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Capítulo II – Enquadramento Teórico

1. Aspetos teóricos da comunicação verbal

1.2. Comunicação e linguagem

1.2.2. Componentes da linguagem

Ainda que de forma necessariamente breve e rápida, impõe-se uma reflexão sobre estes domínios acabados de referir.

A componente sintática “consiste num conjunto de regras cujo objectivo é gerar todas as frases gramaticais da língua e nenhuma das agramaticais” (Aissen & Hankamer, 1984: 226). Numa outra formulação, não muito diferente da anterior, diz André Eliseu a propósito de “Sintaxe” (2008: 20):

(…) a forma natural da interacção verbal entre os humanos baseia-se na utilização de expressões complexas (como as frases), obtidas pela combinação de palavras de diferentes categorias. A determinação das regras de combinação de palavras de forma a produzir expressões aceitáveis e compreensíveis é o objecto de estudo da Sintaxe.

De facto, a sintaxe estuda as funções desempenhadas pelas palavras na frase e trata das regras que regem a sua formação, pois as palavras raramente são tratadas de forma isolada (mesmo no âmbito da morfologia). Na maior parte das vezes, combinam- se em frases segundo regras da sintaxe para as tornar percetíveis, uma vez que “o sentido de uma frase não pode derivar unicamente do conhecimento das palavras que a compõem” (Spinelli & Ferrand, 2009: 17). Essa combinação advém da competência

gramatical que adquirem os falantes de determinada língua e do léxico mental, que contém a soma dos conhecimentos (ortográficos, fonológicos, morfológicos, semânticos e sintáticos) que foram interiorizados relativamente às palavras da sua língua durante a sua socialização (Id., ib.: 17-22). A gramática generativa de Chomsky é exatamente uma gramática mental, que permite combinar as palavras em frases segundo categorias sintáticas: “A gramática generativa de Chomsky é um caso de sistema combinatório: um número finito de elementos (aqui as palavras) é combinado e permutado (graças a um conjunto de regras) para criar estruturas mais alargadas (frases)” (Id., ib.: 18).

O conhecimento da composição e das regularidades das palavras não consiste simplesmente em ter na memória uma lista de palavras da língua. O falante de uma língua conhece também certas regras de combinação e é capaz de julgar se uma sequência particular de morfemas é uma palavra possível na sua língua (cf. Aissen & Hankamer, 1984: 213), agora já no campo da morfologia, que estuda a estrutura das palavras, a sua formação e classificação. Este componente morfológico está diretamente relacionado à formação das palavras num contexto isolado e não como fazendo parte de uma frase ou período; sendo que, mais uma vez, é um sistema combinatório que vai permitir a sua formação. No que concerne às regras de formação verifica-se que:

(…) as próprias palavras são construídas a partir de elementos mais pequenos segundo (...) as regras da morfologia. (...) Em morfologia, a palavra é, pois, considerada como uma unidade de sentido que se pode decompor noutras unidades ou morfemas (a mais pequena unidade de sentido indecomponível), que são ou não palavras e se combinam para formar palavras13 (Spinelli & Ferrand, 2009: 23).

Por sua vez, as palavras são o resultado da combinação de fonemas a partir de um conjunto de regras. São regras que dependem “do contexto - em termos dos morfemas com os quais se combina [a forma fonética] ou das características fonológicas dos segmentos adjacentes – em que ocorre” (Aissen & Hankamer, 1984: 222). Este componente fonético é o primeiro nível de estruturação da língua, seja em termos de língua falada ou escrita, uma vez que na relação fonema (som) / grafema (letra) os sons da fala são reproduzidos por sinais gráficos denominados letras.

Pelo que tem sido referido, pode-se verificar que as palavras remetem para significações comuns a uma determinada comunidade linguística. É exatamente a semântica que se ocupa do significado das expressões linguísticas, cujo conhecimento “dá-nos a possibilidade de os usarmos correctamente nas frases que articulamos e de

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Classicamente, distingue-se a morfologia flexional (marcas de plural, de género e de número) da morfologia derivacional (fenómenos de derivação e composição) (Spinelli & Ferrand, 2009: 23).

compreendermos as que ouvimos” (Fromkin & Rodman, 1993: 178). Os fenómenos mais óbvios com que a semântica tem a ver são, segundo Diego Marconi, “os processos sociais de explicação do significado linguístico exemplificado pela redacção e consulta de dicionários” (1984: 297).

A maior parte das palavras e dos morfemas de uma língua têm os seus significados próprios. No entanto, convém explicitar que:

(...) a maior parte do tempo, ouvimos, lemos ou produzimos frases que têm, igualmente, uma significação. A significação de uma frase depende simultaneamente da significação das suas palavras e da forma como essas palavras são combinadas. Por outras palavras, a significação de uma frase não pode ser unicamente derivada do conhecimento semântico das palavras que a compõem. Temos igualmente de conhecer as regras que permitem combinar as significações (Spinelli & Ferrand, 2009: 27).

Como referem Aissen & Hankamer (1984: 240):

(…) uma descrição adequada do conhecimento de um falante deve envolver mais do que a especificação das formas gramaticais da sua língua; tal descrição deve especificar uma relação entre formas e os seus respectivos significados, uma vez que é este conhecimento que torna possível o uso da língua na comunicação.

Este uso da língua ou pragmática “analisa o funcionamento significativo e comunicativo da linguagem no seu uso real em discursos e textos e a intencionalidade comunicativa de quem nestes fala ou escreve” (Dicionário Terminológico) e pode-se definir como:

A análise das relações existentes entre formas linguísticas, por um lado, e os participantes no processo comunicativo e o contexto em comunicação, por outra parte, ou seja, aqueles factores que condicionam e determinam o uso da linguagem e que não são analisáveis em termos puramente gramaticais.

De uma forma mais simples, entende-se que a pragmática é a relação entre a expressão linguística natural e o seu contexto, a situação específica em que ocorre, os participantes, o tempo, o local e a posição social dos intervenientes. Ou seja, a pragmática corresponde ao uso da linguagem em situação de comunicação e abrange aspetos como “quem fala”, “para quem se fala”, “sobre o que se fala”, “quando se fala”.