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1.2 Entrevista

2.1.4. Competição entre escolas

contornar a lei e escolher a escola que desejam levam a que as escolas tenham a necessidade de “cativar” alunos. Alguns diretores das escolas sentem que:

“Já estamos numa competição terrível entre escolas públicas e entre públicas e privadas. A competição já é terrível entre escolas …ah…Uma boa parte das escolas do país já está a sentir uma grande falta de alunos, portanto, se nós tivermos falta de alunos que remédio temos nós senão batermo-nos por eles. A competição entre as escolas vai ser cada vez mais feroz, mais estimulada pelo Ministério da Educação e pele opinião pública, pelas famílias e eu acredito que até um certo ponto que isso estimule a qualidade do desempenho da escola, o problema é que quando caímos em exagero.” (diretor escola A)

Se alguns diretores receiam pelo futuro de determinadas escolas:

“Acredito que possa passar a um nível ainda mais forte de competição mas não tenho a certeza que venha a ser bom, porque vai acontecer o que já aconteceu nos outros países, algumas escolas irão com certeza emergir, mas outras irão submergir e portanto quer dizer…vai-se criar um problema muito grave.” (diretor escola A)

Outros entendem que a competição pode trazer mais-valias à organização:

“Eu acho que o “Benchmarking” deve ser uma coisa que deve ser feita. Eu defendo, porque quando se fala em competição temos que pensar em competições saudáveis…não estamos a competir para que a minha seja pior ou melhor…eu faço a comparação, quando saem os Rankings tenho a preocupação de os apresentar, tanto no Conselho Geral, como no Conselho Pedagógico, Vou buscar as escolas da nossa zona, os colégios, escolas com realidades totalmente diferentes da nossa, através dos jornais, e faço quadros. Faço questão de questionar porque razão a nota de Física, por ex, numa escola mais desfavorecida que a nossa, atinge um valor superior à nossa. Temos que tentar que os professores também se questionem e dentro do grupo tentem perceber o que se está a passar…por isso é que o “Benchmarking” é fundamental.” (diretor escola C)

Este diretor aponta o questionamento e a comparação das práticas educativas como fundamental para resolver os problemas e para melhorar a qualidade da escola. O empenhamento na melhoria da organização, por sua vez, implicaria uma compensação e o reconhecimento pelo trabalho feito. Como nos diz esta diretora:

“As escolas que trabalham melhor, que preparam melhor os alunos, deveriam receber mais dinheiro…porque…as outras…bem…estão a trabalhar muito pior e ganham o mesmo…quer dizer…Sem entrar numa competição desenfreada…mas tem de haver competição…se não há competição…não há nada…não há nada” (diretora escola B).

A avaliação informal que as famílias fazem da escola é valorizada por um dos diretores, para quem a competição é saudável pois implica a escola no cumprimento dos compromissos assumidos:

“A nossa concorrência é importante na medida em que o Projeto Educativo está a ser cumprido. E assim estamos a cumprir aquilo que os pais e as famílias precisam e esperam de nós. O resultado prático disto e esse é que é o mais

importante de todos, é que quando os nossos antigos alunos aqui querem por os filhos, essa sim, é a melhor avaliação que pode ser feita” (diretor colégio C).

Este gestor apresenta uma linha de ação que nos parece convergente com a ideia

de “mais do que impedir as famílias de fugir, mais valia dar-lhes boas razões para o

não fazer” (Duru-Bellat, 2000, p. 136). Apresentamos agora um quadro síntese com

a opinião dos diretores entrevistados, relativa à competição entre escolas.

Quadro 18. Competição entre escolas

C o m p e ti ç ã o e n tr e e s c o la s

Diretor EA Diretor EB Diretor EC Diretor CA Diretor CB Diretor CC

Como em tudo na vida, se nós tivermos que nos esforçar, que lutar pelos alunos, pelos fundos, eu acredito que até certo ponto isso possa ser benéfico e faça as pessoas ainda dar mais de si do que já dão e que já é muito. Houve necessidade de mostrarmos que somos capazes; Isso vem com o trabalho interno; Temos tido algumas áreas em que temos tido muito bons resultados sobretudo no ensino Secundário e que tem trazido alunos para a escola. Essas escolas deveriam ser premiadas com subsídio da parte do governo ou doutro lado qualquer para se tornarem ainda melhores! Eu sou a favor da competição. Sou pela competição sadia…não é bem uma competição entre escola pública e escola privada…é uma competição entre Projetos Educativos; Diversificar os Projetos Educativos; Nas escolas do ensino oficial não há competição… estão sempre

asseguradas…não há competição.

A grande competição entre o ensino privado e público é o valor das propinas, portanto aí não há competição possível. Entre o privado poderá haver alguma competição ao nível de avaliações, a nível de preço. A nível de avaliação dos alunos, as avaliações que os alunos atingem ou possam ter pode haver alguma competição; Ela existe, mas não é assim muito grande.

A concorrência é boa. É boa nas empresas, é boa nas escolas quando é saudável; E quando eu digo que é saudável quero dizer que, para sermos melhores que os outros, tal como no desporto, não vale tudo.

Os discursos são convergentes e apelam ao trabalho e à responsabilização. Os diretores dos colégios privados tendem a circunscrever a competição aos aspetos económicos. Os gestores de topo da escola pública e privada apontam nos seus discursos os aspetos positivos e negativos e estão conscientes que a competição entre as escolas pode levar, no limite, ao desaparecimento de algumas organizações educativas. Os discursos dos diretores acusam a pressão que sentem e estão cientes do controlo sobre as escolas, que também é feito pela opinião pública. Uma das estratégias que tem contribuído para promover a competição entre escolas é a publicação dos rankings nacionais. Vindos a público, pela primeira vez no ano 2000, por iniciativa de um jornal nacional e apesar de muito criticados continuam a ser publicados, comentados e rodeados de polémica. Por se revelar um tema incontornável vamos de seguida apresentar a opinião dos diretores sobre esta temática.