe os mesmos mil e quinhentos reais para contar boi no pasto, que um coordenador de Compras, que também é CC2 e que tem que prestar contas ao Tribunal de Contas. Se o fomentador de Agricultura erra na contagem de bois, não acontece nada, mas se as contas do prefeito não estiverem corretas, ele pode até ser preso”. Outra entrevistada relatou que, anos atrás, quando os funcionários do Ministério da Saúde foram conduzidos ao município para trabalhar, houve um choque muito grande, pois os

salários deles eram muito maiores que os do funcionalismo municipal e não havia diferença entre as tarefas que realizavam. Segundo ela, isso acontece até hoje.

Pode-se perceber por meio desses relatos que a falta de isonomia salarial produz rivalidade entre os funcionários em vez de reciprocidade. Além disso, os baixos salários, somados à falta de perspectiva de carreira, fazem com que muitos funcionários, principalmente aqueles com mais tempo de serviço, sintam que têm como único objetivo a aposentadoria: “O objetivo do servidor público hoje é aguardar a aposentadoria. A LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) travou muito o prefeito de dar aumento de salário”.

Existe quem se refira a essa questão na própria forma como define QVT: “QVT é trabalhar com satisfação, ser respeitado como profissional, ter condições de desenvolver um bom trabalho, ter incentivo, colaboração e reconhecimento para que a aposentadoria seja um processo normal e que o funcionário não deseje que ela chegue logo”. E acrescenta: “Do jeito que o servidor público trabalha aqui em Barra Mansa e no Brasil, fica todo mundo querendo que a aposentadoria chegue logo”. Outra entrevistada acha que o tempo de casa interfere na forma com que o funcionário vê o serviço público e vive a QVT. Ela afirma que com o tempo o funcionário público “[...] vai perdendo certas fantasias”. Depois, corrige: “Não são fantasias, são esperanças”. E explica: “Esperança de crescer, vo ntade de crescer, não só pelo salário, mas também para aprender coisas novas”. Isso, segundo ela, faz com que as pessoas se voltem mais para a aposentadoria. Nesses relatos é possível perceber a falta de esperança e de percepção de futuro que permeiam a vida do funcionário público. O seu presente sem sentido o leva a pensar na aposentaria como quem pensa numa ‘morte simbólica’.

Mas há também aqueles que dizem não se guiar apenas pela questão salarial. Uma entrevistada relatou que obteve algumas melhorias salariais decorrentes da aceitação de alguns convites da administração para assumir cargos de maior nível, porém tem guiado sua carreira mais pelo sentimento quanto à atividade que estará realizando do que pelos salários e gratificações que podem ser incorporados aos rendimentos. Ela acredita que “os que se preocupam com o social se preocupam menos com suas próprias questões”. Outra, que é graduada na área das ciências exatas, afirma ter vontade de fazer outra faculdade que a capacite a trabalhar mais de perto ainda com a questão social: “Eu não penso em sair do serviço público não. [...] Às vezes penso em fazer outra faculdade que veja mais a questão social, para estar atuando de outra maneira, mesmo que não seja para ter isso como uma fonte de renda, mas para que eu possa desempenhar outras atividades. Mas eu pretendo continuar no serviço público”. Até aqueles que afirmam que o salário não é suficiente para sobreviver afirmam também: “Gosto do que faço e por isso supero essas dificuldades. Já larguei um trabalho antes onde eu ganhava muito bem, mas não gostava do que fazia. Acho que a vida tem que ser assim. Não vale a pena fazer o que a gente não gosta por dinheiro nenhum”. Aqui, mais uma vez, percebe-se a importância de a pessoa se reconhecer no trabalho que realiza; quando isso não acontece, ele dificilmente trará realização, tornar-se-á mera ocupação.

Quanto aos benefícios que recebem da SMS, 78% dos respondentes acham que são ‘bons’ ou ‘razoáveis’, mas há relatos de insatisfação com o recente aumento no desconto pelo plano de saúde, que, segundo eles, foi maior que o aumento de salário concedido pelo prefeito: “O aumento de salário não valeu nada no fim das contas”, afirmou um dos entrevistados.

Quanto a outras formas de compensação, registrou-se o seguinte relato: “O setor público não incentiva o funcionário a melhorar. Quando eu trabalhava na Barbará [multinacional francesa

do ramo de metalurgia], tinha churrasco de recorde de produção, premiações por outros tipos de trabalho, participação nos lucros... Não sei por que os governos não investem nesse tipo de coisa”. Percebe-se aqui a carência de uma política pública integrada de incentivo ao trabalho do funcionário público, por meio de compensações outras que não o salário, que seja acessível a todas as categorias da organização e não apenas a algumas funções ou vínculos.

No documento Download/Open (páginas 146-149)