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[Em-nós] identidades instagranianas

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS. Renato Kuhn. [EM-NÓS] IDENTIDADES INSTAGRANIANAS. Santa Maria, RS 2019.

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(3) Renato Kuhn. [EM-NÓS] IDENTIDADES INSTAGRANIANAS. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Artes Visuais. Orientadora: Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi. Santa Maria, RS 2019.

(4) 2. © 2019 Todos os direitos autorais reservados a Renato Kuhn. A reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte. Endereço: Rua Carlos Bergmann, n. 127, Bairro Sulina. Santa Rosa, RS. CEP: 98796-228 Fone (0xx)55 99924 1833; E-mail: renatokuhn@live.com.

(5) Renato Kuhn. [EM-NÓS] IDENTIDADES INSTAGRANIANAS. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Artes Visuais. Aprovado em 27 de março de 2019:. Prof. ª Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi, Drª (UFSM) (Presidente/Orientadora). Prof.ª Elaine Athayde Alves Tedesco, Drª (UFRGS). Prof. Karine Gomes Perez Vieira, Drª (UFSM). Santa Maria, RS, Brasil 2019.

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(7) RESUMO [EM-NÓS] IDENTIDADES INSTAGRANIANAS AUTOR: Renato Kuhn ORIENTADORA: Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi. O presente estudo abarca os percursos propostos numa pesquisa em Artes Visuais, que tem como tema as identidades virtuais de redes sociais digitais, especificamente do Instagram, chamadas aqui de identidades instagranianas e, igualmente, os aplicativos móveis de edição. O objetivo principal da pesquisa está na construção dessas identidades, analisando e questionando acerca dos conceitos e visualidades que as rodeiam. A metodologia utilizada constrói-se em processos particulares do artista e foram descritos ao longo do texto. Como resultado apresenta-se a série [EM-NÓS], desenvolvida como proposta artística da pesquisa de mestrado e apresentada na forma de duas exposições: uma virtual, no Instagram, e outra, física, na Sala de Exposições Professor Cláudio Carriconde, no Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria/ RS. A mostra virtual contempla cerca de quarenta produções em arte digital, em imagem e vídeo. Já a mostra no espaço expositivo físico reúne duas séries impressas compostas por trinta e duas imagens, três obras em videoprojeção e mais dois vídeos exibidos em tablet. Ao todo, a produção artística, [EM-NÓS], reúne obras divididas em três grupos, os quais são desdobrados ao longo do texto. Além disso, destacam-se as produções em particular, nas quais cada identidade desenvolvida passou por um processo específico e conta uma história diferente ao leitor/espectador. Ao fim, ressalta-se a importância dessa pesquisa e as conclusões obtidas nesse processo investigativo.. Palavras-chave: Arte Contemporânea. Arte e Tecnologia. Arte Digital. Identidades Instagranianas. Redes Sociais.

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(9) ABSTRACT [EM-NÓS] INSTAGRANIAN IDENTITIES Author: Renato Kuhn Supervisor: Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi. The present study is about a development artistic research about the virtual identities of social networks and mobile editing applications. The main objective of theresearch is in the production of these identities, analyzing and questioning about the concepts and visualities that surround them. The methodology used is built on the artist's particular processes and are explained throughout the text. As result is present the series [EM-NÓS] developed for the defense of masters degree. As a result, we have the developed series [EM-NÓS] for the master's degree, It was presented in the form of two exhibitions: one virtual in the Instagram App and another in the Exhibition Hall Professor Claudio Carriconde, at the Arts and Letters Center of the Federal University of Santa Maria / RS. The virtual exhibition contemplates about forty productions in digital art, both image and video. The physical exhibition shows two printed series of 40 images, three productions in video projection and two tablet‘s videos. In all, the artistic production, [EM-NÓS], brings together three works groups that are deployed throughout the text. In addition, particular productions stand out, where each one of the identities tells a different story to the reader / spectator.The importance of this research and the conclusions obtained in this investigative process are highlighted at the end.. Keywords: Contemporary art. Artand Technology. Digital art. Instagranian Identities. Social networks..

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(11) LISTA DE FIGURAS Figura 1 – IIR-0002, Série Identidades Instagranianas Rainbow, 2018..................... 21 Figura 2 – IIDRC-0006, Série Identidades Instagranianas Des|Re|Construídas, 2018. ............................................................................................................................ 27 Figura 3 – Autorretrato. Pintura a óleo. Renato Kuhn, 2015. ..................................... 30 Figura 4 – Um de Cem, Fotografia móvel e montagem digital. Renato Kuhn. 2016. . 31 Figura 5 – Um por cento de cada. Fotografia e edição digital. Renato Kuhn. 2016. . 32 Figura 6 – Estudo em aplicativo Faceswap. Edição móvel. Renato Kuhn. 2016. ...... 32 Figura 7 – Frame de vídeo SnapGltich 1 – 0:10s. Edição móvel. Renato Kuhn, 2016. ............................................................................................................................ 33 Figura 8 – Capturas de ―GLITCH+VIDEO+GAME‖. Vídeo. Giselle Beiguelman. 2013. ............................................................................................................................ 34 Figura 9 – Alguns aplicativos glitch disponíveis na AppStore.................................... 35 Figura 10 – Captura de tela da página do Instagram no site da Apple...................... 37 Figura 11 – Selfie de Ellen Degeneres, 2014. ........................................................... 38 Figura 12 – Selfie de Kim Kardashian ....................................................................... 38 Figura 13 – Kim Kardashian autografando o livro Selfish .......................................... 39 Figura 14 – Selfie de Kim e o processo da maquiagem de contorno ........................ 39 Figura 15 – Fotografia com maior número de likes no Instagram em 2015............... 40 Figura 16 – Foto com maior número de likes no Instagram em 2014 ....................... 40 Figura 17 – Perfis do Instagram com milhões de seguidores. .................................. 41 Figura 18 – Selfie de modelo britânica depilando pelos faciais ................................. 42 Figura 19 – Essena O‘Neal ....................................................................................... 43 Figura 20 – Merchandising no perfil de Kim Kardashian ........................................... 44 Figura 21 – Lançamentos de modelos e características dos Iphones ....................... 47 Figura 22 – Captura do Instagram realizada em 2010. ............................................. 47 Figura 23 – Selfiexploratory (2014), aplicativo digital interativo disponível em Selfiecity.net. ...................................................................................................... 50 Figura 24 – Obra de Manovich, da série Phototrails, 2013........................................ 51 Figura 25 – Exposição New Portraits. Richard Prince ............................................... 56 Figura 26 – Compartivo da identidade pré/pós edições. ........................................... 58 Figura 27 – Anúncios publicitários exibidos no feed do Instagram. ........................... 59 Figura 28 – Identidade de Jessica Hunt roubada. ..................................................... 60.

(12) 10. Figura 29 – Fictitious Portraits. Keith Cottingham. 1992. .......................................... 61 Figura. 30. –. IIDRC-0005. e. IIDRC-0002,. série. Identidades Instagranianas. Des|Re|construídas, 2018. ................................................................................. 63 Figura 31 – Fotografia de Khloé Kardashian com e sem edição, respectivamente. . 64 Figura 32 – Mapeamento feito da edição de Klhoe .................................................. 64 Figura 33 – Imagens do Instagram de Cindy Sherman ............................................ 65 Figura 34 – Exposição Identidades Instagraninas, em 2017. .................................. 66 Figura 35 – Rosto virtual 3D e primeiras edições recebidas ..................................... 67 Figura 36 – Identidade construída. Renato Kuhn. 2016............................................ 67 Figura 37 – Análise de aplicativos usados por agrupamento de características ....... 68 Figura 38 – Imagem em experimentação de edições, já com novos traços de aparência ........................................................................................................... 69 Figura 39 – Identidade desenvolvida durante experimentações. Renato Kuhn, 2018. ........................................................................................................................... 70 Figura 40 – Identidade desenvolvida durante experimentações. Renato Kuhn. 2018. ........................................................................................................................... 70 Figura 41 – Fotografia de Amalia Ulman, 2014. ....................................................... 71 Figura 42 – IIDRC-0001, Renato Kuhn. 2018. .......................................................... 72 Figura 43 – Processo de experimentação na construção da identidade. Renato Kuhn. 2018. ........................................................................................................ 73 Figura 44 – Captura de tela da Exposição Virtual Identidades Instagranianas [EMNÓS] .................................................................................................................. 75 Figura 45 – Exposição das obras da série VideoStories........................................... 75 Figura 46 – IIR-0004, detalhe. Renato Kuhn. 2018. ................................................. 77 Figura 47 – Séries desenvolvidas e suportes de exibição utilizados. ....................... 78 Figura 48 – IIDRC-0003. Renato Kuhn, 2018. .......................................................... 79 Figura 49 – IIDRC-0001 após reedição e anterior a qualificação, respectivamente. Renato Kuhn, 2018. ........................................................................................... 80 Figura 50 – IIDRC-0007. Renato Kuhn, 2018. .......................................................... 80 Figura 51 – IIR-0003 e IIR-0009, Renato Kuhn, 2018. ............................................. 81 Figura 52 – Capturas de tela da obra IIVS-001 ........................................................ 84 Figura 53 – Captura de tela do app onde foram criadas as obras da série VideoStories. ...................................................................................................... 84.

(13) Figura 54 – Mapa da Exposição Identidades Instagranianas [EM-NÓS], na Sala Cláudio Carriconde. ............................................................................................ 85 Figura 55 – Imagem da Exposição From the Selfie to Self-Expression, em Londres, 2017. ................................................................................................................... 86 Figura 56 – Registro da obra Odiolândia, de Giselle Beiguelman, 2018. .................. 87 Figura 57 – Paisagens ruidosas, Giselle Beiguelman, 2013. .................................... 87 Figura 58 – Parede da Sala Expositiva onde os vídeos foram projetados. ............... 88 Figura 59 – Área da exposição com vídeos em tablet. .............................................. 89 Figura 60 – Modelo expositivo das identidades apresentado na mostra de qualificação. ........................................................................................................ 89 Figura 61 – Modelo expositivo das identidades para a banca de defesa. ................. 90 Figura 62 – IIDRC-0010, 2018. ................................................................................. 91 Figura 63 – Meme sobre edição compartilhado por usuários em redes como Facebook e Twitter. ............................................................................................ 93.

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(15) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 15. 2. IDENTIDADE [EM-NÓS]: CONTEXTO E POTENCIALIDADES .................... 19. 2.1. [EM-NÓS] NO CONTEXTO VIRTUAL, SOCIAL E ARTÍSTICO ATUAL .......... 20. 2.2. IDENTIDADES INSTAGRANIANAS EM CONSTITUIÇÃO ............................. 36. 2.3. COMPETÊNCIAS TECNOLÓGICAS DO APLICATIVO INSTAGRAM ............ 46. 3. DES-DOBRAMENTOS DA IMAGEM E FOTOGRAFIA INSTAGRANIANA .. 53. 3.1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRODUÇÃO DA IMAGEM INSTAGRANIANA. NA CONTEMPORANEIDADE ................................................................................... 53 3.2. MODIFICAÇÕES. E. RE-CONSTITUIÇÕES. NAS. IDENTIDADES. INSTAGRANIANAS ................................................................................................... 57 3.3. EXPOSIÇÃO VIRTUAL IDENTIDADES [EM-NÓS] ......................................... 73. 4. IDENTIDADES INSTAGRANIANAS VIDEOSTORIES .................................. 77. 4.1. RELAÇÕES ENTRE AS SÉRIES [EM NÓS] ................................................... 77. 4.2. OS VÍDEOS DA SÉRIE [EM-NÓS]: A IDENTIDADE INSTAGRANIANA EM. VIDEOSTORIES ....................................................................................................... 82 4.3. EXPOSIÇÃO FÍSICA IDENTIDADES [EM-NÓS]............................................. 85. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 95 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 99.

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(17) 1. INTRODUÇÃO Essa pesquisa de mestrado1 foca-se nas identidades virtuais presentes nas. redes sociais contemporâneas, em específico o Instagram, visando à criação de propostas artísticas que levantem questionamentos acerca de seu entorno, bem como o uso recorrente de aplicativos de edição móvel e suas possíveis causas e efeitos na construção dessas identidades. Além disso, propõe-se analisar, de modo geral, tais questões no contexto da arte contemporânea e da arte e tecnologia. Inicialmente, pode-se lançar um panorama de onde essa pesquisa está inserida, trazendo questões relacionadas ao cotidiano contemporâneo. Isso é, atualmente, a sociedade compõe-se de seres conectados. Está-se com acesso global nos celulares, disponível vinte e quatro horas todos os dias. Nesse contexto, o indivíduo encontra-se cada vez mais inserido no mundo virtual e em contato com mídias digitais dos aparelhos celulares. As redes e os aplicativos passam a fazer parte, algumas vezes, indispensável da vida e do cotidiano dessas pessoas, influenciando-as e também refletindo em questões relacionadas à vida em sociedade. Nesta direção, a presente pesquisa de tem em vista contribuir com questionamentos acerca do uso de diversos aplicativos móveis de edição e suas possíveis inserções no campo das Artes Visuais. Foca, principalmente, na construção dessas identidades virtuais presentes nas redes sociais, bem como em suas relações em produções na área de arte e tecnologia. Para isso, inicialmente busca-se apoio em autores das áreas de ciências sociais e filosofia para explanar tais questões relacionadas ao indivíduo contemporâneo, identidade contemporânea, e a relação da humanidade com tais meios tecnológicos. Nesse contexto, o professor da Universidade de Nova Iorque, Fred Ritchin (2009, p. 9) diz que ―los cambios en los medios de comunicación, especialmente aquellos con tanta penetración como los digitales, nos exigen vivir de manera distinta, con percepciones y expectativas en constante movimiento‖. De fato, quando se pensa em tecnologia digital, está-se ciente das constantes atualizações nos. 1. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001..

(18) 16. aparelhos e sistemas, onde a cada dia são lançadas novas novidades na loja de aplicativos e novos smartphones no mercado. Diante desse breve panorama, de onde surgem as questões da pesquisa, delimita-se o objeto de estudo aqui pesquisado: a identidade instagraniana na arte contemporânea. Como objetivo tem-se o desenvolvimento da pesquisa teórica e prática atentamente às produções de artistas e teóricos referenciais nas áreas que ela se insere. Ressaltando-se que, de certa forma, produções com esse tema já vêm sendo desenvolvidas em caráter teórico e prático, pode-se citar como exemplo as do artista russo estabelecido nos Estados Unidos, Lev Manovich, pesquisador que publicou um livro intitulado Instagram and the Contemporary Image. Outro nome que se destaca é o artista norte-americano Richard Prince, que realizou em 2012 uma exposição polêmica cujas obras consistiam em printscreens de fotografias de usuários do Instagram, chamando atenção à riqueza estética presente nesses aplicativos, levantando questionamentos acerca de apropriação e direito dessas imagens. Igualmente, as produções atuais de Cindy Sherman, artista norteamericana que vem utilizando o Instagram para compartilhar suas obras recentes, inseridas também nesse contexto. Busca-se apoio nestes estudos e manifestações da arte atual para situar e referenciar essa pesquisa, os quais serão abordados ao longo do texto em suas pertinentes questões. As produções artísticas desenvolvidas compõem uma exposição na Sala Cláudio Carriconde do Centro de Artes e Letras, cujas imagens serão visualizadas em telas de tablets, projeções e papel fotográfico. Além disso, também foi desenvolvida uma exposição virtual que pode ser acessada no perfil do Instagram @identidadeemrede. Quanto a estruturação desta pesquisa, a dissertação foi dividida em três capítulos. Ao longo destes, são abordadas diversas particularidades referentes à produção desenvolvida. Após a parte introdutória do texto dissertativo, no capítulo 2, inicia-se uma passagem pelo universo da identidade e do indivíduo instagraniano. Nesse percurso, faz-se um panorama sobre o contexto tecnológico, social e cultural da série [EMNÓS]. Além disso, busca-se em alguns autores como, por exemplo, Pierre Lévy, Edmond Couchot e Stuart Hall referências para. alguns termos evocados na. pesquisa. Nessa parte inicial, também é mostrada a origem e o percurso da.

(19) 17. pesquisa sobre as identidades instagranianas. E, ao fim, inicia-se a exploração sobre o Instagram analisando suas características e especificações, bem como obras produzidas por Lev Manovich sobre a imagem instagraniana. No capítulo 3 são trazidas as questões relacionadas ao processo de construção dessas identidades. Para isso, adentra-se a produção de imagem do Instagram, buscando em obras do artista Richard Prince questionamentos e características sobre essa imagem. Também, nesta parte, aborda-se o processo de construção das Identidades da série [EM-NÓS] através dos aplicativos de edição, relacionando-as a obras de artistas como Keith Cottingham e Cindy Sherman. Ao final do capítulo, traz-se a Exposição Virtual Identidades Instagranianas [EM-NÓS] realizada no Instagram. No capítulo 4, faz-se comparações e apontamentos entre os três conjuntos de obras que constituem a série [EM-NÓS] e que foram apresentadas ao longo dos capítulos anteriores. Além disso, destaca-se a série Identidade Instagraniana VideoStories, que explora a tecnologia de edição de imagem para vídeo. Ao final do capítulo mostra-se a exposição física realizada na Sala Cláudio Carriconde do Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria. O texto se encerra com as considerações finais e as referências consultadas..

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(21) 2. IDENTIDADE [EM-NÓS]: CONTEXTO E POTENCIALIDADES A presente pesquisa de mestrado propõe a criação de uma produção artística. organizada sob a forma de uma série intitulada ―[EM-NÓS] Identidades Instagranianas‖, nutrindo-se de uma temática alicerçada no contexto contemporâneo que remete às identidades nas redes sociais. Neste sentido, como resultado prático, apresenta-se em dois momentos relacionados: uma série fotográfica exposta na rede social Instagram (em perfil específico criado para a produção) e uma mostra individual na Sala de exposições Cláudio Carriconde do Centro de Artes e Letras, UFSM. Assim, a produção engloba duas expografias distintas: uma para seu universo de origem, o Instagram, e outra composta por imagens impressas e videoprojeção em ambiente expositivo físico. A proposta artística gerada para a exposição virtual consiste em duas séries de imagens estáticas, a saber: ―Identidades Instagranianas Des|Re|Construídas‖ (vinte produções) e ―Identidades Instagranianas Rainbow‖ (vinte produções). Além disso, há também uma série constituída a partir de imagens em movimento intitulada ―Identidades Instagranianas VideoStories‖ (nove obras). Já a exposição física ―[EMNÓS]‖ conta com três obras em videoprojeção, dois vídeos e uma série de trinta e duas imagens impressas. Na série ―Identidades Instagranianas Des|Re|Construídas são explorados os aplicativos de retoque e filtros visando um resultado mais cru; embora possuam as de|formações artificiais geradas com a manipulação da imagem suas cores e filtros são definidos visando uma normalidade, ou seja, uma imagem que seria normalmente postada ou encontrada nessas redes sociais. Da mesma forma, constituiu-se a série ―Identidades Instagranianas‖ realizada a partir de imagens em movimento. Em ―Identidades Intagraninas Rainbow‖ além das manipulações de retoques e des|re|construção das identidades, as produções também são permeadas de filtros, cores, chromas2 e demais artificialidades encontradas nos aplicativos, visando gerar resultados mais irreverentes e não tão usuais. O título da série relaciona-se a essa irreverência nas cores e também nos filtros de arco-íris popularmente utilizado nas redes sociais.. 2. Nome dado a um dos efeitos disponíveis em um aplicativo de edição bastante popular..

(22) 20. Para a exposição virtual apresentada no Instagram observou-se uma série de especificidades desse ciberespaço, tendo por base referências de autores estudiosos do assunto e usuários da rede. Buscou-se explorar as possibilidades singulares do aplicativo, as quais serão detalhadas ao longo do capítulo três deste texto; as questões pertinentes à expografia da mostra de defesa pública realizada na Sala Cláudio Carriconde da UFSM são detalhadas no capítulo quatro. Vale ressaltar, inicialmente que a denominação da série ―[EM-NÓS]: Identidades Instagranianas‖ evidencia a conotação de coletivo, destacando que o termo ―nós‖, afora referir-se ao pronome pessoal, primeira pessoa do plural, também evoca a ideia de ligação (elos) da rede social. Sabe-se que as identidades online, por pressuposto básico, estabelecem conexões com diversos outros indivíduos. São, de fato, ligações complexas, que podem modificar a cada um e todos internamente, bem como a forma como cada sujeito se vê ou deseja ser visto. Nesta direção, propõe-se uma reflexão sobre a imagem e identidade em redes digitais, a partir da pesquisa em poéticas visuais com o desenvolvimento dessa série. Para isso, foi realizada uma investigação que analisou e questionou essas subjetividades e coletividades encontradas em identidades da rede, visando gerar produções digitais relevantes ao tema e à arte contemporânea. Para tal, no segundo capítulo, faz-se um panorama do universo instagraniano, abordando questões relacionadas ao seu contexto social, tecnológico e cultural. 2.1. [EM-NÓS] NO CONTEXTO VIRTUAL, SOCIAL E ARTÍSTICO ATUAL. Atualmente a vida deixou de ser apenas particular ou restrita aos círculos de amizades presenciais no cotidiano. Há a vida virtual. Existem as relações nutridas e alicerçadas através das telas de celulares smartphones. Um universo onde quem é visto existe. Tal existência depende que o usuário faça constantes publicações e esteja conectado, ―online‖. Para o filósofo e sociólogo francês Pierre Lévy a vida real offline e a vida online não se opõem, uma alimenta à outra. Esse mundo virtual seria alimentado em tempo real por mensagens, imagens, um contexto e memória coletiva acessível a todos (LÉVY, 2010, p. 148). Trazendo-se tal experiência para a vivência particular,.

(23) 21. como usuário e consumidor da informação virtual, pode-se dizer que a vida virtual está cada vez demandando mais atenção e tempo na vida real. Nessa direção, como usuário/artista-pesquisador a imagem virtual pessoal estabelece relações sociais tanto quanto, ou até mais, do que se faz no cotidiano offline.. No. entanto,. o. tempo. em. que. não. se. está. compartilhando. informações/imagens/mensagens nas redes seria um tempo em que se deixaria de ―existir‖ naquela forma, podendo gerar lacunas dessa vida virtual? É um fato que aplicativos como o Instagram demandam do usuário uma constante atualização dos seus feeds. Visando essa constante solicitação imagética, os aplicativos disponibilizam uma série de edições mais lúdicas com a finalidade de atribuir uma variedade nas postagens virtuais, de forma a ―convidar‖ o usuário a experimentar e, consequentemente, postar uma nova imagem. ―Colora seu humor‖, mensagem encontrada em um filtro de um app de edição de selfies; tal texto vem escrito, acompanhado de um filtro com desenhos estilo scrapbook, além de detectar o indivíduo e fundo para o integrar com essa moldura. Figura 1 – IIR-0002, Série Identidades Instagranianas Rainbow, 2018.. Fonte:(Arquivo do Autor, 2018).

(24) 22. Na produção IIR-0002, a figura central olha para a câmera, séria. Ao canto, tem-se a mensagem padrão inserida pelo filtro ―color your mood‖, bem como os tons pasteis que o acompanham. Nessa imagem, a des|re|construção da identidade vem desde sua fisionomia, expressão, cabelo, maquiagem, corpo, cores e, inclusive, o lugar onde a captura foi realizada. Diante disso tudo, busca-se contrapor essa figura constituída de diversas des-constituições do seu ―eu‖ a uma frase genérica desse filtro que possivelmente foi utilizado por milhares de pessoas em todo o mundo. Tomando a IIR-0002 como um breve exemplo da pesquisa aqui apresentada, propõe-se entender algumas questões essencialmente necessárias a este estudo. Esses indivíduos, não só os aqui des|re|construídos, mas também quaisquer outros encontrados no Instagram, estão inseridos em complexos contextos tecnológicos, culturais e sociais, assim,propõe-se, aqui, desdobrar alguns para melhor se compreender o que essas des|re|construções de identidades são e representam. Inicialmente, pode-se dizer que as tecnologias atuais de comunicação, como a Internet e as redes sociais, vêm se atualizando e modificando cotidianamente, disponibilizando novas perspectivas em produções artísticas. Abordando o assunto, Eduardo Kac, artista brasileiro contemporâneo e pioneiro da arte digital, aponta algumas mudanças nessa era do virtual: A introdução em larga escala de tecnologias televirtuais na sociedade está remapeando nosso domínio de ação e interação em todas as esferas públicas. Hoje, como no passado, novas tecnologias de informação redefinem a experiência humana. Isso aconteceu com a imprensa mecânica, a fotografia, a telegrafia, o telefone, o fonógrafo, o cinema, o rádio, a televisão, o computador pessoal, a Internet. Novas tecnologias de informação geram novas situações bem como novas maneiras de compreender situações conhecidas. Elas têm o poder de modificar a arena social através da introdução de novas formas de intercurso e negociação de significados. Hoje, novos "codecs" (algoritmos de compressão/descompressão) também geram novos códigos, à medida que nossos sistemas de trocas simbólicas começam a incorporar novos elementos introduzidos pela fusão de telecomunicações analógicas, computação em tempo real e sistemas digitais em rede mundial. É claro que telefonemas e mensagens de correio eletrônico jamais serão os mesmos quando o vídeo de 30 fps ocupar linhas telefônicas, ou quando a Internet for acessada via cabo coaxial ou cabos de fibra ótica. Novos esquemas de compressão e de grande largura de banda transformarão diálogos ordinários em experiências multimídia e eventos de telepresença tornar-seão comuns (KAC, 1994, s.p.).. O futuro descrito por Kac em 1994 está cada dia mais próximo. Em 2018, o ser humano já se encontra cada vez mais dependente e inseparável do aparelho de telefonia celular que possibilita inúmeras formas de interações virtuais através de.

(25) 23. redes, videochamadas e conexões super-rápidas e, em breve, alcançando a velocidade 5G3 (ZURIARRAIN, 2018). Para que se compreenda esse panorama tecnológico-social é importante também situar-se diante do contexto da cibercultura e ciberespaço. Pierre Lévy (2010, p. 17) afirma que o ciberespaço ―é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores‖, o autor entende que o termo engloba não só a infraestrutura material dessa comunicação digital, mas também todas as informações nele abrigadas. Igualmente, ele entende cibercultura como ―o conjunto de técnicas (materiais e imateriais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamentos e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço‖ (LÉVY, 2010, p. 17). Faz-se importante compreender esse contexto já que, desde 1990, a Internet começou sua trajetória como ferramenta de comunicação cotidiana (RUDIGER, 2016, p. 7). Para o autor e pesquisador brasileiro Francisco Rudiger, a cibercultura pode ser entendida como um mundo próprio e um campo de interrogação intelectual com grande potencialidade, em constante e rápida expansão, baseado em redes telemáticas. Dessa forma, neste estudo atenta-se para estar presente nesse contexto da cibercultura e do ciberespaço. No entanto, busca, em suas teorias, suporte apenas para algumas delimitações e linguagens específicas desse cibermundo. Na perspectiva das considerações elaboradas por Eduardo Kac, é possível ponderar acerca das modificações resultantes dessa tecnologia atual. Dessa forma, constata-se que a vida em sociedade hoje encontra novas formas de estabelecer relações em decorrência disso, onde, frequentemente, o contato humano diário e presencial pode ser substituído por textos, mensagens, imagens e vídeos via celulares e Internet. Como diz o pesquisador acadêmico norte-americano Fred Ritchin (2010, p.10), em tal contexto, as interações sociais via Internet alcançam níveis globais, considerando-se a abrangência e instantaneidade estabelecidas nessas conexões. Consoante o exposto, propõe-se imaginar, de maneira geral, a construção dessa vida em rede, virtual. Sendo que essa vida virtual não é gerada em um jogo. 3. Quinta geração de telefonia móvel, sendo que, atualmente, a quarta acha-se vigente..

(26) 24. online, mas, sim, a própria existência particular do indivíduo, estendida, armazenada e compartilhada em rede para o mundo. Diante dessa tecnologia móvel, os indivíduos deparam-se com novas experiências estéticas que podem modificar a percepção dessas identidades virtualizadas e exibidas na tela do celular. Isso quando não tomam a imagem como verdade absoluta, sem questionar os processos que a originaram. Edmond Couchot (2003, p. 15), artista e pesquisador francês, já dizia que a imagem é uma atividade que coloca em jogo técnicas e um sujeito operando com estas técnicas. Quando se pensa na imagem instagraniana, pode-se relacioná-la também à experiência tecnoestética descrita por Couchot, já que o sujeito operador do aplicativo tem em mãos uma série de ferramentas e técnicas capazes de controlar e manipular a percepção que tem do mundo, vivendo uma experiência íntima com esses aplicativos. Lev Manovich (2017, p. 115), pesquisador russo de mídias digitais estabelecido nos EUA, coloca o movimento Instagrammism como uma estética moldada globalmente pelos usuários. A isso pode-se relacionar o ―sujeito-Nós‖, introduzido por Couchot, como uma das figuras da subjetividade que tem sua atividade artística modelada pela experiência tecnoestética; de outro lado, tem-se o ―sujeito-Eu‖, o qual, segundo o autor, resgata a expressão de uma subjetividade relacionada ao seu imaginário individual (COUCHOT, 2003, p. 17). Como está abordado na subseção 2.2, o usuário Instagrammer (MANOVICH, 2017 p. 126) pode estar inserido dentro da estética instagramista e ao mesmo tempo possuir um estilo particular em sua galeria de fotos no aplicativo, tal fato que destaca sua subjetividade perante o uso das ferramentas tecnológicas. Dessa forma, parte do título da Série [EM-NÓS] busca referenciais em Couchot (2003) ao relacionar a ideia de um sujeito coletivo (sujeito de um fazer técnico) aos desdobramentos propostos nesta investigação, tendo em vista o uso global dos aplicativos abertos de edição móvel para celular, sem desconsiderar também a presença de uma subjetividade criativa e artística (sujeito-Eu) envolvida na edição das imagens. Seguindo nessa direção, quando se aborda o tema das identidades instagranianas faz-se necessário também entender as formas de percepção do.

(27) 25. virtual e real, já que a série busca na manipulação digital das imagens as modificações necessárias para chegar ao resultado esperado para as produções. Como já mencionado, vive-se em uma era virtual e digital. Muito se tem falado sobre isso nas áreas de artes visuais, sociologia, cultura e tecnologia. Buscou-se, assim, em autores como Pierre Lévy e Edmond Couchot, delimitações para melhor compreender esse conceito. Lévy (2011, p. 15) diz que: ―A palavra virtual vem do latim medieval virtuallis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Além disso: A palavra "virtual" pode ser entendida em ao menos três sentidos: o primeiro, técnico, ligado à informática, um segundo corrente e um terceiro filosófico. O fascínio suscitado pela "realidade virtual" decorre em boa parte da confusão entre esses três sentidos. Na acepção filosófica, é virtual aquilo que existe apenas em potência e não em ato, o campo de forças e de problemas que tende a resolver-se em uma atualização. O virtual encontrase antes da concretização efetiva ou formal (a árvore está virtualmente presente no grão). No sentido filosófico, o virtual é obviamente uma dimensão muito importante da realidade. Mas no uso corrente, a palavra virtual é muitas vezes empregada para significar a irrealidade — enquanto a "realidade" pressupõe uma efetivação material, uma presença tangível. A expressão "realidade virtual" soa então como um oxímoro, um passe de mágica misterioso. Em geral acredita-se que uma coisa deva ser ou real ou virtual, que ela não pode, portanto, possuir as duas qualidades ao mesmo tempo. Contudo, a rigor, em filosofia o virtual não se opõe ao real mas sim ao atual: virtualidade e atualidade são apenas dois modos diferentes da realidade. Se a produção da árvore está na essência do grão, então a virtualidade da árvore é bastante real (sem que seja, ainda, atual) (LÉVY, 2014, p. 49).. Sendo assim, nesta pesquisa adota-se, a partir de Lévy, a ideia do virtual apresentado nas produções geradas para descrever as identidades encontradas em telas digitais, modificadas, editadas, ou mesmo estando apenas ali em sua existência. Nas produções da Série [EM-NÓS], alteram-se as identidades instagranianas em meios digitais (tela de celular) e, assim, modifica-se a informação virtual que compõe essas identidades, distanciando-as de seu referencial real do qual ela foi capturada. Pode-se destacar aqui um dos principais objetivos obtidos através desse processo que é essa modificação informacional a partir dos aplicativos de edição disponíveis em celulares, que proporcionam uma série de questionamentos pertinentes ao campo da arte contemporânea e estão abordados ao longo dessa dissertação. Outro ponto que se busca referência em Lévy é a questão do conglomerado virtual em rede que gera uma comunidade. Pensando-se o Instagram como uma.

(28) 26. comunidade virtual, o autor nos proporciona um vislumbre pertinente sobre essa condição. uma comunidade virtual pode, por exemplo, organizar-se sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de comunicação telemáticos. Seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, contingente, não é mais nem um ponto de partida, nem uma coerção. Apesar de ―não-presente‖, essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. Ela vive sem lugar de referência estável: em toda parte onde se encontrem seus membros móveis...ou em parte alguma (LÉVY, 2011, p. 20). Consoante mencionado anteriormente, o Instagram é um exemplo prático de como uma comunidade virtual se organiza na Internet. No papel de usuário, quando se cria um perfil, é possível selecionar os demais usuários que se quer seguir, permitindo visualizar imagens e vídeos de acordo com seu interesse. Cada usuário tem a possibilidade de alimentar esse conteúdo virtual com suas próprias imagens. Conforme se cria a lista de seguidores, tem-se acesso a uma quantidade delimitada a partir desses elos com os outros usuários os quais resultam em uma porção específica de conteúdo, independentemente de regiões geográficas, línguas nativas, ou quaisquer outros empecilhos. um movimento geral de virtualização afeta hoje não apenas a informação e a comunicação mas também os corpos, o funcionamento econômico, os quadros coletivos da sensibilidade ou do exercício da Inteligência. A virtualização atinge mesmo as modalidades do estar junto, a constituição do ―nós‖: comunidades virtuais, empresas virtuais, democracia virtual... Embora a digitalização das mensagens e a extensão do ciberespaço desempenhem um papel capital na mutação em curso, trata-se de uma onde de fundo de ultrapassa amplamente a informação (LÉVY, 2011, p. 11). A partir dessa citação de Lévy pode-se destacar pontos importantes como: a era da virtualização não afeta apenas a comunicação e informação, mas também os corpos, o indivíduo. Nesse aspecto, a pesquisa busca meios que demonstrem como essa virtualização do corpo é exibida/influenciada/alterada no Instagram. Noutro ponto, há a questão da modalidade do estar junto e a constituição deste ―Nós‖. Hoje, a condição de se estar conectado é uma constante e a socialização parece cada vez mais ocorrer por meio da tela do celular, sendo que, muitas vezes, o contato social virtual acaba sendo mais frequente que o contato físico, presencial. Pode-se pensar mais abertamente essa questão a partir da seguinte citação de Couchot:.

(29) 27. [...] capaz de interagir, muitas vezes imediatamente com o observador, como o teria feito o real, esta realidade virtual tende a substituir parcialmente o real – e a libertar-se dele – provocando, assim relações profundamente diferentes entre a imagem, sujeito e o objeto (COUCHOT, 2003, p. 19.). Nas produções da série [EM-NÓS] o indivíduo registrado na fotografia móvel passa a ser apenas um ponto de referência também para a construção de uma nova identidade. A série vale-se das influências nascidas com o uso diário dos aplicativos, as possibilidades que a tecnologia oferece para a edição de imagens e que, muitas vezes, sugerem tais opções como se houvesse um intuito e necessidade delas estarem ali. Se tais ferramentas encontram-se disponíveis nos aplicativos é porque há uma necessidade ou demanda para isso. E, se estão disponíveis, deve-se utilizálas? Figura 2 – IIDRC-0006, Série Identidades Instagranianas Des|Re|Construídas, 2018.. Fonte: (Arquivo do autor, 2017)..

(30) 28. Quando se tem à disposição milhares de aplicativos que possibilitam a edição e ―melhoramento‖ de fotografias e imagens para o mundo virtual pode se tornar difícil estar fora desse movimento. As edições estão presentes no Instagram e no cotidiano de todos; sendo usuários das redes pode-se estar atento e perceber sua presença em diversos lugares. A imersão pessoal no universo das redes aconteceu há mais de 10 anos, na antiga e já não mais existente rede social Orkut. Desde então, a vida online nunca esteve tão presente e demandou tanta aproximação quanto nos dias de hoje. Para os usuários, sobretudo, estudantes e jovens, redes como Facebook e Instagram são de uma necessidade tão primordial quanto os documentos de identidade. As pessoas dos círculos sociais como trabalho, família, amigos podem ser facilmente localizados e contatados via redes. Esses aplicativos também possibilitam conhecer novas pessoas em qualquer hora do dia e em qualquer lugar do mundo. Estar em rede é uma necessidade pessoal tão básica ou, possivelmente até mais, quanto os contatos presenciais em alguns momentos. Nesse contexto, surgem as questões que fomentam o desenvolvimento dessa pesquisa: a identidade das redes, não se trata só da identidade do ―eu‖, mas a identidade de um ―nós‖, de todos, de qualquer um e de todos ao mesmo tempo. Inicialmente, pode-se dizer que identidade, na acepção da palavra, constitui uma ―série de características próprias de uma pessoa ou coisa por meio das quais podemos distingui-las‖ (MICHAELIS, 2018). Por outro lado, é necessário adentrar um pouco em questões mais sociológicas e culturais para melhor compreender essa identidade contemporânea. Para Stuart Hall (2011, p. 8), teórico cultural e sociólogo jamaicano, ―o conceito de identidade é demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito. pouco. compreendido. na. ciência. social. contemporânea. para. ser. definitivamente posto‖. Partindo da ideia que ―as velhas identidades estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo‖ (ibid., p. 7) o autor traz um sujeito pós-moderno com que não possui uma identidade fixa essencial ou permanente (ibid., p. 13), capaz de assumir identidades diferentes em diferentes momentos. O que Hall argumenta é que as identidades estão em crise, e não mais facilmente situadas como em períodos históricos anteriores. A identidade do sujeito pós-moderno é ―móvel‖, pode ser assumida em diferentes identidades em.

(31) 29. diferentes ocasiões, podendo ser contraditórias e continuamente deslocadas (ibid., p.13). Tudo isso torna-se bastante complexo, perante fenômenos como a globalização, hibridismos culturais ou homogeneidades que afetam e influenciam essas identidades. Um exemplo simples da multifacetação da identidade dos indivíduos é o que Manovich (2018, p .137) exemplifica na alternância que o indivíduo contemporâneo faz no seu estilo de vida, alternando entre as tribos, sem pertencer a uma definida, é o que ele delimita como o sujeito contemporâneo hipster, que utiliza de diversas influências culturais, de moda, de estilo de vida sem se prender a uma somente. Já para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2005), a questão da identidade pode ser abordada pela relação de um indivíduo em comunidade ligado por meio de ideias e princípios. E também ressalta que a trajetória de decisões e escolhas que o indivíduo toma não são consolidadas para uma vida toda, e sim revogáveis e mutáveis frequentemente (BAUMAN, 2005, p. 17). A constante construção da identidade instagraniana relaciona-se a essas aproximações de ideias, escolhas e princípios que o usuário das redes sociais opta em sua trajetória digital . Desde as primeiras experiências pessoais como artista/pesquisador a identidade foi um foco em questão. Isso ocorreu, subjetivamente, por meio de autorretratos realizados em uma disciplina de Pintura, em 2015, no Curso de Bacharelado em Artes Visuais da UFSM. No final do semestre, quando da avaliação das produções, surgiu o questionamento sobre o modo em que tais autorretratos pareciam evocar a selfie4 . Assim, a questão estava ali, inserida subjetivamente na maneira de como ocorria a autorrepresentação pessoal nas linguagens artísticas (Figura 3). Isso despertou interesse crescente e passou a constituir um aspecto instigante na pesquisa artística desde então.. 4. Fotografia que uma pessoa faz de si mesma, geralmente tirada com aparelhos de telefonia móvel do tipo smartphone e divulgada na Internet..

(32) 30. Figura 3 – Autorretrato. Pintura a óleo. Renato Kuhn, 2015.. Fonte: (Arquivo do Autor, 2015).. Após as experimentações em Pintura, outras foram feitas com a fotografia móvel, quando, durante o Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharelado em Artes Visuais na UFSM, foi desenvolvida a proposta ―Um de Cem‖ (2016). Para tal, foram tiradas 100 fotografias utilizando a câmera frontal do celular e dispostas digitalmente ao longo de 100 partes iguais de um quadrado. As imagens foram arranjadas em uma composição onde as 100 fotos constituíam uma apenas, tendo a seleção de imagens como ponto de partida. A prática mais usual, neste caso, é a de, alguns usuários, após inúmeras tentativas, selecionarem uma imagem para ser postada que esteja ―adequada‖ aos ideais sociais do app. Ao contrário disso, nesta produção, as fotografias foram dispostas ao acaso, seccionadas e arranjadas lado a lado para compor um todo (Figura 4)..

(33) 31. Figura 4 – Um de Cem, Fotografia móvel e montagem digital. Renato Kuhn. 2016.. Fonte: (Arquivo do Autor, 2016).. Deixou-se certo ‗incômodo‘ em algumas áreas da imagem, as quais levemente se deslocam do ângulo padrão, ou foram realizadas sem a utilização do filtro de ‗embelezamento‘ que vem integrado em muitas câmeras de smartphones, assim, o resultado exibe partes que mostram ‗defeitos‘ no retrato. As mesmas cem selfies também compuseram a produção artística ―Um por cento de cada um‖ (2016), onde todas as cem imagens foram sobrepostas uma acima da outra com o corte na mesma posição para todas as fotografias, tendo 1% de visibilidade em cada uma dessas camadas fotográficas (Figura 5)..

(34) 32. Figura 5 – Um por cento de cada. Fotografia e edição digital. Renato Kuhn. 2016.. Fonte: (Arquivo do autor, 2016).. A partir de tais experiências e produções, também foram realizados outros trabalhos visando encontrar bugs5 e defeitos no uso de faces do aplicativo Face Swap6 (Figura 6). Figura 6 – Estudo em aplicativo Face Swap. Edição móvel. Renato Kuhn. 2016.. Fonte: (Arquivo do autor, 2016).. 5. ―Falha ou erro no código de um programa de computador que impede sua execução correta‖ (MICHAELIS, 2018) 6 A lente ―Face Swap‖, lançada em 2016 no Snapchat, permitia ao usuário trocar de face com outra pessoa durante a foto ou vídeo, ou também trocar de face com qualquer imagem em seu celular..

(35) 33. Como resultado, pode-se perceber o potencial desses aplicativos falharem após sucessivas utilizações. Já no segundo ‗Face Swap’ a imagem ‗bugou‘. Vale ressaltar que o interesse dessa produção está na incerteza desta predefinição do aplicativo e sua possibilidade de gerar um erro; diferentemente, por exemplo, de uma montagem em Desktop, onde já haveria certa intenção formal para realizar a montagem. A partir da busca por esse bug, esse ‗glitch7‘ no sistema do Face Swap realizaram-se alguns trabalhos em vídeo utilizando a estética do defeito, do glitch. Figura 7 – Frame de vídeo SnapGltich 1 – 0:10s. Edição móvel. Renato Kuhn, 2016.. Fonte: (Arquivo do autor, 2016).. Esses vídeos deram início à investigação e experimentações com filtros e edições de glitch em vídeo. Tais efeitos glitch e similares inseriram-se nessas produções como elementos visuais e conceituais desestabilizadores. A estética móvel aparece em contínuo movimento em produções artísticas da brasileira Giselle Beiguelman. Um exemplo destacável é a obra GLITCH+VIDEO +GAME, onde se tem uma espécie de ‗quebra-cabeças‘ de um vídeo (Figura 8). À medida que se vai tentando encaixar as partes, o vídeo começa a sofrer o processo glitch, tornando esse objetivo impossível.. 7. Aqui a palavra ‗glitch‖ é utilizada no sentido de ―falha‖, defeito no software..

(36) 34. Figura 8 – Capturas de ―GLITCH+VIDEO+GAME‖. Vídeo. Giselle Beiguelman. 2013.. Fonte: (BEIGUELMAN, 2013).. Sobre essas produções de 2013, Beiguelman comenta: GlitchedLandscapes é um convite para enfrentar paisagens, todas elas muito urbanas, e experimentar sua desordem como paradigma essencial para sua fruição. O projeto combina duas inquietações: a paisagem urbana e o novo estatuto do audiovisual em rede. Investiga estéticas do ruído, em particular o glitch, e os modos pelos quais dialoga com espaços fragmentados e as experiências que temos das fraturas urbanas. Ao mesmo tempo, põe em circulação estratégias de programação em html5, que permitem novos formatos de visualização on-line, pois confundem os limites entre imagem estática e em movimento e solicitam outros órgãos e partes do corpo... no processo de figurar. Estamos entrando na era do veja com as mãos, pense com os olhos. Como isso alterará nossas formas de percepção e os próprios regimes de olhar? (BEIGUELMAN, 2013, s/p). Assim, pode-se dizer que o glitch consiste em falhas, ruídos, distorções da informação, podendo ser encontrado em produções artísticas utilizando desde o vídeo analógico e, atualmente, na imagem digital móvel como, por exemplo, em filtros para o stories do Instagram. Além disso, pesquisando em lojas de aplicativos móveis é possível encontrar uma variedade ampla de editores glitch de imagem, vídeo e texto..

(37) 35. Figura 9 – Alguns aplicativos Glitch disponíveis na AppStore.. Fonte: (AppStore, 2018).. Nos trabalhos de Beiguelman, o glitch insere-se nas inquietações do urbano contemporâneo e como ferramenta do audiovisual em si. Analisando a produção da série ―Paisagens Ruidosas‖ da artista, tem-se uma gama de produções no campo da arte e tecnologia que se difundem por diversos suportes, como os games para navegadores de Internet, as foto/vídeos para Tumblr e postagens no Instagram. Ambas imagens e vídeos foram capturadas e editadas em iPhone. Nesse sentido, o presente estudo se aproxima do trabalho de Beiguelman no que diz respeito à captura e edição das imagens e vídeos, para o que se optou por serem totalmente realizadas em um aparelho de telefonia celular/iPhone Vale destacar que as produções artísticas apresentadas nessa subseção que foram realizadas na etapa final da Graduação em Artes Visuais consistem em um marco importante para a poética pessoal, pois correspondem ao nascimento da pesquisa que se estende até hoje. Assim, visam ilustrar um ponto de partida para esse estudo, no entanto, para compreender melhor o contexto em que as obras se situam, faz-se necessário compreender a forma como essas redes são utilizadas e o que elas representam..

(38) 36. 2.2. IDENTIDADES INSTAGRANIANAS EM CONSTITUIÇÃO. As redes sociais encontram-se inseridas no cotidiano contemporâneo. Bauman (2008) cita que, entre um dos motivos, elas vieram para suprir uma necessidade humana de compartilhar informação. Desde 2006, período que o sociólogo data em seu livro, marca-se o surgimento de algumas redes sociais, como o Cyworld8, sendo que, posteriormente, desenvolveram-se várias outras pela Internet e também na era da mobilidade em celulares e smartphones. Nesta seção, abordam-se os processos de exibição da imagem do indivíduo do Instagram. Para melhor situar o assunto, cita-se a descrição do aplicativo na PlayStore/App Store: O Instagram é uma maneira simples de capturar e compartilhar momentos do mundo. Siga seus amigos e familiares para ver o que eles estão fazendo e descubra contas do mundo inteiro que estão compartilhando coisas que você aprecia. Junte-se à comunidade de mais de 1 bilhão de pessoas e se expresse compartilhando momentos do seu dia, sejam destaques ou situações prosaicas (APPLE INC, 2019).. Tal descrição resume uma visão geral do aplicativo. Para aprofundar a ideia, buscam-se também referências no artista/pesquisador Lev Manovich que publicou o livro ―Instagram and the contemporary image‖. O autor aborda o assunto agregando uma análise híbrida quantitativa, ao utilizar grandes dados culturais e softwares computacionais, aliada a análises qualitativas tradicionais da teoria da mídia e da história da arte (MANOVICH, 2017, p.4). Com base nisto, busca-se demonstrar as questões pertinentes a esta pesquisa ao longo dos três capítulos em que se estrutura o texto.. 8. Cyworld pode ser traduzido como ‗mundo cibernético‘; mas, nesse caso, se relaciona ao site sul coreano de relacionamento virtual: CYWORLD..

(39) 37. Figura 10 – Captura de tela da página do Instagram no site da Apple.. Fonte: (APPLE, 2019).. Nos dias de hoje, redes populares como o Instagram reúnem mais de um bilhão de usuários interconectados globalmente. Pode-se notar reflexos e inserções disso tudo na sociedade, na cultura, nos modos de vida relacionados a essa tecnologia, na publicidade, entre outros e também na arte. Atualmente, há perfis nessa rede com mais de 100 milhões de seguidores, onde uma conta possui capacidade de estabelecer um contato praticamente instantâneo com esses usuários, postagens que em menos de 1 hora alcançam milhões de curtidas e muito mais em visualizações. As selfies representam um dos principais tipos de imagens postadas nas redes sociais. Na figura 11 a selfie da apresentadora Ellen Degeneres na cerimônia do Oscar 2014, que chegou a marca de 3 milhões de retweeets e 2 milhões de likes9 no Twitter. 9. Likes (termo de origem inglesa), nesse caso significa ‗curtidas‘. Representa uma forma de o usuário expressar que gostou de uma publicação de outro usuário..

(40) 38. Figura 11 – Selfie de Ellen Degeneres, 2014.. Fonte: (DEGENERES, 2014).. Kim Kandarshian10. já liderou a lista de perfil pessoal mais seguido no. Instagram, atrás apenas da conta do próprio Instagram que se mantém com maior número de seguidores. Atualmente Kim Kardashian possui cerca de 125m de seguidores e ocupa a sexta posição, atrás das cantoras Ariana Grande e Selena Gomez. A conta de Kim ficou famosa pelo grande número de postagens de selfies, onde pode se notar a repetição de ângulos, sem muita variação de expressões, para uma busca do que seria por ela a sua melhor representação (Figura 12). Figura 12 – Selfie de Kim Kardashian. Fonte: (KARDASHIAN, 2015). 10. Celebridade norte-americana da televisão e redes sociais.

(41) 39. Pode-se dizer que Kim criou um estilo muito específico de tirar selfies para o Instagram, tanto que suas selfies compuseram um livro intitulado Selfish.(Figura 13 ) Figura 13 –Kim Kardashian autografando o livro Selfish. Fonte: (DELMUNDO, 2015).. Kim utiliza muito de técnicas de maquiagem e contorno para obter melhores fotografias, fato que, segundo revistas como Cláudia (2015), ocasionou uma busca do público feminino por produtos para maquiagem de contorno. A maquiagem de contorno é utilizada para alterar a imagem do rosto, reduzindo ou ressaltando áreas a partir do clareamento ou escurecimento delas (Figura 14). E, atualmente, a maquiagem de contorno está disponível também para ser aplicada em apps de edição de selfies. Figura 14 – Selfie de Kim e o processo da maquiagem de contorno. Fonte: (KARDASHIAN, 2015)..

(42) 40. Outras duas irmãs de Kim já estiveram, há alguns anos, no ―Top 10‖ de contas com maior número de seguidores na rede Instagram: @KylieJenner e @KendallJenner. Atualmente, além de Kim, apenas Kylie se mantém entre os 10 perfis mais seguidos. Kendall também reteve por 11 meses o recorde de fotografia com maior número de likes na rede, mais de três milhões de curtidas (3,6m). Figura 15 – Fotografia com maior número de likes no Instagram em 2015. Fonte: (JENNER, 2015).. Anteriormente à foto de Kendall, a foto com maior número de likes era de sua irmã, Kim, em 2014. Figura 16 – Foto com maior número de likes no Instagram em 2014. Fonte: (KARDASHIAN, 2014)..

(43) 41. Atualmente (dezembro de 2018), os perfis com maior número de seguidores são: (1) Instagram: 277m; (2): Cristiano Ronaldo 152 m; (3) Selena Gomez: 144 m; (4) Ariana Grande: 143 m; (5) Dwayne Johnson: 129 m; (6) Kim Kardashian: 125m; (7) Kylie Jenner: 124 m; (8) Beyoncé: 123 m; (9): Taylor Swift: 114 m; (10) Neymar: 110 m. Figura 17 – Perfis do Instagram com milhões de seguidores.. Fonte: (INSTAGRAM, 2019 / KARDASHIAN, 2019).. Considerando os números expressivos de seguidores e proporções de possíveis visualizações que uma postagem pode ter, a pesquisadora Cláudia Cyléia de Lima (2015) ressalta que a presença dos dispositivos móveis e das mídias na vida cotidiana alcançou grandes proporções e as pessoas se apresentam do modo através do qual querem ser vistas pelas demais. Exemplo dessa visibilidade pelos demais é a selfie que busca exibir o que seria melhor versão de si como, por exemplo, as postagens de autorretrato de Kim Kardashian, que se apoiam na busca de melhores ângulos, uso de maquiagem para ressaltar tais aspectos e uma quase total inexpressão. É possível notar uma variação de fotos que se repetem em mesmas posições, mudando o local, plano de fundo, entre outros..

(44) 42. A modelo britânica Stina Sanders resolveu realizar um desafio e postar em seu Instagram imagens que normalmente as pessoas não veem em contas de personalidades como modelos, atrizes, cantores. Imagens do cotidiano sem o glamour de fotografias de estúdio, ou maquiagem, roupas de grife, ou até mesmo o uso dos filtros. Essa mudança custou a Sanders a perda de 3000 seguidores. Figura 18 – Selfie de modelo britânica depilando pelos faciais.. Fonte: (SANDERS, 2015).. A modelo se fotografou depilando os pelos faciais, assim como em uma visita ao médico para realizar uma irrigação de cólon (porque sofre de cólon irritável), em uma sessão com seu psicoterapeuta, com o esmalte das unhas descascado ou fazendo selfies em que aparece pouco favorecida. Imagens que estão muito longe de parecer com aquelas que habitualmente publicava: praias paradisíacas, comida com aparência deliciosa ou poses que realçam sua figura. Stina Sanders ainda declarou à revista People: ―Pessoalmente acredito que o Instagram é tão falso... a quantidade de filtros, de retoques... Achei que fazer isso seria interessante‖ (EL PAIS, 2015). Nesse sentido, outro fato que repercutiu na mídia foi o caso da australiana Essena O‘Neal, a qual abandonou uma conta com mais de 700 mil seguidores, excluiu primeiramente mais de 2 mil fotos que segundo ela ―não serviam outro propósito para além da autopromoção‖, após isso em uma das suas últimas postagens publicou: ―Mesmo sem me aperceber, passei grande parte da minha.

(45) 43. adolescência a ser viciada nas redes sociais, na aprovação social, no status social e na minha aparência física. A rede social, especialmente da forma como eu a usava, não era real‖ (Jornal de Notícias, 2015). Essena ainda completou em algumas postagens ―Veem como as minhas legendas eram? Estômago encolhido, pose estratégica, peito levantado... Eu só quero que as meninas mais novas percebam que isto não é uma vida cândida ou inspiracional. É uma perfeição fabricada para receber atenção‖. Ainda, comentou sobre a tensão da contagem de likes ao fazer um upload de uma foto, a tal validação do gosto por uma imagem verificado pelo seu número de positivações. Figura 19 – Essena O‘Neal.. Fonte: (O‘NEAL, 2015).. Cláudia Lima (2015, p. 8) ressalta que ―a imagem ideal é uma nuance muito explorada no fenômeno selfie‖. E as celebridades procuram usar as mídias para ganhar popularidade e ficar mais próximas dos fãs. A partir disso, Lima complementa dizendo que os seguidores comumente comentam em postagens, como exemplo, em uma fotografia de Isis Valverde11 : ―quero ser assim‖ e ―ter essa barriga‖... Ressaltando uma busca por aceitação almejada pela imagem que gostariam de imitar.. 11. Atriz e celebridade brasileira com 14 milhões de seguidores no Instagram..

(46) 44. Ainda assim, ―a indústria das celebridades, vinculada aos interesses mercadológicos da mídia de massa, alia-se a outras indústrias e produtos culturais dos quais depende‖ (CAMPBELL; TWENGE, 2009 apud LIMA, 2015, p. 9), as quais conforme Lima (2015, p. 9) podem ser ―moda, cosméticos e quaisquer produtos/procedimentos que auxiliem a busca do corpo perfeito‖. Como exemplo deste vínculo, pode-se citar perfis no Instagram que aliam postagens cotidianas com interesses mercadológicos como a conta de Kim Kardashian que utiliza de suas postagens para divulgar seus produtos para cabelo e cosméticos (Figura 20). Figura 20 – Merchandising no perfil de Kim Kardashian.. Fonte: (KARDASHIAN, 2015).. Para muitos, o Instagram não é apenas um aplicativo casual para descontração e passar o tempo. A referida rede tornou-se uma potencialidade global e econômica, na qual muitas carreiras e profissões daí surgiram ou se aí se sustentam, como mecanismo para que consumidores adquiram seus bens e produtos através de sites vinculados. Além do aspecto econômico o Instagram possui uma elaborada estética e especificidades relacionadas ao seu feed. Pode-se encontrar atualmente inúmeros.

(47) 45. vídeos e tutoriais na Internet abordando como conseguir mais seguidores, como melhorar as fotografias, como postá-las, o que postar... e diversos outros fatores que podem influenciar no sucesso da conta. A partir disso, o autor Lev Manovich (2017), em seu livro ―Instagram e a Imagem Contemporânea‖, trata sobre as visualidades e conceitos relacionados ao uso do Instagram na sociedade atual. Com análises focadas e relacionadas à história da arte, da publicidade e do social, o autor aborda uma série de especificidades relacionadas a essa rede. Mas qual seria a importância disso? Manovich sustenta o Instagram como uma ferramenta e plataforma digital de compartilhamento de artefatos culturais sofisticados, que inserem a imagem cultural daquela rede social dentro de um rico contexto cultural e histórico da história da fotografia, do cinema, do design, das redes sociais e de tendências de design. Os momentos comuns capturados por usuários do Instagram podem ser importantes para pessoas que compartilham com seus amigos (momentos como viagens, encontros com amigos, eventos familiares) ou eles podem ser apenas do interesse do autor e parecer ordinários para aqueles que não estão envolvidos na sua vida. Por outro lado, também há uma crescente utilização da imagem do Instagram com o intuito estratégico de imagens produzidas com a intenção de atrair atenção dos outros usuários. Da mesma forma, quando um perfil consegue obter um grande número de seguidores passa a alcançar um valor econômico também (MANOVICH, 2017, p. 117). Manovich traz, também, uma série de terminologias que propõem atribuir conceitos a esses usuários, imagens e sistemas de compartilhamento para que possam ser melhores entendidos e classificados. Com um destaque especial ao termo ―instagramismo‖, especificado no decorrer desta subseção. A produção escrita sobre o assunto por Manovich consiste em um bom exemplo a ser explorado, pois ultrapassa as visualidades estéticas do aplicativo, além. disso,. abrange. também. questões. sociais,. econômicas. e. culturais. correspondentes à sociedade contemporânea, que observa essa nova geração global de usuários das redes com atenção as suas sensibilidades culturais e suas estéticas visuais. Desse modo, é um exemplo notável da relação da sociedade com a tecnologia e como isso pode resultar, nesse caso, em produções no campo da arte, além da publicidade e do design..

Referências

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