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COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS DO APLICATIVO INSTAGRAM

No documento [Em-nós] identidades instagranianas (páginas 48-55)

O Instagram é um aplicativo de compartilhamento de imagens lançado no ano de 2010, e após, em 2013, de vídeos (MANOVICH, 2017, p. 145). Desde então essa rede esteve em constante transição e atualização. Manovich há anos tem utilizado e estudado o Instagram e, em seu livro ―Instagram e a Imagem Contemporânea‖ (2017), ele demonstrou métodos vindos da teoria da mídia e história da arte aliados a análises quantitativas que utilizam de uma grande quantidade de dados e processos computacionais para detectar tendências nessas redes. Essas análises englobaram mais de quinze milhões de imagens, compartilhadas entre o ano de 2012 e 2015 em mais de trinta e um países, incluindo o Brasil. Sendo assim, a partir dessas análises computacionais, Manovich e sua equipe coletam dados necessários em determinadas cidades, em determinado período de tempo, que possibilitam detectar tendências das redes.

Manovich ressalta que sua análise compreende dois períodos distintos no Instagram. O primeiro, onde os usuários postavam fotos espontaneamente. E o segundo, onde os usos espontâneos e estratégicos coexistiram (MANOVICH, 2017, p. 4). Segundo o autor, plataformas como o Instagram mudam e estão sempre em constante atualização. Desde o surgimento de novos filtros e o aprimoramento das câmeras de smartphones são exemplos que afetam os assuntos e estéticas das imagens compartilhadas, conforme pode-se observar nos exemplos de dados técnicos de alguns modelos de Iphones.

Figura 21 – Lançamentos de modelos e características dos Iphones

Fonte: (MANOVICH, 2017, p. 145).

Além dessa indústria, que oferece a cada ano um modelo novo de celular com novas configurações, o usuário se depara semanalmente por um constante lançamentos de novos aplicativos e atualizações. De fato, se colocadas lado a lado as primeiras fotografias do Instagram com as atuais pode-se perceber uma série de mudanças. Inicialmente na resolução das câmeras que estão bem melhores e com muito mais recursos; os filtros mudaram; a proporção da imagem mudou; muitas mudanças ocorreram nos últimos anos.

Figura 22 – Captura do Instagram realizada em 2010.

O uso estratégico do aplicativo recebe destaque de Manovich (2017), pois tal fato pode ser um requisito para essa estética particular da rede. Existem, atualmente, uma série de artigos, blogs e vídeos ensinando como realizar essas estratégias para um feed bem sucedido, com imagens com estilos particulares e também coletivos (MANOVICH, 2017, p. 126).

Manovich utiliza o termo ―instagrammism‖ estabelecendo uma analogia com os movimentos de arte moderna. Segundo o autor, o ―instagramismo‖, da mesma forma que aqueles movimentos, oferece sua própria linguagem visual e visão do mundo. Porém, o autor destaca que, ao contrário desses movimentos, o ―instagramismo‖ molda-se por milhões de autores ligados e participando do Instagram e, também, de outras redes sociais (MANOVICH, 2017, p. 115).

Outro conceito que Manovich desenvolve é do instagrammer, termo utilizado para referir-se ao usuário que compartilha esses artefatos culturais sofisticados, inseridos dentro do estilo ―instagramismo‖. É importante destacar aqui que esse termo não se direciona a qualquer usuário do Instagram, apenas aos inseridos nessa estética.

Uma estratégia destacada por Manovich (2017) na busca de feeds bem sucedidos é a técnica de sequenciamento. O autor destaca que essa técnica é ensinada por vários instagrammers em canais do Youtube, blogs e demais redes. O sequenciamento consiste na busca por obter um feed mais rico e interessante, através da alternação de tipos de fotografias postadas. A estética coletiva do feed tem prioridade sobre a estética individual da fotografia. Dessa maneira também, respeitando a alternância de motivos, os usuários evitam postar duas fotografias semelhantes em sequência. E muitas vezes, até mesmo, uma fotografia que pode ser considerada interessante e não está inserida nessa estética servirá para ser postada em outra rede social, por exemplo, no Twitter.

É importante ressaltar também que, a partir de alguns estudos realizados por Manovich (2017) e sua equipe, uma porção desses perfis sofisticados do Instagram pertence a jovens entre treze e dezesseis anos, ou seja, muitos ainda não tiveram nenhuma formação superior em áreas afins do design, fotografia ou publicidade. E também a localização desses perfis não se restringe a grandes metrópoles; é possível detectar perfis sofisticados independentemente do acesso a grandes centros culturais. Esse apontamento, em específico, é capaz de evidenciar esse

aspecto global proporcionado por essas redes, tanto em caráter de acesso à cultura e informação, quanto na possibilidade de produção dessa informação independente da região geográfica.

Por outro lado, ressalta o autor que muitas dessas estratégias utilizadas na captura e edição dessas imagens foram gradualmente adotadas no design comercial, por exemplo, em revistas e layouts, tornando-se assim estereótipos culturais que se processam cognitivamente (MANOVICH, 2017, p. 123).

Um aspecto importante, também relacionado por Manovich (2017), é a ligação entre a imagem fotográfica do Instagram e a fotografia (casual e profissional). O autor sugere que a imagem do Instagram constrói-se independente da técnica fotográfica, entretanto, em alguns aspectos, pode se aproximar, não havendo uma obrigatoriedade. Um exemplo disso, citado por Manovich (2017, p. 122) são as estratégias adotadas nas fotos projetadas onde os rostos e corpos cortados por enquadramentos e planos registrados diagonalmente que se assemelham às produções de fotógrafos dos anos 20 e 30, como Rodchenko, Lissitzky e Moholy- Nagy12

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Outro ponto a ser considerado por Manovich (ibid., p,125) é que a fotografia projetada não segue as convenções do retrato tradicional e pode se opor deliberadamente a elas. Igualmente, o autor da fotografia do Instagram não se detém às regras da perspectiva, sua visão não é posicionada de fora da situação; pelo contrário, ele está inserido na cena, no momento, no instante. Essa inserção pode ocorrer de duas maneiras, como compara o autor a jogos de videogame. Em algumas, o usuário traça uma narrativa em primeira pessoa (com a visão do personagem controlado) e, em outras, em terceira pessoa (como se aquela situação estivesse sendo captada por uma olhar de fora, com a visão atrás do personagem controlado).

Ao longo das últimas décadas, uma série de mídias de massa do cotidiano foram inseridas no cenário da arte, como por exemplo, o vídeo, televisão, computador (ARANTES, 2005, p.32), atualmente, pode-se citar também os celulares e seus aplicativos. Como exemplo da produção referente ao uso de aplicativos e celulares são as produções artísticas de Lev Manovich, que aliam as imagens do

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Respectivamente: artista plástico construtivista russo; artista e fotógrafo russo; artista e fotógrafo nascido na Hungria e que morou nos EUA, bastante influenciado pelo construtivismo russo. (MOMA, 2018)

Instagram a softwares computacionais capazes de gerenciar grande número de dados e reorganizá-los de acordo com predefinições, como é o caso da obra Selfiecity (Figura 23).

Figura 23 – Selfiexploratory (2014), aplicativo digital interativo disponível em Selfiecity.net.

Fonte: (MANOVICH, 2017, p.29).

Em Selfiecity o artista reuniu mais de três mil selfies que podem ser selecionadas e arranjadas de acordo com uma série de predefinições como: região geográfica, idade, gênero e humor.

Nesse sentido, também, destacam-se as produções da série Phototrails (Figura 24), que reuniram um número ainda mais expressivo de imagens, mais de dois milhões de fotografias compartilhadas em treze cidades globais.

Phototrails compara mais de 50 mil imagens registradas na cidade de Bangkok com 50 mil imagens da cidade de Tóquio. Os segmentos são dispostos de acordo com o matiz e a saturação das fotografias.

Figura 24 – Obra de Manovich, da série Phototrails, 2013.

Fonte: (MANOVICH, 2017, p.28).

A partir de Manovich, compreende-se o uso do Instagram seguindo padrões de estilos que são construídos globalmente. Quando um usuário captura uma imagem ele pode estar buscando já esses padrões assimilados subjetivamente de outros usuários ou dessas imagens das redes divulgadas em mídias da comunicação de massa. Pode-se pensar nisso tanto no âmbito das capturas de objetos, como de paisagens e do eu (nós) do retrato fotográfico móvel.

Analisando a imagem contemporânea nas redes, abre-se uma gama de diversos fatores que podem influenciar nas escolhas e caminhos traçados por esse indivíduo desde a sua captura pela câmera móvel até a edição dessa imagem no próprio dispositivo móvel (casos investigados nesta dissertação), chegando ao fim no compartilhamento dessa imagem em rede global.

O texto dissertativo adentra nesta seção no universo da imagem contemporânea, analisando questões relacionadas a este tema e à fotografia do mundo instagraniano. Assim, neste capítulo, são perpassados tópicos como o panorama da fotografia e imagem contemporânea, nos quais se inserem as produções da série [EM-NÓS]. Além disso, como a série [EM-NÓS] se relaciona às produções recentes de outros artistas, com temas e referenciais buscados na imagem e identidade instagraniana, abordam-se os fatores relativos ao processo de construção das identidades nas mídias digitais. Por fim, trata da expografia da exposição [EM-NÓS] no espaço virtual do Instagram.

A princípio, pode-se ressaltar que nas obras da Série [EM-NÓS] um dos destaques é o processo, envolvendo as especificidades dos procedimentos de edição, retoque e reconstrução, os quais são encontrados na variedade incessante de apps móveis que atuam como remodeladores dessas identidades, estando ao alcance da mão.

Na sequência, expõe-se parte do processo de produção das obras digitais, demonstrando os métodos e ferramentas utilizadas. As produções da série expostas no espaço virtual do Instagram são detalhadas na seção 2.3 e podem ser visualizadas por meio do próprio aplicativo no perfil @identidadeemrede.

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DA IMAGEM INSTAGRANIANA

No documento [Em-nós] identidades instagranianas (páginas 48-55)