• Nenhum resultado encontrado

Competências e habilidades no ensino da Geografia

No documento Lições do Rio Grande - Volume 5 (páginas 71-74)

No que se refere às competências e habi- lidades que se pretende desenvolver a partir deste Referencial Curricular para o ensino da Geografia nas escolas da Rede Pública do Rio Grande do Sul, foram levadas em conta as indicações contidas nas orientações estabele- cidas a partir da LDB/96 (Parâmetros e Orien- tações Curriculares), as quais são pautadas em três eixos: a competência de representar e comunicar, a de investigar e compreender e a de contextualizar social e historicamente os conhecimentos. Numa perspectiva mais deta- lhada, a Geografia deve levar o educando a: • Conhecer a organização do espaço

geográfico e o funcionamento da na- tureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das so- ciedades em sua construção e na pro- dução do território, da paisagem e do lugar;

• Identificar e avaliar as ações dos ho- mens em sociedade e suas consequên- cias em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que pos- sibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais;

• Compreender a espacialidade e tem- poralidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e intera- ções;

• Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações socioculturais são con-

72 72

quistas decorrentes de conflitos e acor- dos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, devem empenhar- se em democratizá-las;

• Conhecer e saber utilizar procedimen- tos de pesquisa da Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, seus processos de construção, identificando suas relações, problemas e contradições;

• Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de infor- mação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens; • Saber utilizar a linguagem cartográfica para

obter informações e representar a espacia- lidade dos fenômenos geográficos;

• Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade, reconhe- cendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortaleci- mento da democracia.

No que se refere à apreensão dos concei- tos, importa lembrar que o aluno os compre- ende não apenas pelas informações contidas neles, mas pelas relações que pode estabe- lecer com eles. Isso significa dizer que um conceito é compreendido quando o aluno se apropria do novo, como resultado do pro- cesso de interação entre o conhecimento que já possui e o que lhe é apresentado.

Logo, a construção de conhecimentos so- mente se efetiva quando são desenvolvidos mecanismos que levem os alunos a trans- formar informações em conhecimentos, os quais não estão centrados no conteúdo, mas em infinitas possibilidades de aplicação em situações diversas.

A aplicabilidade do conceito, no entanto, somente será possível se o aluno tiver desen- volvido competências e habilidades necessá- rias para isso. Quando um adulto, fora da escola, por exemplo, for utilizar a planta de uma cidade para chegar a um lugar qual- quer, ele aplica saberes geográficos, e não

precisa ter visto antes uma planta da cidade, para conseguir se orientar sobre ela.

Desse modo, não é o conteúdo planta ou cidade que acomoda esse saber, e sim o que envolve a orientação: lateralidade, projeção espacial, escala, leitura de símbolos e outros elementos que não dependem da planta es- tudada, mas das habilidades e competências que foram adquiridas através desse estudo e que, por sua vez, poderão ser aplicadas em infinitas plantas de infinitos lugares.

Quanto às habilidades e competências que norteiam o ensino da Geografia, elas têm sua origem em três competências básicas.

A primeira refere-se ao ler. Na Geogra- fia, ler significa compreender os signos que compõem o espaço em suas representações. Ler, sob essa ótica, significa atribuir significa- dos aos componentes do espaço próximo e distante, por meio de gráficos, mapas, figu- ras e outros elementos que possam ser indi- cadores de entendimento do espaço.

A segunda competência refere-se ao es- crever, o que corresponde ao textualizar, com coerência e entendimento, os aconteci- mentos articulados que envolvem o mundo em diferentes escalas. O desenvolvimento desta competência visa desenvolver no aluno a capacidade de produzir textos contextuali- zados no tempo e no espaço.

A terceira competência diz respeito ao

resolver problemas, o que, nesta ciência, compreende o poder de argumentação fren- te a situações que exigem reflexões suscita- das por dificuldades e tensões que o espaço apresenta. Resolver problemas é, portanto, propor soluções não somente para situações imediatas, mas também para aquelas que o aluno possa prever a partir das complexida- des apresentadas pelo espaço.

As habilidades que competem ao ensino de Geografia dependem da observação, pois o laboratório desta ciência é o campo, o espaço geográfico, em suas diversas escalas. O desenvolvimento dessa habilidade possibi- lita a compreensão dos diferentes elementos que compõem o espaço e as relações exis- tentes entre esses elementos. A partir destas

7373 leituras, os alunos serão capazes de escre-

ver sobre as ações que compõem o espaço e refletir sobre as tensões e diferenças que fazem parte da heterogeneidade observada, podendo propor a resolução dos problemas que envolvem cada contexto observado.

Outra habilidade é a compreensão da in-

ter-relação dos eventos, tanto naturais como

sociais, no espaço. Essa capacidade permite

a interpretação de dados e desenvolve a ca-

pacidade de ler e produzir textos e analisar os problemas que o espaço possa apresentar.

O ensino da Geografia também visa de- senvolver a habilidade da representação

espacial. Representar um espaço não é so-

mente percebê-lo numa leitura preliminar, mas compreendê-lo no mundo, numa escala planetária e local. Quando representa em seu imagético um espaço como a Índia, por exemplo, é importante que o aluno considere não somente dados enciclopédicos memori- zados sobre esse país, mas aborde suas vi- vências, as relações que o país apresenta em seus aspectos humanos e econômicos, como também as relações histórico-espaciais que tem com o restante do mundo.

A habilidade de compreensão espacio-

temporal pontua toda a contextualização

dos eventos que compõem as relações es- paciais. Sem ter desenvolvido esta habili- dade, o aluno será incapaz de interpretar as questões espaciais, o que dificultará sua leitura do mundo. Cabe ao professor de Geografia alfabetizar cartograficamente o aluno, o que significa conduzi-lo à compre- ensão dos signos, interpretando-os no con- texto. A alfabetização cartográfica permite o desenvolvimento das habilidades de leitu- ra, produção e interpretação de mapas, gráficos, desenhos e outros elementos que compreendem a representação do espaço.

Os conceitos que estruturam a disciplina da Geografia devem estar presentes no de- senvolvimento das habilidades e o professor deve promover situações em que os alunos

consigam compreender a articulação

existente entre o território, a paisagem,

o lugar, o espaço, a escala, a territoriali- dade, a globalização e as redes.

As habilidades descritas são fundamentais para que se desenvolvam as competências. Tornar o aluno competente é proporcionar- lhe a vivência de diversas situações em que ele possa utilizar o que aprendeu para re- solver diferentes desafios. Os desafios são constituídos por situações (e não conteúdos), compostas por infinitas possibilidades articu- ladas no momento da aplicação, pelo aluno, daquilo que ele aprendeu.

Como competência a ser desenvolvida pelo ensino da Geografia, é importante destacar

o domínio da linguagem que articula o co-

nhecimento dessa ciência, lembrando que esse domínio vai além da interpretação de signos, compreendendo a aplicabilidade de qualquer tema ou conceito na interpretação de fatos ob- servados, inter-relacionados e assim compre- endidos num contexto espaciotemporal.

O domínio da linguagem geográfica oportunizará ao aluno a compreensão de diferentes mapas, gráficos ou figuras que representam o espaço e suas relações, pois saber ler o espaço é saber escrever sobre ele e assim ter condições de interagir com ele.

Outra competência fundamental é a

transposição dos eventos que compõem

o espaço em diferentes escalas. Por meio

dela é possível estabelecer uma relação constante do lugar do aluno com outros lu- gares do mundo. A capacidade de represen- tar diversos lugares e compreender as rela- ções existentes entre eles está relacionada a todas as habilidades desenvolvidas. A opera- ção dos conceitos geográficos permite, com maior naturalidade, a interpretação do espa- ço em diferentes escalas.

O desenvolvimento do espírito crítico,

por sua vez, é uma competência que supõe argumentação, e saber argumentar está re- lacionado principalmente à habilidade de interpretação e análise dos diferentes ele- mentos que compõem o espaço. O aluno, ao interagir com as relações que o espaço apresenta de forma interpretativa, compre- endendo os conceitos estruturantes da dis-

74 74

ciplina, será capaz de argumentar sobre o mesmo, não somente criticando as relações consideradas tensas, mas também opinando e posicionando-se diante dessas relações.

Finalmente, registre-se que todo o evento estudado em Geografia apresenta três ele- mentos fundamentais: a ação que representa o próprio evento, o momento que o justifica e o espaço que o localiza. Portanto, a com- preensão geográfica depende, fundamen- talmente, da capacidade de compreender

a dimensão espaciotemporal dos eventos

analisados. O espaço e o tempo são catego- rias que auxiliam a leitura e a interpretação de qualquer elemento que compõe os con- ceitos estudados e articulados, a partir de sua adequada contextualização.

É importante que todas as habilidades e competências aqui relacionadas estejam pre- sentes em cada momento da aprendizagem, o que envolve a vontade do aluno em aprender, a condição do professor de ensinar e o valor do conceito no ato da construção do conheci- mento. É grande, portanto, a responsabilida- de do educador, que também deve se preocu- par em tornar a educação um compromisso interdisciplinar, que depende de saber ler a linguagem de cada ciência e saber escrever o que o outro possa interpretar, visando resolver desafios que a vida possa apresentar.

Conceitos estruturadores

No documento Lições do Rio Grande - Volume 5 (páginas 71-74)