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Conceitos estruturadores do ensino da Geografia

No documento Lições do Rio Grande - Volume 5 (páginas 74-76)

A Geografia, como qualquer outra ciên- cia, apresenta na estrutura do seu conteúdo uma base de conceitos importantes para a compreensão das diferentes escalas dos es- paços estudados. É a partir desses conceitos que os alunos constroem o conhecimento geográfico e têm possibilidade de aplicá-los sempre que necessário.

Um dos conceitos que possibilita a com- preensão do mundo dividido por fronteiras políticas ou por outro tipo de poder é o de

território, que compreende o domínio de

um determinado espaço que apresenta certa

autonomia. Esse conceito é aplicado sempre que se estudam países, estados, cidades ou até lugares específicos compreendidos por fronteiras concretas ou simbólicas.

O conceito de território deve fazer parte do cotidiano da sala de aula e ser contemplado constantemente, pois a Geografia também ex- plica a mobilidade das fronteiras nos mapas que representam o mundo. Se esse conceito for bem trabalhado, fica mais fácil fazer uma leitura adequada dos mapas e suas modifica- ções no decorrer dos processos temporais.

Num olhar mais apurado, o território pode também ser lido como uma paisagem

que compreende em si não somente o que está sendo vivenciado, mas também um tes- temunho de vivências de outros tempos, que deixam significados aguçados de relações temporais e espaciais.

A paisagem representa tudo aquilo que se vê num determinado momento, assim os territórios abrangem muitas paisagens que explicam as características destes territórios.

Quando o aluno constrói o conceito de paisagem, ele reconhece que existem inúme- ras composições espaciais sobre um mesmo território. O mais interessante no estudo das paisagens é reconhecer que elas poderão ser observadas de formas diferentes por diferen- tes alunos, e assim essas inúmeras interpre- tações de um mesmo recorte de espaço fa- cilitam as discussões e apresentam ao aluno possibilidades de ler essas representações de forma identitária, valorizando o seu saber e respeitando a leitura e os saberes do outro.

O conjunto de acontecimentos, paisagens, lugares e interpretações, a partir de diferen- tes leituras de mundo, constitui o conceito

de espaço geográfico que é definido como

todo espaço pertencente ao planeta, que tem como características marcantes a ação e a intenção do homem:

“O espaço é formado por um conjunto indisso- ciável, solidário e também contraditório de sistema de objetos e de sistema de ações não consideradas isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 1997, p. 51).

7575 Esse conceito, trazido por Milton Santos,

compreende o espaço como um palco de acontecimentos que se modifica constantemen- te em função das ações dos homens sobre os objetos que o espaço apresenta. Imaginemos uma área urbana ou uma área rural. Em am- bas acontecem inúmeras modificações com o passar do tempo e todos esses acontecimen- tos estão associados a outros acontecimentos. Muitas vezes, o que ocorre no espaço não é do interesse de todos os sujeitos que o compõem, e é por isso que as relações entre os aconteci- mentos podem gerar tensões e conflitos.

Essas tensões comprovam que o espaço é heterogêneo e contém infinitas relações. Ao estudar o espaço com essa representativida- de, é permitido ao aluno vivenciar constan- temente a condição de se posicionar e resol- ver problemas que aparecem na leitura dos acontecimentos. O aluno precisa reconhecer as contradições e se posicionar perante elas, emitindo constantemente pareceres e refle- xões sobre os problemas emergentes.

Ao compreender essas interações, é indispen- sável que os alunos enxerguem sempre o todo do espaço como um conjunto e não como uma soma de conteúdos estanques e sem sentido.

Por exemplo, ao estudar os continentes separadamente, obedecendo a uma lógica dos manuais didáticos, costuma-se iniciar por aspectos naturais, seguindo-se os huma- nos e os econômicos. Após a conceituação de cada “gaveta”, realiza-se uma prova para avaliar se as informações foram acumuladas, reforçando-se dessa forma a reprodução do senso comum sobre o continente. Entretanto, o que é interessante para o aluno é enxergar no conteúdo as relações que existem entre os diferentes assuntos trabalhados. Assim, ao estudar um continente, seria bem mais ins- tigante relacionar constantemente o quadro natural com a distribuição da população, com as riquezas minerais ou com a concen- tração econômica, por exemplo.

Se o conteúdo for trabalhado de uma for- ma associada, o espaço geográfico será en- tendido com maior facilidade e passará a ter significado para o aluno.

O lugar é um outro conceito importante

que compete à Geografia. Estudá-lo é com- preender os acontecimentos que estão mais próximos do aluno, pois o lugar representa o espaço de vivência, de identidade, de conti- nuação do próprio aluno e de suas relações. A leitura do lugar não é simplista e unidi- recional, ela é carregada de conteúdo global e compreende uma bagagem temporal que explica muitos canais de conexões. Não se trata de sair do estudo da família na 1ª série do ensino fundamental e de chegar ao estudo do mundo na 8ª série do ensino fundamental, como se faz na maioria das composições de conteúdos sistematizados em escolas. Trata-se de fazer com que, em cada série, os alunos se apropriem de cada lugar estudado, sentindo- os, realmente, como um ponto identitário.

Para que o aluno chegue a essa com- preensão, o professor precisa conhecer o conteúdo da Geografia, dominando sua es- sência e tendo clareza da sua validade, e ser capaz de transformar esse conteúdo em conhecimento no pensamento dos alunos. E para que o mundo seja um lugar para os alunos, o professor deve estar sempre aten- to aos acontecimentos globais, cuidando de ligá-los à vivência de seus educandos e considerando as inúmeras relações que se estabelecem, atualmente, entre os diferentes lugares do mundo.

A globalização está vinculada a um

conjunto de inovações na comunicação e na informatização, transformando o mun- do em uma grande rede composta por di- ferentes elos e ligações. Ao compreender a globalização, é possível compreender as tensões existentes no mundo, os avan- ços de muitas nações e o recuo de outras, tanto nas questões econômicas como em indicadores sociais.

Os conceitos estruturantes aqui apresen- tados, e que compõem o Referencial Curri- cular da Geografia, estão propostos de for- ma articulada e compreendem um conjunto de ações a serem desenvolvidas na sala de aula. A partir do entendimento dos conceitos de território, paisagem, lugar, globalização

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e espaço geográfico, os professores poderão trabalhar outros conteúdos que derivam dessa compreensão.

O entendimento e a leitura de mapas, a análise de diferentes escalas, a textualização de espaços mundiais e a compreensão do tempo e do espaço como sistemas dinâmicos são consequência de articulação dos diferen- tes conceitos estruturantes.

Contudo, é fundamental lembrar aqui que, para tornar esses conteúdos mais prazerosos e desafiadores, os professores precisam estar sem- pre atentos a acontecimentos cotidianos, muitas vezes simples, aproveitando-os em suas ativida- des de ensino e aprendizagem, pois a Geografia tem como principal laboratório de ensino o pró- prio mundo, em diferentes escalas, o que inclui, de modo destacado, a sala de aula.

Conteúdos

No documento Lições do Rio Grande - Volume 5 (páginas 74-76)