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Interdisciplinaridade e contextualização nas

No documento Lições do Rio Grande - Volume 5 (páginas 46-51)

Ciências Humanas e suas Tecnologias A Lei de Diretrizes e Bases da Educação

ÁREA CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

II- Interdisciplinaridade e contextualização nas

Ciências Humanas

A relevância do desenvolvimento de com- petências na educação básica exige que a aprendizagem seja interdisciplinar e contex- tualizada. A compreensão dos sentidos e a capacidade de relacionar a teoria com a prática em todas as disciplinas do currículo (artigos 32, 35 e 36 da LDB) são dois marca- dores importantes que apontam para o fato de que o objetivo da educação básica não é formar “pequenos cientistas ou filósofos”, dedicados ao conhecimento puro, tal como é produzido pela academia, mas um conhe- cimento em ação, que ganha sentido por sua relação com a cultura próxima do aluno.

Assim, a interdisciplinaridade e a contex- tualização são recursos fundamentais para realizar a transposição didática, pois conver- tem o conhecimento acadêmico em objeto de ensino, selecionam e recortam os conteú- dos de acordo com a proposta pedagógica. Portanto, para propiciar a aprendizagem de competências, é preciso identificar os recur- sos didáticos mais relevantes a serem utiliza- dos, contextualizando seus conteúdos.

a) Interdisciplinaridade

A respeito de interdisciplinaridade, docu- mentos oficiais (PCN) apresentam:

“Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade (...) é utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou compreen- der um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental. Trata-se de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para responder às ques- tões e aos problemas sociais contemporâneos” (PC-

NEM, 1999: 22).

“Um trabalho interdisciplinar, antes de ga- rantir associação temática entre diferentes dis- ciplinas – ação possível, mas não imprescindível –, deve buscar unidade em termos de prática docente, ou seja, independentemente dos te- mas/assuntos tratados em cada disciplina isola- damente. (...) Em nossa proposta, essa prática docente comum está centrada no trabalho per- manentemente voltado para o desenvolvimen- to de competências e habilidades, apoiado na associação ensino-pesquisa e no trabalho com diferentes fontes expressas em diferentes lin- guagens, que comportam diferentes interpreta- ções sobre temas/assuntos tratados em aula. Portanto, esses são fatores que dão unidade ao trabalho das diferentes disciplinas, e não a as- sociação das mesmas em torno de temas supos- tamente comuns a todas elas” ( PCN+, 2002).

4747 Logo, na educação básica, é recurso a

ser utilizado para favorecer interconexões en- tre os conhecimentos através de relações de

complementaridade, convergência e diver- gência. O mundo e seus problemas são com-

plexos, mas o conhecimento que se constrói a partir dele não pode ser fragmentado.

As atividades interdisciplinares, desde que as condições institucionais o permitam, po- dem ser também um fator motivador das aprendizagens. Para isso, é preciso selecio- nar temas ou problemas próximos à vida da comunidade, relacionados com os aconteci- mentos do mundo contemporâneo ou presen- tes nos noticiários, e a eles agregar conheci- mentos e desafios como ponto de partida para a abertura investigativa, que ultrapasse o senso comum e os contextos mais imedia- tos. O objetivo em vista é tornar a aprendiza- gem significativa para os educandos através da integração das disciplinas, uma vez que o mundo e seus problemas raramente são ape- nas disciplinares.

b) Contextualização

Quando se fala em contextualização, fa- la-se em estratégias necessárias para a cons- trução de significados. Literalmente, contex- tualizar é remeter uma referência a um texto, entendendo que, sem essa remissão, o texto perde parte substancial de seu significado. Em sala de aula, isso pressupõe que, para tornar os conteúdos disciplinares significati- vos para os educandos, é preciso que sejam remetidos aos seus contextos.

Os contextos podem ser compreendidos pelo menos em dois sentidos. No primeiro sentido, chamado de hermenêutico16, con-

textualizar é remeter um texto ou um conceito à obra ou teoria do qual ele faz parte, ao seu contexto histórico e social e até mesmo ao contexto biográfico do seu autor. Neste sentido, contextualizar é dar significado aos textos a partir de uma remissão às condições que lhe deram origem. Por exemplo, para

tornar significativo um conceito da filosofia política de Maquiavel, é importante remeter esse conceito ao contexto social e político das repúblicas italianas do Renascimento ou, então, ao debate filosófico da época.

Num segundo sentido, chamado de socio- cultural, contextualizar é tornar o tema próxi- mo da realidade do aluno, tanto de sua prá- tica social quanto de sua cultura e história. O trabalho com situações-problema reais da comunidade ou localidade dos educandos é um bom exemplo dessa acepção, que exige o entendimento dessa situação também em um contexto mais amplo. Em ambos os casos, o objetivo da contextualização é possibilitar que o aluno vivencie o conhecimento como algo relevante e, portanto, significativo.

III- Estratégias para

a ação docente

Para que o aluno desenvolva as compe- tências esperadas ao final de cada etapa do ensino básico na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, o espaço do trabalho es- colar precisa ser ocupado por procedimen- tos didáticos orientados para a construção do encontro entre conceitos e competências. Para tanto, faz-se necessário que a ação do professor se dê em função da provocação e mediação dos processos de construção de conhecimentos e capacidades pelo educan- do. O professor instiga o questionamento, a discussão, a pesquisa, isto é, provoca; ele também intervém constantemente nesse pro- cesso, encaminhando-o na direção dos ob- jetivos propostos, isto é, faz mediação. Este documento entende que tais objetivos podem ser alcançados no âmbito de atividades cen- tradas na resolução de problemas.

Desenvolver competências no aluno impli- ca também um perfil de professor. Para Meirieu (1998, 2005), uma das competências básicas do professor é saber propor boas estratégias de aprendizagem. Isso, conforme o autor, é

16 O termo “hermenêutica” significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”; a hermenêutica é a ciência da

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saber trabalhar com situações-problema. Por isso, propõe-se que as atividades a serem formuladas aos alunos sejam con- textualizadas, interdisciplinares e partam de situações-problema, tais como dilemas, pa- radoxos, projetos, estudos de caso, pesqui- sas, saídas de campo, tribunais, assembleias e outras dinâmicas pedagógicas que mobili- zem competências de uma maneira significa- tiva. Há, ainda, o uso de seminários, pesqui- sas bibliográficas, o uso de música, poesia, literatura, jornais e filmes para contextualizar o tema a ser desenvolvido. Atividades com esse perfil possibilitam o desenvolvimento da autonomia dos alunos, mobilizando instru- mentos de análise, conceitos e diferentes es- quemas de pensamento e competências.

Outro aspecto a ressaltar é a questão da avaliação. Um procedimento avaliativo con- siste no processo regulador das aprendiza- gens, orientador do percurso escolar e cer- tificador das diversas aquisições realizadas pelos alunos. A avaliação visa à aferição de conhecimentos, competências e habilidades. Portanto, precisa ser constituída de atividades mediante as quais sejam avaliadas não ape-

nas as aquisições cognitivas, mas também as competências alcançadas.

Conclusão

O objetivo da área é desenvolver a tradu- ção do conhecimento das Ciências Humanas em consciências críticas e criativas, capazes de gerar respostas adequadas a problemas atuais e a situações novas. Nesse sentido, é tarefa das Ciências Humanas o desenvolvi- mento de competências e habilidades neces- sárias para o exercício da cidadania, ou seja, que possibilitem compreender a sociedade na qual se vive, construir a si próprio como agente social, avaliar criticamente o sentido dos processos sociais, usar as tecnologias as- sociadas à área de Ciências Humanas e sus- tentar sua opiniões com base em argumentos consistentes, que superem o senso comum.

Os aspectos orientadores da área de Ci- ências Humanas e suas Tecnologias são com- plementados pelos Referenciais específicos de cada disciplina, nos quais são apresen- tados os conceitos estruturadores e as com- petências específicas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia.

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1 Para a caracterização do lugar da história ensinada no âmbito da cultura escolar, ver o artigo de Oldimar CARDOSO: “Para uma definição de

Didática da História”. Revista Brasileira de História, vol. 28, nº 55, 2008, p. 153-170.

Introdução

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