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1.2 Entrevista

1.1.5. Número de alunos que recorrem à Ação Social Escolar

Os dados que a seguir se apresentam retratam a percentagem de alunos que recorrem à Ação Social Escolar nas escolas e colégios estudados. Este tipo de apoio escolar é regulamentado pelo Decreto -Lei n.º 55/2009, de 2 de Março e pelo Despacho n.º 14368-A/2010 de 14 de setembro de 2010:

“Tem por objeto as “crianças da educação pré -escolar, aos alunos dos ensinos básico e secundário e do ensino recorrente nocturno que frequentam escolas públicas, escolas particulares ou cooperativas em regime de contrato de associação e as escolas profissionais não abrangidas pelo Programa Operacional Potencial Humano sitas nas áreas geográficas das Direcções Regionais de Educação de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve” (Despacho n.º 14368-A/2010 de 14 de setembro de 2010).

As modalidades subsidiadas incluem o apoio “alimentar, alojamento, auxílios

económicos e acesso a recursos pedagógicos” (Despacho n.º 14368-A/2010, de 14

de setembro). A percentagem de comparticipação pode ser de 100 ou 50%, dependendo dos escalões determinados pelo acesso ao abono de família. O quadro seguinte sintetiza o número de alunos que recorre a esse apoio nas escolas estudadas.

Quadro 9. Número de alunos que recorrem ao apoio da Ação Social Escolar

N º d e A lu n o s SA SE

Escola A Escola B Escola C Colégio A Colégio B Colégio C

222 Alunos 117 no escalão A; 105 no escalão B; 13,2% do total de alunos da escola. 30% dos alunos do ensino básico 14% dos do Ensino secundário.

Cerca de 140 Não há alunos apoiados pelo S.A.S.E. Não há alunos apoiados pelo S.A.S.E. Não há alunos apoiados pelo S.A.S.E.

Como podemos observar, nas escolas públicas uma percentagem elevada de alunos recebe apoio da Ação Social Escolar (entre 13 e 30%). Este pode ser um indicador da fragilidade económica dos alunos que frequentam estas escolas. Esta realidade está espelhada nas palavras da diretora da escola B:

“Esta escola está situada numa zona que …sempre atravessou, mas neste momento está a atravessar uma crise social e económica terrível, não é…nós temos muitos, muitos alunos subsidiados…muitos e muitos…que não têm… famílias que não tem dinheiro nem sequer para comer (...) Mesmo aquele valor que se paga no início do ano…e só para o Ensino Secundário…hã…nós já não aumentamos há muitos anos e deve ser o mais baixo da Zona toda porque entendemos exatamente as dificuldades que as famílias têm não é…e é uma situação que estamos muito alerta” (diretora escola B).

Nos colégios privados não há alunos a recorrer à Ação Social Escolar. Dois diretores referem que, devido à celebração de contratos simples, uma pequena percentagem de pais recebem apoio do Estado cujo valor está dependente do cálculo das capitações aferido através da fórmula prevista no n.º 2 do Despacho n.º 20043/2002, de 11 de Setembro. Para que um aluno possa receber esse subsídio é necessário preencher uma série de requisitos e enviar para o Ministério da Educação as:

“Certidões comprovativas da inexistência de dívidas à Caixa Geral de Aposentações, ao Centro Regional de Segurança Social do distrito respectivo, à Fazenda Pública, ou autorização para consulta da sua situação tributária ou contributiva nos termos do Decreto-Lei n.º 114/2007, de 19 de Abril, e credencial do Instituto António Sérgio quando a entidade titular tenha a natureza de cooperativa, sem as quais não poderá ser efectuada a transferência das comparticipações” (Ministério da Educação).

Divergindo da realidade das escolas públicas os regulamentos internos (RI) dos colégios são claros quanto ao cumprimento/ não cumprimento no pagamento das mensalidades:

“As prestações da anuidade deverão ser pagas até ao dia 5 de cada mês, com excepção da primeira, que será liquidada até 15 de Setembro. Um atraso de mais de um mês na liquidação destas prestações, implicará um aumento de vinte por cento sobre as importâncias em dívida. Nenhum aluno poderá iniciar a frequência de um período escolar se não tiver em dia o pagamento das prestações referentes aos meses anteriores. O mês é considerado inteiro para efeitos de pagamento, não existindo desconto por ausências, qualquer que seja a sua natureza. Assim, nas férias de Natal, Páscoa ou outras situações, não existe lugar a descontos” (Regimento Interno colégio A).

O colégio B específica que:

“As quantias referentes a mensalidades e restantes débitos, constantes de factura/aviso de pagamento, têm de ser pagos até ao dia 8 de cada mês a que respeitam. As quantias não liquidadas no prazo estabelecido no artigo anterior sofrerão um agravamento de 10%, a liquidar simultaneamente com o respectivo

pagamento. É condição para frequentar o mês seguinte que todas as facturas anteriores tenham sido integralmente liquidadas” (Regulamento Interno Colégio B).

Por sua vez o mesmo tipo de documento de outro colégio estipula que:

“O aluno que não tiver em dia os seus pagamentos poderá ser suspenso ou mesmo excluído do Externato, se os Pais/Encarregados de Educação não atenderem aos apelos que, porventura, lhe venham a ser feitos. Nenhum aluno poderá iniciar novo período lectivo, se não tiver liquidado os débitos anteriores. Os valores relativos a leccionação e a actividades extracurriculares não sofrem descontos por ausência voluntária ou involuntária. No entanto, ao aluno atingido por doença não será exigido o pagamento dos meses inteiros de ausência. O mês é considerado inteiro para efeitos de pagamentos. Não há, portanto, descontos pelas pausas do Natal, Carnaval, Páscoa ou outras. Esta disposição não se aplica às refeições que os alunos tomem no Externato” (RI colégio C).

A convergência de ação é evidente entre os colégios privados que, neste ponto, diverge da forma de agir da escola pública. Como pano de fundo emerge uma preocupação social diferente. A escola pública assume um caracter inclusivo e de preocupação social, a escola privada deixa aos encarregados de educação a resolução de problemas de caracter económico. O colégio quando muito, apelará à resolução do problema, mas, aparentemente não fará parte da sua solução, pelo menos na generalidade das situações. Esta atitude pode ser legitimada pela dependência das mensalidades pagas pelos alunos, justificando-se assim o enfoque dado à regulação das prestações e os discursos mais centrados nas preocupações sociais por parte das escolas públicas.

1.2.Sintese

As escolas e os colégios objecto deste estudo convergem quanto ao número de alunos. A escola não estatal oferece uma maior número de atividades extra curriculares e a oferta de piscina é apontada, por todos, como uma mais- valia. Já nas escolas públicas, assiste-se a uma maior diversificação de oferta de cariz profissionalizante. Como principal ponto de divergência destaca-se a origem social das familias, visivel na percentagem de alunos que recorre ao SASE, na escola estatal, e a preocupação, por parte desta organização, com a situação de carência económica que alguns alunos e familias enfrentam. Nos colégios não há alunos com apoio do SASE e apenas uma pequena percentagem das familias recorre ao apoio do Estado para comparticipação nas mensalidades, obedecendo esse apoio a regras bem explicitas. Os colégios esclarecem, nos seus (RI), as consequências dos

atrasos nos pagamentos das mensalidades estando regulamentadas várias sanções que podem chegar à expulsão.

Os documentos orientadores da escola pública espelham a dificuldade na prevenção do insucesso e do abandono escolar que, por sua vez, são praticamente inexistentes nos colégios. As expetativas que as escolas mostram sobre os alunos é também apresentada de forma divergente, com os colégios a investir claramente, na promoção de uma imagem positiva. Depois de apresentadas as escolas vamos caracterizar e dar “voz” aos “atores”.

1.3.Os entrevistados

Os diretores entrevistados foram selecionados com base na sua experiência e funções ocupadas uma vez que representam, nalguns casos, não só a sua unidade organizacional, mas um amplo universo de perspectivas. Como referido na metodologia, três dos diretores entrevistados ocupam funções de destaque, no setor privado e no público. As suas opiniões serão, por consequência, fruto de um processo de reflexão conjunta, com os seus pares e são, no nosso entender, uma mais-valia para o estudo aqui apresentado. Iniciaremos a sua apresentação através dos dados, que consideramos mais relevantes.