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2.3 Competências

2.3.2 Competências necessárias no ensino-aprendizagem

Cada vez mais se exige daqueles que resolvem seguir a carreira docente; além de possuir um conhecimento amplo e sólido do conteúdo estudado na graduação, o professor deve possuir outras competências – as quais serão explicitadas no decorrer desta seção – que envolvem a atuação profissional e o ambiente escolar. Entende-se que as competências aqui tratadas são inerentes e fundamentais a qualquer professor, não importando a sua área de atuação. Em outro momento, serão discutidas as competências específicas, necessárias ao professor de línguas estrangeiras.

Veiga (2006) expõe a existência de elementos articulados que caracterizam e permeiam o ensino. São eles: i) intencionalidade (relaciona-se com o contexto educacional, a sociedade e a sua convivência com os outros); ii) interação e compartilhamento (ensinar é trabalhar com, sobre e para seres humanos, implicando relações concretas entre pessoas); iii) afetividade (criação de um ambiente humanizado e propício ao processo de ensino- aprendizagem); iv) construção de conhecimento e rigor metodológico (criação de situações e formas que propiciem o vínculo do conhecimento com a realidade do aluno e com a sua prática social mais ampla) e; v) planejamento didático (remete aos fins e objetivos a serem alcançados e que devem ser pensados previamente).

Esses elementos demonstram que o ensino exige do professor competências variadas, que vão além do domínio do conteúdo específico e que devem ser construídas em seu processo de formação profissional.

São vários os autores que, de modo geral, tratam a respeito das competências docentes exigidas na atualidade. Na Educação, por exemplo, Paulo Freire (2001), faz uma reflexão sobre os saberes necessários à prática educativa crítica. O autor expõe a necessidade da autonomia no ensino e na aprendizagem e que a ação pedagógica necessita estar aberta às mudanças. Além disso, o autor ressalta a importância da dimensão social da formação humana e que se deve compreender que ensinar é muito mais do que apenas a transferência de conteúdo: ensinar é criar possibilidades para a produção e construção de conhecimento. Ele destaca ainda que o professor deve gostar do seu trabalho, querer bem aos seus alunos, ter

afetividade para com todos, respeitar as pessoas como elas são e suas culturas, entre outras características.

Perrenoud (2000) considera competência como “a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar, com pertinência e eficácia, uma série de situações” (PERRENOUD, 2000, p. 19). Assim sendo, no contexto de formação de professores, é importante que sejam desenvolvidos os conhecimentos de conteúdo, bem como os conhecimentos práticos necessários para atuação profissional, os quais serão transferidos e mobilizados em situações diárias de ensino- aprendizagem no contexto escolar. Ou seja, a teoria aprendida pelo professor durante o curso de graduação necessita fazer sentido para ele, a fim de que possa desempenhar uma boa atuação e consiga fazer uso de seus conhecimentos na sua realidade de sala de aula por meio de atividades práticas, visando à otimização do processo de aprendizagem de seus alunos.

Essa é a proposta presente nos referenciais para a formação de docentes através das resoluções CP 1/2002 e CP 2/2002 do CNE4. A orientação desses referenciais é que se busque trabalhar o conhecimento teórico a partir de uma dimensão mais prática, pautada em situações escolares reais que requerem a devida mobilização de competências na ação em tempo e espaço curricular suficiente.

O autor ainda expõe a necessidade de o professor ter atitude positiva no que se refere à iniciativa e ao desenvolvimento do seu trabalho. Partindo dessa ideia, o autor elencou dez grandes famílias de competências docentes: 1) organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2) administrar a progressão das aprendizagens; 3) conceber e fazer evoluírem os dispositivos de diferenciação; 4) envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5) trabalhar em equipe; 6) participar da administração da escola; 7) informar e envolver os pais; 8) utilizar novas tecnologias; 9) enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; e, 10) administrar sua própria formação contínua.

Entretanto, no contexto brasileiro, muitas dessas competências são difíceis de serem alcançadas pelo professor, devido à estrutura das escolas, à falta de recursos e de possibilidades. Contudo, membros da comunidade escolar (professores, coordenadores e diretores) concordam que são competências necessárias e importantes. Não há como se

4 A Resolução CP 1/2002 institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para formação de professores de educação

básica, em nível superior, curso de licenciatura e de graduação plena. A Resolução CP 2/2002 estabelece a duração e a carga horária dos cursos de graduação plena e de formação de professores de Educação Básica em nível superior.

descartar a existência de ambientes de ensino que proporcionem ao professor o desenvolvimento dessas competências.

Perrenoud (2000) ao propor esse conjunto de competências, estava ciente da impossibilidade de se alcançar todas estas competências. Segundo ele, “ninguém pode observar e conceituar todas as facetas do ofício de professor, conceber com a mesma precisão e a mesma pertinência todas as competências correspondentes” (PERRENOUD, 2000, p. 172).

No entanto, Tardif (2002) aborda aspectos que envolvem a prática docente ao falar da carência, do problema econômico, das diferenças de tratamento em comparação a outras profissões, além de tratar da falta de união pelos profissionais da educação. O autor afirma a necessidade de não separar o conhecimento universitário do conhecimento prático. Defende, ainda, uma ampla valorização do professor enquanto profissional, propondo uma maior autonomia para este e sugere que haja uma parceria real entre todos os agentes que constituem o processo de formação docente. Segundo Tardif (2002), é necessário que todos atuem em conjunto para que formação e prática andem juntas, que as teorias criadas no âmbito das universidades realmente sirvam de suporte à prática docente.

As competências mencionadas pelos autores aqui citados apontam para um mesmo ponto: a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Esses são exemplos de competências gerais, importantes para todos os docentes, independente da área de atuação. Desse modo, cabe ao docente buscar desenvolver ou equilibrar tais competências em sua prática pedagógica. A seguir, trata-se das competências relativas ao professor de LE que, além de buscar as competências recém mencionadas, deve apresentar outras competências específicas de sua área.