• Nenhum resultado encontrado

2.3 Competências

2.3.1 A origem do termo competência

Apesar do grande uso do termo competência, sua definição ainda se apresenta de forma polêmica e complexa. O termo é tratado por diversas áreas do conhecimento, como Linguística Aplicada, Sociologia, Psicologia da Educação, Linguística, dentre outras. Devido a isso, os estudiosos, ao tentarem defini-lo, fizeram-no considerando seus propósitos e campo de atuação, o que contribuiu para a desarmonia do termo.

De acordo com o Dicionário eletrônico “Origem da palavra”, a palavra competência deriva do latim competere – com (junto) + peter (disputar, procurar, inquirir) – com o significado de lutar, buscar ou pretender algo ao mesmo tempo que outros. Dessa definição deriva o termo competentia, que através do sufixo ‘ia’ indica uma qualidade. Tal definição remonta à Idade Média, no sentido de conquista, disputa por territórios, trazendo a ideia de se estar preparado para a disputa. Desse modo, o vencedor teria competência, autoridade sobre o vencido.

O termo competência era utilizado na língua francesa no final do século XV para designar a legitimidade e a autoridade outorgadas às instituições para tratar determinados problemas (um tribunal é competente em matéria de...); a partir do final do século XVIII, seu significado se ampliou para o nível individual e passou a designar “toda capacidade devida ao saber e à experiência” (DOLZ, 2004 apud MOURA, 2005, p. 62).

Entretanto, como esta acepção de sentido era bastante vaga, houve (re)significações desde sua origem latina até o momento pós-moderno em que vivemos. Nesse sentido vários autores tentaram atribuir ao termo um significado mais preciso. Moura (2005) ilustrou as interpretações de alguns autores sobre o termo competência, conforme a tabela a seguir: Quadro 2 – Noções gerais de competências

(continua)

Autor Compreensão do termo competência

Allal, 2004 (apud Ollignier, 2004, p. 15; 83).

“(...) organização dos saberes em um sistema funcional”. “(...) suas principais dimensões são: a rede dos componentes cognitivos, afetivos, sociais e sensório- motores, bem como sua aplicação a um grupo de situações e a orientação para uma determinada finalidade”. “(...) uma rede integrada e funcional constituída por componentes cognitivos, afetivos, sociais, sensório-motores, capaz de ser mobilizada em ações finalizadas diante de uma família de situações”.

Gillet, 1991 (op. Cit, p. 36).

“(...) sistema de conhecimentos, conceituais e procedimentais, organizados em esquemas operatórios, que permitem, em função de uma família de situações, identificar uma tarefa-problema e resolvê-la por meio de uma ação eficaz”.

Lê Boterf, 1998 (op. Cit, p. 133).

“(...) uma combinatória complexa, de uma ligação coordenada, multidimensional, que sempre deve ser recriada, da mobilização de múltiplos recursos, de saberes, de “savoir-faire”, de estratégias, de habilidades manuais, de atitudes, de valores privilegiados...

Malglaive, 1990 (op. Cit, p. 153).

“(...) uma totalidade complexa e instável, mas, estruturada, operatória, isto é, ajustada à ação e às suas diferentes ocorrências” “(...) estrutura dinâmica cujo motor é a atividade”.

Ollagnier 2004 (p.10) “(...) a capacidade de produzir uma conduta em um determinado domínio”. Perrenoud, 2004 (op.

Cit, p. 153).

“(...) capacidade, processo, mecanismo de enfrentar uma realidade complexa, em constante processo de mutação, perante a qual o sujeito é chamado a nomear a realidade, a escolher. Entendemos os saberes, na sua vertente de ciência e na sua dimensão de experiência, como sinônimo de conhecimentos e que se adquirem sentidos se mobilizados no processo sempre único e original de construção e reconstrução de competências (pg. 11). (...) A competência deve ser entendida como recurso para dominar uma realidade social e técnica complexa, diante da qual o ser humano é chamado a escolher”.

Tardiff, 1994 (op. Cit, p. 36).

“(...) um sistema de conhecimentos, declarativos [...], condicionais [...] e procedimentais [...]organizados em esquemas operatórios” que permitem a solução de problemas”.

Terezinha Rios, 2003 (p. 46).

“Saber fazer bem...” Toupin, 1995 (op. Cit,

p. 36).

“(...) a capacidade de selecionar e agrupar, em um todo aplicável a uma situação, os saberes, as habilidades e as atitudes”.

Quadro 2 – Noções gerais de competências

(conclusão) Zarifian, 2001 (p. 68 “(...) o “tomar iniciativa” e o “assumir responsabilidade do indivíduo” diante de

situações profissionais com as quais se depara. Medef apud Zarifian,

2001 (p. 67)

“A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber- fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constatada quando de sua utilização em situação profissional, a partir da qual é passível de validação. Compete então à empresa identificá-la, avalia-la, validá-la e fazê-la evoluir. ”

Fonte: (MOURA, 2005, p. 63-64)

Observando as definições acima, percebe-se o caráter polissêmico do termo. Além disso, algumas expressões são corriqueiras nas definições dos autores, como: “complexo”, “multidimensional”, “sistema”, “funcional” e “mobilização”, conferindo, assim, uma dimensão dinâmica, ativa e multidimensional à noção de competência.

As definições de Perrenoud (2004) e Toupin (1995) partem do princípio de que é necessário mobilizar e agrupar saberes3, habilidades e atitudes com o objetivo de solucionar determinadas situações aplicando os recursos cognitivos. É comum encontrar nas definições do termo a articulação entre os termos “competência”, “habilidade” e “capacidade”, os quais podem gerar certa confusão. A fim de esclarecimento, Barbosa (2007), apresenta um breve esboço das origens epistemológicas das palavras:

Quadro 3 - Concepções comparativas dos termos capacidade, habilidade e competência

Capacidade Habilidade Competência

do latim: capacitas, significa “qualidade que uma pessoa ou coisa tem de possuir para um determinado fim; habilidade; aptidão” (FERREIRA, 1999, apud ALLESSANDRINI, 2002, p. 164).

do latim: habilitas, que significa “aptidão, destreza, disposição para alguma coisa” (SARAIVA, 1993, apud ALLESSANDRINI, 2002, p. 164).

do latim: competentia, e significa “proporção, simetria” (SARAIVA, 1993, apud ALLESSANDRINI, 2002, p. 164).

Fonte: (BARBOSA, 2007, p. 36)

Desse modo, em uma ordem hierárquica de confluência dos termos, pode-se dizer que a competência é o conjunto equilibrado de habilidades e aptidões (capacidades) de um

determinado sujeito. Isto é, competência relaciona-se ao “saber fazer algo, que, por sua vez, envolve uma série de habilidades” (ALESSANDRINI, 2002 apud BARBOSA, 2007, p. 36).